Os restos mortais do músico José Afonso, “uma das figuras mais marcantes da história da vida cultural e artística portuguesa”, devem ser trasladados para o Panteão Nacional, propôs a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) num comunicado divulgado esta terça-feira.

“É este o tributo e é esta homenagem que Portugal deve a quem como mais ninguém o soube cantar em nome dos valores da liberdade, da democracia, da cultura e da cidadania”, lê-se no comunicado.  Assim, a SPA “assume publicamente o compromisso de lutar por este legítimo e inadiável ato de consagração que deverá coincidir com os 90 anos do nascimento [de José Afonso] e com os 45 anos do 25 de Abril”.

“Além do compromisso que assumiu com as suas canções na luta pela liberdade e pela democracia, tendo estado preso em Caxias em abril e maio de 1973, Zeca Afonso merece ter os direitos da sua obra preservados e edições que representem o seu extenso e inigualável repertório”, justifica.

O ano passado, no âmbito dos 30 anos da morte de José Afonso (1929-1987), debateu-se o facto de ser desconhecido o paradeiro das bobinas originais de gravação de José Afonso. Na altura, o Ministério da Cultura, numa declaração à agência Lusa, afirmou que era “importante a preservação” do património fonográfico de José Afonso e disse estar a “apurar o paradeiro das gravações”.

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“O gabinete do ministro da Cultura foi informado do interesse na salvaguarda da obra discográfica de Zeca Afonso por parte da Associação José Afonso, nomeadamente das “masters” que pertenceriam à Movieplay [Portuguesa]”, declarou à Lusa fonte oficial.

Também na mesma ocasião, a SPA realçou a “urgência da reedição da obra” de José Afonso, questão sobre a qual alertou o ministro da Cultura, para que obtenha o “estatuto de património cultural”. “O presidente da SPA [José Jorge Letria] propôs ao ministro da Cultura [Luís Filipe Castro Mendes] uma intervenção no sentido de se assegurar a competente e adequada reedição da obra discográfica, por se tratar de uma referência obrigatória da nossa vida cultural e cívica”, indicou a SPA.

No comunicado a SPA reclama, em nome dos autores portugueses, a trasladação dos restos mortais de José Afonso, sepultados em campa rasa no Cemitério de N. S. da Piedade, em Setúbal, e volta a recordar a obra do autor de “A Morte Saiu à Rua” e defende a sua “preservação”, “em articulação com os herdeiros de José Afonso”, “contra a negligência e incapacidade dos editores que a deixaram gravemente dispersa e abandonada”.

“Zeca Afonso é um símbolo que nunca poderá ser esquecido ou ignorado, embora nunca se tenha batido por atos de consagração e de reconhecimento. Devem ser hoje as novas gerações a aplaudir e a louvar a obra do homem que deixou uma marca perene e profunda na vida cultural e cívica de Portugal”, remata.