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Arte, tecnologia, religião e mistério: leia os dois primeiros capítulos do novo romance de Dan Brown

"Origem" volta a tocar nos temas da tecnologia e da religião. Antecipando a vinda de Dan Brown a Portugal, este domingo, o Observador publica os dois primeiros capítulos do novo livro do autor.

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Origem, o mais recente romance de Dan Brown, o famoso autor bestseller de O Código Da Vinci, chegou às livrarias de todo o mundo no início de outubro, quatro anos depois da publicação de Inferno, uma história misteriosa que voltou a colocar o seu protagonista, o simbologista Robert Landgon, numa intrigante aventura, desta vez pelas ruas de Florença. Em Origem, a receita não é muito diferente — Landgon atira-se aos enigmas depois de um estranho evento no Museu Guggenheim, em Bilbao — a revelação da descoberta que “mudará para sempre o rosto da ciência”.

O simbologista embarca de seguida numa viagem alucinante por várias cidades espanholas. Partindo da permissa “de onde vimos, para onde vamos”, neste livro Dan Brown volta a questionar-se se a ciência irá, algum dia, tornar a religião obsoleta.

O escritor vai estar em Portugal este domingo, para a apresentação do seu novo romance. O evento, aberto ao público, irá decorrer pelas 17h, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Antecipando a vinda de Brown, o Observador publica os dois primeiros capítulos de Origem.

O romance foi publicado a 4 de outubro. Esta foi a primeira vez que um livro de Dan Brown chegou às livrarias portuguesas no mesmo período do lançamento mundial

Prólogo

Enquanto o velho comboio de cremalheira se arrastava pela vertiginosa encosta acima, Edmond Kirsch examinou o cume recortado à sua frente. À distância, esculpido na face de um precipício, o enorme mosteiro de pedra parecia suspenso sobre o vazio, como se tivesse sido magicamente fundido na parede vertical.

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Havia mais de quatro séculos que o imortal santuário na Catalunha, Espanha, desafiava a inexorável força da gravidade, nunca se desviando do seu propósito original: isolar os seus ocupantes do mundo moderno.

Ironicamente, serão agora os primeiros a conhecer a verdade, pensou, perguntando a si próprio como reagiriam. Historicamente, os homens mais perigosos à face da Terra eram os homens de Deus… especialmente quando os seus deuses eram ameaçados. E eu estou prestes a atirar uma lança incendiária para um ninho de vespas.

Quando o comboio chegou ao seu destino, avistou uma figura solitária à sua espera na plataforma. O escanzelado ancião estava vestido com a tradicional batina púrpura católica e uma sobrepeliz branca, com um solidéu na cabeça. Kirsch reconheceu as feições aquilinas do seu anfitrião por fotografias e sentiu uma inesperada descarga de adrenalina.

Valdespino veio receber-me pessoalmente.

O bispo Antonio Valdespino era uma figura formidável em Espanha: não só um amigo de confiança e consultor do próprio rei, mas um dos mais loquazes e influentes paladinos da preservação dos valores conservadores católicos e dos cânones políticos tradicionais.

— Edmond Kirsch, suponho? — entoou o bispo quando Kirsch saiu do comboio.

— Culpado — respondeu Kirsch, sorrindo enquanto apertava a mão magra do seu anfitrião. — Vossa Excelência, gostava de lhe agradecer ter organizado esta reunião.

— Eu agradeço o facto de a ter solicitado. — A voz do bispo era mais forte do que Kirsch esperava, límpida e penetrante como um sino. — Não é muito habitual sermos consultados por homens da ciência, especialmente um com a sua proeminência. Siga-me, por favor.

Enquanto conduzia Kirsch pela plataforma, a fria aragem da montanha ia-lhe fustigando a batina.

— Tenho de lhe confessar que tem um aspeto diferente do que eu imaginava. Estava à espera de um cientista, mas o senhor parece bastante… — Olhou para o elegante fato K50 da Kiton e para os sapatos Barker de pele de avestruz do seu convidado com uma ponta de desdém. — Vanguardista, seria a palavra?

Kirsch sorriu cortesmente. Há décadas que nin- guém utiliza a palavra «vanguardista».

— Estive a ler o seu currículo e ainda não compreendi muito bem o que é que o senhor faz.

— Sou especialista em teoria de jogos e modelos computacionais.

— Então o senhor dedica-se a produzir jogos de computador para crianças?

