O presidente da Câmara de Santarém declarou este domingo a sua “estupefação” com a inclusão da linha de alta velocidade Lisboa-Porto no Plano Nacional de Investimentos (PNI2030), considerando “criminosa” a ausência da variante à Linha do Norte. Ricardo Gonçalves disse à Lusa que o plano anunciado na passada quinta-feira “desconsidera” todo o distrito, pondo em causa o “discurso da coesão territorial”, e, em relação a Santarém, o desaparecimento da construção da variante à Linha do Norte, presente na versão preliminar do PNI2030, é mesmo “criminoso”.

“Fiquei estupefacto com a posição deste Governo relativamente às opções da ferrovia”, disse o autarca escalabitano, questionando como é possível ignorar um “traçado consolidado” feito há 20 anos, com “estudos feitos” e que chegou a iniciar o processo de expropriações em 2009.

“Há um ano, ainda com o ministro Pedro Marques, numa primeira versão do PNI2030, onde estavam 1,5 mil milhões para a recuperação da Linha do Norte, estava a variante a Santarém, e agora não aparece”, salientou, questionando o que leva a que se coloquem, um ano depois, 4,5 mil milhões de euros na linha de alta velocidade Lisboa-Porto.

“Já temos duas autoestradas Lisboa-Porto e vamos gastar 4,5 mil milhões de euros para fazer uma ligação para ganhar pouco mais de meia hora? Mas os portugueses querem pagar isto?”, questionou, classificando este anúncio como uma medida de “política keynesiana”, em que conta o investimento imediato, “mas não se sabe que retorno é que ele tem”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Quase sou levado a dizer que o ministro Pedro Nuno Santos é conhecido por gostar de carros de alta cilindrada e agora quer ficar também conhecido por gostar de comboios de alta velocidade”, declarou, pedindo que o investimento seja “explicado aos portugueses”.

Ricardo Gonçalves afirmou ser preocupante que, “alegadamente, vão fazer a melhoria [da Linha do Norte] até à Azambuja”, mas não “para cima”, esquecendo os milhares de pessoas que diariamente usam esta linha até ao Entroncamento e Tomar e ignorando a ocorrência de “acidentes mortais todos os anos” e o facto de a consolidação das barreiras de Santarém ainda não estar concluída.

“Isto não está explicado”, salientou, adiantando que telefonou a todos os deputados de todos os partidos eleitos pelo distrito de Santarém, escreveu ao ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, e vai escrever ao primeiro-ministro, António Costa.

Para o autarca, o PIN2030, com “coisas avulso e sem retorno”, é “um crime político feito por este Governo PS a esta região do Ribatejo”, frisando que a Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT) tem dos indicadores mais baixos do país (sobretudo se não contar com os da capital do distrito), sendo um contrassenso a sua exclusão quando “se andam anos a falar de coesão territorial”.

Criticando, “mais uma vez, a litoralização” dos investimentos, Ricardo Gonçalves disse igualmente não perceber a ausência no PIN2030 da ligação Lisboa-Badajoz, que permitiria ligar a Madrid e Paris.