O Papa Francisco encontra-se regularmente, várias vezes por mês, com vítimas de abusos sexuais por parte de membros do clero, revelou esta semana o diretor de comunicação do Vaticano, Greg Burke. Segundo uma declaração do responsável divulgada pela sala de imprensa da Santa Sé, o Papa “encontra-se com vítimas de abusos sexuais quer individualmente quer em grupo” e fá-lo “diversas vezes por mês“.

O Papa Francisco escuta as vítimas e procura ajudá-las a curar as graves feridas causadas pelos abusos”, explicou Burke.

Estes encontros, detalhou o diretor de comunicação do Vaticano, “decorrem sob a máxima reserva, por respeito às vítimas e ao seu sofrimento“.

Recentemente, o Papa Francisco foi criticado por desvalorizar acusações contra um bispo chileno, acabando por pedir desculpa por ter “ferido” as vítimas. Na visita apostólica ao Chile, o Papa Francisco foi confrontado com as críticas ao bispo Juan Barros, bispo da cidade chilena de Osorno, acusado de encobrir abusos sexuais praticados pelo padre Fernando Karadima durante décadas.

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Abusos sexuais. Papa Francisco envia arcebispo para investigar denúncias contra bispo no Chile

Karadima foi formalmente condenado pelo Vaticano, em 2011, de abusos sexuais, e foi suspenso das suas funções de sacerdote para o resto da vida. Questionado por um jornalista sobre o caso do bispo chileno que alegadamente protegeu o padre em causa, Francisco respondeu: “No dia em que vir uma prova contra o bispo Barros, então falarei. Não há uma única prova contra ele. É tudo calúnia. Está claro?”

As palavras do líder da Igreja Católica motivaram várias críticas, incluindo por parte de membros influentes da Igreja, como o cardeal norte-americano Sean O’Malley (escolhido para suceder a Bernard Law na diocese de Boston na sequência dos escândalos de pedofilia naquela cidade). O’Malley acusou Francisco de ter causado “grande dor” às vítimas de abusos sexuais por parte de membros da Igreja.

O Papa Francisco veio depois pedir desculpa pela expressão que usou. “O drama dos abusados é tremendo. O que é que sentem as vítimas? Tenho de pedir-lhes desculpa, porque a palavra ‘prova’ feriu. A minha expressão não foi feliz. Peço desculpa se as feri, sem me aperceber, sem o querer. Dói-me muito”, disse o Papa Francisco aos jornalistas, no voo de regresso a Roma.

“A luta contra a pedofilia não é uma coisa que interesse ao Papa Francisco”

Depois do pedido de desculpas, o Papa Francisco enviou o arcebispo de Malta, Charles Scicluna, que é também o presidente do colégio para o exame dos recursos em matéria de delicta graviora (os delitos ou crimes mais considerados mais graves) da Sessão Ordinária da Congregação para a Doutrina da Fé, a Santiago do Chile para investigar o caso e “escutar aqueles que manifestaram vontade de dar a conhecer elementos que tenham na sua posse”.