“Ao todo, ganhei cinco mil dólares”, conta Pedro Cabaço, o estudante de engenharia informática por detrás da app portuguesa que teve mais de meio milhão de downloads em oito dias. O jogo foi lançado em 2017, mas apenas para o sistema operativo da Apple, o iOS. Depois de o jogo de futebol ter registado mais de 780 mil downloads, aposta na plataforma concorrente, o Android. Mas em que é que isto se traduz? Em cerca de 300 euros por mês.

“Sem jeito” para desenhar e porque queria fazer “coisas bonitas”, Pedro criou um primeiro jogo quando tinha 14 anos. Aos 21, lançou o Super Crossbar Challenge para o sistema operativo iOS. Os números com que arranca para a plataforma móvel da Google não surgiram do nada: “80% dos downloads que tivemos foi por termos aparecido na página principal do iOS”, explica ao Observador.

Logo após o lançamento da aplicação, Pedro Cabaço foi convidado pela Faculdade de Ciências e Tecnologia para mostra na Expo FCT a aplicação que criou.

Na versão para Android, o jogo que em oito dias cativou a atenção de mais de 780 mil utilizadores continua o mesmo: “atirar a bola à barra”. Com gráficos em duas dimensões e bonecos ao estilo de cartoons (alguns fazem lembrar vedetas do mundo do futebol), desliza-se o dedo no ecrã para se conseguir acertar na barra, chutando a bola o mais rapidamente possível.

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“Neste momento, temos 1.300 downloads, mas estamos à espera da resposta da Google para sermos destacados” na loja de aplicações do Androidconta Pedro. Este esforço para se ser escolhido pelas lojas de aplicações pode ajudar muito a aumentar os downloads, mas “também dá muito trabalho”.

“Um dos critérios para ter este destaque na loja de aplicações da Apple é o facto de o jogo ser exclusivo para iOS”, justifica Pedro Cabaço quanto ao adiamento do jogo para Android. Mas foi também esta a razão para fazer chegar o jogo português a mais pessoas. Passado um ano, a app que se baseia num modelo freemium (gratuito, mas com possibilidade de compras dentro) tem mais de cerca de 780 mil downloads.

“Mandei mais de 100 emails [a publishers]”. Inicialmente, quando estava a criar o Super Crossbar Challenge, Pedro Cabaço estava mais preocupado em ter quem o ajudasse na arte do jogo, mas depois: “convenceram-me a ter um publisher, um agente de apps”, conta. No final escolheu não um, mas dois publishers: a Play!Play!Fun e a FredBearGames. “São eles quem fazem a magia por detrás dos downloads”, conta Pedro.

Eles [os publishers] fazem a parte do marketing e foram eles que conseguiram que aparecêssemos na página principal do iOS”, explica Pedro Cabaço.

Criar uma app com um alemão que conheceu no Facebook

Para criar o Super Crossbar Challenge, Pedro teve alguma ajuda, assume. “Uma das pessoas que me ajudou foi o meu irmão, Tiago Cabaço”. Tiago é agora vice-presidente de um startup de alojamento estudantil, a Uniplaces, mas tinha trabalhado no Facebook em design de produto e “sempre puxou por mim, para que eu pusesse os meus jogos mais bonitos”.

Foi por querer “embelezar” a aplicação que Pedro procurou ajuda na Internet. “Tentei fazer as coisas bonitas, mas não tenho jeito para desenhar”, assume. Por isso, foi ver tutoriais no Youtube de um artista alemão, Chris Hildenbrand. Em dezembro, enquanto ainda melhorava a aplicação, num grupo de Facebook foi pedir sugestões quanto ao que estava a fazer e quem foi uma das pessoas que lhe respondeu? Isso mesmo, o mesmo artista dos tutoriais.

A partir daí começou a ligação entre os dois, que levou a que Chris se juntasse ao projeto e acabasse a receber parte dos lucros e tratasse da arte. “O Chris dava-me conselhos, já tem mais experiência”, conta Pedro, que foi o responsável pela divulgação. Foi graças ao artista alemão que Pedro decidiu procurar publishers para ajudarem com a divulgação da aplicação, contou.

Um alemão, um nigeriano e um português vão criar uma startup…

Com os publishers a ajudarem no marketing, Pedro assume que, por dia, apenas despende “umas horas, às vezes nem tanto”, para manter a aplicação a funcionar. Um dos grandes próximos passo vai ser, em junho, criar oficialmente a uma empresa, com Lukmon Agboola, um programador nigeriano que foi responsável na transposição da app para Android (e que já está a preparar um spin-off da app para o mundial), e com Chris Hildenbrand, o designer alemão responsável pela arte do videojogo, para terem mais projetos.

“Fiquei com 30%, o Chris com 25%, e os publishers com 45%”. E a Apple? “Fica com 30% de tudo”, explica Pedro quanto à divisão do lucros da aplicação que fez cerca de 18 mil euros.

E como é que um nigeriano, um alemão e um português — que poderia ser um início de uma anedota — estão juntos a fazer uma startup? Aqui está o twist,”nunca nos conhecemos pessoalmente, a comunicação tem sido toda feita por Internet”. Com divisão dos lucros, e ajuda dos publishers, Pedro com a empresa “oficialmente criada” quer criar mais aplicações.

Quanto a custos de produção, Pedro Cabaço afirma convictamente: “não gastei um cêntimo”. O jovem programador explica que para números de downloads tão elevados, “cinco mil dólares [cerca de quatro mil euros] pode parecer pouco”. Por mês, só o Pedro, está a ganhar “cerca de 300 euros” graças à aplicação.

Questionado se, pelos valores, mais valia não ter criado esta aplicação e dedicado-se a outros projetos, Pedro dá o exemplo do primeiro jogo que fez com 14 anos. “O primeiro jogo que lancei custava um euro e consegui 300 euros. Fiquei triste porque achei que eram poucos downloads, mas, de repente, tinha 14 anos e tinha conseguido 300 euros graças ao meu trabalho”, conta Pedro.