Esta quarta-feira, Rafa Nadal derrotou Mischa Zverev – o irmão de Alexander, atual número 3 do ranking ATP e tido como futuro do ténis mundial – na ronda inaugural do Open de Acapulco e avançou para os oitavos de final do torneio mexicano, onde vai encontrar Nick Kyrgios (que deixou Andreas Seppi para trás). Depois da derrota inequívoca na final do Open da Austrália, aos pés de um exímio Novak Djokovic, Nadal procura recuperar ímpeto no México e começar da melhor forma uma ronda norte-americana que tem Indian Wells e Miami como próximas etapas, que o espanhol falhou na temporada passada devido a lesão.

Mas antes de eliminar Zverev em dois sets (6-3, 6-3), Nadal deu uma longa entrevista ao ABC onde falou de ténis mas de muito mais do que isso. O tenista, um dos mais bem sucedidos atletas espanhóis – que ao longo de 18 anos enquanto profissional já venceu 17 Grand Slams e ganhou ainda a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 2008 –, debruçou-se sobre problemas sociais, sobre a própria personalidade e sobre os 32 anos que cumpriu em junho do ano passado e que o aproximam, de forma inevitável, de um eventual ponto final na carreira. Mas, para Nadal, a questão da idade não chega a ser um problema porque o tenista escolhe manter uma espécie de quimera juvenil que o deixa aproveitar os treinos, a antecipação e os torneios. “Há momentos em que, quando se acumulam muitas coisas, me canso. Mas, por sorte, mantenho a ilusão intacta, mantenho a vontade de ir treinar e desfruto muitíssimo”, explicou.

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A entrevista decorreu já no México, horas depois de o tenista aterrar em Costa Mujeres, um dos pontos mais a leste do país e o local onde decidiu abrir a segunda academia de ténis com o próprio nome; a primeira fica em Manacor, Málaga, a terra natal de Nadal. As notícias de uma lesão no pulso alimentaram durante os primeiros dias da semana rumores de que o espanhol poderia não conseguir estar presente no encontro com Zverev e só esta terça-feira, na conferência de imprensa de antecipação, é que Nadal confirmou que iria jogar: ainda que tenha revelado já depois da vitória que atrasou a hora da conferência para ter garantias de que estava em condições de entrar no court. “Senti-me bem e o pulso funcionou. Por sorte estou mais ou menos bem. Ontem atrasei a conferência de imprensa para não mentir. Não sabia o que dizer antes de saber a evolução do pulso, mas estou bem”, atirou o tenista.

O tenista espanhol perdeu na final do Open da Austrália com o sérvio Novak Djokovic no final de janeiro

Ao ABC, Rafael Nadal garantiu que não é “tenista durante o dia todo” e que não é um “obcecado pelo ténis”. “Claro que penso em ténis, penso em muitos momentos do meu dia. Penso no que fiz mal, no que fiz bem, no porquê de uma coisa me ter saído de uma maneira e outra de outra…mas não sou obcecado nem nunca fui”, revela o espanhol, que indica ainda que não gosta de discutir nem de entrar em grandes confrontos, não conseguindo sequer recordar-se da última vez que se chateou. “Chateio-me pouco. Se me chateio é momentâneo e passa muito rápido. Gosto muito pouco de discutir. Se não é por uma necessidade absoluta, tento evitar problemas. Há quem diga que quando há um problema há que atacá-lo; eu digo que se o poderes evitar, talvez seja o melhor. A vida é muito mais agradável se tentarmos não ter problemas nem discussões”, acrescenta, dando como exemplo o tema da independência da Catalunha que, na sua opinião, se arrasta porque “a confrontação é tão alargada em tantos sentidos”.

“A sociedade está a radicalizar-se e isso não me agrada. Mas acho que não vivemos entre extremos. Acho que é complicado chegar a compromissos porque há demasiada tensão entre todos e isso, do meu ponto de vista, não é bom. Não pode ser bom. Falta mais respeito e vontade de avançar. E, para avançar, é preciso entendimento”, defende o tenista, explicando depois que comenta “política, desporto, coisas da vida, coisas quotidianas” com os amigos e a família mas é “prudente” quando é chamado a opinar junto de meios de comunicação social. “Sou uma pessoa normal, não sou só tenista. Antes de mais, sou um cidadão espanhol. E as coisas que nos acontecem interessam-me e preocupam-me, como a todos. Somos também cidadãos do mundo, temos as nossas vidas. Como digo, antes de tenista, sou como qualquer outro”, lembra Rafa Nadal, que mais do que personalidade do desporto em Espanha é também uma celebridade e tem alimentado capas de revistas cor de rosa com o casamento com Xisca Perelló, com quem mantém uma relação há 14 anos.

O tenista na inauguração do novo Rafa Nadal Tennis Centre, em Costa Mujeres, no México

Mas apesar da preocupação com os problemas sociais e de assumir alguém “acredita nas pessoas acima de qualquer outra coisa”, o atual número 2 do ranking ATP coloca como praticamente impossível a possibilidade de se aventurar pelo mundo da política. “A política é uma parte muito importante da nossa sociedade, mas não, não é um objetivo. Não digo jamais, mas é algo quase impossível. Mas se estivesse na política, tentaria fazê-la de outra maneira, tentaria ser mais positivo”, garante Nadal, que não entende o motivo pelo qual os espanhóis estão constantemente a falar “de forma negativa” sobre o próprio país. “Eu viajo todas as semanas por todos os lugares do mundo e nós, cidadãos espanhóis, não somos consciente de tudo aquilo que temos, do bom país que temos, do quão bem vivemos. Claro que há gente que passa mal, sem dúvida alguma. Claro que há coisas em que temos de melhorar, sem dúvida alguma. Não digo que o nosso país seja perfeito, mas quando viajas, dás-te conta da sorte que temos”, afirma o atleta.

Rafa Nadal sublinha ainda que tem como principal “capricho” a proximidade com o mar, que não gosta de estar sozinho em casa e que não sabe quantas pessoas tem o seu número de telemóvel. Até porque, como explica de forma muito simples, “existe uma quantidade enorme de gente” que tem o número de telemóvel do tenista e que este não sabe como o conseguiram, já que não conhece “a maior parte”. Esta quinta-feira (2h da madrugada), Nadal defronta Kyrgios e tenta seguir em frente no Open de Acapulco, numa tentativa de fazer esquecer a final perdida para Djokovic e na busca pelo pico de forma que surpreendeu na Austrália.