“É estritamente proibido filmar ou fotografar”. Nas últimas 24 horas, o Sporting publicou três artigos diferentes no seu site oficial a propósito da assembleia geral deste sábado e no último aproveitou para reforçar algo que não é propriamente novo mas que acabou por trazer muito ruído na última reunião magna, com um vídeo colocado a circular onde Bruno de Carvalho, antes de retirar os pontos 6 e 7 da ordem de trabalhos e abandonar o piso 3 do Multidesportivo de Alvalade, admitia a possibilidade de abandonar a presidência do clube.

Este foi apenas um dos muitos pormenores levados em conta na preparação desta assembleia geral do Sporting (que deverá superar o número de associados da reunião magna no Pavilhão da Ajuda, quando Bruno de Carvalho levou a discussão e aprovação a reestruturação financeiras negociada com a banca) e que adveio também dos reparos que o presidente leonino deixou a propósito da AG de dia 3. Tanto que, antes da abertura do processo de credenciação no Pavilhão João Rocha (12 horas), existiam já centenas de pessoas à espera na fila para uma assembleia geral que nunca arrancará de forma efetiva antes das 14h30, hora da segunda chamada.

A afluência foi até aumentando e, nesta altura, por ocasião da primeira chamada, o Pavilhão João Rocha encontra-se praticamente cheio quando existem centenas de pessoas ainda a fazerem fila cá fora (terá sido anunciado no interior do recinto que já marcam presença 2.500 pessoas). Desta forma, é muito provável que, a partir de certo momento, os associados sejam encaminhados para o Multidesportivo, onde seguirão a reunião por vídeoconferência, como foi anunciado por antecipação na antecâmara da assembleia geral.

Credenciação mais cedo, vídeo-conferência e voto secreto em urna

“Carlos Severino começou aos gritos do lugar dele dizendo para mim: ‘És um mentiroso. Queres ser dono do clube, compra-o. Andas a pagar almoços com o cartão do Sporting (nota: que não existe!)’. Perante isto pedi ao presidente da MAG para atuar em conformidade. Não o fez. Carlos Severino dirigiu-se à mesa onde estava a MAG e o CD chamando nomes a todos. Mais uma vez foi pedido ao presidente da MAG para agir corretamente e este apenas disse a Carlos Severino que se fosse sentar pois não estavam criadas condições para ele falar (…) Foram entregues à MAG três requerimentos para não serem votados os pontos 6 e 7. Esses requerimentos deviam ter sido imediatamente recusados pela MAG, pois a AG foi devidamente marcada e cumpridos todos os preceitos legais, sem que essa decisão tivesse de ser votada. Mas erradamente colocaram a votos a decisão da MAG de recusar os requerimentos. Aqui começou o fim da AG”, escreveu Bruno de Carvalho no dia seguinte à AG de dia 3.

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Através de um post no Facebook, o presidente leonino deixou críticas à forma como a última assembleia geral foi conduzida. E, durante a reunião magna, já tinham sido feitos reparos à organização logística da mesma, que não estava preparada para uma adesão tão grande de associados (cerca de 800, com as credenciações a serem feitas no piso 3 do Multidesportivo e não no piso 0, como chegou a ser norma) e que, por isso mesmo, acabou por ter início apenas quase duas horas depois do previsto. Assim, e durante os últimos dias, o encontro foi preparado ao pormenor para tentar prever todas as situações, havendo algumas decisões “pioneiras” neste capítulo.

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A grande novidade acaba por ser a colocação de uma tela no Multidesportivo para fazer a sessão, caso o número de sócios assim o justifique, em dois locais distintos: no principal, o Pavilhão João Rocha, até que os lugares sentados estejam esgotados (daí que a credenciação, ao contrário do que é normal, comece a ser feita a partir das 12 horas); e no referido Multidesportivo, onde haverá transmissão por vídeoconferência e oportunidade de exercer o direito de voto. Cada sócio receberá três boletins para cada um dos pontos em discussão, com a votação a ser feita de forma secreta em urna. Votos brancos e nulos contarão, para efeitos de deliberação, como votos contra. Havia ainda a dúvida se a aprovação das alterações estatutárias seria feita ponto a ponto (como aconteceu numa assembleia geral em 2011, na agora Altice Arena) ou na generalidade, optando os responsáveis pela segunda.