Teve a impressão de que o bispo estava a fingir ignorância numa tentativa de parecer mais simpático. De facto, sabia que Valdespino era um ávido seguidor das últimas tecnologias, para cujos perigos tinha frequentemente chamado a atenção.

— Não, Vossa Excelência, de facto a teoria de jogos é um campo da matemática que estuda padrões para poder efetuar previsões sobre o futuro.

— Ah, sim. Acho que li que o senhor previu uma crise monetária europeia há alguns anos? Quando ninguém o ouviu, o senhor salvou-nos a todos inventando um programa informático que conseguiu ressuscitar a União Europeia. Como era mesmo a sua frase? «Com trinta e três anos, tenho a mesma idade de Cristo quando realizou a Sua ressurreição.»

Kirsch encolheu-se ligeiramente.

— Foi uma analogia infeliz, Vossa Excelência. As palavras de um jovem.

— De um jovem? — riu-se o bispo. — E que idade tem agora? Quarenta, talvez?

— Acabados de fazer.

O ancião sorriu enquanto o vento continuava a fustigar-lhe a batina.

— Bem, supunha-se que seriam os mansos que herdariam a Terra, mas parece que esta acabou por ir para os jovens. Os interessados na tecnologia, os que olham para os ecrãs em vez de para a própria alma. Tenho de reconhecer, no entanto, que nunca imaginei que teria a oportunidade de conhecer o jovem que lidera a carga. Sabe que lhe chamam um profeta?

— Não um muito bom no meu caso, Excelência — replicou Kirsch. — Quando perguntei se me podia reunir em privado consigo e com os seus pares, calculei que a probabilidade de que aceitassemseria de apenas vinte por cento.

— E como eu disse aos meus pares, os devotos podem sempre obter vantagens ao ouvir os descrentes. É ao ouvir o Diabo que melhor podemos apreciar a voz de Deus. — O ancião sorriu. — Estou a brincar consigo, claro. Peço-lhe que desculpe o meu sentido de humor um tanto ou quanto senil. Os meus filtros de vez em quando já falham.

Com estas palavras, o bispo Valdespino fez-lhe sinal para avançarem.

— Os outros estão à nossa espera. Siga-me, por favor.

Kirsch observou o seu destino, uma colossal cidadela de pedra cinzenta, alcandorada à beira de um precipício de centenas de metros, sobre uma exuberante tapeçaria florestal. Incomodado pela altitude, desviou o olhar do abismo e seguiu o bispo pelo caminho irregular em que se encontravam, dirigindo os pensamentos para a reunião que o trou-
xera ali.

Pedira uma audiência com três proeminentes líderes religiosos que tinham acabado de assistir a uma conferência no mosteiro.

O Parlamento das Religiões do Mundo.

Desde 1893 que centenas de líderes espirituais de praticamente trinta religiões do mundo inteiro se reuniam em diferentes locais a cada poucos anos para passarem uma semana dedicados ao diálogo interreligioso. Os participantes costumavam incluir um leque diversificado de padres, rabinos e mulás procedentes do mundo inteiro, juntamente com pujaris hindus, bhikkus budistas, jainistas, sikhs e outros.

O autoproclamado objetivo do parlamento consistia em «cultivar a harmonia entre as religiões do mundo, estender pontes entre as diversas espiritualidades e celebrar os pontos comuns entre todas as fés».

Um empreendimento nobre, pensou, apesar de o considerar um exercício de futilidade. Uma busca sem sentido de pontos de correspondência aleatórios entre uma salgalhada de ficções, fábulas e mitos ancestrais.

Enquanto o bispo Valdespino o conduzia pelo caminho, olhou para a encosta aos seus pés com um pensamento sardónico. Moisés subiu à montanha para aceitar a palavra de Deus… e eu subi para fazer exatamente o contrário.

A sua motivação para subir aquela montanha, dissera a si próprio, era uma obrigação ética, mas sabia que havia uma boa dose de húbris a alimentar a sua visita. Estava ansioso por sentir a gratificação de se sentar à frente dos clérigos e predizer a sua iminente obsolescência.

A sua motivação para subir aquela montanha, dissera a si próprio, era uma obrigação ética, mas sabia que havia uma boa dose de húbris a alimentar a sua visita. Estava ansioso por sentir a gratificação de se sentar à frente dos clérigos e predizer a sua iminente obsolescência.

Acabou-se o tempo em que vocês definiam a nossa verdade.

— Estive a dar uma vista de olhos ao seu currículo — disse abruptamente o bispo, olhando para Kirsch. — Vi que é um produto de Harvard.

