Repete que está “pronta para trabalhar” e atira as primeiras farpas, como candidata à vice-presidência dos EUA, a Donald Trump, o homem que, acusa, é “a razão por que milhões de americanos estão no desemprego” e cuja “má gestão da pandemia” lançou o país “para a pior crise económica desde a Grande Depressão“. Kamala Harris juntou-se a Joe Biden na primeira ação de campanha em conjunto às presidenciais, que teve Donald Trump como o alvo principal dos discursos.

Este vírus teve impacto em todos os países. Mas há uma razão para ter atingido mais a América do que qualquer outra nação. É por causa do falhanço de Trump em levar [a pandemia] a sério desde o início“, defendeu Kamala Harris, no primeiro discurso como candidata, em Wilmington, no estado de Delaware.

A democrata lembrou os “milhões de desempregados” deixados pela pandemia e atribuiu a Trump a responsabilidade, apesar de o presidente dos EUA ter “herdado, de Barack Obama e Joe Biden, a mais longa expansão económica da História”. “Isto é o que acontece quando elegemos uma pessoa que simplesmente não está pronta para o trabalho. O nosso país acaba em farrapos, assim como a nossa reputação em todo o mundo”, acrescentou.

Kamala Harris, a vice de Biden que queria que Biden fosse vice dela — e que tem sempre uma resposta pronta

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É que Harris acusa Trump de ter recusado acelerar o ritmo de testagem, de ter mudado várias vezes de opinião em relação ao distanciamento social e ao uso das máscaras, de ter sugerido “curas milagrosas que viu na Fox News”. “Estas são as razões por que um americano morre de Covid-19 a cada 80 segundos“, atirou.

A candidata a vice também quis traçar uma diferença entre a resposta de Trump à Covid-19 e aquela que foi dada pela administração de Obama (que tinha Biden como vice-presidente) ao Ébola — cuja transmissibilidade é menor do que a do novo coronavírus. “Barack Obama e Joe Biden fizeram o trabalho deles. Só morreram duas pessoas nos EUA, duas.”

Minutos antes tinha sido Joe Biden a elogiar Harris, salientando a “experiência” e “inteligência”. Numa tentativa de apelar ao voto da classe média, “a espinha dorsal deste país”, disse: “Para todos aqueles que estão a lutar para entrar na classe média — a Kamala sabe como governar, ela sabe como tomar as decisões difíceis. Ela está pronta para fazer este trabalho desde o primeiro dia.”

Biden também quis responder às críticas de Trump, que acusou Harris de ser “medíocre”. “Não é nenhuma surpresa porque choramingar é o que Donald Trump faz melhor, melhor do que qualquer presidente na História americana. (…) Alguém está surpreendido que Donald Trump tenha problemas com uma mulher forte, ou com mulheres fortes, no geral?”

E ainda para se distanciar do presidente dos EUA, sublinhou que a “administração de Joe Biden e Kamala Harris” vai ter um “plano abrangente para responder aos desafios da Covid-19 e virar a página a esta pandemia”. Como? Garantindo o uso generalizado de máscaras, divulgando recomendações “claras e baseadas na ciência” e aumentando “drasticamente” a testagem.

A influência da mãe e os “doadores ricos” de Trump

Antes do primeiro discurso como candidata, Kamala Harris publicou o primeiro vídeo da campanha que está a fazer com Joe Biden, um dia depois de o candidato democrata ter anunciado que será o seu braço direito, caso vença as presidenciais de novembro.

O vídeo publicado no Twitter começa com Joe Biden sentado numa secretária e com um telefone em alta voz. “Estás pronta para trabalhar?”, diz o candidato. Do outro lado, Kamala Harris responde-lhe: “Meu Deus, estou tão pronta para trabalhar”.

A senadora faz uma retrospetiva da infância e da influência da mãe, que a incentivava a “agir”.

Fui criada para agir. A minha mãe sabia que estava a criar duas filhas negras, que seriam tratadas de forma diferente por causa da sua aparência. Ao crescer, sempre que ficava chateada em relação a algo, a minha mãe olhava-me nos olhos e perguntava: ‘E então, o que vais fazer em relação a isso?’”

Essa influência, refere, foi importante no percurso profissional. “Quando vi um sistema de justiça fragmentado, tornei-me advogada, para tentar consertá-lo”. E, “enquanto senadora dos EUA, lutei para representar pessoas como a minha mãe. Pessoas que os políticos frequentemente ignoram ou não levam a sério. Neste momento, a América precisa de ação“, afirma Kamala Harris.

O alvo do vídeo é Donald Trump — que a senadora acusa de querer acabar com o sistema de saúde “no meio de uma pandemia” e de favorecer os “seus doadores ricos” enquanto “os negócios pequenos encerram”. Além disso, critica, “quando as pessoas gritaram por ajuda, ele atirou-lhes gás lacrimogéneo“, numa referência ao movimento Black Lives Matter.

O presidente dos EUA já se tinha pronunciado sobre a candidatura de Kamala Harris à vice-presidência. E usou as palavras “medíocre” e “hipócrita” para descrever a senadora.

“Fiquei mais surpreendido porque ela foi muito medíocre” durante a campanha das primárias do Partido Democrata, que Joe Biden venceu, disse Trump durante a sua conferência de imprensa diária na Casa Branca. “Ela teve resultados muito maus nas primárias. E isto é como uma sondagem.”

“Medíocre” e “hipócrita”. Trump reage a escolha de Kamala Harris, escolhida por Biden para sua vice

No vídeo promocional , os elogios de Kamala Harris, vão, naturalmente, para o candidato democrata à Casa Branca. É que, considera, “a América está em crise” e Joe Biden “vai-nos tirar dela”. “Ele é um homem de fé, decência, e carácter. Ele criou a família dele dessa forma. Vi-o em primeira mão com o meu amigo Beau [o filho de Biden que morreu, em 2015, com um cancro]”.

Kamala Harris termina a dizer a Biden: “Estou pronta para trabalhar. Estou pronta para fazer isto contigo, para ti”.

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