O impasse em torno da investidura de Carles Puigdemont como presidente do governo regional da Catalunha está a afastar cada vez mais os dois maiores partidos independentistas, o Juntos Pela Catalunha (JPC) e a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC).

Embora ambos os partidos partilhem o objetivo de Carles Puigdemont tomar posse como presidente da Generalitat, as divergências surgem na maneira para chegar lá — e, além disso, nas energias que devem ser dispendidas para atingir esse fim. Se o JPC, que tinha Carles Puigdemont no topo da lista eleitoral, parece querer levar até às últimas consequências a investidura do seu candidato; a ERC hesita cada vez mais perante os obstáculos políticos e jurídicos.

O novo ponto de discórdia fixou-se no envio de recurso ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos à decisão do Tribunal Constitucional impedir que Carles Puigdemont seja investido à distância, a partir de Bruxelas.

Parlamento da Catalunha leva caso Puigdemont a tribunal europeu

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A decisão foi tomada pelo presidente do parlamento regional da Catalunha, Roger Torrent, que foi eleito nas listas da ERC, que está a ser criticado pelo JPC por ter dado este passo em vez de fazer outro que já estava a ser discutido entre independentistas: reformar a lei da presidência da Generalitat, de forma a permitir uma investidura à distância de Carles Puigdemont — já que em Espanha está em curso um mandado de detenção sobre o ex-presidente da Generalitat.

Roger Torrent acedeu ao pedido do JPC de apresentar recurso em Estrasburgo, mas recusou-se a abrir caminho a uma reforma da lei da presidência que permita a Carles Puigdemont ser presidente à distância

Em suma, Roger Torrent procura esgotar os procedimentos mais consensuais (recorrendo à justiça internacional) e evita entrar em rota de colisão com o Governo de Mariano Rajoy e com a justiça espanhola, que muito provavelmente iriam procurar anular uma lei que permitisse a Carles Puigdemont ser presidente à distância.

Desta forma, Roger Torrent evita problemas jurídicos para o seu lado — evitando seguir as pisadas da sua antecessora, Carme Forcadell, também da ERC, a quem foi imputado o crime de desobediência por ter permitido e promovido a declaração de independência de 27 de outubro e as leis (chumbadas pelo Tribunal Constitucional) que abriram esse caminho.

JPC acusa Torrent de “dar golpes de efeito mediático”

A postura de Roger Torrent foi criticada de viva voz pelo JPC. “Temos de ser rigorosos e discretos na hora de acertar a estratégia e não dar golpes de efeito mediático”, comentou numa entrevista à TV3 o deputado do JPC e vice-presidente do parlamento regional da Catalunha, Josep Costa.

O deputado do JPC garantiu ainda que Roger Torrent não o informou de que ia apresentar aquele recurso em Estrasburgo. “Não falámos disso em momento algum”, garantiu na entrevista à TV3, esta quarta-feira de manhã.

Na terça-feira, quando já tinham surgido queixas do JPC em torno da decisão de Roger Torrent, o porta-voz da ERC, Sergi Sabrià, disse que o presidente do parlamento da Catalunha “deu um passo para defender os direitos de Puigdemont e fê-lo em resposta a um pedido por escrito de Puigdemont”. Assim, expressou a sua “perplexidade ao ver que quando Torrent aplica uma ideia do JPC também receba queixas”. “Não é sério e não é justo”, acrescentou.