Chama-se Splitting Fares Inc., mas é mais conhecida por SPLT. A startup, que nasceu em Detroit, nos EUA, foi comprada pela Bosch, anunciou a gigante alemã no seu maior evento anual, o Bosch Connected World, em Berlim. Ao mesmo tempo que anunciou a criação de uma nova divisão virada para as soluções de mobilidade conectada, a Bosch aposta nesta startup que, em contraste com empresas como a Uber ou a Cabify, mais viradas para o consumidor, tem uma plataforma que liga empresas, universidades ou outras organizações para facilitar serviços de partilha de transportes (e mini-sessões de brainstorm).

O que torna esta startup especial? O presidente-executivo da Bosch, Volkmar Denner, explicou em conferência de imprensa que o facto de ser focada no mercado empresarial é um ponto-chave. A SPLT desenvolveu uma plataforma que empresas, universidades ou autoridades locais podem utilizar para programar transporte partilhado para os seus colaboradores.

“Esta abordagem B2B [business to business] é dirigida a pessoas com a necessidade de viajar regularmente para o mesmo local de trabalho ou local onde estudam. Uma das vantagens é a possibilidade de viajar com colegas, evitando a partilha de um transporte com desconhecidos. Em segundos o algoritmo deteta o transporte mais próximo, calcula a rota mais rápida e assume o controlo e gestão daquelas que eram as tarefas que levavam mais tempo: definir local de partida, hora de partida, melhor rota e os passageiros. A partilha de transporte tem múltiplos benefícios práticos a nível económico, ambiental e urbano, através da redução do volume de tráfego”, explica a Bosch em comunicado de imprensa.

Questionado pelo Observador na conferência de imprensa, o presidente-executivo da Bosch explicou que foram avaliadas várias empresas e startups nesta área, incluindo empresas europeias, mas a opção acabou por recair sobre a SPLT, uma empresa que “ainda precisa de evoluir” mas que já tem 140 mil pessoas como clientes nos EUA, México e Alemanha. A intenção é fazer chegar o serviço a cada vez mais países, mas o presidente-executivo não adiantou quando é que a SPLT pode chegar, por exemplo, a Portugal.

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A criação da nova divisão e a compra da SPLT foi anunciada pela Bosch em conferência de imprensa, em Berlim. FOTO: Edgar Caetano/OBSERVADOR

A ideia não é geolocalizar os utilizadores de forma isolada e, em alguns casos (carpool), agrupar pessoas que, por coincidência, vão para o mesmo sítio. A plataforma da SPLT quer ajudar as organizações a centralizar as viagens dos trabalhadores e aumentar a eficiência. Os bónus, segundo a SPLT, são a poupança de recursos e emissões poluentes — além disso, será, muitas vezes, durante estas “boleias” partilhadas que funcionários de departamentos diferentes vão conhecer-se melhor e ter ideias úteis para a inovação e para o dia-a-dia na organização — por outras palavras, a boleia partilhada pode corresponder a uma pequena sessão de brainstorming entre funcionários.

“A SPLT não quer fazer concorrência direta à Uber, porque trabalha em B2B (business to business). Mas acreditamos que a empresa pode ajudar a resolver um problema para as empresas, nomeadamente para a Bosch. É uma preocupação nossa saber como é que os nossos funcionários chegam ao trabalho e se movimentam de um local para o outro, em trabalho”, acrescentou Volkmar Denner.

Não foram divulgados os contornos financeiros da operação.

Esta aquisição foi anunciada no mesmo dia em que a Bosch criou uma nova divisão que vai agrupar algumas operações já existentes mas que passam a centralizar tudo o que está ligado à mobilidade conectada. A nova divisão chama-se Bosch — Soluções de Mobilidade Conectada.

A Bosch continua a sua transformação para se tornar num fornecedor de soluções de mobilidade. A nova divisão de Soluções de Mobilidade Conectada irá juntar mais de 600 colaboradores para desenvolver e comercializar serviços de mobilidade digitais, que incluem partilha de veículos e de transporte, bem como serviços baseados em conectividade para condutores de veículos. “A conectividade mudará radicalmente a forma como nos deslocamos do ponto A ao B e, no processo, será útil no contributo para a redução dos problemas de tráfego. Esta é a melhor forma de cumprirmos a nossa visão de zero emissões, zero stress e zero acidentes”, afirmou Volkmar Denner, presidente do concelho de administração da Bosch.

O Observador viajou a Berlim a convite da Bosch.