Até os antigos letreiros luminosos de Lisboa sofreram os efeitos da quarentena. Programada para março e cancelada devido à pandemia, a exposição “Luzes da Cidade” já tem inauguração marcada para o dia 25 de junho, no espaço da Stolen Books, promovida pelo Festival da Palavra e pela Junta de Freguesia de Alvalade.

Ao todo, vão ser cerca de 20 as peças expostas no local — uma seleção do vasto património gráfico da capital, reunido na coleção dos designers Rita Múrias e Paulo Barata. O Projeto Letreiro Galeria nasceu em 2014 e, entre o final de 2016 e o início de 2017, ocupou o Convento da Trindade com a exposição “Cidade Gráfica”. Agora, o espólio retoma o seu propósito de fruição pública e regressa numa escala mais pequena, mas que promete o mesmo apelo visual.

Para a nova exposição, a dupla de curadores escolheu antigos letreiros luminosos de sapatarias, pastelarias, restaurantes, cabeleireiros e telefones públicos. A viagem começa precisamente no bairro que acolhe a mostra — os grafismos urbanos, símbolos de modernidade, progresso e consumo, que em tempos iluminaram artérias emblemáticas como a Avenida da Igreja e a Avenida de Roma.

© Projeto Letreiro Galeria

Alguns dos letreiros expostos foram salvos pela própria junta de freguesia e deixados ao cuidado deste projeto, como é o caso das antigas estruturas das Sapataria Helio, na Avenida de Roma, e da Charcutaria Riviera, na Avenida da Igreja. O périplo pela memória visual de Lisboa no século XX galga as fronteiras do bairro chega a antigos letreiros da Avenida Almirante Reis, da Rua da Prata, da Rua do Ouro e da Rua Garrett.

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O que os visitantes vão poder ver, já a partir da próxima quinta-feira, é uma pequena amostra de uma coleção com cerca de 250 peças. Entre elas, clássicos como os letreiros do Ritz, da Pastelaria Suíça e do histórico edifício do Diário de Notícias. O trabalho de recolha e conservação destas peças também já deixou de ser feito em exclusivo na cidade de Lisboa. O projeto integra peças recolhidas em Algés, Almada, Amadora, Coimbra e Porto.

Além dos próprios equipamentos, a dupla de designers gráficos está atualmente a desenvolver uma investigação em arquivos municipais e privados. As das imagens fazem parte da memória coletiva dos país, mas também envolvem oficinas e técnicas à beira da extinção.

Designers sonham construir museu do neón, com histórias de pessoas e lugares

A exposição “Luzes da Cidade” é mais uma oportunidade de abrir o espólio à cidade. O processo de recolha e documentação das peças tem ainda em vista a criação de um espaço expositivo fixo, onde o público possa usufruir da coleção. Até lá, em Alvalade, o projeto deixa uma amostra do que poderá ser o futuro museu do néon português.

A exposição “Luzes da Cidade” pode ser visitada a partir do dia 25 de junho e até ao dia 12 de julho, de quinta-feira a domingo, das 15h às 19h. A entrada é gratuita e irá obedecer às normas decretadas pela Direção-Geral da Saúde. Ocupa o espaço da Stolen Book, na Avenida Estados Unidos da América, 105.