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Andreia Reisinho Costa

Andreia Reisinho Costa

Eles acumulam lixo em casa. Muito, muito lixo

Mécia tinha vergonha de pedir ajuda para limpar a casa depois de anos de acumulação de lixo. Foi ajudada no final do ano. Júlia nunca quis ser ajudada. Morreu num incêndio em casa.

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A fachada do prédio sexagenário está envelhecida, com sinais de vir parcialmente a ruir mais ano menos ano. O mesmo acontece com quase todos os prédios naquela avenida central da Amadora, a dois minutos a pé do parque da cidade. O telhado, esse, já ruiu. Foi reabilitado (a custo) no final do ano pela senhoria do prédio, por exigência da autarquia. A porta da rua está sempre entreaberta. Mas não há memória de um assalto à casa dos moradores, também eles envelhecidos na sua maioria. As campainhas, do rés-do-chão ao último piso, não funcionam. Ou, se funcionam, funcionam mal.

Entrámos, subimos as escadas, empoeiradas, a ranger degrau por degrau, seguidos por duas assistentes sociais da . À porta do 2.º andar estava Mécia, madeirense “emprestada” — são palavras da própria — à Amadora desde a década de 1960. Sempre sorridente e nada desconfiada, surge muito aprumada, de unhas pintadas com um azul berrante, colares e um terço ao pescoço, roupa florida e galochas cor-de-rosa, que os dias eram de (muita) chuva primaveril.

maria messia, acumuladora de lixo,

Mécia abriu a porta e guiou o Observador pela casa “nova” (Créditos: Hugo Amaral/Observador)

Ainda no último lance de escadas, mesmo antes de pisar o patamar onde Mécia aguarda, sente-se um cheiro, ligeiro mas muito presente, de lixo, até de putrefação, como se houvesse ali um aterro. Não havia. Mécia foi durante anos acumuladora de lixo. Compulsiva. Não é acumuladora do lixo dos outros, uma “recoletora” de contentor em contentor, como muitos acumuladores. Mécia era metódica: deslocava-se várias vezes por semana aos supermercados da vizinhança às compras. Às vezes não eram só os da “vizinhança”; tinha que caminhar quilómetros e quilómetros para chegar até eles.

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Comprava de tudo, “sempre do bom e do melhor”, contaria mais tarde. Mas comprava sobretudo carne, peixe, produtos frescos. “O meu falecido marido gostava muito de perca; então o que eu comprava muito era a perca. E salmão, o que ele gostava de salmão!”, recordará mais tarde na conversa.

Há muito que não tinha frigorifico para os conservar. “Chovia-me na cozinha quando o teto caiu, havia fagulhas por todo o lado, então não tinha eletricidade lá”, recorda Mécia. Chegada a casa, não comia o que comprara. Raramente comia. Mas depositava tudo no chão, em montes. Começou pelo corredor. Rapidamente chegou à sala, depois aos dois quartos da casa e até na casa de banho havia lixo sobre lixo. E também na cozinha, claro, que se transformaria numa espécie de arrecadação sem ordem nem higiene.

Hoje, os corredores que antes eram barricadas de sacos, de roupas e do que mais houvesse são de novo transponíveis. Foi quase tudo retirado de casa de Mécia. Uma retirada de lixo e acumulação que demorou três longos dias. No primeiro, tiraram-se daquela casa, com divisões mínimas e um corredor estreito, mais de oitocentos quilos de lixo. O que agora lá está são sobretudo berbequins, trinchas e pincéis, latas de tinta ainda por usar, material de construção a rodos. A autarquia está a promover a reabilitação da casa de Mécia, pouco a pouco, com a aprovação da própria. Ou melhor, a “aprovação”. Porquê? “Eu dizia-lhes [às assistentes sociais] para não levarem isto ou aquilo. E repetia. E o que é que elas levavam? Isto. E aquilo. Tudo. Não fiquei com nada”, lembra Mécia, com irritação.

O cheiro, esse, está entranhado nas paredes sem cor e manchadas de fungos e restos de comida, e está entranhado também nos poucos móveis que lá permanecem depois da intervenção camarária. “Ele há-de sair, há-de sair”, atira, sorrindo, Mécia, enquanto guia o Observador pela casa “nova”.

Mécia. Quando o lixo preenche a solidão (e quase mata)

Aos 77 anos, Mécia teve sorte. Apesar de tudo — da solidão da viuvez e do lixo que lhe preencheu essa solidão –, teve sorte. E a sorte chegou-lhe por via de um azar: uma broncopneumonia. Estávamos em outubro de 2015. Mesmo no começo do mês. E chovia imenso nesse dia.

