A semana da alta-costura de Paris soma e segue e, ao terceiro dia, foi palco de alguns dos grandes mestres da moda de atelier parisiense, e não só. O ponto alto pode ter sido a despedida de Jean Paul Gaultier da passerelle, mas o calendário de quarta-feira reservou outros momentos áureos de celebração da moda e das minuciosas técnicas de atelier. Maison Margiela, Elie Saab, Viktor & Rolf, Zuhair Murad e Guo Pei, entre outros, deram provas de vitalidade da alta-costura naquela que é a sua primeira morada, Paris.

Valentino: menos volume, uma nova forma

Comedido, Pierpaolo Piccioli aproveitou a próxima estação quente para propor uma nova silhueta Valentino, em relação às plumas, laços e volumes quase teatrais que ele próprio tem vindo a apresentar, sobretudo nos calendários dedicados à moda de atelier. Para o criador italiano, um defensor da alta-costura enquanto manifestação de sonhos e, como tal, como liberdade de expressão individual, parece haver algo que ficou para trás.

© Estrop/Getty Images

Na coleção apresentada esta quarta-feira em Paris, abriu espaço para as calças, as blusas e os casacos, mantendo os contrastes de cor (bem como os laços) como uma espécie de assinatura, sem esquecer, no entanto, as habilidades da sua equipa de atelier, composta por verdadeiros ases do bordado, da plissagem, folhos e drapeados, da modelagem da pele e da pintura sobre tecido. Mais sóbria, a alta-costura Valentino continua a ser um mostruário de tudo isto.

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No Instagram, Valentino Garavani teceu ao diretor criativo da casa o maior dos elogios — “A melhor coleção que já fizeste, caro PP”. Na passerelle, Piccioli reuniu uma constelação de musas (algumas ícones sem idade), entre elas a britânica Stella Tennant, Irina Shayk, Mariacarla Boscono, Karen Elson e Natasha Poly. A sul-sudanesa Adut Akech, um dos rostos atuais da marca italiana, encerrou o desfile.

Entre lágrimas, supermodelos e ao som de Boy George, Jean Paul Gaultier despediu-se da alta-costura

Colaborar, brilhar e reaproveitar: as lições da alta-costura

A Maison Margiela de John Galliano foi o primeiro desfile deste terceiro dia de alta-costura em Paris. “É proposto um upcycling de valores”, referiu a marca através de um comunicado. Os momentos seguintes seriam de surpresa. Galliano exibiu toda a sua mestria (de execução e de reflexão) ao recuperar clássicos do guarda-roupa burguês. O criador britânico e a sua equipa de atelier não ficaram por aí, entraram mesmo em lojas de roupa em segunda mão em busca de peças que pudessem ser convertidas em algo novo, neste caso, em alta-costura.

A colaboração entre a Reebok e a Maison Margiela © Divulgação

Tudo o que de solene e aprumado pudesse haver nesta coleção — que recebeu o título de “Artisanal” –, Galliano arruinou com a sua tesoura. Cortou, virou do avesso, esburacou (com método), coseu, colou e coloriu com uma paleta quase carnavalesca. No meio de um manifesto, ainda encontrámos objetos de desejo, entre eles, os volumosos sobretudos vermelhos, verdes, azuis e amarelos. A Maison Margiela aproveitou ainda o momento para apresentar a sua mais recente colaboração. Com a Reebok, lançou uma nova versão das icónicas botas Tabi.

Quem regressou à passerelle da Margiela foi o manequim Leon Dame, depois de, em setembro do ano passado, ter sido um dos centros das atenções em Paris ao desfilar para a mesma marca. Quatro meses depois, o modelo alemão voltou a levar a teatralidade para o desfile, desta vez envolvido pelo ambiente de um cabaret dos anos 30.

Uma das peças da colaboração da Viktor & Rolf com a Melissa © Divulgação

Quem voltou a mostrar que alta-costura e reaproveitamento de materiais não é uma combinação impossível foi a dupla holandesa Viktor & Rolf. Com vestidos de retalhos, fitas, golas, folhos, estampados florais e orlas em tule, este desfile de bonecas resultou da utilização de tecidos em stock. A marca, exclusivamente dedicada à alta-costura, apresentou ainda uma colaboração com a brasileira Melissa. Uma edição limitada de sandálias e malas que, apesar de não ser totalmente vegana, é reciclável. As peças já estão à venda e custam entre 99 e 155 euros.

Na fotogaleria, veja imagens dos desfiles que marcaram este terceiro e penúltimo dia da semana da alta-costura de Paris.