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A Katie Ledecky divertiu-se

Aos 19 anos, a menina de Bethesda levou cinco medalhas para casa. O futuro? Comer uma refeição preparada pela mãe, ir para a universidade e... ah, substituir Phelps como símbolo maior da natação

Well the girls can’t stand her

‘Cause she walks looks and drives like an ace now
(You walk like an ace now you walk like an ace)
She makes the Indy 500 look like a Roman chariot race now
(You look like an ace now you look like an ace)
A lotta guys try to catch her
But she leads them on a wild goose chase now
(You drive like an ace now you drive like an ace)

And she’ll have fun fun fun
‘Til her daddy takes the T-Bird away
(Fun fun fun ’til her daddy takes the T-Bird away)

(Beach Boys – “Fun, Fun, Fun”)

“Fantástico… Absolutamente fantástico”. Aos 22 anos, Rebecca Adlington chegou aos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, como uma das grandes esperanças britânicas e um dos principais nomes da natação feminina. Quatro anos antes, em Pequim, com apenas 18 anos, a britânica causou sensação. Duas medalhas de ouro — nos 400 e nos 800 metros livres –, batendo um recorde do mundo com 19 anos na final dos 800 metros. Desde 1988 que nenhum nadador britânico ganhava uma medalha de ouro. Há mais de 100 anos que nenhum nadador britânico ganhava duas medalhas de ouro nos mesmos Jogos.

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Não era uma grande surpresa que a recordista mundial fosse a favorita nos 800 metros, mais ainda a jogar em casa. Prova disso era que nas bancadas estava um dos herdeiros do trono britânico, o príncipe Harry. O maior perigo vinha da dinamarquesa Lotte Fris, que no ano anterior tinha ganho o ouro nos 1500 metros e a prata nos 800 metros livres nos mundiais de Xangai. A espanhola Mireia Belmonte também estava a fazer um bom campeonato e era uma das mais fortes candidatas às medalhas, juntamente com a neozelandesa Lauren Boyle.

Ninguém contava era que o perigo chegasse da miúda que, só com 15 anos, se preparava para se atirar à piscina na pista ao lado da grande favorita da noite. De sorriso tímido e atributos físicos que todos apontavam como normalíssimos (depois das guelras do torpedo Ian Thorpe, debatia-se o sobre-humano Michael Phelps), rapidamente a menina de Bethesda mostrou ao que vinha: no final dos primeiros 50 metros seguia em primeiro, perdendo a liderança apenas na viragem dos 100 metros para a dinamarquesa Lotte Fris.

A partir daí seguiu-se o festival Ledecky: a nadar quase sempre acima do tempo do recorde do mundo (alcançou o segundo melhor tempo de sempre), um comentador que pouco mais tinha dito no início da corrida do que a idade de Katie, acabou a declamar “Poderá bater o recorde do mundo?!? Não interessa! Ledecky é uma das melhores nadadoras que irá ver! 15 anos! A mais jovem de sempre a ganhar a mais longa prova feminina! Que desempenho fenomenal!”.

A britânica, grande favorita e a jogar em casa, e que não conseguiu melhor que o terceiro lugar, estava rendida à menininha da pista do lado. “Fantástico… Absolutamente fantástico”, foi a avaliação que Adlington, derrotada, fez de Ledecky, a vencedora surpresa. Medalha de ouro: check! Avanço desumano (quatro segundos!!) para o segundo lugar: check! Público de queixo caído a tentar perceber o que acabara de acontecer: check!


Katie Ledecky Win's Women's 800m Freestyle Gold... por OrlandPaul

Pressão? Qual pressão?

Katie, como muitos irmãos mais novos, começou a nadar porque quis seguir o exemplo do seu irmão mais velho, Michael. Tinha 6 anos. Um dos seus avôs, já falecido, era também ele medalhado, mas por bravura durante a batalha do Pacífico, na Segunda Guerra Mundial. Do outro lado, um avô emigrante da Checoslováquia, que conseguiu convencer o autarca local a construir uma piscina para os mais novos aprenderem a nadar.

A alegria e a descontração são a sua imagem de marca. Num vídeo amador de uma das suas primeiras corridas, a jovem nadadora, que conseguia atirar mais água para fora da piscina do que propriamente nadar, foi questionada sobre o que estava a pensar. Sorriso Colgate, de orelha a orelha, respondeu, muito tranquilamente: “Nada”.

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Katie conheceu o seu ídolo Michael Phelps em 2006, quando tinha apenas 9 anos. Phelps tinha 21 e estava a dois anos apenas do seu maior feito: conseguir oito medalhas de ouro em Pequim.

E é assim que descreve a sua caminhada. De prova em prova, de qualificação em qualificação, de campeonato em campeonato. Pressão? Qual pressão, qual quê. “O que acontecer, acontece.” Veio para se divertir e é assim que pretende continuar a ver a natação. Questionada por um jornalista norte-americano sobre se estava preparada para render Michael Phelps como a principal estrela olímpica dos EUA, Katie responde ao seu estilo: “Não penso nisso. Tenho uma semana muito ocupada pela frente”.

A menina que parece frágil fora da piscina, de sorriso doce e inocente, sem qualquer vantagem competitiva por aí além em termos físicos, vira uma máquina dentro de água contra quem nem os seus colegas homens querem nadar. “Nadas como um rapaz”, dizem-lhe. “Vou levar isso como um elogio”, responde Katie.

