2 de novembro de 2005. O penteado de Leo era à beatles (com uma franjinha irrepreensível e rectilínea sobre a testa) e não todo “modernaço” como hoje o ostenta, “encerado”. O que também não ostentava era a barba ruiva do presente mas, antes, cara limpa e de puto. E Leo era um puto, com 18 anos. A técnica, desconcertante, puríssima, tão veloz naquela bota esquerda como no pensamento que lhe ordena o movimento, estava já lá, apenas se refinou com o passar do tempo.

O adversário era o Panathinaikos e o estádio o seu de então, de hoje, de sempre, o Camp Nou. O mister Frank Rijkaard fê-lo, pouco a pouco, titular, ocupando-se Leo de desassossegar defesas à direita, pois mais sobre esquerda Ronaldinho faria o mesmo.

À saída da defesa grega, pressionou dois rapazes que a História não relembra, Igor Bišćan e Loukas Vyntra, estes atrapalharam-se com o petiz e o petiz isolou-se perante o guarda-redes Mario Galinović. E à saída de Galinović, para surpresa de quem ainda não lhe sabia a falta de “vergonha”, picou a bola sobre o croata. Era aquela o primeiro golo de Leo, Leo Messi, na Champions.

Esta noite, outra vez no Camp Nou, alcançou a centena deles – e alcançou ao jogo 123 – no jogo com o Chelsea.

O primeiro de dois golos de Messi foi logo ao minuto três. Naquele vai-não-vai (ele vai sempre, só espera que o defesa o tente parar, se adiante, recue ou tão só pare, e naquele instante ele vai e ninguém mais o segura) que mantém sem macula desde aquele novembro distante do primeiro golo “uefeiro”, tabelou com Dembélé, por capricho ou “magnetismo” a bola ressaltou em Marcos Alonso, chegou a Suárez, Suárez isolou o argentino de calcanhar e o diabrete da camisola que um dia o Barcelona retirará (pois que ninguém ouse ser como Leo) rematou.

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Courtois tinha seguro o poste direito. Não tinha, porém, tão seguro o espaço vazio entre as duas pernas. E a bola entrou por aquela nesga – que para Messi foi nesga de celebração e ao belga de humilhação.

O Barcelona trazia um empate (1-1) de Stamford Bridge, aquando da primeira-mão dos “oitavos”. Em vantagem já se encontrava na segunda. Vantagem que aumentou ainda no primeiro tempo, ao minuto 20. É que ele não ataca só. Também defende.

É o primeiro “defesa” do Barcelona. Foi pressionar o amigo Fàbregas a meio-campo, surripiou-lhe a bola e arrancou. Meio-campo fora. Fàbregas estava já para trás, para trás ficariam também Christensen e Azpilicueta, mas Messi não chuta, cruza, Dembélé recebe o cruzamento à direita e remata forte e colocado para o segundo.

A segunda parte tem a história do golo 100. Mas tem também a de André Gomes.

Esta semana, o médio português concedeu uma entrevista à revista Panenka. Mais do que conceder, confessou. Está triste, André. “Não me sinto bem no campo. Não estou a desfrutar do que posso fazer. Com a pressão vivo bem, com o que não vivo bem é com a pressão que coloco sobre mim mesmo. Sou demasiado auto-crítico e perfecionista, nunca tolero enganar-me”, explicou. O treinador do Barcelona, Ernesto Valverde, considerou a confissão do jogador um ato de “valentia”.

E esta quarta à noite, quando ao minuto 61 Busquets deu a vez a André Gomes, todo o Camp Nou se ergueu (o mesmo que antes o apupou a cada toque na bola ergueu-se) e aplaudiu o nosso, o deles, valente André.

Dois minutos volvidos, Suárez conduz o ataque, entrega a bola mais à esquerda em Messi, o argentino muda de velocidade, deixa o veloz Moses de candeias às avessas e remata cruzado. Outra vez por entre as pernas do belga Courtois.

O encontro entre o Barcelona e o Chelsea foi o derradeiro dos oitavos-de-final da Champions. Os catalães juntam-se aos restantes clubes já apurados: Real Madrid, Sevilha, Manchester City, Liverpool, Roma, Juventus e Bayern Munique. O sorteio dos “quartos” vai ser esta sexta-feira, às 11h00, na sede da UEFA, em Nyon, na Suíça.