— Não acabei a licenciatura, mas sim.

— Ah. Li recentemente que, pela primeira vez na história de Harvard, o corpo estudantil que entra é composto por mais ateus e agnósticos do que por pessoas que se definem como seguidoras de qualquer religião. É um dado estatístico bastante revelador, senhor Kirsch.

O que lhe sei dizer, quis replicar Kirsch, é que os nossos alunos são cada vez mais inteligentes.

O vento tornara-se mais forte ao chegarem ao antigo edifício de pedra. No interior, sob a ténue luz do átrio, o ar estava impregnado com a pesada fragrância de incenso queimado. Os dois homens serpentearam por um labirinto de corredores escuros, e os olhos de Kirsch tiveram de se esforçar para se adaptarem enquanto seguia o seu anfitrião. Chegaram por fim a uma porta invulgarmente pequena de madeira. O bispo bateu, baixou-se e entrou, fazendo
um gesto ao seu convidado para que o seguisse.

Hesitante, Kirsch atravessou o limiar. Deu consigo numa câmara retangular, de paredes altas repletas de tomos encadernados em couro, das quais se projetavam como costelas estantes adicionais, alternadas com radiadores de ferro fundido, cujos estalidos e silvos davam a estranha impressão de que a sala estava viva. Levantou o olhar para a ornamentada passagem abalaustrada que rodeava o segundo andar e percebeu sem sombra de dúvida onde se encontrava.

A famosa biblioteca de Montserrat, compreendeu, surpreendido por ter sido admitido ali. Dizia-se que aquela sala sagrada continha textos raríssimos, acessíveis apenas aos monges que tinham dedicado toda a sua vida a Deus sequestrados naquela montanha.

— O senhor Kirsch pediu-nos discrição — disse o bispo. — Este é o nosso espaço mais privado. Poucos estranhos alguma vez aqui entraram.

— Um generoso privilégio, que agradeço sinceramente.

Seguiu o bispo até uma grande mesa de madeira em que dois anciãos os esperavam sentados. O da esquerda parecia desgastado pelo tempo, com olhos cansados e uma hirsuta barba branca. Usava um fato preto amarrotado, camisa branca e chapéu.

— Apresento-lhe o rabino Yehuda Köves. É um proeminente filósofo judeu com uma extensa obra sobre a cosmologia cabalística.

Kirsch estendeu a mão por cima da mesa e cumprimentou cortesmente o rabino Köves.

— Tenho muito prazer em conhecê-lo. Li os seus livros sobre a Cabala. Não lhe posso dizer que os tenha compreendido, mas li-os.

Köves assentiu afavelmente com a cabeça, limpando os olhos lacrimosos com um lenço.

— E aqui — continuou o bispo, indicando o outro ancião — temos o respeitado allamah Syed al-Fadl.

O reverenciado académico islâmico levantou-se e dirigiu-lhe um amplo sorriso. Era baixo e anafado, com uma face jovial que parecia não combinar muito bem com os seus penetrantes olhos escuros. Estava vestido com uma despretensiosa thawb branca.

— E eu, senhor Kirsch, li as suas previsões sobre o futuro da humanidade. Não posso dizer que concorde com elas, mas li-as.

Kirsch sorriu cordialmente e apertou-lhe a mão.

— E o nosso convidado, Edmond Kirsch — concluiu o bispo, dirigindo-se aos dois outros religiosos —, que como sabem é um muito conceituado cientista nos campos da computação e da teoria de jogos, inventor e mesmo uma espécie de profeta do mundo da tecnologia. Considerando os seus antecedentes, foi com surpresa que recebi o seu pedido para se reunir connosco. Por esse motivo, deixo-o agora explicar o que o traz aqui.

Com estas palavras, o bispo Valdespino sentou-se entre os outros dois religiosos, uniu as mãos e olhou expectante para Kirsch. Os três homens ficaram virados para ele como um tribunal, criando um ambiente mais parecido com um inquérito do que com uma reunião de académicos. Kirsch percebeu nesse momento que o bispo nem sequer lhe oferecera uma cadeira.

No entanto, sentiu-se mais divertido do que intimidado enquanto perscrutava os três anciãos que o enfrentavam. Então esta é a Santa Trindade que eu pedi. Os meus três Homens Sábios.

Fazendo uma pausa para reivindicar o seu domínio da situação, dirigiu-se à janela e olhou para o impressionante panorama do exterior. Uma manta de retalhos de terras ancestrais de pastoreio, iluminadas pelo sol, estendia-se por um profundo vale até aos cumes da serra de Collserola. A quilómetros de distância, em algum ponto por cima do mar das Baleares, um ameaçador maciço de nuvens tempestuosas começava a formar-se no horizonte.