A presença dos Núcleos, as modalidades e as conversas de bastidores

Da mesma forma que enumerou uma série de “sportingados” no Facebook ainda antes de anunciar a decisão de ir a nova assembleia geral para votar as alterações estatutárias, o novo regulamento disciplinar e a continuidade dos órgãos sociais, Bruno de Carvalho foi também começando a preparar terreno para a reunião magna. Via Facebook, ao responder a uma série de dúvidas em grupos de adeptos leoninos mais críticos com algumas decisões da direção, e por telefone: o presidente leonino contactou alguns dos nomes apontados no post de dia 4 e conseguiu “virar” opiniões a propósito do que estava a ser sufragado. Seguiram-se as sessões de esclarecimento, para os ditos “sportingados” e para a comunicação social, e “desabafos” como o que teve após o jogo em Astana.

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Essa parte de bastidores foi sendo assegurada por Bruno de Carvalho, mas os apoios públicos que foi recebendo de variados quadrantes acabaram por ser importantes na consolidação de uma assembleia geral onde parece reunir todas as condição para “legitimar” o seu mandato (e aqui abrimos um parênteses para explicar a grande diferença de percepção que será sempre refletida nos resultados: uma coisa é a imagem/opinião dos adeptos leoninos no geral, outra coisa é a análise dos sócios que vão participar e votar na reunião desta tarde). Um exemplo: as modalidades do clube. De Hugo Canela, treinador de andebol que, no Dragão, já depois acabar a flash interview, voltou atrás para agradecer à direção o apoio, à equipa de voleibol, que dedicou nas redes sociais o último triunfo ao número 1 leonino, passando pelo próprio Jorge Jesus, houve uma série de mensagens de dentro para fora.

Em paralelo, um outro fator que poderá ter o seu peso: a presença de alguns Núcleos do clube. Por norma, esta “representatividade regional” costuma apoiar sempre os presidentes do clube, qualquer que seja a sua “linha”. No caso de Bruno de Carvalho, nem sempre foi assim e, no início do primeiro mandato, quando houve a implementação de um novo regimento dos Núcleos, levantaram-se algumas vozes discordantes. Entretanto, tudo passou, ao ponto de se terem mobilizado em autocarros para marcarem presença esta tarde no Pavilhão João Rocha (algo que só costuma acontecer em dia de jogo do futebol). É certo que, pela tipologia diferente da categoria de sócio que muitos têm (o que representa menos votos), a diferença em comparação com outras assembleias gerais pode não ser assim tão grande. Mas existe: são votos que, por norma, não existem e este sábado vão aparecer.

Uma “oposição” que não gosta mas também não quer que saia já

Existe “oposição” no Sporting? Sim. É expressiva? Não. Tem agora a capacidade de se juntar em torno de uma outra figura que possa defrontar Bruno de Carvalho com mais sucesso do que Pedro Madeira Rodrigues? Longe disso. Terá algum dia essa capacidade? Ninguém sabe. É aqui que entroncamos numa ideia generalizada que tem até contornos antagónicos: por um lado, e mesmo podendo votar contra nos pontos 1 e 2, existe a percepção de que a questão dos estatutos mais não foi do que uma tentativa de legitimar poder e enraizar o modelo presidencialista; por outro, foram poucas ou nenhumas as vozes que defenderam que o atual mandato não chegasse ao fim.

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Foi claro com o passar dos dias que as vitórias do futebol frente ao Feirense e ao Astana vieram “esvaziar” um pouco a discussão (bem ou mal, os resultados desportivos acabam sempre por ter interferência na preparação de uma assembleia geral), mas houve muita movimentação na sempre ativa blogosfera verde e branca sobretudo nas últimas 24 horas. Com acusações de deslealdade, de grupos que operam na sombra, de pessoas que se dizem do Sporting mas não se importam que a equipa de futebol, de membros que “cegaram” para agradar o atual líder, de traições. As posições extremaram-se naquele que muitos titulam este sábado de dia B, de Bruno de Carvalho. E daqui advém algo que parece inevitável: qualquer que seja o resultado final na votação dos três pontos em sufrágio, há feridas que irão continuar abertas quando o clube estará ainda a três anos de um novo ato eleitoral.

notícia atualizada às 14 horas de 17 de fevereiro de 2018