Mécia era desde há muito utente num centro social e paroquial, em São Brás, a 15 minutos (de autocarro) de casa, na freguesia da Mina de Água. Passou lá a manhã e a tarde. Como sempre. Voltou a casa no final do dia. Mas não foi uma “volta” como sempre: atrasou-se, perdeu o autocarro e resolveu, a custo, voltar a pé. “Aquilo fica lá para cima. Ainda é longe. Chovia tanto nesse dia, estava uma ventania tal, que até o guarda-chuva me voou. Mas lá cheguei. E deitei-me encharcada na cama. Como o telhado e o teto caíram, chovia-me lá e mais encharcada fiquei. O resultado? Apanhei uma broncopneumonia, veja você.”

As assistentes sociais deram pela ausência de Mécia no dia seguinte. E foram procurá-la em casa. Ou melhor, uma assistente em concreto procurou-a. “Quando me bateu à porta e a ouvi chamar por mim, não queria deixá-la entrar. Sentia vergonha que me visse naquele estado, com o lixo. Chamava-se Etelvina, essa assistente. Lá a deixei entrar. Mas só porque a conhecia bem. Há muitos anos. Eu confiava nela. E ainda me recordo do que ela me disse quando me viu na cama, doente: Ó, Mécia, ao que tu chegaste!“, conta.

Foi recuperar para a Casa de Saúde da Idanha, em Belas. “Aquilo é da Congregação… ai!… Como é que é mesmo o nome?… Congregação… hmmm… das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado de Jesus. É assim. Mas eu mal cheguei avisei logo — lá às freiras — que a mim ninguém me dá banho e que não ia partilhar o quarto com ninguém. E a comida não era grande espingarda, não senhor. Mas lá melhorei. E quando melhorei, meti-me no comboio e só parei em casa. O problema é que quando cheguei já me tinham limpado a casa toda. Toda, toda, toda. Fiquei desconsolada”, recorda.

"Antes de ele [marido] morrer eu era muito organizada, tinha tudo arrumadinho, tudo num brinco. Mas depois fiquei sozinha na vida. Quando ele morreu, deixei de ter gosto pela vida. E cheguei a pensar que assim, sem gosto pela vida, mais valia morrer e ir ter com ele. Isto pensava eu na minha moleirinha. Fui-me muito abaixo, muito abaixo"
Maria Mécia, acumuladora

Porque é que Mécia começou a acumular lixo em casa? “Sabe, o meu marido morreu em 2007, com uma trombose. É trombose que se diz, não é? Ou AVC, ou lá o que é. E quando ele morreu não me deixaram vê-lo. Mas à noite, no velório, quando fiquei sozinha, abri a urna, destapei-o, e vi que ele tinha a cabeça toda oca, com muito algodão, muito algodão. Estudaram-lhe a cabeça no Instituto de Medicina Legal, sabe? Mas quando vi aquilo, fui-me muito abaixo. Nunca mais cuidei da casa. Nem de mim”, lamenta.

Mas Mécia faz pinca-pé em dizer que nem sempre foi assim: acumuladora. Antes pelo contrário. “Qual quê! Antes de ele morrer eu era muito organizada, tinha tudo arrumadinho, tudo num brinco. O meu marido era embarcadiço da Marinha, sabe? Então, eu tinha que ter sempre tudo num aprumo para quando ele regressasse, a roupa sempre lavada e passadinha a ferro. Mas depois fiquei sozinha na vida, só tinha uma sobrinha que criei desde os seis anos e o meu filho, o Rui Pedro. Mas eles há muito que não viviam cá comigo. Quando ele morreu, deixei de ter gosto pela vida. E cheguei a pensar que assim, sem gosto pela vida, mais valia morrer e ir ter com ele. Isto pensava eu na minha moleirinha. Fui-me muito abaixo, muito abaixo”, conta.

Mécia e o marido tiveram por anos a fio um restaurante de casa cheia, na Reboleira, mesmo em frente ao estádio José Gomes, a casa do Estrela da Amadora. O negócio prosperava nos anos áureos do Estrela. “Quem lá ia muito almoçar era o Jorge Jesus. Lembro-me muito bem dele, do Jesus. Eu e o meu Rui Pedro não perdíamos um jogo, fosse em casa ou fosse fora, e deixávamos o meu marido — o pobrezinho! — sozinho no restaurante.”

[Levanta-se da cadeira na sala, vai até ao quarto do filho, traz de lá uma moldura com a equipa do Estrela da Amadora vencedora da Taça de Portugal na década de 1990, e continua.]

