O que têm em comum? São ambas do Benfica (embora Assunção Cristas se tenha convertido ao Sporting em prol dos filhos), deputadas e professoras universitárias, já fizeram campanhas juntas e têm uma ligação a Pedro Passos Coelho: uma é vice-presidente e grande amiga dele e a outra foi sua ministra.

Quais são as diferenças? O jeito para falar com as pessoas na rua, o apoio e o entusiasmo do partido, a ambição política, a notoriedade.

Quais são as consequências do resultado eleitoral? Se tiverem o mesmo resultado, significa que o CDS teve uma votação extraordinária e o PSD um péssimo resultado. Para Teresa Leal Coelho, a única posição aceitável é ficar à frente de Cristas. O resultado do PSD será mais da responsabilidade de Passos Coelho do que da candidata, enquanto no CDS os louros ou as consequências recaem apenas sobre Assunção Cristas.

Quais são as principais promessas? Nenhuma das principais promessas depende das próprias candidatas ou da câmara, e está apenas na mão do Governo: seja a construção de 20 estações de metro do CDS ou a descida do IMI para 0% durante 10 anos em Lisboa do PSD.

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Não há muito tempo, apenas há dois anos, andaram juntas em campanha para a legislativas, em mercados e feiras onde foram como candidatas a deputadas da coligação Portugal à Frente (PàF). Teresa Leal Coelho pelo círculo de Santarém. Assunção Cristas pelo de Leiria. Não são “amigas” no sentido que damos à amizade — afinal, o que é uma amizade em política? — mas têm uma boa relação apesar de uma ser do CDS e a outra do PSD. Quando Mariano Rajoy foi reeleito líder do PP, estiveram em Madrid, e até têm fotografias juntas e com o marido de Teresa Leal Coelho, o embaixador em Espanha, Francisco Ribeiro de Menezes. Até era com o diplomata que Cristas tinha uma relação mais próxima, por ter sido chefe de gabinete de Pedro Passos Coelho quando ela era ministra. Agora são adversárias em Lisboa. Mas evitam qualquer tipo de confronto direto.

Uma é líder e faz na capital uma prova decisiva para a sua liderança. A outra é amiga do líder, Passos Coelho, que tem em Lisboa uma provação à sua presidência do PSD. De forma inesperada, o CDS está a morder os calcanhares ao PSD. Previa-se competição. Mas não se esperava que houvesse a possibilidade de o PSD ser ultrapassado pela direita. Se os números das sondagens não forem rigorosos — numa aparecem quase empatadas e noutra o CDS surge à frente –, pelo menos indicam que Cristas está a crescer e Leal Coelho a encolher. Podem até ter resultados idênticos, que os números têm significados diferentes para cada uma: por exemplo, 15% seria uma vitória estrondosa para Cristas e uma derrota humilhante para Teresa Leal Coelho. Se um resultado deste calibre cimentava a liderança de Cristas, pelo contrário ameaçava fragilizar a de Passos.

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Teresa e Assunção não se atacam. Não se criticam. Não lutam em terreno aberto. Mas é da sua luta silenciosa que se esperam algumas das leituras mais políticas da noite eleitoral. O PSD não quis ir coligado com o CDS, depois de o CDS ter dado o tiro de partida. Nunca se saberá se Cristas poderia ameaçar Fernando Medina com uma reedição local da PàF. Na verdade, estas duas mulheres podiam estar na mesma lista, mais uma vez a fazer campanha do mesmo lado. Teresa Leal Coelho, que é vice-presidente do PSD, nunca deu sinais de ter sido contra uma coligação com o CDS na capital.

O ponto de partida dos dois não é o mesmo: o PSD, que em 2013 teve 22% com Fernando Seara (em coligação com CDS), tem uma candidata própria e conta com o peso da máquina e da marca para ficar à frente; o CDS aposta tudo na notoriedade da sua líder, como partido de menor dimensão que é, cuja votação mais expressiva que teve na capital foi 7% com Paulo Portas, em 2001. O que pesa mais? Para a ex-líder do PSD Manuela Ferreira Leite, que esta segunda-feira apareceu na campanha de Teresa Leal Coelho para dar uma mãozinha, a resposta é óbvia: “Os que pensam que vão ficar em segundo” não têm a dimensão do PSD, nem têm “hipótese” contra a força do partido. Pode ser, mas com isto o PSD deixa a descoberto uma outra fragilidade: que está a disputar o segundo lugar e que Assunção Cristas está a tornar-se numa ameaça.

