A histórica marca norte-americana de guitarras Gibson — cujos modelos, da Les Paul à SG, foram usados por alguns dos grandes guitarristas de rock das últimas décadas — está a braços com uma grave crise económica, podendo vir a falir se não conseguir angariar financiamento avultado até ao verão.

Com notas de crédito por pagar que ultrapassam os 300 milhões de euros (e que, se não forem pagas até julho, obrigam à antecipação de um pagamento adicional de 117 milhões de euros aos bancos), a empresa tem vivido um período de turbulência interna, que provocou aliás uma alteração recente na liderança do seu departamento financeiro: Bill Lawrence, contratado para o cargo há menos de seis meses, já abandonou a companhia, tendo esta feito regressar ao seu posto o antigo funcionário da marca, Benson Woo.

[“Wired for Sound”, um documentário sobre as guitarras Gibson:]

https://www.youtube.com/watch?v=kL-u2eIQunE

A história tem sido contada por órgãos como o Nashville Post e o Dayton Daily News e foi corroborada ao primeiro por vários analistas. Um responsável pelo departamento de crédito da agência de notação financeira Moody’s, Kevin Cassidy, afirmou mesmo que o diretor-executivo da Gibson, Henry Juszkiewicz, só tem três soluções possíveis para resolver a grave situação da empresa: negociar a substituição do crédito existente por uma nova nota de crédito — o que pode ser não ser possível fazer a um custo suportável [devido ao agravamento dos juros] –, ser persuadido ou forçado a entregar parte das suas ações para pagar parte da dívida ou entregar um pedido de insolvência da empresa, que já tem 116 anos de história. “No final do dia, alguém irá tomar o controlo da empresa, sejam os credores ou os obrigacionistas. Isto é algo que já se antevê há muito”, prevê o jornalista e especialista da Debtwire, Reshmi Basu.

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A Gibson já reagiu às notícias, assegurando que está “em processo de angariação” de crédito que permita “substituir os títulos em dívida” e que “tem a forte expetativa” de que seja possível resolver a situação do grupo. “Estamos a angariar capital com a venda de recursos como ações, propriedades imobiliárias e segmentos de negócio que não nos trouxeram o sucesso que esperávamos. Com novo financiamento e com as melhorias operacionais em que estamos a trabalhar, acreditamos que a empresa terá a estrutura necessária para ser bem-sucedida e crescer nos próximo anos”, apontou, otimista, o CEO Henry Juszkiewicz.

A culpa é da quebra do rock?

Com receitas anuais que excedem os mil milhões de dólares (perto de 809 milhões de euros) mas elevadas dívidas e custos operacionais, a empresa tem sobrevivido com recurso a empréstimos e linhas de investimento como o fornecido há um ano pela multinacional de ações Blackstone, de cerca de 105 milhões de euros. Além de uma mais que provável gestão deficitária, parte das dificuldades da empresa, apontou o Washington Post em 2017, devem-se à quebra nas vendas de guitarras elétricas, justificada pela publicação com a menor popularidade (ou predomínio) que o rock tem tido nos últimos anos.

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Nos últimos anos, a empresa que Juszkiewicz detém e dirige desde 1986 (e que este já ajudara a salvar de uma falência iminente à época), tem tentado expandir o seu mercado, entrando no segmento dos equipamentos eletrónicos. Uma das novidades de anos recentes foi o lançamento — posteriormente abandonado, devido ao insucesso — do Gibson Pro Audio, um mercado direcionado para a venda de headphones, colunas e equipamento de DJ.

Fundada em 1894 em Kalamazoo, Michigan, por um escriturário de um restaurante chamado Orville Gibson, a Gibson começou por vender mandolins. Nos anos 1920 começou a dedicar-se à venda de outros instrumentos, em particular o banjo e em 1930 começou a dedicar-se à produção e venda de guitarras — pelo qual ainda hoje é conhecida. A empresa tem a sua sede em Nashville (outrora capital do movimento folk norte-americano) desde 1964.

Com incontáveis modelos já concebidos e vendidos — alguns deles, limitados –, as guitarras Gibson já foram tocadas por músicos da estirpe de Carlos Santana, Slash, Tony Iommi, Jimmy Page, Eric Clapton, Mike Bloomfield, Bob Dylan, The Edge (U2), George Harrison e Paul McCartney, Jimi Hendrix, Lightnin’ Hopkins, Brian Jones, B. B. King, John McLaughlin, Keith Richards, Neil Young, Frank Zappa e Pete Townshend.