“O meu Rui Pedro agora está no Centro de Apoio Social do Pisão, que é da Santa Casa da Misericórdia. Antes esteve em Alcoitão. Ele já não pode vir a casa. É doente [mental], sabe? Mas ligo-lhe todos os dias. Ele há-de cá vir, agora que tenho a casa toda limpinha, o quarto dele todo limpinho. Ontem liguei-lhe e ele disse-me que estava a depenar os pombos todos lá do Centro. E que à noite ia toda a gente comer pombo recheado feito por ele”, graceja Mécia, antes de voltar aos dias felizes que teve na Reboleira.

maria messia, acumuladora de lixo,

O quarto do filho Rui Pedro continua com as molduras do “velho” Estrela (Créditos: Hugo Amaral/Observador)

“O Jesus gostava muito do meu Rui Pedro. Ele andava sempre de volta do estádio com um rádio. E o Jesus dava-lhe aos mil escudos de cada vez para ele ir comprar pilhas para o rádio. Sabe, eu tinha uma vida boa antes de o meu marido morrer. Comprámos o restaurante ainda no tempo do Vasco Gonçalves, em 1979”, diz, baralhando as datas. “Só deixei o restaurante quando ele [o marido] se foi. Eu tinha muito gosto pela vida. Gostava de ver as novelas na televisão à noite, gostava de ir ao café e pôr a conversa em dia. [Risos] Às vezes até me metia no autocarro e ia até à Costa [de Caparica] e voltava. Não sei o que me deu. Descuidei-me. Fiquei desamparada. Eu sabia que precisava de ajuda, mas tive vergonha de pedir. Fechei-me numa concha. Se ela abrisse, tudo bem. Se não abrisse, cá ficava, em casa, sozinha”, desabafa.

A ação da Divisão de Intervenção Social na casa de Mécia ainda continua. Começou em novembro de 2015, quando foi feita a remoção de todo o lixo doméstico que lá se amontoava. Depois, em janeiro, e com Mécia recuperada da broncopneumonia e de volta a casa, realizou-se a limpeza geral da habitação, durante dois dias. Esta só não se realizou mais cedo devido à demora na realização das obras de reabilitação (os tetos da sala e da cozinha haviam caído anos antes) por parte da senhoria de Mécia. “Quando o teto caiu com o peso do telhado e da chuva, pedi ajuda à dona Manuela, que é a senhoria. Sabe o que ela me respondeu? ‘Agora não, dona Mécia, agora não, só depois da Páscoa é que eu vejo isso.’ Isto foi há sete anos. Eu vivo aqui desde 1963. O meu marido cuidava da casa, pintava-a. Sempre cuidou. Mas depois de ele morrer mais ninguém cuidou de nada”, recorda.

"Eu nunca trouxe lixo da rua para casa. Não sou maluquinha nenhuma. Eu comprava tudo nos supermercados. Sobretudo comida. O problema é que não comia nada e amontoava tudo. Quase não se conseguia passar até à porta da rua. E quando conseguia, pisava os sacos e sentia as coisas a esborracharem-se nos pés, o leite, o peixe, tudo. O cheiro incomodava-me muito. Até porque eu sou asmática"
Maria Mécia, acumuladora

Mécia admitiu que era acumuladora compulsiva (e que precisava de ajuda) às assistentes sociais. O que nem sempre acontece entre acumuladores. Mas Mécia não era apenas uma acumuladora; sofria de síndrome de Diógenes. Acumulava lixo. “Lixo? Não, não. Eu nunca trouxe lixo da rua para casa. Ora essa! Não sou maluquinha nenhuma. Eu comprava tudo nos supermercados. Sobretudo comida. O problema é que não comia nada e amontoava tudo. No começo ainda deitava algumas coisas fora. Mas depois era tanta coisa que deixei de deitar. Não comia nada daquilo. Só comia meia pita shoarma de frango, que ia comprar ali adiante, aos indianos. Aiiii, isto havia sacos por todo o lado, por todo o lado. Então no corredor, nem lhe conto. Quase não se conseguia passar até à porta da rua. E quando conseguia, pisava os sacos e sentia as coisas a esborracharem-se nos pés, o leite, o peixe, tudo. O cheiro incomodava-me muito. Até porque eu sou asmática de nascença”, lembra.

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A doença não está ultrapassada ainda. Demorará meses de acompanhamento até o ser. E subentende-se que não está com o desabafo seguinte (um longo e confuso desabafo) de Mécia, no final da conversa, à mesa da sala.

“As assistentes sociais disseram-me que eu tinha muito lixo. E que tinham que tirar muita coisa. Mas elas tiraram-me tudo, sabe? O meu marido, como embarcadiço que era, trazia-me muitas coisas das viagens que fazia. Trouxe-me de Leningrado [atual São Petersburgo] um quadro muito bonito que eu tinha na sala. E tiraram-me. Aquilo não era lixo! Uma vez o meu marido foi a Génova com o [Oliveira] Salazar e com o [Américo] Thomaz e trouxe-me de Itália um casaco igual ao da mulher do Presidente [Ramalho] Eanes, todo em pele. Pele pura! Nunca o vesti. Também o tiraram. Tinha um faqueiro em prata aí — aquilo ia ficar para o meu filho — que também foi para o lixo. Elas dizem que não foi para o lixo, mas também não me dizem para onde foi. Eu tinha um pianinho – o meu Rui Pedro andava a aprender piano quando era miúdo; e tinha uma professora e tudo – e até o raio do pianinho do miúdo me tiraram. Que me tirassem os sacos com o lixo, eu não me importava; agora as roupinhas por usar é que não! Eu sei que elas não querem que eu diga isto, mas eu só digo as verdades, não é?”

