Paula Díaz tem 19 anos e está a pedir à presidente do Chile que a deixe morrer. Desde 2013 que a jovem chilena sofre de uma doença rara, que os médicos ainda não conseguiram diagnosticar. Num vídeo partilhado pela mãe nas redes sociais, que abalou o Chile (e o mundo), Paula pede à presidente, Michelle Bachelet, que autorize a eutanásia — proibida no país –, devido às dores que diz serem insuportáveis.

Não tenho descanso, é algo tão terrível que não consigo descansar. Nem de dia nem de noite (…) Eu já não suporto o meu corpo. Não posso apoiar nenhuma parte sem que sinta dor. Como não conseguem entender que já não aguento mais?”, diz a jovem.

A família conta que nos últimos quatro anos os sintomas se têm agravado: Paula faz movimentos involuntários, tem episódios de perda de consciência e paralisia nas mãos e nos pés. Vanessa, a irmã de Paula, diz à BBC que “ela [Paula] já está há mais de quatro anos numa cama”, confinada a quatro paredes, sem poder sequer sentar-se numa cadeira de rodas para se movimentar pela casa e que “não é certo ela viver assim, a ver que o seu corpo falha cada dia mais um pouco”. “Ela tem tanta dor que só quer morrer”, conclui.

Durante estes quatro anos foram vários os diagnósticos atribuídos aos sintomas de Paula. O último, em 2015, dava conta de que Paula sofria de um problema neurológico e degenerativo. O espetro é vasto e não há acordo entre os médicos: desde pneumonia a bronquite obstrutiva, de encefalite a ataxia (descontrolo dos músculos) e até mesmo a um problema psiquiátrico chamado síndrome de conversão, Paula já foi “diagnosticada” com várias doenças.

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Vanessa conta que a família nega os problemas psiquiátricos: “Conhecemos a minha irmã, era uma menina saudável que não tinha nenhum problema, nós sabemos que não é um problema psiquiátrico”. E alega negligência médica, já que, antes destes episódios, Paula recebeu a vacina que protege contra o tétano, difteria e tosse convulsa, e que esta pode ter causado os problemas que hoje enfrenta.

Há três anos que a família deixou de submeter Paula a novos exames médicos e que a apoia na sua decisão de tentar a eutanásia.

Estamos a respeitar a vontade da Paula, não queremos que ela continue a ser obrigada a passar pelas hospitalizações. Como, supostamente, ela é doente psiquiátrica, muitas vezes não questionam o que ela sente, tratam-na como louca ou como alguém que está fora de si — e ela não quer mais passar por isso”, conta Vanessa.

Com o caso de Paula, o debate sobre a eutanásia voltou à agenda política, pouco tempo depois da legalização do aborto no país. O deputado do Partido Liberal Vlado Mirosevic levou o tema ao Congresso, dando precisamente o exemplo de Paula, afirmando que “temos de respeitar o direito de Paula”.

O médico Miguel Kottow, chefe da Unidade de Bioética da Escola de Saúde Pública da Universidade do Chile, considera que seria “um mau precedente” abrir caminho para a morte assistida tendo em conta o caso de Paula uma vez que as incógnitas em torno do diagnóstico são muitas. Kottow afirma que os vídeos nas redes sociais nada dizem sobre “a condição real da jovem” e acrescenta que é um caso “que devemos analisar para além da boa vontade e da compaixão”.