A líder do CDS não cai na armadilha. Arrisca bastante no foguetório das ações de campanha pensadas para passarem nos media, mas é prudente no discurso: da boca dela não se ouvirá uma única crítica à candidata do PSD. Porquê? Para se colocar apenas ao nível de Fernando Medina. Prova disso é o “grande comício” de campanha que vai realizar na próxima quinta-feira, no sprint final até às urnas. Será o único comício mas não será num sítio qualquer: vai ser na Praça do Município (não toda, que é demasiado ampla), para provar que é mesmo na piscina dos grandes que a candidata do partido pequeno está a jogar.

Mesmo assim, se o peso da popularidade não chegar contra o peso do maior partido português, Cristas calibra o discurso e dirá que só Fernando Medina podia perder, porque era o único que tinha a câmara nas mãos. Os restantes só podiam ganhar. E ela ganhará certamente muitos votos face à última marca do CDS.

Countdown. À boleia dos ex-líderes do PSD. Portas vai ser toca e foge

Antes do dia dos discursos chegar, é preciso a direita dar o “tudo por tudo”. Assunção Cristas acorda cedo e está a pôr a comitiva num estado de nervos com as horas marcadas para algumas das iniciativas. Por duas ou três vezes ao longo da última semana já arrancou ações às 8h da manhã. Foi o que aconteceu no primeiro dia, quando foi inspecionar o “trânsito de Medina”, ou quando foi de metro para o trabalho, até ao Parlamento. Foi também o que aconteceu nesta manhã de terça-feira, numa ação para promover as propostas para o estacionamento de residentes. O palco das notícias da manhã é, por isso, do CDS. Teresa Leal Coelho, pelo contrário, começou a campanha com uma agenda pública muito pouco preenchida. Estava a fazer um “recenseamento aprofundado dos problemas da cidade”, sobretudo da “Lisboa esquecida”, e assumia que muitas vezes não chamava os jornalistas por opção. Resultado: o PSD não tinha protagonismo mediático ao longo do dia.

A meio da campanha, no entanto, quis mudar o ritmo. Quando percebeu que o plano estava inclinado demais, o PSD mudou de assessor de imprensa e de consultor de comunicação e diligenciou a equipa para passar uma mensagem “mais positiva”. Na agenda pública passaram a constar todas as ações de campanha da candidata, que aumentaram consideravelmente, em número. “Foi apenas uma questão de reforçarmos a comunicação nesta reta final da campanha oficial, que começou dia 19 e vai até ao dia das eleições”, explicou Teresa Leal Coelho na última sexta-feira ao Observador, justificando o ambiente tenso que se instalara na campanha com as mudanças ao nível da equipa. Mas reforçar pode não ser a palavra mais indicada, já que o anterior colaborador, contratado por uma agência de comunicação, deixou de aparecer na comitiva. Ou seja, não houve um reforço, houve uma substituição. E se o problema era o facto de a mensagem “positiva” não estar a conseguir passar para a comunicação social, não se pode dizer que o problema tenha sido contornado.

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A estratégia das duas candidatas difere em tudo. Uma é mais apetecível para as câmaras de televisão do que a outra. Assunção Cristas arrisca, corre a cidade de sorriso e panfleto em riste, anda de mota pelas ruas num grande aparato sonoro de buzinas, faz de polícia sinaleiro, e marcha ao som de tambores e cânticos da juventude democrata-cristã. Trinta por uma linha. Só lhe falta fazer o pino. Ou dar um mergulho no Tejo. E se não dá, é porque não precisa. Seja para dizer bem ou para dizer mal, as pessoas conhecem-na na rua. Já Teresa Leal Coelho é menos espalhafatosa, cingindo as suas ações de campanha a visitas a bairros degradados e “esquecidos” da cidade, ou passeando em avenidas ou bairros lisboetas para contactar com a população. A comitiva é pequena. O partido não está com ela na rota da campanha. Manuela Ferreira Leite diz que “já não se usa”, que já não se fazem campanhas nas ruas. Mas este domingo, a candidata do PSD inovou com um passeio de barco pelo Tejo para apresentar as suas propostas alternativas para a mobilidade. Só que foi o número dois da lista que as apresentou a bordo do navio. Ao final da tarde, passou pela Feira da Luz, em Carnide, mas, sem comunicação social presente, não aproveitou sequer a ocasião para se promover junto das famílias que ali se encontravam. Pior do que isso, Nuno Morais Sarmento era o convidado e faltou ao compromisso de fazer campanha.

