Pessoas com demência vão poder usar terapia com robôs em Portugal, usando uma foca com inteligência artificial inventada no Japão, cujo inventor afirma que é capaz de resgatar memórias e melhorar a qualidade de vida. O primeiro do género em Portugal irá para a Casa de Saúde da Idanha, em Belas, Sintra, que vai formar os seus terapeutas para utilizar o robô, usado para estimular memórias e melhorar a qualidade de vida de pessoas que perdem as suas capacidades mentais.

Falando à agência Lusa à margem do Congresso Internacional das Demências, na instituição das Irmãs Hospitaleiras, o inventor de “Paro”, Takanori Shibata, afirmou que se trata de “um dispositivo médico” capaz de melhorar “depressão, ansiedade, dor, ‘stress’, solidão” e perturbações do sono.

Usada já em cerca de 30 países, a foca robô é usada em hospitais ou lares de idosos como uma ferramenta para tentar melhorar a qualidade de vida de pessoas internadas. À primeira vista, parece um peluche. Quando se liga, os olhos abrem-se e o robô vira a cabeça, respondendo quando se acaricia o pelo ou se fala na sua direção e emitindo sons como os de uma foca bebé real.

“O Paro pode adaptar-se aos utilizadores para se comportar como estes gostariam. Tem um número limitado de funções, mas as pessoas associam interagir com ele a interagir com um gato ou cão que tenham tido no passado ou à experiência de cuidar de uma criança”, afirmou.

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Assinalando que a experiência de cada pessoa com o robô é totalmente subjetiva, Takanori Shibata referiu que acariciar ou pegar em Paro ao colo, em sessões orientadas com terapeutas, pode reduzir “problemas comportamentais ou psicológicos” como agressão ou agitação, que têm na sua origem fatores como “dor ou ansiedade”.

Takanori Shibata afirmou que o uso desta tecnologia permite “reduzir custos sociais” e melhorar qualidade de vida e espera que, “no futuro, Portugal adote o Paro no seu sistema de segurança social”. Em países como o Reino Unido, o robô já foi usado a título experimental em algumas unidades do serviço nacional de saúde.

A vantagem em relação a usar animais verdadeiros é que em ambiente hospitalar ou de cuidados a idosos, há o risco de alergias ou infeções com a sua presença. Para Takanori Shibata, outra vantagem é que pessoas afetadas por algum tipo de demência estão entretidas com o robô e não vagueiam, evitando quedas, que no caso dos idosos são especialmente perigosas.

O inventor japonês indicou que a forma da foca foi escolhida porque não tem de corresponder a expectativas muito elevadas. Desde que começou a trabalhar no projeto, em 1993, Takanori Shibata e a sua equipa experimentaram outras “peles” para o robô, como cães ou gatos, mas verificaram que assim não resultava.

“As pessoas comparavam o robô com um cão ou gato real e ficavam desiludidas. Com focas, a maior parte das pessoas não tem experiência prévia”, salientou. Quanto a robôs de aspeto humano a serem usados para o mesmo fim, Takanori Shibata e a sua equipa trabalham nesse sentido, “mas ainda vai levar muito tempo” a conseguir um nível de inteligência artificial.

Entre as funções de inteligência artificial de que conseguiram dotar o robô está o reconhecimento de palavras, pelo que cada utilizador pode decidir chamar-lhe o que quiser, porque Paro aprende e passa a reagir a esse novo nome.

A foca também vira a cabeça para reagir à voz do utilizador e diversos sensores reagem ao toque das pessoas Takanori Shibata esteve em Portugal para participar no Congresso Internacional de Demências, que termina esta sexta-feira, organizado pela Unidade de Gerontopsiquiatria e Reabilitação Cognitiva da Casa de Saúde da Idanha.