Lembra-se de ser criança e lhe lerem um livro antes de dormir? Se há hábitos que passam de geração em geração, este parece não ser um deles. Para as crianças de hoje, um jogo no tablet ou na consola é o companheiro mais provável na hora antes do sono. Contrariando a tendência, os portugueses elegeram uma livraria infanto-juvenil como a melhor livraria de 2014, no habitual estudo da APEL (Associação Portuguesa de Editores e Livreiros).

Os responsáveis da livraria Cabeçudos não se podem queixar de falta de leitores pequenos e graúdos. “Há coisas que são difíceis de fazer perceber às crianças. Chegam aqui muitos pais que procuram um livro que as ajude em determinadas questões”, explica Raquel Salgueiro, responsável do espaço. “O medo do escuro e a dificuldade em explicar a morte são dois exemplos”. Raquel trabalha diariamente rodeada de exemplares de literatura infantil, mas prontifica-se a desmistificar algumas ideias: “Atenção: os livros infantis são para pequenos e grandes e é na leitura partilhada que ganham pais e filhos”.

Da aprendizagem de valores para a vida aos problemas do dia-a-dia. Os livros podem ser uma solução para muitos desafios na educação dos mais novos, refere Raquel Salgueiro. Os benefícios começam no próprio ambiente familiar: “Se lhes lerem uma história antes de dormir, instala-se uma tranquilidade incrível em casa depois da confusão do dia. É um momento afetivo, tranquilo e único com os pais.”

Ao afeto somam-se consequências positivas no desenvolvimento da criança. “O campo lexical vai aumentar muito rapidamente e o discurso melhora, porque vão conhecendo cada vez mais palavras e expressões”. E não há que ter medo de livros que tenham palavras muito difíceis, acrescenta. “Quando os miúdos não sabem o significado de uma palavra, costumam perguntar. São muito curiosos. É preciso alimentar essa curiosidade, essa descoberta.” Ao mesmo tempo, com as infindáveis distrações a que os mais novos estão sujeitos diariamente, “os benefícios no campo da concentração são imensos, eles estão focados enquanto lhes estamos a ler porque a imaginação está a trabalhar a grande velocidade”.

Em jeito de incentivo aos educadores, Raquel Salgueiro afirma: “os miúdos que leem desde muito novos vão ser melhores adultos, com mais opiniões e espírito crítico”. Perante o tom convicto, pedimos à responsável da livraria preferida dos portugueses em 2014 que escolhesse cinco livros essenciais, consoante a mensagem que contêm. Desde a tolerância à diferença, à superação dos obstáculos e à sensibilização das crianças para as tarefas domésticas, eis as sugestões de quem trata os livros infantis por “tu”:

  • Orelhas de borboleta – Luísa Aguilar e André Neves
  • O rapaz que tinha medo – Mathilde Stein
  • O livro dos porquinhos – Anthony Browne
  • O coração e a garrafa – Oliver Jeffers
  • Un et sept – Gianni Rodari e Beatrice Alemagna

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