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Lixo 0 - vida 1. O primeiro livro de Ana Milhazes para um resultado mais sustentável

Este artigo tem mais de 4 anos

Fundadora do Movimento Lixo Zero, em 2017, e autora do blogue “Ana, Go Slowly", Ana Milhazes dá ideias e muitas sugestões para uma vida mais simples, sustentável e feliz. Será que vamos a tempo?

Depois de se despedir, em 2017, optou por continuar a abrandar e simplificar a sua vida, reduzir e recusar, viver mais e produzir menos, e a verdade é que hoje Ana sente-se mais feliz
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Depois de se despedir, em 2017, optou por continuar a abrandar e simplificar a sua vida, reduzir e recusar, viver mais e produzir menos, e a verdade é que hoje Ana sente-se mais feliz

Daniela Gandra

Depois de se despedir, em 2017, optou por continuar a abrandar e simplificar a sua vida, reduzir e recusar, viver mais e produzir menos, e a verdade é que hoje Ana sente-se mais feliz

Daniela Gandra

Pensou e repensou antes de publicar o seu primeiro livro. Não foi uma decisão fácil. Sabia que é o veículo perfeito para passar a mensagem, mas todo o processo inerente à sua impressão e edição produziria a tal pegada ecológica que Ana Milhazes se esforça por combater todos os dias. Desde que acorda até se deitar, as suas escolhas refletem um cuidado e uma preocupação que gostaria de ver mais vezes e em mais pessoas. E embora admita haver ainda um longo caminho a percorrer, a verdade é que o contágio está a resultar porque tem cada vez mais seguidores — já batem os 20 mil — e não só nas redes sociais. Atualmente, tem de recusar convites, não dá vazão às muitas solicitações e eventos, e aumentam os pedidos para  workshops e palestras. Há cada vez mais públicos a querer saber o que se pode fazer em prol duma vida melhor, mais simples e mais sustentável, sem produzir tanto lixo.

E é o que tem conseguido a portuense de 35 anos, fundadora do Movimento Lixo Zero, em 2017, e autora do blogue “Ana, Go Slowly”, onde explica as suas grandes vitórias. Sem dogmas, preconceitos ou doutrinas, Ana sugere ser mais, ter menos, viver melhor, a um ritmo mais calmo e com uma consciência mais desperta e solidária, sobretudo. Os tempos de mudança são urgentes e os números da devastação planetária gritam alertas não para hoje, mas para ontem.

Do consumo sustentável à tecnologia, passando pelos meios de transporte, pela organização da casa, higiene pessoal, desperdício zero e economia de partilha, há todo um universo de comportamentos a explorar, conforme a sua rotina e adequado a diferentes vidas. A autora defende que se for só uma pequena mudança, já faz diferença. “Quero que cada tema o incentive a mudar alguma coisa na sua vida, (…) quando terminar, doe este livro, faça-o circular pelos seus familiares, amigos e colegas de trabalho, passe a mensagem”, lê-se nas primeiras páginas de “Vida Lixo Zero” – aprenda a viver de forma mais simples, sustentável e feliz”, assinado pela também socióloga, formadora, ativista ambiental e instrutora de yoga.

Daniela Gandra

E, se ao início se sentia um bocadinho “extraterrestre”, já que acompanhou os primeiros passos desta tendência, hoje aprecia o sorriso dos muitos que aplaudem, e, mais importante, replicam o seu comportamento. Desde o empregado do restaurante ou festival de música que lhe enche o copo que traz na mochila ao amigo que não tem de todo o seu estilo de vida, mas já recusa o papel do tabuleiro nos pontos de fast food. Ou vai às compras com um saco de pano. Porque sim. Porque afinal, não é assim tão difícil e reconhecer é o primeiro passo. “Verdade que ainda há muito desconhecimento e um longo caminho a percorrer, mas nestes últimos dois anos, tenho observado uma grande melhoria”, conta a ativista ao Observador.

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Na espuma de dias cruciais para o planeta, onde os alarmes para uma maior consciência ambiental soam ininterruptamente, quer a nível individual e coletivo, Ana Milhazes lança o desafio dos pequenos passos em múltiplas áreas do dia a dia, e em úteis capítulos, “com uma grande abertura à diversidade de pessoas e realidades, até porque não vivo em nenhuma bolha”, assegura. Aliás, a autora adverte logo, nas primeiras frases, que o livro não é indicado para quem não pretenda mudar.

Se continuou nestas linhas, saiba que a embaixadora do movimento Lixo Zero Portugal – criado em 2017 e que tem cativado milhares de portugueses a viver mais devagar e a produzir menos lixo – foi ela própria o alvo da maior mudança. “Fui a minha maior cobaia”, revela. Sentiu na pele, durante muitos anos, o ritmo acelerado de trabalho, com o desgaste inerente a prazos, obrigações e compromissos. Embora até gostasse do que fazia na área das tecnologias da informação, não conseguiu travar a tempo do diagnóstico de burnout e depressão.

Depois de se despedir, em 2017, optou por continuar a abrandar e simplificar a sua vida, reduzir e recusar, viver mais e produzir menos, e a verdade é que hoje se sente mais feliz. Partindo do seu próprio exemplo, Ana Milhazes acredita que se pode viver mais com menos, e que cada gesto de mudança faz mesmo toda a diferença. Mesmo que seja apenas um e dentro das circunstâncias de cada pessoa. “Vida Lixo Zero” é um compêndio de dicas, sugestões e pequenas histórias de vida da autora que já em miúda, apanhava o lixo do chão, enquanto brincava na rua com os amigos.

O livro foi impresso em papel reciclado e sem plástico na capa.