Voltaremos a Mécia (ou melhor, às ‘mécias’ na Amadora) mais tarde.

Síndrome de Diógenes. “Na loucura de um acumulador há método. Nesta síndrome não há método nenhum”

Antes de explicar o que é a síndrome de Diógenes, é importante explicar o que não é. E esta síndrome não é o mesmo que acumulação compulsiva. A acumulação compulsiva é uma condição clínica. E caracteriza-se por uma dificuldade do doente em desfazer-se de objetos inúteis (ou de animais, como aqui o Observador contou), os quais vão ocupar várias divisões da casa e causar “incómodos ou danos significativos aos acumuladores e àqueles que os rodeiam”, explicou ao Observador Randy Frost, um psicólogo norte-americano que estuda a doença há vários anos.

Apesar de ninguém saber ao certo porque é que isso acontece, esta condição clínica está muitas vezes relacionada com algumas “doenças psicopatológicas”, como a esquizofrenia, as perturbações de personalidade, as perturbações obsessivo-compulsivas ou, principalmente, a depressão. “A depressão ocorre em mais de 50% dos casos de acumulação, e os distúrbios de ansiedade também são frequentes”, salientou o psicólogo norte-americano.

Agora sim, a síndrome de Diógenes. Ao contrário dos doentes que são acumuladores compulsivos, quem é diagnosticado com esta síndrome procura isolar-se, negando a doença e evitando todo e qualquer contacto social. Porém, o seu sintoma mais vincado é a auto-negligência. É igualmente comum a descrição de habitações quase em ruína, onde se acumulam objetos — “Os mais acumulados são roupas, papéis, livros, revistas e caixas”, referiu Frost ao Observador — e lixo recolhido da rua. Nos casos mais severos, existem muitas vezes alimentos em putrefação, espalhados pela casa, a presença de excrementos e infestações de insetos ou roedores.

Precisamente os sintomas que o caso de Mécia apresentava.

José Palma Góis é psiquiatra e diretor do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital do Espírito Santo, em Évora. Acompanhou vários casos de acumulação compulsiva e de síndrome de Diógenes ao longo dos anos naquele hospital. O difícil é diagnosticar o que é uma e outra condição. “A síndrome de Diógenes envolve normalmente a acumulação de grandes quantidades de lixo. A degradação pessoal e a falta de higiene são muito evidentes neste doente. Mas a acumulação compulsiva não tem que ser síndrome de Diógenes. Normalmente, a acumulação é mais organizada. Os acumuladores podem ser até colecionadores. Há neles uma procura ativa de certos objetos. Lembro-me de um paciente que era colecionador de pedras. Há um método na loucura deles. A síndrome é um processo de degradação progressiva, onde não há método nenhum. A acumulação está mais associada a doenças do espetro obsessivo-compulsivo”, explica Palma Góis.

Quanto à síndrome de Diógenes, não lhe está sempre associada uma perturbação mental. O que há é uma combinação de sintomas. E esta não é uma doença “oficial”; não para a Organização Mundial de Saúde. “A síndrome de Diógenes, em si, é sobretudo um padrão de comportamentos do doente. Claro que há doenças psiquiátricas, essas sim oficiais, que podem levar à síndrome. Há doentes com psicopatias primárias, como a esquizofrenia, doentes que ouvem vozes, têm alucinações e delírios. Mas não é comum. A doença mais comum é a demência.” A explicação está na idade de quem sofre desta síndrome. Esta condição afeta sobretudo pessoas mais velhas, que vivem sozinhas e isoladas. De acordo com o artigo “Noah Syndrome: A Variant of Diogenes Syndrome Accompanied by Animal Hoarding Practices”, de Alejandra Saldarriaga-Cantillo e Juan Carlos Rivas, os doentes são maioritariamente mulheres, com mais de 65 anos e um QI acima da média. Apesar disso, a doença não é exclusiva de nenhuma faixa etária, género ou condição social.

