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Imagens de uma câmara de vigilância que captaram Younes Abouyaaquob
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Imagens de uma câmara de vigilância que captaram Younes Abouyaaquob

Andreu Dalmau/EPA

Imagens de uma câmara de vigilância que captaram Younes Abouyaaquob

Andreu Dalmau/EPA

As 100 horas da fuga de Younes Abouyaaquob

O principal suspeito do atentado nas Ramblas foi abatido. Esteve desaparecido três dias e matou um homem pelo caminho, enquanto os seus cúmplices faziam outro atentado. Este é o relato dessa fuga.

Quinta-feira, 16h50

“Atropelamento no cimo das Ramblas. O autor é um indivíduo de 1,70m com uma camisola branca às riscas azuis.” É esta a primeira comunicação ouvida no rádio da polícia catalã sobre o condutor da carrinha que atropelou dezenas de pessoas na principal avenida de Barcelona, de acordo com o jornal El Español, um pouco antes das cinco da tarde. Em pleno agosto, as Ramblas estavam cheias de catalães e turistas, que passeavam. O ataque é letal: ao todo, 13 pessoas morrem no local.

De seguida, tudo se passa de forma muito rápida. O condutor — que, saber-se-á mais tarde, é Younes Abouyaaquob — aproveita a confusão nos momentos iniciais e sai da carrinha. Coloca um par de óculos escuros e foge para o mercado da Boquería, no centro das Ramblas, misturando-se com a multidão. Atravessa todo o mercado, andando lentamente e sai depois pelas traseiras, para o bairro do Raval. Continua em passo calmo, para não dar nas vistas.

Quinta-feira, 17h30

Pau Pérez, de 35 anos, sai da casa dos seus pais em Vilafranca del Penedès para ir visitar a sua avó à cidade — mal sabendo que o seu caminho se cruzará de forma trágica com o de Younes. Pouco depois de sair de casa, tem conhecimento do que acontece nas Ramblas e, como conta o El Español, liga para casa para tranquilizar os pais: “mãe, pai, estou bem”, diz-lhes.

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Quinta-feira, 18h15

Ao mesmo tempo que Pau Pérez saía para Barcelona, Younes seguia o seu caminho até à avenida Diagonal, na zona universitária da cidade de Barcelona. Anda mais de cinco quilómetros a pé, chegando a um parque de estacionamento a cerca de 100 metros do estádio do FC Barcelona por volta das 18h15. É lá que se cruza com Pérez, que está a estacionar o seu carro.

Younes esfaqueia o jovem e coloca o seu corpo nos bancos de trás do Ford Focus preto. Senta-se ao volante e segue a toda a velocidade pela avenida Diagonal. Passa um controlo policial, recusando-se a parar, e atropela uma agente, que fica ferida numa perna.

Acaba por abandonar o carro perto do edifício Walden, em Sant Just Desvern. Um morador da zona ouve-o a fazer uma chamada telefónica em árabe, de acordo com o La Vanguardia. Depois abandona o local, correndo. Quando a polícia chega, 20 minutos depois, encontra apenas o corpo de Pau Pérez no banco de trás.

A avenida das Ramblas, onde aconteceu o atropelamento (QUIQUE GARCIA/EPA)

QUIQUE GARCIA/EPA

Quinta-feira, 19h30

A investigação das autoridades prossegue. De Younes, nem sinal, mas a polícia catalã encontra em Vic uma das carrinhas que crê estarem associadas ao atentado — já que teria sido alugada ao mesmo tempo que o veículo usado no ataque nas Ramblas, em Santa Perpètua de Mogoda –, perto de um Burger King, na estrada de Manlleu.

Quinta-feira, 19h50

Driss Oukabir dirige-se a uma esquadra policial em Ripoll, depois de ver o seu nome difundido nas notícias como suspeito. Diz que os seus documentos, utilizados para alugar as carrinhas, foram roubados e que está inocente. É detido para interrogatório. Cerca de uma hora depois, é detido um segundo homem.

Quinta-feira, 23h

A polícia catalã anuncia em conferência de imprensa que crê haver relação entre uma explosão que se deu na quarta-feira numa casa em Alcanar e o atentado nas Ramblas.

