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Kai Oliver Pfaffenbach/REUTERS/WORLD PRESS PHOTO HANDOUT/EPA

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Apanha-me se puderes: alguém agarra o Relâmpago Bolt antes da despedida?

Bolt é um relâmpago dentro e fora de pistas. A pessoa mais rápida do mundo há uma década. Um campeão que só tem um rival: ele próprio. Alguém consegue bater o menos humano dos humanos no seu adeus?

O The Guardian apresentou esta semana um trabalho interativo que terminava da seguinte forma: no ___ que você demorou a ler este artigo, Usain Bolt podia ter feito ___ sprints de 100 metros, que são ___ metros. A média de uma pessoa normal ronda os ___ metros nesse tempo. Os Mundiais de atletismo são em Londres, aquele mítico palco que recebeu uma das melhores edições de sempre dos Jogos Olímpicos. E entre tantos atletas, só se fala de um: o jamaicano que vai colocar um ponto final na carreira, mas não no reinado de atleta mais rápido do mundo. Pelo menos, até aparecer o impossível. Ou o novo Bolt.

Depois das medalhas de prata nos 200 e nos 4×100 metros do Campeonato do Mundo de Osaka, em 2007, Usain Bolt teve apenas um adversário: ele próprio. Entre os Jogos Olímpicos de 2008, 2012 e 2016 e os Mundiais de 2009, 2011, 2013 e 2015, só não ganhou duas vezes (19 medalhas em 21): nos 4×100 metros de 2008 em Pequim, porque Nesta Carter acusou positivo num controlo anti-doping, e nos 100 metros de 2011, em Daegu, por falsa partida. Entretanto, foi batendo recordes atrás de recordes. Foi um Relâmpago que caiu no atletismo e fez faísca nos olhos e nos corações de todos os amantes do desporto. Tiremos o futebol: é ele, Michael Phelps e os outros. Sendo que os outros estão muito atrás dos reis das pistas e das piscinas.

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“Perder? Não acredito que me perguntam isso. Não será um problema”, atirou na última conferência antes dos Mundiais de atletismo. Como diz o antigo campeão dos 110 metros barreiras Colin Jackson, “quando alguém diz que é uma lenda soa muito arrogante em todos os atletas, mas não nele”. Para ele, não há limites, não há barreiras, não há obstáculos. É ele com ele e contra ele, numa mistura entre o menos humano dos humanos e o menos extraterrestre dos extraterrestres. Mas o facto de ser a prova que marca a sua despedida tem esse ponto especial: quem conseguir ganhar ao jamaicano ganha não só uma medalha mas sobretudo o testemunho de uma dinastia que ainda procura um novo príncipe. E mesmo sem Andre De Grasse, que se lesionou a dois dias da competição, há três candidatos a calçarem os sapatos da glória: o compatriota e amigo Yohan Blake, a eterna sombra Justin Gatlin e a jovem revelação Christian Coleman.

A final dos 100 metros realiza-se este sábado, a partir das 21h45, cerca de duas horas e meia depois das meias-finais (19h05). E ganhou um “picante” extra: mesmo tratando-se de eliminatórias, Bolt teve uma das piores partidas de que há memória em grandes competições…

Christian Coleman, o discípulo de Gatlin que sonhava com a NFL

A história de Christian Coleman tem de começar obrigatoriamente por outro nome: John Ross. Quem é este? Antigo membro da Universidade de Washington, bateu o recorde de velocidade em 40 jardas nos testes de entrada para a NFL, Liga de Futebol Americano: 4,22 segundos. “Sou mais rápido do que o Usain Bolt”, atirou. Até que uma publicação lembrou-se de perguntar ao velocista se aceitava o desafio de fazer o mesmo trajeto. Resultado? 4,12 segundos. E um lugar de destaque na imprensa para aquele que sonhava um dia jogar na NFL.