O tratamento existe. Mas não é apenas o psiquiatra o responsável por ele. Antes pelo contrário. “Muitas vezes os casos chegam-nos às mãos por via das autoridades de saúde. E dizem-nos: isto é um problema mental, resolvam-no vocês. Esse não é o caminho certo. A psiquiatria não resolve o problema como num golpe de magia. Não existem medicamentos milagrosos. Primeiro, é urgente afastar o doente de casa. E limpá-la. Mas só se pode limpar uma casa se o tribunal assim o ordenar. Quando o doente não quer ser ajudado — e o tratamento pode ser farmacológico ou psicoterapêutico –, pode ser necessário interná-lo num lar. Isto acontece-nos muito entre idosos sós. O problema é que muitas vezes, quando recomendamos o internamento num lar, os lares não querem ter pacientes com problemas mentais. A intervenção tem que ser planeada, conjunta – com o médico, os assistentes sociais, o Ministério Público, a proteção civil –, tem que ser firme, positiva e rápida”, garante o psiquiatra.

Mas nem sempre há rapidez. E com o avançar dos anos a doença vai agudizando-se de tal forma que só o internamento é a solução. O diretor do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital do Espírito Santo recorda um caso-limite que acompanhou de perto.

“Lembro-me de uma senhora, já idosa, que começou por apresentar um sintoma obsessivo-compulsivo de acumulação e este culminou numa síndrome de Diógenes. Quando era mais nova, esta senhora acumulava restos de comida e fazia pilhas específicas destes restos. Os caroços para um lado, as embalagens para outro. Depois começou a acumular as fraldas dos filhos, imagine-se. Ela fazia carreiros dentro da casa com os montes de lixo que acumulava. A situação nunca foi denunciada, nem por familiares, nem vizinhos. Por ninguém. Com o passar dos anos, a situação degradou-se. Ela simplesmente deixou de ter um método para a acumulação. Melhorou quando começou a ser seguida e a tomar medicação anti-psicótica. E conseguiu-se que ela não vivesse sozinha. E, não vivendo sozinha, deixou de ir ao lixo recolher coisas. Foi a solução”, conta.

Júlia e Manuel. Vidas enclausuradas no lixo… até à morte

Sabe-se deles o nome, Júlia e Manuel. Também o apelido: ele, Faustino; ela, Santos. Sabe-se que ele tinha 74 anos e que ela era dois anos mais nova. Tudo o mais na vida daquele casal de nacionalidade cabo-verdiana, a viver no bairro da Cova da Moura, mesmo às portas de Lisboa, há mais de três décadas, era um enorme mistério. Ou foi, até à madrugada de 10 de março.

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A remoção de lixo demorou três dias. Não sobrou nada. Nem portas ou janelas (Créditos: Hugo Amaral/Observador)

4h05. Quando os Bombeiros Voluntários da Amadora chegaram à Rua das Hortas, mesmo no centro do bairro da Cova da Moura, por entre ruas e ruelas, irregulares, estreitas, quase inacessíveis, Júlia e Manuel estavam mortos, intoxicados pelo fumo do incêndio que deflagrou na casa onde viviam, uma casa térrea, sem água, luz ou gás.

Júlia era acumuladora de lixo. Sofria de uma síndrome de Diógenes nunca diagnosticada. A descrição do comandante dos bombeiros, Mário Conde, é elucidativa: “Nunca vi nada assim. Havia meio metro livre entre o teto e os montes de lixo. Pouco mais. Eu diria que, provavelmente, foi uma vela a causa do incêndio, porque a casa tinha lixo, não tinha eletricidade, portanto, aquilo foi uma vela que ficou para ali acesa durante a noite. A extinção [do incêndio] até foi rápida, o rescaldo é que foi mais complexo, devido ao que a habitação tinha lá dentro. O acesso à habitação foi um problema”, explicou.

Foram necessárias seis viaturas e quase duas dezenas de voluntários para extinguir o incêndio. Mas não acabou aí a história de Júlia e Manuel. Nos três dias seguintes, os vizinhos ficaram perplexos com o que viram. Vinham, iam e voltavam camiões do lixo, de manhã e de tarde. Naqueles três longos dias retiraram-se da casa centenas e centenas de sacos com lixo, roupas, garrafas às dezenas, restos de comida com anos.

"Ela [Júlia Santos] não sossegava um minuto que fosse. Dizia-nos que limpava umas escadas ali para a Damaia. Não sei se limpava ou não. Agora diz-se muita coisa. O que eu sei é que ela saía de manhã e voltava à tarde ou à noite, sempre carregada de sacos. Agora sabemos que era lixo"
Maria 'Patriarca' Silva, vizinha de acumuladores na Cova da Moura

Maria Silva tem 60 anos. Tratam-na carinhosamente no bairro por “patriarca”. E é assim que prefere ser tratada. Vive mesmo em frente à casa que foi de Júlia e Manuel. Tem no piso térreo um café. Patriarca sabia o que lá se passava. “Os vizinhos sabiam o que se passava na casa, claro. Os vizinhos queixavam-se do cheiro, do lixo à entrada da porta. A porta da entrada [um gradeamento azul, pelo qual se vê o corredor que dá acesso aos quartos] estava cheia de lixo até cima. Sacos e sacos de lixo. Todos dispostos em camadinhas. A senhora fazia camadinhas. Mas ela não deixava ninguém sequer entrar.”

