A passar a marca dos 10 anos, o NOS Alive continua a somar pontos na lista dos melhores festivais da Europa e o cartaz deste ano, uma vez mais, coloca Portugal bem dentro do circuito dos grandes artistas internacionais – esta é apenas uma das últimas referências na imprensa estrangeira. A razão explica-se numa palavra: o cartaz.

É o cartaz que justifica as 55 mil pessoas que vão encher o recinto nos dias 8 e 9, esgotados há muito. O primeiro dia, esta quinta-feira, para lá caminha, já são muito poucos os bilhetes à venda.

Em dias de festival, o Passeio Marítimo de Algés não é conhecido pelo enquadramento ambiental ou pela vista (que é, em bom rigor, praticamente inexistente) nem pela excelência do espaço útil, quase sempre apertado e empoeirado. A contar com isso, a organização resolveu oferecer um presente de aniversário, bem ilustrado nesta mensagem.

recinto NOS Alive 2016 - twitter oficial

Fonte: twitter.com/nos_alive

Além disso, tal como já aqui dissemos, este ano o NOS Alive vai ter uma “zona de barracas” de cara lavada, agora requalificada na “Rua EDP” com inspiração Pombalina e, pasme-se, um palco dedicado ao fado, que depois da meia-noite se vai transformar numa pista de slows. A imaginação é o limite.

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O festival urbano de Algés todos os anos inclui a palavra no lema, com mérito próprio, que apregoa com pompa e circunstância: “O melhor cartaz (de) sempre”. E este ano não é exceção, o alinhamento do NOS Alive é um inferno.

Conheça de seguida os nossos destaques – o cartaz completo pode (e deve) ser consultado aqui. De resto, recomendamos que utilize os transporte públicos, que instale a aplicação oficial (Android e iOS) para se organizar e que vá preparado para o calor do dia e para o frio que chega do mar, ao início da noite.

Quinta-feira, dia 7

Os norte-americanos Pixies (22h45) são repetentes por estas bandas, estão agora a assinalar os 30 anos de carreira e por isso é de esperar um alinhamento em jeito de “best of”. Para muitos, Black Francis já perdeu a pedalada mas quando o que manda é a guitarra, a memória acorda e o público fica rendido, é sempre uma aposta ganha. Falámos esta semana com o baterista David Loveridge que continua a acreditar que a separação da banda durante mais de dez anos foi o melhor que lhes aconteceu.

Antes, um Senhor chamado Robert Plant, a velha e mítica voz dos Led Zeppelin que anda agora na estrada com uma nova banda chamada The Sensational Space Shifters. Aguardam-se os clássicos da (velha) banda inglesa e a ver vamos como está aquela voz, que já foi considerada uma das melhores de todos os tempos.

A fechar a noite (1h00), a dupla The Chemical Brothers vem apresentar o ainda último Born in The Echos (2015), um álbum que recebeu da crítica muitas estrelas e que mantém Tom Rowlands e Ed Simons como uma referência da música eletrónica de Manchester.


No palco principal o dia começa com o pop/rock dos britânicos The 1975 (às 18h), que vêm mostrar o segundo álbum de estúdio, um disco divertido até pelo nome (prepare-se): I like it when you sleep, for you are so beautiful yet so unaware of it.

A “tenda do fundo” (o Palco Heineken) é por onde passam, tradicionalmente, os artistas ou bandas mais alternativas ou as que ainda não recolheram massa crítica suficiente para encher o Palco NOS. Não foi nem uma nem duas as vezes que o Alive se enganou na escolha e é de prever que este ano aconteça o mesmo.

John Grant, o ex-vocalista dos norte-americanos Czars, apanha a boleia do pôr-do-sol (20h45) para apresentar o terceiro álbum, Grey Tickles, Black Pressure (2015). É um disco de produção por vezes complexa, mas se resultar ao vivo pode bem ser um estalo.


Os Soulwax (23h45) são, desde há quase 20 anos, uma (senão a) banda mais importante da cena eletro rock belga. Este ano puseram em disco a banda sonora do filme “Bélgica”, de Felix Van Groeningen, mas é de esperar que percorram o que está para trás, incluindo (para não dizer, sobretudo) as remisturas.