Sexta-feira, 01h25

Um Audi A3 com cinco ocupantes choca com um veículo policial num controlo perto do passeio marítimo de Cambrils, a cerca de 120 quilómetros de Barcelona. Os cinco homens fogem a pé e um deles esfaqueia pelo caminho uma mulher de 42 anos, que acabará por morrer no hospital. A polícia acaba por abater os cinco suspeitos, que traziam consigo o que aparentava ser cintos de explosivos, mas que se revelam falsos. Traziam também armas brancas.

Sexta-feira, 03h

As autoridades prosseguem com as investigações e estabelecem uma relação entre o atentado das Ramblas e o que aconteceu em Cambrils. “Parece que havia uma célula preparada para fazer atentados na Catalunha”, declara o conselheiro catalão do ministério espanhol do Interior, Joaquim Forn. Os investigadores crêem que a célula é composta por 12 membros. E quanto a Younes? Continua fugido, em parte incerta.

“Parece que havia uma célula preparada para fazer atentados na Catalunha”
Joaquim Forn, conselheiro catalão do ministério espanhol do Interior

Sexta-feira, 10h

A polícia investiga a casa de Driss Oukabir e uma segunda habitação. À hora de almoço, já dois outros homens terão sido detidos. Ao todo, há quatro detidos: três são cidadãos marroquinos e um é cidadão espanhol — todos com idades compreendidas entre os 21 e os 34 anos.

Sexta-feira, 18h

A investigação nos escombros da casa de Alcanar prossegue e as informações começam a sair na imprensa espanhola. Para além do primeiro cadáver encontrado no local, a polícia descobre entretanto os restos mortais de uma segunda pessoa.

Grua em trabalhos nos escombros da casa de Alcanar (AFP/GETTY IMAGES)

AFP/Getty Images

Para além disso, torna-se cada vez mais clara a relação entre esta casa e a célula terrorista. Ao todo, o grupo teria ali armazenadas 120 botijas de gás. Mais relevante ainda, teriam também produzido triperóxido de acetona, conhecido pela sigla TATP ou ainda pelo nome popular “mãe de Satã”. A descoberta de acetona começou por ser associada ao tráfico de droga — por ser utilizada pelos químicos que manipulam estupefacientes. Contudo, uma investigação mais aprofundada identificou o triperóxido de acetona (feito a partir de acetona) que é uma substância frequentemente utilizada por terroristas para fabrico de explosivos — foi inclusivamente a escolhida pelos jihadistas para os ataques em novembro de 2015 em Paris, no Bataclan, e para os de Bruxelas. Foi esta última teoria que vingou. De acordo com um comandante de polícia citado pela agência Europa Press, esta substância “é manipulada para conseguir ser muito concentrada. Com este tipo de agente consegue-se que o fogo posterior gere mais energia calorífica e seja sustentável no tempo.”

Sábado, todo o dia

Onde pára Younes? Ninguém sabe. A Catalunha acorda e mantém-se o mistério sobre o paradeiro do condutor da carrinha das Ramblas. A conta-gotas, saem novas notícias na imprensa espanhola. O tópico do dia é o perfil do imã Abdelbaki Es Satty, que a polícia crê ser o responsável pela radicalização dos jovens que levaram a cabo os atentados de Barcelona e Cambrils

Es Satty tem 45 anos e é um salafista radical que esteve preso em Castellón por violação da Lei de Estrangeiros, de onde saiu a cinco de janeiro de 2012. O seu colega de casa, na rua Sant Pere em Ripoll, conta que Es Satty saiu na quarta-feira “porque ia para Marrocos” e que não voltou a saber nada dele desde então. Ao La Vanguardia, o proprietário da casa confirma que a documentação usada para assinar o contrato de aluguer tinha referências a Castellón, que fica a cerca de 90 quilómetros de Alcanar.

