Cerca de duas dezenas de trabalhadores da Autoeuropa e alguns familiares concentraram-se este domingo junto ao portão da fábrica de automóveis de Palmela em protesto contra o novo horário de transição imposto pela administração da empresa.

“Esperávamos mais algumas pessoas mas ontem (sábado) a fábrica também trabalhou, o pessoal está cansado e não compareceu. No entanto, é importante saber que há um conjunto de pessoas que não aceita este horário de trabalho. É por isso que estamos aqui”, disse Luciano Silva, do movimento Juntos pelos Trabalhadores da Autoeuropa, que convocou o protesto deste domingo.

“Nos plenários foi expresso à Comissão de Trabalhadores que estávamos contra este modelo de horário. Em cinco plenários marcámos greve, só num dos seis plenários a greve não passou. Mas os sindicatos estão reticentes em marcar greve, e a CT, pelos vistos, não está muito do nosso lado, não sei porquê. E é importante marcar aqui uma posição e dizer que estamos contra este horário, porque este horário é ilegal”, acrescentou.

Para Luciano Silva, que este domingo foi porta-voz do movimento, a empresa deveria ponderar outros modelos para o horário transitório que irá vigorar de 29 de janeiro a julho deste ano, e que prevê a obrigatoriedade do trabalho aos sábados e a rotação do turno da noite de três em três semanas.

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“Este horário, pela conversa, já é impossível de mudar, mas nós achamos que ainda vamos a tempo, até porque o primeiro sábado ainda não foi feito e há outros modelos (de horário) que são mais benéficos para os trabalhadores, seja uma 6/4 ou outro qualquer. O modelo 6/4 é trabalharmos seis dias seguidos e descansar quatro, ou seja, tínhamos de trabalhar sábados e domingos na mesma, mas, pelo menos, sabíamos que estávamos em casa quatro dias”, explicou Luciano Silva.

Além de não concordarem com o horário transitório, os trabalhadores que integram o movimento Juntos pelos Trabalhadores da Autoeuropa alegam também que se trata de um “horário ilegal” porque “não cumpre as 35 horas de descanso previstas no Código de Trabalho para a rotação entre turnos”.

Por outro lado, o movimento, tal como a Comissão de Trabalhadores, alega que a partir de fevereiro os sábados vão ser pagos como um dia de trabalho normal, apesar de a empresa garantir o contrário, ou seja, quer os sábados vão ser pagos como um dia normal de trabalho acrescidos de mais 100%, o equivalente ao que é pago por um dia de trabalho extraordinário.

“Se eles tivessem intenção de pagar a 100% não tinham feito nada. Nós recebíamos a 100% – aliás antes recebíamos a 200% e depois passámos para 100%. Se eles queriam pagar os sábados a 100% não tinham mudado nada”, argumentou Luciano Silva.

Além da remuneração, alguns trabalhadores da Autoeuropa, como Hamilton Ramos, defendem que o trabalho ao sábado deveria ser apenas em regime de voluntariado e não aceitam a obrigatoriedade do trabalho ao fim de semana.

“Não posso estar a depender dos meus pais, ou dos pais da minha esposa, para tomarem conta dos meus filhos. Uma das coisas que me fez mudar para a Autoeuropa há 20 anos foi exatamente isso: trabalhar de segunda a sexta-feira. O sábado e o domingo era para estar em casa com a família. Se viesse trabalhar era remunerado por isso”, justificou.

Além de destes argumentos contra o horário transitório, o movimento Juntos pelos Trabalhadores da Autoeuropa diz ainda que os funcionários da fábrica de Palmela esperavam ter uma melhoria das condições de trabalho com a vinda de um veículo de grande volume de produção, como é o caso do novo T-Roc, mas alega que está a acontecer o contrário e considera que os trabalhadores “vão ficar ainda pior do que estavam”.

A Autoeuropa prevê atingir uma produção de 240.000 veículos em 2018, o maior número de sempre de veículos produzidos na fábrica de automóveis da Volkswagen em Palmela.