Hoje era o dia. O grande dia. Não existe nada que bata a entrada numa cerimónia de abertura de uma grande competição com as duas Coreias lado a lado com a bandeira unificada, mas houve algo que se aproximou a nível de impacto. E, aqui o resultado, foi mesmo o menos importante: no primeiro encontro de hóquei em gelo feminino da equipa da Coreia que junta Sul e Norte, a Suíça goleou por implacáveis 8-0.

Este sábado começou com a confirmação do porta-voz do governo sul-coreano, Kim Eui-Kyeom, de algo que já era falado: aproveitando a presença da irmã mais nova nos Jogos de Inverno de PyeongChang, Kim Jong-Un, líder da Coreia do Norte, convidou o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, para um encontro em Pyongyang.

Na Gangneung Ice Arena, esse clima de aproximação foi de novo confirmado no primeiro encontro da equipa de hóquei em gelo, que contou com os mais altos representantes da Coreia na tribuna, entre Thomas Bach, presidente do Comité Olímpico Internacional: de um lado Moon Jae-in, presidente da Coreia do Sul; do outro Kim Yo Jang, chefe de estado de cerimónias da Coreia do Norte, e Kim Yo Jong, irmã do líder Kim Jong Un. Alain Berset, presidente da Suíça, aproveitou também a ocasião para cumprimentar formalmente todos os presentes.

Thomas Bach, líder do COI, entre Moon Jae-in, Kim Yong Nam e Kim Yo Jong (ED JONES/AFP/Getty Images)

Muito se falou sobre esta equipa unificada da Coreia formada por 23 sul-coreanas e 12 norte-coreanas com uma obrigatoriedade imposta: pelo menos três jogadores da Coreia do Norte tinham de estar presentes nas 22 convocadas para cada encontro. E nem sempre pelas melhores razões: algumas jogadoras sul-coreanas não gostaram de ver companheiras de equipas ficar de fora pelo limite de vagas; alguns adeptos sul-coreanos olharam com indiferença para a ideia, alegando que, de qualquer das formas, seria complicado fazer grande figura na competição tendo em conta o valor das adversárias. No entanto, até nas coisas mais práticas houve problemas.

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Sarah Murray, antiga jogadora e atual treinadora de 29 anos que tem dupla nacionalidade americana e canadiana (é filha do antigo técnico da NHL Andy Murray), foi a escolhida para orientar esta “nova” equipa e, apesar dos elogios para a entrega nos treinos em pouco mais de dez dias, admitiu que até em termos linguísticos é uma missão complicada: foi preciso pedir ajuda ao seu staff para fazer um dicionário de três páginas com termos relacionados com o hóquei em gelo para traduzir do inglês para o sul-coreano… e depois para o norte-coreano. Explicação? Um terço das palavras e expressões utilizadas por umas e outras eram diferentes, porque enquanto na Coreia do Sul houve muitos termos ingleses incorporados (nomeadamente no desporto, por exemplo), na Coreia do Norte todas as palavras de origem estrangeira são eliminadas.

“As jogadoras estão a dar-se melhor do que esperava e as norte-coreanas absorvem tudo como esponjas. Na primeira refeição, foram para mesas diferentes; de seguida, pedi para estarem juntas e já estavam a rir-se. Elas são apenas raparigas, são apenas jogadoras de hóquei em gelo. Vestem todas a mesma camisola, jogam pela mesma equipa. O hóquei em gelo consegue mesmo aproximar as pessoas”, comentou, citada pelo ABC australiano.

A estreia, essa, acabou por trazer uma derrota expectável: 0-3 no primeiro período com três golos de Alina Müller; 0-3 no segundo período, com dois golos de Phoebe Staenz e outro de Alina Müller; 0-2 no terceiro e último período, com dois golos de Lara Stalder. 0-8 num jogo onde a Suíça dominou por completo. Agora, na próxima segunda-feira, a Coreia defronta a Suécia, seguindo-se um muito aguardado jogo no dia 14 com o Japão.

Goleada sofrida no gelo, goleada conseguida nas bancadas e tudo por culpa da claque feminina norte-coreana que marca presença nos Jogos Olímpicos de Inverno: como conta o Globoesporte, a chegada do grupo vestido impecavelmente de forma idêntica acabou por parar tudo, mesmo com a presença de inúmeros seguranças em seu redor. E foram muitos aqueles que quiseram fazer vídeos e fotografias do momento, até porque a claque tem várias músicas e coreografias ensaiadas para exibir ao longo do encontro. Por isso, e no final do encontro, nem os 8-0 sofridos conseguiram quebrar o ambiente de alegria e boa disposição que se viveu na Arena.