Rui Rio deveria ter chegado ao Centro Multiusos de Lamego ao lado de Feliciano Barreiras Duarte. Era isso que constava da informação à imprensa que a equipa do presidente do PSD divulgou, por e-mail, na última sexta-feira. Depois, o semanário Sol publicou um artigo sobre irregularidades no currículo do novo secretário-geral. E, este domingo, Barreiras Duarte não apareceu em Lamego. Rui Rio — que chegou à liderança do PSD com a missão de dar um “banho de ética” à política nacional — desvaloriza o episódio.

“Ele não estava mesmo na delegação, depois houve um momento em que disseram que ele estava, mas nunca esteve”, disse Rui Rio aos jornalistas, este domingo, para explicar a ausência do seu secretário-geral. Rio garante que a comitiva do PSD que foi a Lamego não incluía a presença do secretário-geral do partido.

Secretário-geral do PSD mente em currículo e universidade de Berkeley acusa-o de falsificar documento

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O e-mail enviado às redações pela sua equipa de comunicação mostra o contrário. A nota enviada à imprensa caiu nas caixas de correio eletrónico às 15h54 de sexta-feira, dia 9 de março. E dizia que Rui Rio estaria presente “na sessão de encerramento do 27º Congresso do CDS”.

Mas dizia mais. Referindo-se especificamente à “delegação do PSD” que viajaria até Lamego, nessa informação do partido constavam os nomes de Salvador Malheiro, vice-presidente do partido, e, e terceiro lugar, Feliciano Barreiras Duarte, secretário-geral. Eram também anunciadas as presenças de Fernando Negrão, líder da bancada parlamentar, Pedro Alves, presidente da comissão política distrital de Viseu, e António Rodrigues, presidente da comissão política secção de Lamego.

Nesse grupo que esteve no Multisusos de Lamego, Barreiras Duarte foi uma ausência notada. Sobretudo porque o seu antecessor naquelas funções, José de Matos Rosa, era presença habitual no encerramento das reuniões magnas dos outros partidos, em representação do PSD.

Além de desmentir a sua equipa, Rio desvaloriza a polémica que envolve mais um elemento da sua equipa mais próxima.

“A explicação que eu obtive foi a explicação que ele teve oportunidade de dar na comunicação social”, começa por dizer o líder do PSD.

É inequívoco que ele fez referência a um aspecto do seu currículo que não era preciso e que ele corrigiu”, acrescenta.

E remata: “Há um aspecto do seu currículo que estava a mais, que não estava preciso, e que ele corrigiu.”

A “imprecisão” no currículo do secretário-geral do PSD

A notícia publicada na edição deste fim de semana do semanário Sol dava conta de que, durante anos, Feliciano Barreiras Duarte incluiu no seu currículo um dado falso. O secretário-geral do PSD fazia referência a uma suposta passagem pela Universidade de Berkeley, na Califórnia, como visiting scholar. A instituição não tem qualquer referência ao seu nome nos registos internos.

Contactada pelo semanário, a Universidade de Berkeley percorreu os registos até 1966, ano em que Barreiras Duarte nasceu. E nada. “O diretor da Universidade da Califórnia, em Berkeley, para os programas de Doutoramento e assuntos dos ‘visiting scholar’ percorreu todos os registos até ao ano em que Feliciano Barreiras Duarte nasceu, não tendo encontrado qualquer documentação de que alguma vez tenha sido oficialmente um ‘visiting scholar’ nesta universidade”, disse o gabinete de relações públicas da instituição ao semanário.

Confrontado com esta situação, Barreiras Duarte enviou ao Sol uma carta que, supostamente, permitiria atestar essa relação com Berkeley. Mas o documento não tinha qualquer selo oficial da universidade norte-americana. E estava escrito em português.

Suposta autora diz que documento é “forjado”

A primeira reacção de Feliciano Barreiras Duarte foi garantir que aquela informação do seu currículo estava correta. Para comprová-lo, enviou uma carta assinada por Deolinda Adão, diretora executiva do Programa de Estudos Portugueses e também do European Union Center, em que esta se apresenta como sua futura orientadora. “Esse documento é forjado”, disse a professora universitária ao Sol.

O documento entregue pelo próprio Barreiras Duarte ao semanário diz que, “em nome da Universidade Pública University of California, Berkeley” o dirigente social-democrata “se encontra inscrito nesta Universidade como estatuto de ‘visiting scholar’, no âmbito do seu doutoramento em Ciência Política com a tese Políticas Públicas e Direito da Imigração”.

Deolinda Antão rejeita essa hipótese. “Essa é, de facto, a minha assinatura, mas o que aí está escrito nunca foi escrito por mim. Não tenho poder nem estatuto para declarar o estatuto de ‘visiting scholar’”, disse a professora universitária. “A princípio, ainda quis dar o benefício da dúvida porque recebemos muitos alunos há vários anos e poderia não ter memória deste. Mas assim não. Esse documento é forjado. Feliciano Barreiras Duarte nunca cá esteve.

Barreiras Duarte também apresenta uma explicação para o facto de nunca ter estado em Berkeley. “Quando saí do Governo, continuei a fazer investigação e não lhe escondo que, em 2014, fiz as contas. Do ponto de vista financeiro, com filhos mais crescidos que implicam outro tipo de responsabilidades, conclui que não teria condições para estar 40 dias em Berkeley”, tempo necessário para ser considerado visiting scholar naquela universidade.

Agora, o secretário-geral quer emendar a mão. Confrontado com a língua em que o documento está escrito e com a posição de Deolinda Antão, Feliciano Barreiras Duarte mostra-se “estupefacto”.

Aquilo existiu, como existiu a troca de correspondência”, garante o dirigente do PSD.

O secretário-geral do PSD diz ter sido “convidado” por Manuel Pinto de Abreu (ex-secretário de Estado no primeiro governo de Pedro Passos Coelho e professor na Universidade Lusófona) para fazer investigação na Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e a Universidade de Berkeley.

Manuel Pinto de Abreu explicou ao semanário que apenas “foi desenvolvido um trabalho preparatório” para Feliciano Barreiras Duarte ser visiting scholar naquela universidade, mas que isso “acabou por oficialmente nunca se ter tornado realidade”.