O americano de 21 anos nascido em Atlanta praticamente não tem currículo a nível internacional, a não ser uma medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Juniores. Esteve nos últimos Jogos Olímpicos, participou nas eliminatórias da estafeta 4×100 metros, mas não ganhou nenhuma medalha porque na final, em que não participou, os Estados Unidos foram desqualificados depois de uma má passagem. Agora, chega aos Mundiais de atletismo com a marca canhão de 9,82 segundos, a melhor do ano. Christian Coleman, que frequenta a Universidade de Tennessee, teve uma ascensão meteórica e este ano, pela primeira vez, deu entrevistas a meios fora dos Estados Unidos, no seguimento do recorde universitário que conseguiu estabelecer (e que estava na posse de Ngonidzashe Makusha desde 2011). É que, a partir daquela corrida, só há três americanos melhores: Tyson Gay, Justin Gatlin e Maurice Green.

https://www.youtube.com/watch?v=dHaBNx0fvo4

“O céu é o limite do que posso algum dia correr”, comentou depois de ter batido o recorde universitário. “Mas só queria chegar aqui e atingir a final, era o meu plano. Tive um início muito bom, separei-me, passei para a frente mas só queria mesmo o apuramento para a final. Senti-me muito bem”, explicou, em declarações reproduzidas pelo Independent, onde destacou também a importância de Justin Gatlin na sua evolução. “Ele veio das corridas universitárias e passou pelo mesmo tipo de coisas que estou agora a viver, em relação ao que devo fazer com a minha carreira e à pressão de ser um dos melhores velocistas da universidade. Tem-me dado muitos conselhos”.

Seria fantástico conseguir bater o Bolt, porque iria abrir-me portas para muitas pessoas me verem. Há muita gente que nunca ouviu sequer falar em mim e é uma grande oportunidade poder ir à final com ele. Mas ao mesmo tempo, tenho de recuar nessas metas e focar-me na competição, porque pouca gente tem esta oportunidade. O meu objetivo é chegar lá e tentar conseguir o ouro”, destacou numa entrevista à revista Stuff.

Getty Images

Yohan Blake, a “Besta” que procura uma segunda vida (sem ser no críquete)

Sem fazer nada por isso, Yohan Blake volta ao local onde teve a melhor prestação de sempre, nos Jogos Olímpicos de 2012, com grande pressão nos ombros. Pressão desportiva e emoção pessoal, por ser a última grande prova do amigo e compatriota Usain Bolt. “Vi um vídeo no Instagram e cheguei a chorar um pouco, porque passámos por tanto nas pistas e nos treinos que este ano ser o último é triste. Ele deixa um sapato enorme para calçar e será complicado conseguir fazer isso, mas tentarei que o meu pé caiba e estou próximo disso. O nosso melhor momento foi quando conseguimos fazer primeiro e segundo lugar nos Jogos”, confessou ao Jamaica Observer em junho.

É esse o legado de Blake: suceder a Bolt. Porque além de ser o segundo homem mais rápido do ano (9,90), é também o segundo mais rápido de sempre, apenas superado pelo compatriota. E tudo estava a correr bem este ano, após recuperar de alguns problemas físicos (“Senti-me muito bem, deixei o meu treinador contente e segui os conselhos do Usain, que me disse para manter a paciência”, comentou), antes de sentir uma pequena dor na perna que fez com que falhasse a Liga Diamante em Rabat por mera precaução. Agora, procura voltar ao nível de junho.

https://www.youtube.com/watch?v=ln2nuYe-p_o

Não foi por acaso que, quando terminou as qualificações jamaicanas para os Mundiais, Blake, também conhecido como “A Besta”, se ajoelhou e benzeu-se. Treinado por Glen Mills, que também orienta Usain Bolt, o velocista de 27 anos que aproveita todas as folgas para jogar críquete (o primeiro desporto que teve quando era miúdo) teve um arranque em falso na carreira, sendo apanhado num controlo anti-doping positivo e ficando castigado três meses. Regressou e, em 2011, conseguiu a medalha de ouro nos 100 metros, aproveitando a falsa partida de Bolt em Daegu. No ano seguinte, foi prata nos 100 e nos 200 metros, além do ouro que ganhou nos 4×100 metros.

