Pode dizer-se que Choupette ficou órfã há quase um ano, após a morte do dono, o designer de moda Karl Lagerfeld, diretor criativo da Chanel durante mais de três décadas. Sem descendência e com um estilo de vida assente, essencialmente, no luxo, nunca foi de esperar que a gata, na altura com sete anos, viesse a passar qualquer tipo de privação. Isso não só não aconteceu, como a mais que tudo de Lagerfeld ganhou uma agenda própria, tem conta bancária e lançou um livro que esgotou num ápice. Aguarda-se agora a segunda edição.

“É uma rapariga muito poderosa”, afirmou Amanda Harlech, consultora de estilo de Lagerfeld na Chanel, ao The New York Times. “A Choupette mudou a vida do Karl. Ele nem acreditava no quão feliz ela o fazia nem em como ela adorava estar com ele — mesmo enquanto dormiam, ele era capaz de ficar a olhar para ela durante horas”, completou a antiga assessora do designer, que morreu aos 85 anos, na sequência de um cancro no pâncreas.

Um #throwbackthursday no Instagram de Choupette recorda uma visita ao atelier de Karl Lagerfeld © Instagram.com/choupetteofficiel

Os rumores começaram de imediato a circular — Lagerfeld teria deixado uma herança ao seu animal de estimação. A tese nunca foi confirmada, porém Choupette é decididamente uma gata com recursos. Atualmente, vive em Paris, ao cuidado de Françoise Caçote, que já era empregada do próprio designer. “Está em boa forma e rodeada de amor”, anunciou Caroline Lebar, diretora de comunicação da marca Karl Lagerfeld na capital francesa.

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Em fevereiro do ano passado, Caroline assistiu às mais sentidas demonstrações de pesar e afeto por parte dos admiradores de Karl Lagerfeld, recordando ainda que muitos demonstraram, na mesma medida, preocupação quanto ao futuro da gata birmanesa. Mas este estava assegurado. Mesmo sem herança, tudo indica que Choupette teria condições para manter uma vida confortável. Se ao lado do dono inspirou acessórios de moda, coleções de maquilhagem e foi ainda tema do livro “Choupette: The Private Life of a High-Flying Fashion Cat”, o que a fez lucrar mais de 2,7 milhões de euros em 2015, hoje continua a ter uma agenda ocupada, apenas com menos viagens de avião.

Há uma semana, Choupette recordou os tempos em que visitava os bastidores da Semana da Moda de Paris © Instagram.com/choupetteofficiel

“Ela vem à agência de vez em quando e fazemos fotografias para o Instagram”, contou Lucas Bérullier, agente de Choupette. A agência em questão é a My Pet Agency, em Paris, e Bérullier assegurou ainda que há projetos na calha, razão pela qual a gata tem a sua própria conta bancária. As idas ao escritório são, aliás, devidamente documentadas, ao lado de votos de bom dia, de boa semana semana e boas festas, e também de momentos em que recorda o dono desaparecido. A conta oficial de Instagram foi criada a 15 de agosto de 2019, data que coincidiu com a celebração dos oito anos de Choupette Lagerfeld. A data não passou em claro, a gata milionária teve direito a balões coloridos, presentes, enfeites e bolo de aniversário.

A história de Karl e Choupette é a de um amor à primeira vista, porém improvável. A gata foi inicialmente oferecida a Baptiste Giabiconi, manequim e amigo de Lagerfeld, como presente de aniversário — tinha apenas dez semanas. No Natal, Giabiconi teve de viajar e pediu ao designer para cuidar do novo animal de estimação. Karl hesitou, mas acabou por aceder ao pedido de ajuda. De regresso, o modelo francês levou Choupette de novo para casa, mas algo tinha mudado no comportamento do criador. “Estava zangado. Não me falava. Depois de uma semana a pensar naquilo, tornou-se bastante óbvio que a Choupette lhe tinha trazido muita alegria”, contou mais tarde Giabiconi numa entrevista.

“Olá, amigos. Espero que estejam a ter um ótimo fim de semana. Obrigado pelas vossas mensagens carinhosas” © Instagram.com/choupetteofficiel

É fácil adivinhar o desfecho — Choupette voltou definitivamente para casa do cat sitter. “Não me podiam ter dado um presente mais lindo. Ela trouxe luz à minha vida”, revelou Giabiconi, ao recordar as palavras de Karl. O sucesso foi quase instantâneo. Em janeiro de 2012, o diretor criativo da Chanel recebeu Stephen Gan, diretor da V Magazine, em casa para jantar. “Ele era a última pessoa que eu imaginava a ter um animal de estimação”, confessou Gan ao The New York Times. A surpresa levou-o a fotografar Choupette ao lado de um arranjo de rosas na casa de banho, e a partilhá-la no Twitter da revista, dirigindo a publicação a Lady Gaga e a Nicola Formichetti, designer e stylist a trabalhar com a cantora na altura. No dia seguinte, o mundo ficou a adorar a gata felpuda do designer.

“Conhecem o quadro “As Meninas”, com a Infanta Margarida rodeada de empregados? É a Choupette”, disse Lagerfeld à Harper’s Bazaar em 2014. Depressa a gata ganhou o seu próprio séquito — dois cuidadores, um guarda-costas, um médico e um chef. Os dois passaram a viajar sempre juntos, quase sempre em jato privado. Choupette era frequentemente transportada numa mala Louis Vuitton desenhada por Karl, que criou ainda uma bolsa da francesa Goyard para arrumar os recipientes e escovas de prata imprescindíveis à rotina da gata.

“Choupette by Karl Lagerfeld”, o livro de fotografias editado em novembro © Steidl Verlag

“Choupette by Karl Lagerfeld” é a mais recente novidade — um livro de fotografias casuais tiradas por Karl com o iPhone e cuja capa tem o mesmo tom de azul dos olhos da gata. A editora alemã Steidl Verlag quis avançar com a publicação em janeiro de 2019. Lagerfeld quis esperar, mas não viveria tempo suficiente para ver o título chegar às livrarias. O lançamento aconteceu em novembro do ano passado e o livro esgotou em semanas. Custa 24 euros.