Uma imagem adequada, considerou, pressentindo a turbulência que em breve causaria naquela sala e em todo o mundo que a rodeava.

— Cavalheiros — começou, virando-se bruscamente para eles —, parece-me que o bispo Valdespino já lhes transmitiu o meu pedido de confidencialidade. Antes de continuarmos, gostaria apenas de esclarecer que o que vou partilhar convosco tem de ser mantido no mais absoluto segredo. Em poucas palavras, peço a todos um voto de silêncio. Aceitam o meu pedido?

Os três homens fizeram gestos de tácita aquiescência, que Kirsch sabia serem provavelmente redundantes. Vão estar certamente mais interessados em enterrar esta informação do que em divulgá-la.

O que eles não sabiam era que dentro de apenas três dias tencionava divulgar a apresentação de forma impressionante e meticulosamente coreografada. E, quando o fizesse, as pessoas do mundo inteiro perceberiam que as doutrinas de todas as religiões tinham realmente um aspeto comum.

— Encontro-me aqui hoje porque fiz uma descoberta científica que penso que considerarão surpreendente. É um assunto a que dediquei muitos anos de trabalho, desejando dar respostas a duas das perguntas mais fundamentais da experiência humana. Agora que as obtive, dirigi-me aos senhores especificamente porque acredito que esta informação afetará os crentes de todo o mundo de um modo profundo, causando muito provavelmente uma alteração que só poderá ser descrita como, digamos, disruptiva. De momento, porém, sou a única pessoa no mundo que possui a informação que lhes vou agora revelar.

Com estas palavras, tirou do casaco um enorme smartphone, um modelo que tinha concebido e construído para servir as suas necessidades específicas. O telemóvel tinha um invólucro de cores vibrantes e ele ergueu-o como um televisor à frente dos três anciãos. Dentro de momentos, utilizaria o dispositivo para aceder a um servidor ultrasseguro, introduziria a sua palavra-passe de quarenta e sete caracteres e reproduziria uma apresentação.

— O que vão agora ver é uma versão rudimentar de uma comunicação que espero partilhar com o mundo inteiro talvez dentro de um mês. Mas antes gostaria de consultar alguns dos pensadores religiosos mais influentes do mundo, para obter informação em primeira mão de como estas notícias serão recebidas por aqueles que serão mais afetados por elas.

O bispo suspirou ruidosamente, parecendo mais aborrecido do que preocupado.

— Um preâmbulo intrigante, senhor Kirsch. Fala como se o que nos vai mostrar abalasse os alicerces das religiões do mundo inteiro.

Kirsch olhou para o ancestral repositório de textos sagrados. Não os vai abalar, vai pulverizá-los.

Examinou os três homens à sua frente. O que eles não sabiam era que dentro de apenas três dias tencionava divulgar a apresentação de forma impressionante e meticulosamente coreografada. E, quando o fizesse, as pessoas do mundo inteiro perceberiam que as doutrinas de todas as religiões tinham realmente um aspeto comum.

Estavam todas completamente enganadas.

Capítulo 1

O professor Robert Langdon olhou para o cão de treze metros sentado na praça. O pelo do animal era uma tapeçaria viva de ervas e fragrantes flores.

Estou a tentar apreciar-te, pensou. Estou realmente a tentar.

Examinou a criatura durante mais algum tempo e depois continuou ao longo de uma passagem suspensa, descendo por uma ampla escadaria cujo piso desigual estava pensado para perturbar o ritmo e o passo do visitante. Missão cumprida, decidiu, quase tropeçando duas vezes nos degraus irregulares.

Ao fundo da escada, estacou estupefacto perante um enorme objeto que avistou à distância.

Agora posso verdadeiramente dizer que já vi de tudo.

Uma enorme viúva-negra erguia-se à sua frente, com umas esguias pernas que suportavam um corpo esférico a mais de oito metros de altura. Do seu ventre encontrava-se pendurado um saco de ovos de rede de arame, cheio de globos de vidro.

— Chama-se Maman — disse uma voz.

Langdon olhou para baixo e viu um homem magro debaixo da aranha. Estava vestido com um sherwani de brocado negro e tinha um bigode recurvado à Salvador Dalí, que era quase cómico.

