A “sensibilidade” e registo “intimista” com que Anne Frank interpretou o horror terão inspirado o resultado final, que quis ainda beber do registo de Vermeer. Atrás da máquina esteve uma amadora cujo nome é cada vez menos inesperado, conhecido que é o gosto de Kate Middleton pela fotografia. Quando passam 75 anos sobre o fim do Holocausto, também a duquesa de Cambridge se associa à efeméride. Tijolo atrás de tijolo, a parede da memória ganha corpo com mais duas imagens de sobreviventes dos campos de concentração nazis, com a sua assinatura.

Aos 84 anos, Steve Frank, originário de Amesterdão, era uma criança quando sobreviveu ao extermínio, uma das 93 entre 15 mil que escaparam à morte em Theresienstadt. Chegado a 2020, deixou-se fotografar ao lado das netas, Maggi, de 15 anos, e Trixie Fleet, de 13. Patrona da Royal Photographic Society, a duquesa conheceu ainda outro testemunho, o de Yvonne Bernstein, que na imagem surge acompanhada pela neta Chloe, e cuja infância foi passada de esconderijo em esconderijo, em França, num desconcertante circuito de endereços e identidades falsas.

Yvonne Berstein, uma das sobreviventes fotografada por Kate Middleton

“Queria tornar estes retratos profundamente pessoais para a Yvonne e para o Steve — uma celebração da família e da vida que construiram desde que ambos chegaram ao Reino Unido, nos anos 40. As famílias trouxeram consigo objetos pessoais com valor estimativo que foram incluídos nas imagens”, descreve a duquesa de Cambridge. “Foi uma honra fazer participar neste projeto”, acrescentou a mulher do príncipe William, cujos modelos se posicionaram perto de janelas, que deixavam entrar a luz do leste, a direção de Jerusalém.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Com Steve Frank e as suas netas. A duquesa partilhou os momentos de bastidores na conta oficial Kensington Palace

Na imagem final, Steve tem no seu colo a peça eleita, a panela que a sua mãe conseguiu manter como pertence enquanto estavam no campo de concentração, e ainda um tomate do seu jardim. Foi em Theresienstadt, no território da atual República Checa, que ajudou outro prisioneiro a cultivar tomates. “Tornei-me o seu pequeno ajudante”, recorda Frank. “Quando foi levado para a Polónia, pediu-me para olhar pela plantação dele. Senti-me tão orgulhoso, tinha apenas 8 anos”, lembrou o sobrevivente, citado pelo Telegraph.

© Kate Middleton

Já Yvonne, de origem alemã, tinha oito anos quando, em 1945, chegou ao Reino Unido, para que se reunir com os pais, de quem não tinha qualquer memória. Na foto, surge com o seu cartão de identidade alemão, datado de 3 de março de 1939, e com a letra J (de judeu). Na mesa, uma pregadeira que a irmã lhe oferecera, confecionada pela empresa de joalharia do bisavô, que acabaria por cair nas mãos dos nazis.

Os retratos inscrevem-se numa nova exposição que será inaugurada no final deste ano pelo Holocaust Memorial Day Trust, pela Jewish News e pela Royal Photographic Society, e que celebrará a vida de quem refez a sua em solo britânico. Esta segunda-feira, 27 de janeiro, os duques de Cambridge associam-se a uma série de chefes de Estado, figuras religiosas e sobreviventes em Westminster, para evocar a libertação do campo de Auschwitz-Birkenau.