Isidoro de Sevilha é considerado o “último académico do mundo antigo”. Nascido no século VI em Cartagena, Espanha, este etimologista da Idade Média escreveu que “sabendo-se a origem de uma palavra tudo se pode compreender mais claramente”. O problema é que, muitas vezes, a história da origem se perde ao longo dos tempos — e esquecem-se os inventores. O americano Kelly Grovier, poeta, historiador e crítico de arte, recuperou num artigo publicado na BBC alguns “esquecidos”.

Foi no decurso do século XIV, por exemplo, que Geoffrey Chaucer traduziu “A Consolação da Filosofia”, do filósofo Boethius. E surgiria na tradução a palavra “twitter” (ou “twiterith”, como foi grafado naquele século por Chaucer), que significava “gorjear”, um canto melodioso e rápido atribuído aos pássaros. Geoffrey Chaucer, poeta medieval, terá inventado mais de duas mil palavras.

Outra palavra que é utilizada (nem sempre pelo melhor motivo) amiúde no presente é “burocracia”. Foi inventada em 1818 por um fisiocrata e economista francês: Vincent de Gournay. Gournay uniu a palavra francesa “bureau” (“mesa”, em português) com o sufixo grego “cracia”, que significa “o poder de”. Não deixa contudo de ser curioso que, tendo Vincent de Gournay inventado a palavra que descreve as regras administrativas (e entediantes) que nos são impostas, tenha sido também ele a promover acerrimamente o conceito económico “laissez-faire”, que defende (no fundo, é o liberalismo económico) que o Estado apenas deve intervir na proteção da vida, liberdade e prosperidade, devendo o mercado funcionar livremente e sem a interferência deste.

A palavra “fotografia”, por exemplo, foi inventada pelo astrónomo inglês John Herschel em 1839. Mas não foi Herschel o inventor da fotografia. Isso não. A primeira conhecida remonta a 1826 e é atribuída ao francês Joseph Nicéphore Niépce. Foi produzida numa placa de estanho, coberta com um derivado de petróleo, ou betume, fotossensível. Mas o conceito de fotografar, esse, não pode ser atribuído a um inventor só, resultando de avanços e recuos ao longo da história. A técnica da câmara escura, por exemplo, o primórdio da fotografia, remonta ao século XIX. Mas há relatos do uso da “câmara escura” desde a Antiguidade, quando o filósofo grego Aristóteles a utilizava para observações astronómicas. Mas voltando a John Herschel: durante anos, a palavra “fotografia” batia-se com outras duas, “impressões de sol” e “fotógenos”, para descrever algo que hoje fazemos com um simples telemóvel.

Visualizar, a humanidade sempre visualizou. A invenção da palavra “visualizar”, contudo, só ocorreu em 1817, ano em que o poeta romântico Samuel Taylor Coleridge a utilizou pela primeira vez na sua confissão filosófica “Biographia Literaria”. Mas Coleridge até “visualizava” mais, adicto que era de ópio e outras drogas, sendo a sua poesia tantas vezes “assombrada” por visões proféticas, como em “Kubla Khan”. Coleridge é também responsável por introduzir palavras que descrevem aspectos menos agradáveis da experiência humana, como “psicossomático” e “pessimismo”.

Mas nem só de homens inventores de palavras se fez a história. A escritora britânica Jane Austen, em 1800, utilizou pela primeira vez a palavra “excluído”. E a romancista, também britânica, George Eliot a palavra “angústia”, em 1849.

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