— E eu chamo-me Fernando — continuou. — E estou aqui para lhe dar as boas-vindas ao museu. — Perscrutou uma coleção de etiquetas com nomes que tinha à frente. — Podia dizer-me o seu nome, por favor?

— Claro. Robert Langdon.

Os olhos do outro levantaram-se imediatamente.

— Ah. Peço-lhe imensas desculpas. Não o reconheci.

Eu próprio praticamente não me reconheço, pensou Langdon, avançando rigidamente com o laço branco, a casaca preta e o colete branco. Pareço um membro dos Whiffenpoof. A sua casaca clássica tinha quase trinta anos, guardada dos seus tempos de membro do Ivy Club em Princeton, mas, graças ao seu fiel regime diário de natação, ainda lhe servia razoavelmente bem. Com a pressa ao fazer a mala, tinha pegado no saco errado do guarda-fatos, deixando o habitual smoking em casa.

— O convite indicava fato de cerimónia. Espero que a casaca seja apropriada?

— As casacas são um clássico! Está ótimo! — O outro homem dirigiu-se apressadamente para Langdon e colou-lhe uma etiqueta na lapela do casaco. — É uma honra conhecê-lo. Imagino que já nos tenha visitado antes?

Langdon olhou através das pernas da aranha para o brilhante edifício que tinham à frente.

— Para dizer a verdade, é um pouco embaraçoso, mas não, é a primeira vez que aqui venho.

— Não me diga isso. — O homem do bigode fingiu que desmaiava. — Não aprecia arte moderna?

Sempre apreciara o desafio da arte moderna, principalmente a exploração do porquê de determinadas peças serem aclamadas como obras-primas: os quadros de pingos de Pollock, as latas de sopa Campbell’s de Andy Warhol, os simples retângulos de cor de Mark Rothko. No entanto, sempre se sentira mais confortável a discutir o simbolismo religioso de Hieronymus Bosch ou a pincelada de Goya.

— Sou mais classicista — replicou. — Sinto-me mais à vontade com Da Vinci do que com De Kooning.

— Mas Da Vinci e De Kooning são tão parecidos!

Langdon sorriu pacientemente.

— Imagino que tenha bastante a aprender sobre De Kooning.

— Só lhe posso dizer que veio ao sítio certo.

— O homem fez um gesto com a mão para o dirigir para o enorme edifício. — Neste museu, encontrará uma das melhores coleções de arte moderna à face da Terra! Espero que aprecie.

— Espero que sim — replicou Langdon. —

Embora neste momento só gostasse de saber porque é que estou aqui.

— O professor e todos os outros! — riu-se alegremente o homem, abanando a cabeça. — O seu anfitrião tem sido muito enigmático sobre o propósito do evento desta noite. Nem sequer o pessoal do museu sabe o que vai acontecer. O mistério é metade da diversão. Já temos rumores para todos os gostos!

Muito pouca gente teria a ousadia de enviar convites de última hora que essencialmente diziam: Sábado à noite. Não falte. Confie em mim. E ainda menos seria capaz de persuadir centenas de VIP a abandonar todos os seus planos e apanhar o avião para o norte de Espanha a fim de assistir ao evento.

Há muitas centenas de convidados no interior, incluindo muitas caras famosas, e ninguém faz a menor ideia de qual é o programa desta noite.

Langdon teve de sorrir. Muito pouca gente teria a ousadia de enviar convites de última hora que essencialmente diziam: Sábado à noite. Não falte. Confie em mim. E ainda menos seria capaz de persuadir centenas de VIP a abandonar todos os seus planos e apanhar o avião para o norte de Espanha a fim de assistir ao evento.

Ao sair de baixo da aranha e seguindo caminho, olhou para um enorme estandarte vermelho que ondulava ao vento por cima das suas cabeças.

UMA NOITE COM
EDMOND KIRSCH

O certo é que Edmond nunca teve falta de autoconfiança, pensou, divertido.

Há cerca de vinte anos, o jovem Eddie Kirsch tinha sido um dos seus primeiros alunos em Harvard, um nerd guedelhudo que fora levado por um inusitado interesse no estudo dos códigos a matricular-se na sua disciplina de primeiro ano: Códigos, Cifras e a Linguagem dos Símbolos. A sofisticação do seu intelecto produzira uma profunda impressão em Langdon e, apesar de o jovem ter acabado por abandonar o poeirento mundo da semiótica pela brilhante promessa dos computadores, tinham acabado por estabelecer uma relação de professor e aluno que os mantivera em contacto ao longo das duas últimas décadas.

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