O seu currículo fala por si. Depois da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Londres em 2o12, com apenas 15 anos, esperou apenas um ano para bater o seu primeiro recorde do mundo. Aos 19 anos, já tem doze recordes do mundo — cinco vezes o recorde do mundo nos 1500 metros livres, quatro vezes nos 800 metros e duas vezes nos 400 metros. Dois destes, no Rio de Janeiro, debaixo dos holofotes e da pressão mediática.

No Rio de Janeiro, mais uma vez, Katie Ledecky não deu qualquer hipótese às adversárias

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A lista de feitos é ainda mais vasta. Nos mundiais de 2015, em Kazan, na Rússia, venceu todas as cinco provas, o único nadador a conseguir fazê-lo na história. O feito é de tal dimensão que até já tem o seu nome: é um Ledecky Slam. Em 2013 já tinha conseguido quatro medalhas (só não nadou os 200 metros livres). De 2013 a 2015 foi considerada o nadador (homem ou mulher) do ano, e chegou mesmo a integrar a lista das 100 pessoas mais influentes do mundo escolhidas pela revista norte-americana Time (é a mais jovem da lista) em 2016.

Seria de esperar que Katie Ledecky sentisse a pressão, mas os Jogos Olímpicos mostraram que não. Com mais dois recordes do mundo batidos, quatro medalhas de ouro e uma de prata (na estafeta — e não foi pelo seu parcial que não ganharam), tornando-se a primeira nadadora a vencer os 200, 400 e 800 metros desde Debbie Meyer em 1968, nos Jogos Olímpicos da Cidade do México, e tem a melhor prestação de sempre de uma nadadora norte-americana em Jogos Olímpicos.

Antes de começarem os Jogos, um apresentador perguntou a Katie Ledecky que título queria que ficasse para a história sobre a sua participação no Rio2016. "Katie Ledecky divertiu-se", respondeu. "Divertiu-se?", perguntaram-lhe no final. "Muito", respondeu, com cinco medalhas ao peito. As suas adversárias não devem ter achado tanta piada.

O segredo? Trabalho, muito trabalho, diz. Não toma os pequenos-almoços extravagantes de Michael Phelps (“O que é que como? Como o que a minha mãe me cozinhar”), nem é fã de estilos de vida mais fora do comum, como o de Ryan Lochte (que se diz designer e modelo) ou de Anthony Ervin (guitarrista de várias bandas de rock). Com milhões de dólares em patrocínios em fila de espera, Katie escolheu não virar profissional e vai para a Califórnia, onde a espera uma das melhores universidades do mundo, Stanford, cuja inscrição adiou por um ano para poder participar nos Jogos Olímpicos. Acabada de regressar, os seus objetivos eram bem mais simples para quem já tem o estatuto de super-estrela mundial: ir para a universidade, tirar a carta de condução, comer uma refeição caseira preparada pela mãe e dormir na sua própria cama.

A simplicidade com que aborda as corridas viu-se especialmente bem em Kazan, onde, para além de ganhar todas as cinco provas, conseguiu bater um recorde do mundo sem sequer tentar. No final da prova, olhou para o seu treinador e encolheu os ombros como que dizendo eu nem sequer tentei. “Todas as corridas são um sprint. Só que alguns sprints são mais longos que outros”, dizia a nadadora, que explicava que os únicos objetivos que estipulava para si mesma eram tempos que escrevia num papel antes de começar a nadar e que depois, com um lápis, avaliava no fim da corrida. Ganhar provas? Nem por isso. Se melhorar os tempos, os resultados chegam.

Em Kazan, na Rússia, encolheu os ombros para o seu treinador depois de bater um recorde nos 1500 metros livres sem sequer tentar

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Mas a velocidade a que nada parece estar a chegar à sua vida. Com convites para programas a choverem, equipas a quererem contratá-la, entrevistas pedidas pelos maiores jornais e televisões do mundo. Todos querem um pedaço de Katie Ledecky, que, diz, só consegue fazer planos nesta altura hora a hora.

Michael Phelps, o mais medalhado de sempre, tinha os olhos do mundo em si quando entrou na piscina no Rio de Janeiro e trouxe consigo mais seis medalhas, cinco delas de ouro. Agora, diz, é tempo de os mais novos tomarem conta do seu legado, ou melhor, as mais novas. Na linha da frente para se tornarem os atletas mais mediáticos estão duas mulheres: Katie Ledecky e Simone Biles, o prodígio da ginástica.

As maiores estrelas norte-americanas no Rio de Janeiro: Katie Ledecky, Michael Phelps e Simone Biles

Antes de começarem as provas, um apresentador de um programa norte-americano perguntou a Katie Ledecky que título queria que ficasse para a história sobre a sua participação nos Jogos Olímpicos. “Katie Ledecky divertiu-se”, respondeu. “Divertiu-se?”, perguntaram-lhe no final. Com as suas cinco medalhas ao peito (e as dores de costas de tanto nadar, queixava-se) a jovem respondeu, com o seu sorriso tímido: “Muito”. Quem não achou tanta piada foram as suas adversárias. E, com apenas 19 anos, o pesadelo Katie Ledecky parece ainda ter muitos anos pela frente para as atormentar. Sempre com um sorriso na cara.

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