Em fevereiro do ano passado, Zion Williamson foi notícia no mundo inteiro por ter rebentado uma sapatilha durante um jogo de basquetebol universitário. Dito assim, o episódio parece pouco especial — é necessário descrevê-lo, porque uma imagem vale mais do que mil palavras, para se entender ao certo o que passou. Aos 19 anos, enquanto representava a Duke University, Zion separou a sola do resto da sapatilha enquanto fazia um movimento de rotação. O momento tornou-se mais do que mediático, fator engrossado pela presença de Barack Obama nas bancadas, e o poderio físico do jovem jogador revelou-se ao resto do mundo depois de já o ter feito aos Estados Unidos nos meses anteriores.
A sapatilha destruiu-se, Zion Williamson lesionou-se e até Obama falou do assunto
Em junho, os New Orleans Pelicans foram os primeiros a escolher no draft de 2019 e a opção foi pouco ou nada surpreendente: Zion Williamson, com os seus metro e noventa e oito e cento e vinte e nove quilos, estava na NBA. A escolha do jovem ala tornou-se desde logo a mais mediática desde a de LeBron James, número 1 do draft de 2003, e várias marcas assinaram contratos publicitários com Zion que ascendiam aos 100 milhões de dólares. Os Pelicans, franquia que nunca conquistou o título da NBA nem nunca marcou presença nas Finals, esgotaram os bilhetes para a temporada inteira semanas antes do início da competição. De repente, depois de um ano histórico em que os Raptors foram campeões pela primeira vez, as conversas iam todas parar a Zion.
As expectativas desmedidas tornaram-se ainda maiores quando em outubro, antes do arranque oficial da temporada, Zion se lesionou com gravidade num dos tendões do joelho. Os Pelicans começaram a época sem o principal atrativo e chegaram a janeiro e a esta semana no 12.º lugar da Conferência Oeste, com 17 vitórias e 27 derrotas. Esta quarta-feira, porém, o entusiasmo regressou: três meses depois, Zion Williamson ia finalmente estrear-se nos Pelicans, na NBA e no sonho que teve de adiar devido à lesão. Contra os San Antonio Spurs, o jovem de 19 anos que escreve poesia nas horas vagas desenhou os primeiros versos de um poema que se adivinha longo.
Zion impressionou logo na chegada ao Smoothie King Center, ao aparecer com um fato pouco discreto que deixava adivinhar que o jogador estava pronto para, finalmente, justificar todas as expectativas. Esse momento, ainda assim, acabou por demorar — o jovem jogador cumpriu um primeiro período muito abaixo do esperado onde raramente arriscou, preferindo sempre passar a bola assim que a recebia. A dúvida, nesta altura, era se Zion estava com algum receio devido à lesão que sofreu há pouco tempo e que ainda o obrigava a estar com o joelho protegido ou se, como tantos previram, estava a sentir-se limitado devido ao peso que tem. Os 129 quilos do norte-americano estão acima do normal para jogadores de basquetebol e foram muitos os antigos atletas a defender que o ala dos Pelicans terá de perder peso para conseguir movimentar-se da melhor forma e não estar tão suscetível a lesões graves.
Contra os Spurs, Zion foi melhorando com o avançar do jogo e chegou ao quarto e último período reforçado com uma confiança que ainda não tinha demonstrado. Em três minutos, marcou 17 pontos seguidos, incluindo quatro triplos, e acabou por colocar os Pelicans na frente do marcador praticamente sozinho. Quando faltavam mais de cinco minutos para o final da partida, o treinador Alvin Gentry acabou por substituir Zion e os Spurs recuperaram a vantagem que tinham tido durante quase todo o jogo, acabando por vencer. No fim, no resumo dos primeiros 18 minutos e 18 segundos que cumpriu na NBA, Zion Williamson fez 22 pontos, sete ressaltos, três assistências e cinco turnovers: mas mais do que isso, e principalmente no quarto período, mostrou que é muito mais do que o jogador que se tornou viral nas redes sociais graças aos vídeos de afundanços impressionantes. Com ressaltos onde canaliza o melhor do poderio físico que tem, assistências que mostram uma visão de jogo acima da média e triplos certeiros que levaram os adeptos dos Pelicans à loucura, Zion mostrou que as notícias que dão conta de que é o futuro da NBA não são manifestamente exageradas.
No. 1 overall draft pick @Zionwilliamson goes for 22 PTS (4-4 3PM), including 17 straight 4th quarter points, in his NBA debut for the @PelicansNBA! #NBARooks x #WontBowDown pic.twitter.com/WrcChMAWSe
— NBA (@NBA) January 23, 2020
“A estreia foi tudo aquilo com que tinha sonhado, exceto a parte de termos perdido. A energia da multidão, foi tudo elétrico. Foi um sonho tornado realidade, finalmente jogar, mas ao fim do dia só queria ganhar por isso já tenho de olhar para o próximo jogo”, disse o ala, que não escondeu a frustração por ter sido substituído nos últimos minutos. “Foi muito difícil. Tenho 19 anos. Honestamente, naquele momento, não estou a pensar sobre longevidade, estou a pensar em ganhar aquele jogo. Por isso, foi muito duro”, explicou.
Quase um ano depois do episódio da sapatilha, mais de seis meses depois do draft e três depois da lesão, Zion Williamson estreou-se finalmente na NBA. E estreou-se com 17 pontos seguidos que são o primeiro verso de um poema que todos querem ver longo.