A partir de 2013, tudo mudou e uma série de lesões (as mais complicadas de recuperar num tendão do joelho) tiraram-no dos grandes palcos e dos grandes resultados: falhou os Mundiais desse ano, teve um regresso complicado em 2014 e falhou as qualificações para os Mundiais de 2015. Blake apostava tudo nos Jogos do Rio de Janeiro, mas voltou a desiludir: ficou na quarta posição nos 100 metros e falhou a final dos 200 metros, “celebrando” apenas o ouro na estafeta dos 4×100 metros. Agora, o jamaicano procura uma segunda vida.

AFP/Getty Images

Justin Gatlin, o eterno segundo que foi número 1 num programa japonês

Aos 35 anos, Justin Gatlin deixou um sinal de que não pode ser dado como acabado nas qualificações nacionais dos Estados Unidos, vencendo na corrida decisiva o benjamim Christian Coleman. Mas a idade não perdoa. E sejamos sinceros: se durante tanto tempo só por uma vez conseguiu ganhar a Bolt (e num meeting da Liga Diamante, nunca em grandes provas como Jogos e Mundiais), é agora que vai superar o jamaicano? Ele acha que sim. E convém não subestimar por completo o americano…

Chegado à Universidade do Tennessee como figura de proa nos 110 metros barreiras, rapidamente os treinadores colocaram Gatlin a fazer os 100 e 200 metros mas, em 2001, teve o primeiro grande revés na carreira – acusou anfetaminas num controlo anti-doping (algo que justificou com um medicamento que tomava desde miúdo para o défice de atenção com hiperatividade) e foi castigado com uma sanção de dois anos, entretanto reduzida para apenas um. E voltou em grande, com três medalhas nos Jogos de 2004 (uma de ouro, nos 100 metros, onde bateu Francis Obikwelu) e duas outras nos Mundiais do ano seguinte. Até que voltou a sofrer outro percalço.

Em junho de 2006, teve novo controlo positivo. Numa primeira instância, e como oito atletas treinados por Trevor Graham acusaram a mesma substância, o técnico defendeu que Gatlin tinha sido sabotado por um massagista, que lhe aplicara testosterona sem saber. Acabou por aceitar a suspensão de oito anos aplicada, que seria mais tarde reduzida para quatro, e nesse período chegou a treinar com equipas da NFL para jogar futebol americano, algo que acabou por nunca acontecer. Regressou em 2010, nunca mais voltou a ter problemas de doping, mas andou sempre na sombra de Bolt, com pratas e bronzes nos Jogos de 2012 e 2016 e nos Mundiais de 2013 e 2015.

Justin Gatlin, que conseguiu uma vez fazer os 100 metros em 9.45 segundos (que seria recorde mundial) no programa japonês de TV Kasupe! com a ajuda de máquinas que conseguiam soprar ventos acima dos 25 metros por segundo, estava fora do comboio quando apareceu Bolt e nunca mais conseguiu agarrar o jamaicano. “Sinto-me como o Justin que foi campeão olímpico em 2004”, atirou na última antevisão que fez da prova. Ainda assim, há um ponto que mudou – a “antipatia” com Bolt foi mesmo diluída com o tempo. “Tenho o máximo respeito pelo Usain. Fora das pistas, é um gajo bestial, não existe rivalidade entre nós. Sou competitivo e ele obrigou-me a ser o que sou hoje”, comentou antes de explicar ao The Guardian que acredita que esta pode não ser a última prova do jamaicano. “Ele tem aquela mentalidade de ‘rock star’ de quem viaja pelo mundo, diverte-se, faz a festa em diferentes locais e depois pensa que tem de concentrar-se mais uma vez. Quando abandonar, pode ter um ano de descanso e pensar que gosta tanto das pistas que tem de voltar”, salientou.

AFP/Getty Images

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