Lixo. Palavra-chave. É por aí que começamos, por um estilo de vida desperdício zero, e com os pés bem assentes no chão. Essa é uma das premissas de Ana Milhazes, modificar aquilo que está ao nosso alcance. “Não se muda de um dia para o outro e naturalmente que o desperdício zero é uma meta que nunca vamos conseguir atingir, porque temos necessidades, como seres humanos, mas o grande desafio é todos os dias tentarmos fazer um bocadinho menos lixo”, defende a socióloga, cujo lixo cabe agora num frasco de vidro, mas nem sempre foi assim.

Houve um dia em que chegou a casa e deu-se o clique. “Olhava para os meus sacos de lixo e pensava que tinha de fazer alguma coisa, não podia continuar naquele registo”. O registo não é bonito. Em média, estima-se que cada português produza 500 quilos de lixo e resíduos por ano, segundo dados (2019) da Agência Portuguesa do Ambiente.“Eu própria não me apercebia que produzia lixo daquela maneira, e acho que o verdadeiro problema está nas vidas aceleradas que todos temos, se nem tempo temos para respirar, como é que vamos olhar para o caixote do lixo?”, questiona.

Manter a consciência desperta, dentro e fora de casa, talvez seja o primeiro passo para implementar novos hábitos e novas rotinas. A autora desmistifica um dado interessante. “Se for só uma mudança, ótimo, é um mito julgarmos que deixar de usar um único saco de plástico não fará a diferença, faz diferença, faz sempre diferença, cada ação conta, não apenas enquanto seres individuais, mas, sobretudo, enquanto habitantes do planeta Terra”. E houve logo diferenças na sua vida, a começar pelos tempos livres passados em centros comerciais. “Comprava muita roupa, as minhas amigas até me perguntavam se havia nesta ou naquela loja, estava a par de tudo, acho que o consumo servia para preencher um vazio, supostamente, eu estava no caminho certo, tinha sucesso a nível pessoal e profissional, mas não estava feliz”, assume.

A descoberta do minimalismo, através da pioneira Bea Johnson — a mentora do movimento zero waste e que está por estes dias a dar palestras na América Latina — fê-la livrar-se de infindáveis objetos e “muita tralha” que não substituiu por outros, isto só dentro dos armários. Depois veio tudo o resto, há quem diga que se torna viciante, a prática do desapego. “É verdade, quando se começa, depois custa parar. É um processo libertador e atrás das roupas e dos sapatos, e de toda a tralha, vêm pessoas, hobbies, compromissos e pensamentos, fica só o que vale a pena”, explica Ana Milhazes. “Vivemos numa sociedade de consumo e em vez de nos concentrarmos naquilo que temos, vivemos obcecados com o que não temos, e esta busca por mais leva ao esgotamento dos recursos do nosso planeta”, declara.

Falar disto é falar de plástico. As previsões apontam para em 2050 haver mais plásticos do que peixes nas águas. Todos os anos, mais de oito milhões de toneladas de plástico vão parar aos oceanos, segundo dados da Organização das Nações Unidas que tem feito soar alarmes ao minuto. Não usar produtos descartáveis de plástico — cotonetes, copos, pauzinhos de café, só para referir alguns — tornou-se natural na vida da blogger que já não prescinde do seu kit de talheres com uma palhinha e um guardanapo de pano, um saco de pano para compras, e uma garrafa de água reutilizável.

Daniela Gandra

A autora confessa ter dificuldade em acreditar em falsas promessas de eliminar radicalmente o plástico em x dias, até porque suprimir as embalagens usadas todos os dias, a toda a hora, é algo que parece inatingível. “Tal será praticamente impossível, até porque o plástico salva vidas todos os dias, por exemplo, na medicina, há plástico que não podemos deixar de usar, o problema, mais uma vez, é na forma massificada de como é empregue, sobretudo, o de uso único, e é esse que podemos recusar”. Ana Milhazes aponta ideias para que seja mais fácil, e, sobretudo, viável. “Percebi que quase tudo o que comprava era de plástico, recusar objetos descartáveis é o primeiro passo, e o que notei mais diferença foi começar a comprar a granel, levo frascos e sacos de pano, vê-se cada vez mais pessoas a fazê-lo”, conta a autora que lançou mãos à obra e compilou um documento em excel com todas as lojas a granel em todo o país, cujo ficheiro deu origem ao site agranel.pt. E sim, vai a restaurantes e concertos, a única diferença é que bebe do seu próprio copo e usa sempre a mesma palhinha.

Se recusar pode ser o primeiro passo, reduzir aquilo que não se pode mesmo recusar, o segundo. Segue-se reutilizar e reciclar, sempre. Mais do que substituir o que consumimos por alternativas mais sustentáveis, precisamos de consumir menos. E Ana coloca a questão no livro. “Imagine que agora em vez de tomarmos um banho de 15 minutos em que se gasta 135 litros de água, cada um tomasse um duche diário de 5 minutos, onde se gasta apenas 40? E por aí fora, há mesmo muitas coisas que podemos reduzir”, argumenta, confessando que sente cada vez mais, uma maior sintonia com as suas ideias.

Já lhe aconteceu de tudo, mas continua sem se sentir na obrigação de justificar todas as suas decisões. “Sim, há aquelas pessoas que ainda me dizem, ah, mas tu às vezes andas de carro”, revela. Às críticas de ser extremista ou radical, Ana contrapõe pelo seu próprio exemplo. “Acredito que o exemplo que damos a nós próprios e aos outros é a melhor solução e a melhor resposta, na verdade, só falo sobre isto de ser zero waster quando me pedem ajuda ou perguntam coisas, sempre com gentileza e educação, mas dá-me muita vontade de gritar, atenção, é preciso mesmo fazer algo, não para agora, mas para ontem!”, remata. O livro foi impresso em papel reciclado e sem plástico na capa.

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