A segunda sessão de esclarecimentos sobre a assembleia geral do Sporting no próximo sábado já ia com pouco mais de uma hora quando Bruno de Carvalho, numa ideia, resumiu o que realmente estava em causa. E começou com uma confissão: em 2017, estava apostado em não recandidatar-se. “Quem me fez mudar de ideias foi a Joana [de Carvalho], quando me falou sobre os dez anos que levava no clube. Depois recebi muitas mensagens de atletas, de treinadores, mas foi assim que mudei de ideias e recandidatei-me”, contou. Avançou para novo ato eleitoral e passou de 53,63% em 2013, contra José Couceiro e Carlos Severino, para 89,08% em 2017 tendo como único opositor Pedro Madeira Rodrigues. Menos de um ano depois, voltará a ser “sufragado”. E tudo vai andar à volta de duas ideias fortes: a militância clubística e a gratidão pelo trabalho realizado nos últimos cinco anos.

“É preciso que os sportinguistas, em vez de serem uma maioria silenciosa, sejam uma maioria ruidosa contra a minoria ruidosa que cria chavões. Vou dizer uma frase que disse numa AG: com os sportinguistas atrás, farei tudo, levarei o Sporting ao céu. Não tenho dúvidas disso. Sem os sportinguistas atrás, matam-me. Neste momento estão quase a matar-me e a culpa, sinceramente, está a ser dos sportinguistas, porque preciso de militância e disse que não ia passar um segundo mandato igual ao primeiro. A militância continua a ser pouca”, assumiu, antes de voltar a assegurar que, caso os três pontos em discussão não sejam aprovados por mais de 75%, sai: “Não sou politiqueiro, não preciso de aclamações. Sou muito altruísta, mas no mínimo tenho de sentir a gratidão. Se não sentir não venho outra vez, porque significa que não tenho a mais-valia que pensava que tinha”.

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É aí que entronca a necessidade que viu de chegar a este limite: gratidão pelo trabalho feito. Até porque, como se foi percebendo pelas sessões de esclarecimento, os pontos em discussão nos estatutos não levantam dúvidas em termos de conteúdo (concordando-se ou não com os mesmos, que é o que será votado no sábado). “90% das alterações dos estatutos até são linguísticas”, argumentou o presidente leonino, antes de enumerar as restantes partes: “5% ou um bocadinho mais tem a ver com questões disciplinares com a introdução do novo regulamento disciplinar. Depois, 2,5% tem a ver de facto com o modelo presidencialista que se quer, e que é normal para um clube desta dimensão. Falam de todas as mudanças mas, por exemplo, não destacam uma coisa inaudita no mundo: a direção tinha de ir a assembleia geral dar explicações quando passasse um défice de 10% ou mais no orçamento; agora, passa a ser zero. Esta é a única mudança verdadeiramente importante ali”.

“Sobre o regulamento disciplinar há um equívoco: não há nenhuma mudança, porque ele hoje não existe. “Não podemos continuar assim. Lembra a alguém uma instituição da dimensão mundial do Sporting não ter definido um regulamento disciplinar? Não fizemos isso no primeiro mandato porque tivemos muito trabalho com as auditorias, por exemplo. As pessoas do Conselho Fiscal e Disciplinar estão aqui por amor ao Sporting e não podem fazer tudo ao mesmo tempo. O que mudou? Os vouchers, os emails, os jogos combinados… Esta teia ser descoberta mereceu-nos alguma reflexão porque havia sócios do Sporting a passar informação confidencial para os rivais”, destacou, voltando a recusar a ideia atribuída pelos opositores de estar a tentar implementar a “lei da rolha”.

“A crítica, quando é bem feita, tem sido aproveitada e a prova disso foi as alterações que introduzimos nas nossas propostas, que chegaram a apelidar de coisas feitas em cima do joelho. Sou acusado de perseguir quem me critica mas isso é confundir crítica com calúnia, injúria e difamação; a partir daí, criaram-me este rótulo. Eu vivo disto, também sou humano, cidadão pai, filho e marido, e profissional. Os outros que eram muito bons é que vinham para aqui e diziam que não precisavam de receber”, salientou, prosseguindo: “A minha lista é de Schindler, permite a 3,5 milhões perceberem a quem me refiro. Da sessão de esclarecimentos, de 46 foram cinco, tenho pena que três fossem apenas fazer discursos bonitos para a televisão. Se aquelas 46 pessoas não gostam desta direção, seriam a plateia ideal para esclarecer as propostas. Gostei dessa expressão que foi utilizada, a minha lista foi de Schindler de facto. Mostrou frontalidade, não andei pelas costas a dizer coisas. Fiz com toda a boa intenção, não para prejudicar absolutamente ninguém e tenho pena que as pessoas não tivessem dado a cara”.

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Os dados estão lançados para a assembleia geral de sábado, no Pavilhão João Rocha, e que terá três pontos: no primeiro, os sócios leoninos irão deliberar sobre “a aprovação da alteração aos estatutos do clube”; no segundo, sobre “a aprovação de regulamento disciplinar do clube”; no terceiro e último, sobre “a continuidade do mandato dos actuais órgãos sociais”. Se algum deles não tiver mais do que 75%, a direção apresenta a demissão.