A partir deste domingo, a extrema-direita francesa tem um novo partido. Depois da cisão provocada no seio da Frente Nacional pela derrota de Marine Le Pen nas eleições presidenciais de 2017, o ex-vice-presidente daquele partido fundou uma nova força política, Os Patriotas.

“Vamos poder reconstruir tudo a partir das nossas bases”, disse Florian Philippot, que encabeçava a única lista para liderar Os Patriotas.

No seu discurso, prometeu “democracia direta” dentro do novo partido — naquilo que foi uma mensagem para a Frente Nacional, partido de onde frequentemente surgem críticas em torno da falta de transparência e democracia interna.

Sobre a Frente Nacional, lançou críticas duras, referindo que aquele partido está “atascado, preso, que renunciou pateticamente ao poder, que se rediaboliza para tentar existir e que se junta à União Europeia”.

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Ainda sobre a Frente Nacional, procurou justificar a sua saída daquele partido, onde lhe foi vetada a formação de um movimento lateral, como inicialmente pretendia. “Pensámos em certa altura que era possível mudar o partido, mas bastou um desafio para que tudo se desencaminhasse e voltassem os velhos demónios que pensávamos terem desaparecido”, disse. “Pensámos que podíamos mudar, mas apercebemo-nos de que nos enganámos.”

O partido foi oficialmente fundado este domingo, dia em que terminou o seu congresso fundacional, mas a ideia por trás da sua formação já tinha raízes mais fundas.

O nome “Os Patriotas” já estava registado desde 2014, altura em que chegou a ser ponderado dentro da Frente Nacional uma renovação da imagem do partido. Na noite da segunda volta das eleições presidenciais de 2017, onde Marine Le Pen conquistou 33,9% dos votos e foi derrotada por Emmanuel Macron, Florian Philippot anunciou a transformação da Frente Nacional para um novo movimento, Os Patriotas.

Porém, a ideia não evoluiu nos dias que se seguiram e a crise interna dentro da Frente Nacional agudizou-se com os maus resultados nas eleições legislativas, de 18 de junho, onde a Frente Nacional conquistou apenas oito entre 577 deputados.

A partir desse momento, Marine Le Pen e Florian Philippot incompatibilizaram-se de forma gradual mas irreversível, apesar de terem levado a Frente Nacional às suas melhores prestações eleitorais.

Florian Philippot, que após entrar na Frente Nacional em 2011 teve uma ascensão meteórica ao lado de Marine Le Pen, foi o principal responsável pelo conhecido processo de “desdiabolização” do partido. Nesse processo, a Frente Nacional passou a falar menos de imigração e mais do combate ao radicalismo islamista; deixou de ser um partido economicamente liberal para começar a roubar algumas bandeiras na economia e trabalho à esquerda; e afastou-se das tiradas anti-semitas e racistas do seu fundador, Jean-Marie Le Pen.

Florian Philippot, que foi sempre alvo de duras críticas do fundador do partido e pai da atual presidente, Jean-Marie Le Pen, bateu com a porta a 21 de setembro de 2017. A partir desse momento, passou a referir-se à Frente Nacional como uma “velha formação política” e sublinhou ser necessário um “patriotismo moderno, credível e unificador”.