Status-6 Oceanic Multipurpose System. É assim que a Rússia apelida o seu torpedo nuclear capaz de atravessar o Pacífico sem ser detetado pelos radares norte-americanos. Esses, os norte-americanos, encurtam o (pomposo) nome do torpedo e chamam-lhe somente “Kanyon”.

Mas seja qual for o nome do torpedo, os primeiros, os russos, orgulham-se dele — mais do que transmitir orgulho é intimidação que pretendem criar –, e os segundos, os norte-americanos, temem-no. Tanto ou tão pouco, que na Revisão de Postura Nuclear norte-americana, documento divulgado no começo de fevereiro, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos inclui o torpedo na lista de “ameaças” à segurança do país, descrevendo-o como “torpedo intercontinental autónomo e submarino, de combustível e armamento nuclear”.

O próprio Donald Trump, no discurso sobre o Estado da União, e mesmo não se referindo ao “Kanyon” em específico, exigiu a construção de um arsenal nuclear “tão forte e poderoso que impeça qualquer tentativa de agressão de outro país”. Ainda recentemente a Bloomberg avançava que o Presidente norte-americano espera que o Congresso aprove um aumento de 7,2% no orçamento da Defesa para o próximo ano.

Mas e se o “Kanyon” nunca vier a existir e a costa oeste dos Estados Unidos não estiver sob ameaça russa?

Para responder a esta pergunta é necessário, antes, explicar como é que os Estados Unidos tiveram conhecimento da existência deste torpedo nuclear: foi durante o encontro de Vladimir Putin com generais russos na cidade de Sochi. Nas imagens da reunião divulgadas pela televisão estatal RT, um militar apresenta ao Presidente russo um documento confidencial sobre o “Kanyon”. Soube-se depois, através do Rossikaya Gazeta, o jornal oficial do Governo russo, que o torpedo foi concebido pelo fabricante de submarinos nucleares Rubin, sediado em São Peterburgo, e é descrito no Rossikaya como “artefacto do dia do juízo final”.

À BBC, Hans Kristensen, da Federação de Cientistas Americanos, explica que o torpedo pode nunca vir a tornar-se “funcional”, acrescentando que “os russos fazem frequentemente estas coisas de manter, durante anos, programas que, posteriormente, não dão em nada”. No entanto, Kristensen alerta: “Os Estados Unidos têm capacidade para perseguir os submersíveis inimigos mas, uma vez lançado um torpedo, a história é diferente”.

Uma coisa é certa para Hans Kristensen: Trump retirará partido deste bluff (será?) russo. “Eles [Departamento de Defesa] usaram o torpedo como um dos exemplos assustadores de que os russos são maus e podem obter as suas próprias armas. Porquê? Para reforçar o argumento de que os Estados Unidos precisam melhorar suas armas nucleares”, explica.

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