É difícil não separar esta atuação daquela que fecha o Palco Heineken, três horas mais tarde. Isto porque dois dos membros dos Soulwax, os irmãos Stephen e David Dewaele, formam uma dupla de DJs absolutamente mirabolante. Os 2ManyDJs (2h30) chegam e sobram para manter acesa qualquer plateia, porque além da habilidade técnica têm a capacidade e o sentido estético de misturar tudo e mais alguma coisa, quanto mais improvável melhor. Esse efeito surpresa é profundamente contagioso, espera-se por isso um final de noite em cheio. Quem for trabalhar na sexta-feira, por favor, aguente-se.

Pelo Palco NOS Clubbing (o “palco do meio”, mais dedicado à eletrónica) recebe neste primeiro dia dois nomes fundamentais da eletrónica portuguesa: Xinobi (18h05) e Branko (21h), o agora ex-membro dos Buraka Som Sistema que já carimbou (e bem) a carreia a solo com o álbum/projeto Atlas (2015).

À meia-noite, os Junior Boys vêm tocar o quinto álbum, Big Black Coat (2016), mas espera-se que ofereçam ao público português uma pitada dos discos anteriores (são todos bons), incluindo um ou outro tema do primeiro Last Exit (2004), talvez o mais excepcional dos cinco. Venha o que vier, vai ser forte.


Os luso-angolanos Throes + The Shine encerram a noite (2h40) e vão disputar audiência com os 2ManyDJs. Ninguém disse que a vida era fácil, mas estamos em crer que têm mais do que argumentos para reunir à sua volta uma multidão, porque quando se liga o kuduro à corrente este espalha ainda mais energia.

Sexta-feira, dia 8

Um nome: Radiohead (22h45). Foi a banda inglesa que fez esgotar este dia num ápice e quem vai reunir no Palco NOS a grande maioria das 55 mil pessoas. São gigantes que fazem o que querem na indústria da música (as estratégias de marketing que têm levado a cabo nos últimos anos são a prova disso), trazem na bagagem um repertório feito de momentos brilhantes e, à cabeça, o novo A Moon Shaped Pool (2016), nono álbum de estúdio.

Antes (21h), os australianos Tame Impala regressam ao Passeio Marítimo de Algés e a Portugal, onde já apresentaram o último Currents (2015), no ano passado – sem grande fulgor. Agora que esta viragem do rock para a pop psicadélica tem mais estrada feita, agora que passou mais tempo para moldar os ouvidos mais teimosos, esperamos que o acolhimento seja maior. A banda liderada por Kevin Parker merece todos os aplausos.

Os Foals (conterrâneos dos Radiohead) trazem ao NOS Alive (19h30) o quarto álbum de estúdio, What When Down (2015), um belo disco indie pop/rock mas que não apaga a memória mais esgalhada, por exemplo, de Antidotes (2008). Têm muita coisa boa para mostrar, vamos contar que sejam generosos. Lembra-se desta?


Neste segundo dia, é quase certo que o Palco Heineken vai receber algumas enchentes. Courtney Barnett está em alta (a semana passada foi uma das grandes atrações do festival de Roskilde, na Dinamarca) e vai apresentar, pela primeira vez em Portugal, o álbum de estreia, mais um com um nome para ler devagar: Sometimes I Sit And Think, And Sometimes I Just Sit (2015). Muitos vão levantar-se, porque é isso que pede o rock da cantora e compositora australiana.

Outros também vão sair do chão quando Carlão subir ao palco (20h30) para apresentar o novo EP Na Batalha (2016) e o álbum Quarenta, considerado por muitos um dos melhores de 2015. O Observador vai andar todo o dia atrás dele, depois damos notícias.

Segue-se Father John Misty (21h40). O norte-americano Joshua Tillman é um nome importante da folk contemporânea, é cantor, compositor e multi-intrumentista e tem no currículo mais de uma dezena de discos (entre álbuns e EPs), além de uma longa história de saltimbanco (fez parte, por exemplo, dos Fleet Foxes). Tem argumentos para ter toda a mania do mundo, a última das quais chama-se I Love You, Honeybear (2015).


A fechar o segundo dia do Palco Heineken, os britânicos Hot Chip (2h40) regressam a Portugal, desta vez para apresentar Why Make Sense? (2015), sexto álbum de estúdio. Não tem o mesmo brilho do anterior In Our Heads (2012), mas vai dar para dançar.