Hoje, patriarca não tem dúvidas sobre quem acumulava lixo. Aliás, nunca teve. “Ela não sossegava um minuto que fosse. Dizia-nos que limpava umas escadas ali para a Damaia. Não sei se limpava ou não. Agora diz-se muita coisa. O que eu sei é que ela saía de manhã e voltava à tarde ou à noite, sempre carregada de sacos. Agora sabemos que era lixo. O marido nunca trabalhou. Nunca saía do bairro. O homem era doente. Teve duas tromboses. Via mal. Mal conseguia andar. Mas estava sempre aqui no meu café. Todos os dias. Pelo menos enquanto ela não voltava. Eu costumava dizer que ele era o meu companheiro das tardes. Jogávamos aqui às cartas”, recorda.

Mas desde o Natal que não voltou a ver Manuel. “Ao que sei ficou adoentado, em casa. Todos os dias eu perguntava à senhora como é que ele estava, se precisava de ajuda, quando é que vinha ao café novamente. E ela respondia-me que só voltava a sair quando fizesse bom tempo, que naquele dia estava frio ou a chover. Para ela, estava sempre frio ou a chover. No domingo antes de isto acontecer – o incêndio foi numa terça-feira à noite –, voltei a conversar com ela. Pedi-lhe que abrisse a porta, para eu conversar com ele. Ou que ela abrisse a janela, para ele ver pessoas na rua. Não abriu.”

Não abriu naquele como não abriu em nenhum dia. Nunca, em trinta anos. Patriarca ainda tentou agir. Várias vezes. Mas em vão. “Houve um dia em que o senhor se sentiu mal em casa. E até tivemos que chamar uma ambulância. Quando os rapazes aqui do bairro entraram em casa – a senhora não estava lá – para trazer o homem para fora, ficaram em choque. Chateados. Mal o conseguiram tirar de lá, com tanto lixo. A porta quase não se abria. Abria um palmo ou dois. E disseram-me: ‘Patriarca, tem de fazer alguma coisa’. O que é que eu fiz? Fui falar com os filhos. Falei com o mais velho. Nenhum deles vive aqui. Mas o mais velho viveu até há três ou quatro anos. E ele disse-me que ia levar o pai para casa dele, para cuidar dele”, recorda. Esteve lá pouco tempo.

O incêndio podia ter sido evitado? Patriarca não responde, encolhendo os ombros. O que acontece no bairro, no bairro permanece. Em silêncio. “Nunca avisámos ninguém da Câmara [Municipal da Amadora], não. Nem as assistentes sociais do bairro. Nada. Uma vez uma vizinha disse que ia chamar a polícia, por causa do lixo e do cheiro, e eu disse-lhe que achava mal. Onde é que já se viu a polícia entrar na casa de uma senhora que não quer que ela entre. Ora essa! Agora, que toda a gente sabia, sabia. Mas não conseguimos fazer nada”, lamenta.

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Na manhã do incêndio, o comandante do Serviço Municipal de Proteção Civil da Amadora, Luís Carvalho, esclareceu que, apesar de alguns moradores referirem que tinham alertado para a situação de Júlia e Manuel, “os serviços de ação social, que possuem uma intervenção mais visível, não tinham o caso sinalizado”.

Uma vizinha do casal, porta com porta, contraria esta versão. Maria Barros tem 52 anos. Vive no bairro há mais de três décadas — tal como Júlia e Manuel. Maria é cuidadora de crianças no Moinho da Juventude, a associação cultural da Cova da Moura. Ela própria terá avisado os assistentes sociais da associação sobre a situação. Mas interagir com um doente com síndrome de Diógenes é difícil. “Eu trabalho na cidadania participativa, aqui no Moinho [da Juventude], e por várias vezes cheguei a conversar com o nosso assistente social. Mas era impossível chegar à fala com ela [Júlia]. É que nem sequer dava abébias”, explica a vizinha. E continua: “Eu cheguei a falar com ela. Ofereci-me para ajudá-la a limpar a casa. Ela nunca foi mal-educada comigo, isso não. Mas disse-me sempre que não queria. Que eram coisas que ela estava a guardar para um dia enviar para Cabo Verde. Isso era o que ela me dizia.”

É com tristeza que Maria recorda a noite do incêndio. “Acordei às três da manhã com o cheiro a fumo. Tinha fumo pela cozinha toda. Ainda conseguimos partir os estores e as janelas, o meu irmão derrubou o gradeamento de ferro da entrada, tirámos alguns sacos, mas eram tantos que foi impossível socorrê-los. O acesso era impossível. Ela ainda bateu na porta, lá ao fundo. É que ela, quando deu pelo incêndio no quarto do marido, tentou fugir pelo corredor, para o fundo. Acho que há lá uma janela qualquer que dá acesso à casa do irmão ou do cunhado, não sei. O que sei é que ela não conseguiu chegar a essa janela. E também não conseguiu voltar à porta da rua, porque havia muito lixo e muito fumo”, conta.