Agora vamos dar tudo por tudo, vamos trazer os barões do PSD para darmos tudo por tudo”, disse Teresa Leal Coelho num jogo de matraquilhos

“Ela é o máximo, as pessoas só têm de a conhecer”, ouve-se na comitiva do PSD por estes dias. O lamento, entre os poucos militantes do PSD (ou da JSD) que a acompanham dia a dia, manhã e tarde, pelas ruas de Lisboa, é esse: era só conseguir que as pessoas a conhecessem, era só conseguir que as propostas chegassem às pessoas…era só…

À falta de notoriedade, e para provar que tem “todas as pessoas do partido” consigo, “hoje e sempre”, como disse aos jornalistas no passeio de domingo pelo Tejo, Teresa Leal Coelho está a apostar tudo na presença dos barões. “Agora vamos dar tudo por tudo, vamos trazer os barões do PSD para darmos tudo por tudo”, diria esta segunda-feira durante um jogo de matraquilhos, quando estava à beira de perder para o adversário. O tudo por tudo era ganhar no jogo de bola, mas a interpretação era clara.

Um a um, os ditos barões vão chegando na última semana de campanha. Pedro Passos Coelho já foi a Lisboa duas vezes e irá mais uma, para dar a força final. Os restantes desfilam aos poucos, mas são sobretudo críticos assumidos da liderança e do estado atual do PSD: o eurodeputado Paulo Rangel apareceu na sexta-feira, aproveitando a onda mediática da visita de Passos; Nuno Morais Sarmento poderia ter ido no domingo, mas não apareceu; Jorge Moreira da Silva, ex-vice de Passos, muito próximo do líder mas afastado das lides partidárias desde que assumiu funções na OCDE, apareceu também no domingo a bordo do cacilheiro para se desdobrar em elogios. Esta segunda-feira, houve Manuela Ferreira Leite e esta terça-feira Luís Marques Mendes. Quarta-feira é dia de Pedro Santana Lopes, e no dia seguinte haverá jantar comício com o outro Pedro, Passos Coelho. Nunca mais Teresa passará um dia sozinha entregue a si e à sua mini comitiva.

Todos desfilam com a candidata rua acima, rua abaixo, para mediatizarem a (pequena) caravana. Acontece que, quando desfila com os convidados especiais, ou os candidatos não são propriamente estrelas, ou candidata acaba por ser mais personagem secundária do que principal. E é por isso que a estratégia de Assunção Cristas é outra quanto ao desfile de ex-líderes. Manuel Monteiro, ex-líder e crítico do rumo do CDS, fez uma aparição em Alvalade a convite do número dois da lista, Abel Matos Santos, mas a candidata nem chegou perto (mandaria o número dois, João Gonçalves Pereira). E Paulo Portas? É ligeiramente diferente. Paulo Portas vai entrar na campanha de Assunção na quarta-feira, mas sem qualquer pompa e circunstância. A iniciativa será apenas um café entre os dois. Nada de rua, nada de esbanjar os dotes de “Paulinho das feiras” junto das cabeleireiras, que isso pode fazer baixar, em proporção, o grau de popularidade da atual líder.

Se querem um abraço ou um beijinho… elas são diferentes

Assunção Cristas quer brilhar sozinha. Mas a verdade é que tem uma vantagem conjuntural face à candidata do PSD: tem duas peles, a de candidata a Lisboa e a de líder do partido. E isso dá-lhe mais foco mediático. Enquanto as câmaras de televisão estão presentes em praticamente todas as ações de campanha da candidata do CDS, o mesmo não se pode dizer das ações do PSD, onde o grosso da comunicação social escolhe uma iniciativa por dia e ignora todas as outras. Quando é assim, Teresa e companhia (ou seria Teresa sem companhia?) segue o trajeto planeado, sem aparato, barulho ou interação com o povo, de tal forma que nem parece uma ação de campanha eleitoral.

Nas “arruadas” que tem realizado, ora em Alvalade, ora em Benfica, em Campo de Ourique ou no Restelo, Assunção Cristas distribui panfletos e beijinhos, que dão algumas vezes lugar a abraços. “Posso dar-lhe as nossas propostas?”. Aborda as pessoas de forma neutra, testando a sua recetividade. Se tem luz verde, avança para uns dedos de conversa, se o sinal está intermitente ou a virar para o vermelho não se alonga e segue caminho. A palavra de ordem é marchar, e chegar ao maior número de pessoas. Para Assunção Cristas não há nichos, mesmo sendo o CDS um partido de nicho. Quer chegar a todo o lado, e se para isso tiver de dar entrevistas à revista Maria todos os dias (como chegou a fazer), então é isso que fará. Os sítios das ações de rua são escolhidos a dedo: nada de território perigoso, como os bairros no coração de Lisboa, de Alfama à Mouraria, onde há seguramente queixas sobre as rendas e os despejos — esses foram visitados dias antes de a caravana mediática arrancar. E em território seguro, é só caminhar, sorrir e acenar.

