Victor Valdovinos, um homem que acusou o realizador Bryan Singer de o ter violado quando tinha 13 anos, descreveu à Atlantic o que aconteceu há 20 anos quando o realizador de “Bohemian Rhapsody” gravava um filme na escola onde ele andava. De acordo com a entrevista, publicada um dia depois das nomeações para os Óscares, Victor foi levado a despir-se num vestiário. Depois chegou Bryan Singer, que “agarrou os meus genitais e começou a masturbá-los”, enquanto “esfregava as partes da frente dele”, descreveu o homem. “Fez tudo isto com um sorriso”, garantiu ainda Victor, que se recorda de o realizador ter dito: “És tão bonito. Quero mesmo trabalhar contigo. Tenho um Ferrari porreiro. Vou cuidar de ti”.

De acordo com a Atlantic, Victor era estudante no sétimo ano na escola Eliot Middle School, em Los Angeles, que em 1997 estava a ser cenário para o filme “Apt Pupil”. Enquanto usava os urinóis, Victor Valdovinos sentiu alguém aproximar-se pelas costas: “És tão bonito. O que vais fazer amanhã? Talvez possa arranjar alguém que te contacte para te por no filme”. Era Bryan Singer, o realizador de “Bohemian Rhapsody”, nomeado para o Óscar de melhor filme. Começavam aí 20 anos de acusações de abuso sexual contra ele.

Um dia depois de os nomeados para a estatueta dourada terem sido divulgados pela Academia Americana, a Atlantic divulgou ainda as entrevistas que fez a 46 mulheres e quatro homens que acusam Bryan Singer de violação ou de os ter levado a ter relações sexuais enquanto ainda eram menores. Victor Valdovinos é apenas um deles. Disse que um dia, enquanto as gravações ainda decorriam, foi levado para um vestiário, obrigado a despir-se e a enrolar uma toalha pela anca. Quando Victor já estava de saída, Bryan Singer entrou e terá abusado sexualmente do rapaz. Fê-lo três vezes ao longo desse dia. Victor tinha 13 anos. Bryan estava na casa dos 30.

Outro testemunho ouvido pela Atlantic, que usou o nome fictício de Ben, diz que tinha 17 ou 18 anos quando teve sexo oral com Bryan Singer. O realizador tinha feito uma festa na piscina em casa e os convidados eram todos muito novos, recorda Ben: “Parecia uma festa de escola secundária”, descreve. Ben tinha saído da casa dos pais e tinha conhecido Bryan Singer pouco depois. Naquele dia, Singer inventou que não se estava a sentir bem e saiu da festa com Ben.

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“Ele punha as mãos dentro das minhas calças sem consentimento. Ele era predador porque usava álcool e drogas e depois fazia sexo connosco”, recorda o homem.

Mas assume que, no seu caso, Bryan Singer nunca o imobilizou e violou. Para Ben, aquilo parecia meramente simbiótico: “Eu era um miúdo gordo e socialmente desajeitado. E de repente já estava a receber toda a atenção. Isso levou-me a acreditar que era assim que deveria ser, que a maneira de chamar a atenção é ser sexual”. Era assim no início, mas depois Ben apercebeu-se que estava a ser usado. “Senti-me apenas como um idiota. É como quando a vítima se culpa pelo que aconteceu”, conclui.

Embora os primeiros casos de abuso sexual relacionados com Bryan Singer tenham mais de 20 anos, eles só começaram a ser descobertos em 2014 quando Michael Egan abriu um processo contra o realizador. Os documentos a que a Atlantic teve acesso dizem que Bryan Singer era suspeito de entrar num grupo de executivos da área do entretenimento que “mantinha e explorava rapazes num anel sexual sórdido”. Michael Egan afirma que ele era um desses rapazes e que Bryan Singer tinha abusado sexualmente dele durante duas viagens ao Hawai, num período entre 1 de agosto e 31 de outubro de 1999.

Michael Egan terá sido drogado com uma substância que “impactou as capacidades motoras”. Bryan Singer encontrou-o junto a uma piscina e estava zangado por Egan ter desaparecido. Primeiro “cuspiu nas nádegas” do rapaz, “espancou-o com força e esfregou uma mão cheia de cocaína no rosto dele”. “Depois violou-o, fazendo sexo anal”, dizem os documentos. Segundo Michael Egan, situações como esta aconteceram várias vezes. E com muitos rapazes desse grupo a que Bryan Singer pertenceria.

Ainda antes de estas acusações terem chegado a público, Bryan Singer publicou uma mensagem no Instagram a defender-se: “Já sei há algum tempo que a Esquire [foi a Atlantic que publicou as histórias] pode publicar um artigo negativo sobre mim. Contactaram os meus amigos, colegas e pessoas que eu não conheço. No clima de hoje em que as carreiras das pessoas estão a ser minadas por meras acusações, o que a Esquire está a tentar fazer é um atentado imprudente contra a verdade”.