"Cheguei a conversar com o nosso assistente social. Mas era impossível chegar à fala com ela [Júlia]. É que nem sequer dava abébias. Ofereci-me para ajudá-la a limpar a casa. Ela nunca foi mal-educada comigo, isso não. Mas disse-me sempre que não queria. Que eram coisas que ela estava a guardar para um dia enviar para Cabo Verde"
Maria 'Patriarca' Barros, vizinha de acumuladores na Cova da Moura

Ao contrário de patriarca, só recentemente Maria percebeu que a vizinha Manuela era acumuladora de lixo em casa. “Ela era uma senhora muito, muito reservada. Mas muito asseada, sempre aprumadinha, bem vestida. Nunca vi aquela mulher desleixada na rua. Nem ao marido. Não desconfiava. Até porque só há pouco tempo é que nos começou a cheirar pior. Porquê? Porque estava sempre tudo fechado, as portas, as janelas. Só quando ela começou a acumular no corredor é que começou a cheirar mal.”

Certo dia, Maria teve que socorrer o vizinho Manuel. Ou tentar. “O senhor sentiu-se mal. E ela não me deixou entrar para o ajudar. Tive que ir eu buscar uma cadeira a minha casa, tive que ser eu a dar-lhe água da minha, e foi ela quem o trouxe para a rua e o sentou. Nunca deixou ninguém entrar.” E recorda outro episódio da acumulação de Júlia. Um episódio antigo: “Eles nunca tiveram luz. Nunca. Sempre tiveram velas em casa. Mais dia, menos dia, ia acontecer um desastre. Saíam os dois de manhã, ele para o café e ela para trabalhar, e voltavam a casa à noite. Quando eu consegui ter luz em casa, pedi que instalassem a luz na casa dela também. Quando veio cá o instalador, ele não permitiu que ele entrasse, ainda barafustou com ele, e tive que virar costas para não me chatear”, recorda.

José Pessoa Nunes é hoje Chefe de Secção no Departamento de Investigação de Incêndios da Polícia Judiciária de Lisboa. Foi ele o responsável pela investigação ao incêndio na Cova da Moura. “Este é o tipo de caso que ocorre geralmente em situações de algum isolamento social por parte das vítimas. O incêndio que prolifera a partir das velas é só uma consequência desse isolamento. Também há, muitas vezes, sobretudo quando estamos a falar de idosos, abandono social. São casos a que chamamos de insalubridade. E depois surgem cortes de água, de luz, também no gás. Os incêndios são muito comuns. Mas muitas vezes as pessoas acabam por morrer em casa, sozinhas, e os casos só se descobrem semanas, às vezes meses, depois”, explica.

Para o inspetor Pessoa Nunes, há o problema de compreender se os crimes estão associados ou não à síndrome de Diógenes. É muitas vezes uma questão de “sensibilidade” do próprio inspetor compreender isso. Ainda assim, garante que são poucos os casos. “Não, não são comuns os casos de mortes por causa da acumulação compulsiva ou da síndrome de Diógenes. Eu diria que há dois, três casos por ano. Não mais. E são quase sempre incêndios em casas atoladas de lixo. O nosso problema, quando nos deslocamos ao local, é que a síndrome de Diógenes ainda não é uma doença reconhecida pela Organização Mundial de Saúde. É difícil fazer uma estatística das mortes associadas a este problema. Vai depender muito da própria sensibilidade do agente que vai acompanhar o caso”, lembra.

"Por vezes é possível responsabilizar criminalmente alguém, sim. Familiares, vizinhos ou outros. Sobretudo por omissão de socorro. Ou exposição ao abandono. Mas a acusação partirá sempre do Ministério Público"
Pessoa Nunes, Chefe de Secção no Departamento de Investigação de Incêndios da Polícia Judiciária

A maior parte das vítimas são idosos. Sozinhos em casa. E, quando assim é, o relatório da PJ é fundamental para criminalizar alguém (quando é possível criminalizar alguém) pela morte. Pessoa Nunes explica: “A Polícia Judiciária, quando intervém nestes casos, se há crime, reporta sempre ao Ministério Público as suas conclusões. Por vezes é possível responsabilizar criminalmente alguém, sim. Familiares, vizinhos ou outros. Sobretudo por omissão de socorro. Ou exposição ao abandono. Mas a acusação partirá sempre do Ministério Público. A nós cabe-nos investigar as causas do crime”, explica.

“Quantas ‘mécias’ há por aí? Ninguém sabe”

Voltando à história de Mécia e dos acumuladores no concelho da Amadora. Ana Moreno é Chefe da Divisão de Intervenção Social na autarquia. E explica a atuação desta nos casos de acumulação e de síndrome de Diógenes. Ou melhor, nos casos de insalubridade.