Teresa Leal Coelho também sorri, mete-se com as pessoas, mas nem sempre a reconhecem. “Desculpe, posso cumprimentá-la?”. Chega devagarinho. Mas se sente recetividade do outro lado, alonga-se mais do que Cristas nas conversas. Ouve as queixas dos munícipes, quase como se fosse presidente de junta. A uma senhora no mercado de Benfica prontifica-se para passar por sua casa para ver como as ervas estão a crescer descontroladamente junto à janela. Aqui ou ali, passa um cão que a fez lembrar o seu golden retriever, de dois anos, e demora-se a afagá-lo. Não tem pressa de chegar, não faz barulho quando passa, e a escolha das avenidas ou dos bairros que visita é sempre mais em prol da promoção do respetivo candidato à junta do que propriamente numa visão estratégica dos locais onde pode chamar mais votos para si. Na primeira semana procurou dar ênfase à “Lisboa esquecida”, nesta última, começou por procurar dividir os dias por temas, da mobilidade à higiene urbana. No entanto, à medida que o tempo passa, a aposta centra-se apenas na presença dos convidados especiais. É o tudo por tudo, ou o tudo para nada.

Os afetos na campanha: o beijómetro, numa escala de zero a Marcelo

Teresa mais liberal, Cristas menos conservadora

Ambas deputadas na Assembleia da República, ambas nascidas nas antigas colónias, ambas auto-consideradas “outsiders” na política pura do aparelho partidária, ambas professoras universitárias, Teresa e Assunção têm sobretudo uma coisa em comum: Pedro Passos Coelho. A atual líder do CDS foi ministra do Ambiente e da Agricultura no último Governo PSD/CDS, e Teresa Leal Coelho é vice-presidente e amiga chegada do ex-primeiro-ministro. Uma conta com o apoio de Passos, chegando a falar com ele ao telefone “três vezes” ao dia. A outra, mesmo que quisesse, não se pode desprender do facto de ter sido membro do Governo que apertou, como nenhum outro, o cinto da austeridade. E não deixa de ouvir na rua muitas reclamações .

Quando, em plena avenida do Uruguai, em Benfica, um sexagenário aborda Assunção Cristas para lhe mostrar o comprovativo de invalidez e para se queixar que o anterior Governo lhe cortou uma parte significativa do rendimento, Cristas responde com a necessidade de o Estado ter mais dinheiro para poder distribuir mais e melhor. “Temos de trabalhar todos para termos um Estado social mais forte”, diria, para depois passar as culpas ao PS: “Foi o PS que nos levou à bancarrota e que nos obrigou a fazer coisas que não queríamos”.

Mais Estado e melhor Estado? Assunção Cristas tenta aproximar-se do centro e procura não ter rótulos democratas-cristãos, liberais ou conservadoras. Ao contrário de Teresa Leal Coelho que, no que toca a medidas e a promessas, é contida — não consegue desprender-se do discurso da responsabilidade e contenção de Pedro Passos Coelho –, a candidata do CDS tem as mãos mais largas e é mais flexível: mãos largas na promessa de construir 20 novas estações do metro, flexível na defesa da taxa turística, que antes PSD e CDS criticaram, flexível ao não pedir a privatização da Carris, que antes PSD e CDS defenderam e levaram para a frente. E mãos largas nos projetos para obras públicas e nos descontos e benefícios que quer dar aos residentes em Lisboa (como é o caso dos descontos na EMEL). Mais populista ou eleitoralista, dirão alguns.

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O caso das privatizações é bom exemplo disso. PSD e CDS defenderam, e executaram, a privatização da Carris, que depois foi revertida pelo atual Governo apoiado pelas esquerdas. O que defende cada uma agora? Teresa quer “concessionar a gestão operacional dos transportes públicos a entidades privadas através de concurso público internacional”; mas Cristas diz que a privatização da Carris não é, neste momento, um cenário viável, pelo que prefere mantê-la como está, nas mãos da câmara. Já Teresa Leal Coelho aposta forte em ideias liberais como a criação de barcos-táxis no Tejo, de iniciativa privada, porque “é na iniciativa privada que está a economia real”.

