“Foi numa sexta-feira à tarde, fiz uma TAC e, essencialmente, ela revelou que eu tinha tumores de cima a baixo no meu corpo, tumores pequenos, por todo o lado. Passei de pensar em reuniões de trabalho e de planear atividades com os miúdos para, subitamente, ter este embate de frente. Pensar se iria viver ou morrer e quanto tempo teria.” O relato de Nicola Mendelsohn — a Mark Zuckerberg europeia, como é conhecida a vice-presidente do Facebook para a Europa, Médio Oriente e África –, em entrevista à BBC, é dado depois de uma carta publicada no britânico The Times no mesmo sentido. A entrevista e o texto seguem o mesmo propósito: alertar para uma doença silenciosa e mostrar que é possível continuar a viver.
“A minha sentença de vida”, titula o artigo publicado no início do mês no The Times e em que Mendelsohn revelava publicamente que está doente. Com alguma ironia, define o cancro que lhe apareceu de surpresa aos 40 e poucos anos, e que a levou a um choque de frente com a realidade, como uma sentença de vida.
“Estás a morrer, mãe?”, perguntou-lhe o filho mais novo, com 12 anos, quando a executiva do Facebook contou à família que tinha um linfoma folicular, um cancro no sangue, o quinto mais comum no Reino Unido.
“Não conseguia pronunciar uma palavra, não conseguia, literalmente… Eu não queria que o meu filho de 12 anos me fizesse uma pergunta daquelas”, contou à BBC dias depois de o seu testemunho ser publicado.
O tipo de cancro de Mendelsohn é raramente curável — apenas 10% dos doentes supera a doença –, tem uma progressão lenta e, na maior parte dos casos, os doentes apresentam um perfil diferente do seu. “Devia ter 65 ou mais anos e ser um homem”, escreveu a vice-presidente da rede social com mais utilizadores no mundo no testemunho que o The Times publicou.
A doença, contudo, não significou um travão na sua vida. A sua página no Facebook é prova disso. Entre conferências, reuniões, entrevistas, Mendelsohn continua ativa — e é essa a mensagem que também pretende passar.
A 25 de janeiro, por exemplo, Nicola Mendelsohn surge num vídeo na sua página de Facebook. De vestido escuro, sem qualquer outra proteção, a responsável da rede social fez um direto a partir de Davos quando, ali, no meio das ruas cheias de neve, a temperatura andaria pelos cinco graus negativos.
“Por vezes, quando se recebe um diagnóstico como este, a pessoa muda: muda quem é, o que é importante para ela, as suas decisões… Isso não aconteceu comigo”, escreveu a responsável do Facebook. “Agora, estou noutra onda, mas fui sempre uma otimista, alguém que celebra a vida e agradece o que recebeu. Agora, sinto-me ainda mais agradecida”, garante.
A revelação foi feita a 4 de fevereiro, Dia Mundial do Cancro. Até à tarde em que soube da notícia, em 2016, Mendelsohn não fazia ideia do que era um linfoma folicular. Admitiu isso mesmo à BBC. E defendeu a ideia de que a doença, sendo mais comum do que à partida se poderia julgar, não tem o apoio que deveria ter. “Creio que não há consciência suficiente [sobre esta doença] e creio que também não está a ser direcionado dinheiro suficiente para a sua investigação.”