“Nós aqui na divisão temos uma área que cobre os casos de insalubridade, que acaba por incluir uma e outra doença. E acompanhamos de perto vários casos todos os anos. O que procuramos é intervir o quanto antes. Muitas vezes os casos são-nos reportados pelos familiares ou pelos vizinhos. Outras vezes é a própria proteção civil. Nunca são os próprios a pedir ajuda. Muitas vezes por vergonha não o fazem, como era o caso de Mécia, ou outras, porque estamos a falar de pessoas muito isoladas socialmente. Portanto, o caso é identificado e procuramos fazer logo um diagnóstico”, garante.

Feito o diagnóstico, a intervenção é sempre feita em articulação. “Sim, a intervenção nunca é só da Câmara. Nem pode. Primeiro, procuramos o médico de família, para conhecer os antecedentes clínicos daquele doente, e depois um psiquiatra, que vai acompanhar o caso. A seguir é necessário contactar o Ministério Público e as polícias, seja a Polícia Municipal ou a PSP. Nós não podemos entrar na casa de uma pessoa sem a autorização dela; é necessário um mandado judicial. É ainda necessária a atuação da Proteção Civil e dos serviços urbanos da autarquia, que vão tratar da remoção do lixo. Ou dos serviços veterinários, quando há acumulação de animais. Por último, e como os casos são sobretudo de idosos, é necessária uma articulação com instituições privadas de solidariedade social, como os lares”, explica.

Em 2015, a Amadora teve 57 casos de insalubridade detetados e intervencionados. Nestes primeiros meses de 2016 são já 52 casos. Porquê? “Por um lado é sinal de que estamos a trabalhar bem. Por outro lado, a explicação é o envelhecimento da população, na Amadora como no país. Mas quantas mais ‘mécias’ é que ainda há por aí? Não sei. Não sabemos. O que nós tentamos é chegar a todos os casos.”

"A intervenção nunca é só da Câmara. Primeiro, procuramos o médico de família. A seguir é necessário contactar o Ministério Público e a PSP. Nós não podemos entrar na casa de uma pessoa sem a autorização dela. É ainda necessária a atuação da Proteção Civil, que vai tratar da remoção do lixo. Por último, e como os casos são sobretudo de idosos, é necessária uma articulação com instituições privadas de solidariedade social"
Ana Moreno, Chefe da Divisão de Intervenção Social da Câmara Municipal da Amadora

O que nem sempre é fácil. Nem rápido. “Muitas vezes não nos deixam entrar em casa. O que é normal nestes casos. Quando deixam, é necessário definir um plano de intervenção. E a intervenção tem que ser feita com a pessoa. Não é ela quem vai retirar o lixo de casa, mas tem que ser ela a compreender que tem um problema e que precisa de ser ajudada. Não podemos retirar tudo do dia para a noite. Não que não conseguíssemos. Não é isso. Mas essa retirada abrupta vai piorar o estado de saúde do acumulador. Em vez de o ajudar, vai prejudicá-lo na recuperação. As intervenções chegam a demorar três meses. Isto no melhor dos casos. Mas a intervenção não termina com a limpeza da casa nem com as obras. São necessárias visitas frequentes a casa destas pessoas para garantir que o problema não volta”, lembra Ana Moreno.

É hoje possível na Divisão de Intervenção Social caracterizar estes doentes. “Verifica-se uma distribuição equitativa pelos dois sexos, a média de idades é de 73 anos, têm quase todos doença psiquiátrica ou demências. A problemática da insalubridade é transversal a nível cio-económico, contudo a maioria das situações são de pessoas com rendimento abaixo do valor [419,20 euros] do Indexante dos Apoios Sociais [indexante a partir do qual o Governo estabelece o valor de vários apoios sociais]”, explica Ana Moreno.

Ao longo do processo de intervenção, e após um levantamento conjunto de necessidades, é delineado com cada pessoa um projeto adequado a cada situação, que compreenda diversas áreas, como as questões da saúde, rendimentos e apoios, respostas sociais a acionar e projetos existentes no concelho. “Por parte da autarquia são normalmente acionados os seguintes: retirada dos lixos, desinfestação, oficina multisserviços (reparações após a limpeza), banco de bens doados, teleassistência entre outros.”

Mécia tinha vergonha de pedir ajuda para limpar a casa depois de anos e anos de acumulação de lixo. Mas foi ajudada, no final do ano. Júlia nunca quis ser ajudada. Nem deixou que o marido fosse. Morreu com ele num incêndio em casa, no começo de março. Outras vinte e seis ‘mécias’ pediram ajuda até maio. Mas quantas mais haverá, em silêncio, no meio do lixo e sós? Ninguém sabe.

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