No que toca a política de mobilidade, a candidata do CDS prefere falar da vasta obra que tem planeada para o metro, e que recusa que seja “megalómana”. Cristas orgulha-se de, depois de ter anunciado este projeto, todos os candidatos “da esquerda à direita”, concordarem que é preciso alargar o metropolitano. Teresa Leal Coelho, de facto, propõe um alargamento para a zona ocidental, até Belém e Algés, mas nada equiparável às 20 novas estações que a candidata do CDS quer ver construídas até 2030. Cristas até quer pôr árvores no histórico Terreiro do Paço…P ouco conservador, não? “Realmente sou mais adepta da mudança do que conservadora”, disse esta semana.

O mesmo resultado, uma noite eleitoral diferente?

A verdade é que Cristas, mais do que à procura de eleitores junto dos poucos que votam habitualmente CDS, está à procura de eleitores junto dos outros, os que não votam mas sobretudo os que votam ao centro. Recusa-se a falar de metas, mas com sondagens a darem mais de 15%, tem para si que a marca dos 7% conseguida por Paulo Portas quando se candidatou à câmara já está mais do que ultrapassada. E isso será um capital de força dentro do partido, que a deverá reeleger como líder no congresso do princípio do ano.

Mas se 15% é uma marca estrondosa para o CDS, 15% é também o pior resultado de sempre conseguido pelo PSD em Lisboa (coligado com o CDS). Foi em 2007, quando Fernando Seara se recusou a avançar à última hora e o então líder Marques Mendes teve de lançar Fernando Negrão. Pelo meio, Carmona Rodrigues (agora mandatário de Cristas) também apareceu como independente a baralhar as contas e, resumindo, Mendes não conseguiria a reeleição meses depois. As autárquicas tinham-lhe deixado uma mancha no currículo. É precisamente essa mancha que Teresa Leal Coelho deve tentar evitar na lapela de Pedro Passos Coelho — mas não será fácil. Dentro do partido, segundo apurou o Observador, vai sempre olhar-se para o copo meio cheio, e para a hipótese de, mesmo tendo um mau resultado em Lisboa, e no Porto, o PSD poder vir a recuperar câmaras face a 2013 (o que não é difícil), ou poder recuperar um ou outro concelho no distrito de Lisboa: Odivelas, ou quem sabe Sintra. Ou Loures. “Se ganhássemos um, seria um aumento de 50% face a 2013”, diz um dirigente distrital. Mas não será fácil.

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A noite eleitoral vai ser de contas. Passos Coelho diz que não joga em Lisboa a sobrevivência do PSD, e Assunção Cristas, cautelosa, vai dizendo por aí que o CDS pode vir a crescer em mandatos, em vereadores, em deputados municipais e quem sabe em câmaras. A tualmente tem cinco, que não deverá deixar fugir, mas Cristas quer deixar um carro de cinco lugares para passar para uma carrinha familiar. Oliveira do Bairro, Marco de Canaveses, Mêda, ou Lamego estão na pole position. Regra geral, tudo câmaras em que PSD e CDS estão separados. Lamego é um bom exemplo, já que o atual autarca, que não se recandidata, é do PSD mas… apoia o candidato do CDS em vez do seu sucessor cor de laranja.

Já Marcelo Rebelo de Sousa dizia há meses que depois das autárquicas abria-se um novo ciclo. Além da contagem dos votos, dos mandatos, e dos aumentos ou aumentos ou recuos face a 2013, começará certamente a contagem de espingardas. O PSD tem novo congresso no primeiro trimestre de 2018. Passos Coelho quer ser reeleito para concorrer a primeiro-ministro, mas desta vez deverá ter um challenger: Rui Rio tem andado no terreno a dizer que avança “em qualquer circunstância”. Mesmo que seja para perder.

Assunção Cristas não olha, para já, a legislativas. Quando há um ano decidiu avançar com uma candidatura própria à câmara, fê-lo porque entendeu que não podia esperar por Pedro Passos Coelho, que estava dependente de uma decisão de Pedro Santana Lopes (pediu-lhe que esperasse até dezembro). Em novembro, quando voltaram a falar, o líder do PSD deu a entender que não queria desafiar a frágil estabilidade interna no partido ao decidir apoiar uma candidatura do CDS na capital, e foi nestes termos que PSD e CDS chegaram até aqui. Além de que Passos tinha um cenário de legislativas antecipadas na cabeça, que nunca se viria a confirmar…

É também isto, ou sobretudo isto, que se joga na luta política em Lisboa.