Corpos a mexer é o que não vai faltar no NOS Clubbing, esta sexta-feira, que estará por conta da curadoria de DJ Kamala. Um palco e um dia dedicado ao hip hop português, por onde vão passar NBC, Sir Scratch, Bob Da Rage Sense, MGDRV, HMB, Da Chick, Sam The Kid e o próprio DJ Kamala, a encerrar a festa.

Sábado, dia 9

Os canadianos Arcade Fire (22h45) são há muito uma banda de sucesso entre nós, acarinhada desde a estreia ao vivo em 2005, quando vieram apresentar o (super) álbum de estreia, Funeral (2004). Desde então já regressaram várias vezes e voltaram a eleger Portugal para uma das duas únicas atuações em festivais de verão, este ano. Este espetáculo tem tudo para ser especial, até porque a banda está neste momento a terminar a gravação do novo álbum, pelo que vamos ouvir canções a sair do forno.

Cabe a Anthony Gonzalez a honra de fechar o palco principal na última noite (1h00). Os M83 estão entre as bandas francesas mais populares da atualidade, porque souberam criar ao longo dos últimos 15 anos um estilo próprio, pela forma como moldaram a eletrónica, ilustrada de forma exemplar em Saturdays = Youth (2008). O novo álbum – Junk – saiu no passado mês de abril, para além de não ser particularmente brilhante ainda não teve tempo de entrar no ouvido, pelo que é de prever que não deixem de fora alguns êxitos.


Os Band of Horses (21h) chegam de Seattle para apresentar, também no palco principal, o novíssimo Why Are You OK, editado este junho. Antes (19h30) tocam os espanhóis Vetusta Morla, um presente para os milhares de espanhóis que vão estar no NOS Alive, mas também uma oportunidade para apresentar ao público português uma das bandas de rock alternativo de maior sucesso no país vizinho. Quem já os viu ao vivo garante que dão um grande espetáculo.

Neste sábado, o nosso destaque para o palco Heineken vai direitinho para três nomes que atuam tarde e de seguida. É caso para dizer que o melhor fica (mesmo) para o fim.

Quando for meia-noite em ponto, sobe ao palco um senhor chamado Kieran Hebden, músico e produtor inglês particularmente conhecido pelas remisturas que já fez a meio mundo. Four Tet é um virtuoso, não só na mecânica dos “gira-discos” mas também na componente estética, que cruza várias franjas da eletrónica com o jazz e com a world music, uma mistura nem sempre fácil de digerir mas que não deixa ninguém indiferente.

Segue-se (1h30) a estreia em Portugal da canadiana Claire Elise Boucher, conhecida em palco por Grimes. Aos 28 anos tem já quatro álbuns na agenda, mas foi com o último Art Angels (2015) que deu o salto: foi considerado por todo a parte (inclusive por nós) um dos melhores álbuns de 2015. A tenda vai rebentar pelas costuras.

A fechar o longo serão (3h00), vamos assistir ao regresso a Portugal da dupla nova-iorquina Ratatat. No ano passado foram encantadores e tiveram honras de palco principal, aqui cederam-lhes um muito mais pequeno mas isso não lhes vai retirar a energia, talvez apenas a oportunidade de oferecer ao público um espetáculo com as letras todas.

Na tenda eletrónica (o Palco NOS Clubbing), um sublinhado especial neste último dia para três artistas portugueses que já conhecemos de perto. Isaura (19h10) seguida do parceiro musical Francis Dale (20h25), é mais do que certo que se vão chamar um ao outro, vai ser bom de se ver, outra vez. Depois (21h40) os Mirror People de Rui Maia (X-Wife), que para além do álbum Voyager (2015) já tem para apresentar um EP chamado Telephone Call, lançado este ano. A fechar a tenda (2h15), o alemão Boys Noize (Alexander Ridha), um dos melhores DJs do mundo, vai apresentar o novo Mayday, editado no passado mês de maio. O espírito “rave”, para dizer adeus.

A equipa do Observador vai acompanhar em direto os três dias desta edição do NOS Alive, em liveblog e nas redes sociais (a etiqueta oficial é #NOSalive). No final de cada dia traremos aqui o resumo dos principais momentos. Até lá.