Depois de um ano de batalha judicial, bastaram cinco dias em tribunal para a Google e a Uber chegarem a acordo, no processo que a primeira moveu à segunda por roubo e aproveitamento indevido de documentos e propriedade intelectual. Em vez de um penoso processo, a Uber aceitou pagar cerca de 245 milhões de dólares e comprometer-se a não utilizar nenhum do hardware ou software, ligado à condução autónoma e pertença da Google, que “caiu” nas suas mãos.

A polémica entre Uber e a Google, ou mais precisamente a sua divisão especializada em condução autónoma Waymo, dava o argumento ideal para mais um filme do 007. Acto 1: Anthony Levandowski trabalhou durante anos na Waymo, até que um dia, em Janeiro de 2016, decidiu sair. Mas não antes de descarregar 14 mil ficheiros da empresa onde trabalhava, no desenvolvimento do sistema da Google de condução autónoma, e levá-los com ele. Acto 2: No preciso mês em que saiu da Waymo, criou a Otto, uma empresa especializada em condução autónoma, mas para camiões. Em Agosto, a Uber comprou a Otto por 680 milhões de dólares, alegadamente pelo “imenso” know how que conseguiu desenvolver em – espantem-se – apenas sete meses.

Até aqui, a vida sorria para Levandowski, que encaixou uns milhões com o trabalho desenvolvido por toda a equipa da Waymo (9,7 gigabytes de informação), e ainda mais para a Uber, numa fase em que ainda era Travis Kalanick o CEO, pois por uns milhões herdou uma tecnologia já muito avançada, que durante anos foi aperfeiçoada pela Waymo. Mas aqui chegamos ao acto 3: a Google sentiu-se lesada e foi a tribunal com dois objectivos: não só demonstrar que não gosta de ser roubada, como detesta que alguém se aproveite do fruto do seu trabalho e investimento. A primeira vítima do processo foi Levandowski, liminarmente despedido pela Uber, por não ter colaborado activamente com a investigação.

Mas a teia do enredo não estaria completa sem o acto 5, em que o juiz tem a palavra. Antes de cair o pano neste ‘007 da condução autónoma’, o tribunal decidiu que a Google tinha razão e, vai daí, tratou de penalizar a Uber, que tem de entregar à Waymo 0,34% da empresa, avaliada em 72 mil milhões de dólares, o que ronda 245 milhões de euros. Mas isto é apenas o fim do primeiro episódio, pois aproxima-se um novo filme. Se este versou sobre aproveitamento indevido de hardware e da tecnologia de Lidar da Waymo, dizem os especialistas na matéria que a Google tem já outro processo em vista, para avançar em breve, onde o tema é exclusivamente o software, que “saltou” da Waymo para a Uber.

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