Domingo, 10h

A polícia catalã confirma que procura Younes Abouyaaquob, de 22 anos, que crê ser o condutor responsável pelo atropelamento nas Ramblas. As autoridades dizem ainda que alargaram a investigação a França, já que não excluem a possibilidade de o suspeito ter atravessado a fronteira. Divulgam também a foto e a descrição de Younes: jovem, com aproximadamente 1,80m de altura, cabelo curto, pele escura. Poderá ter barba e poderá estar armado. Divulga também uma foto de uma câmara de segurança onde se pode ver Younes com a camisola branca, às riscas azuis.

Domingo, 20h

O presidente da câmara da cidade belga de Vilvoorde, perto de Bruxelas, faz declarações à televisão VRT dizendo que o imã Es Satty esteve à procura de emprego na Bélgica no ano passado. Vilvoorde é conhecida como um centro do radicalismo islâmico no país.

Segunda-feira, 12h

“O seu último movimento foi em Sant Just Desvern e aí, por volta das 19h, perdemos-lhe a pista”, admite Josep Lluis Trapero, chefe da polícia catalã, sobre Younes. É numa conferência de imprensa que o major reconhece não ter conhecimento do paradeiro do principal suspeito em fuga da célula de 12 jihadistas.

O homem da camisola às riscas continua em parte incógnita, é certo, mas nem por isso a investigação está parada. No mesmo encontro com jornalistas, Trapero admite que “há indícios muito sólidos” de que o imã Es Satty é provavelmente uma das duas pessoas encontradas mortas em Alcanar. Faltam apenas os resultados das análises aos restos mortais para o comprovar.

Segunda-feira, 14h

Driss Oukabir, o primeiro suspeito detido, é transferido da esquadra de Ripoll para a Audiência Nacional, um tribunal especial com sede em Madrid, segundo conta o La Vanguardia.

Entretanto, o correspondente do jornal El País em Marrocos chega à fala com a família de Abouyaaquob. Não só reforçam que crêem ter sido a influência do imã a radicalizar os jovens, como sublinham que o jovem abandonou o país há muito tempo. “O meu neto nem sequer terminou os seus estudos aqui. Estudou em Espanha”, diz Aqbouch Abouyaaquob, avô do jovem de 22 anos.

Segunda-feira, 16h

Apenas quatro horas depois de a polícia catalã ter confirmado que não sabe do paradeiro de Younes, eis que tudo muda: uma senhora em Subirats faz uma denúncia à polícia que altera por completo a situação. A mulher vê um homem parecido a Abouyaaquob perto de algumas casas e pergunta-lhe o que faz ali. O jovem, alarmado, foge em direção a umas vinhas ali perto e a mulher alerta imediatamente as autoridades.

Operação policial em Subirats, onde Younes foi abatido (QUIQUE GARCIA/EPA)

QUIQUE GARCIA/EPA

Esta chega rapidamente e alcança-o perto de uma bomba de gasolina. Cercado pela polícia, o homem tira a camisola e mostra o que parece ser um cinto de explosivos. Grita “Alá é grande” e recusa-se a obedecer às ordens da polícia. Quando corre em direção aos agentes policiais, estes abatem-no a tiro, a uma distância de cerca de 10 metros. Fica deitado de bruços no chão e as autoridades chamam imediatamente os TEDAX, técnicos responsáveis pela análise de explosivos, para perceber se o cinto é verdadeiro ou não.

Quando fica claro que este cinto, à semelhança dos que traziam os seus cúmplices em Cambrils, é falso, a polícia pode finalmente identificar formalmente o suspeito. Às 17h20, fazem o anúncio oficial: o homem abatido é Younes Abouyaquob.

Josep Lluis Trapero volta a subir ao palanque para uma nova conferência de imprensa, que sela o destino do jovem marroquino. Há novas informações importantes: confirma-se a morte do imã Es Satty em Alcanar, deixando assim claro que “o núcleo desta célula eram 12 pessoas e estas pessoas estão ou mortas, ou detidas”, explica o major. Ao todo, como explica o El Español, são eles os irmãos Oukabir (Driss e Moussa), os irmãos Abouyaaquob (Younes e Houssaine), os irmãos Allah (Said, Youssef e Mohamed), os irmão Hichamy (Omar e Mohamed) e, por fim, Mohamed Houli Chemlal, Salah El Karib e o imã Abdelbaki Es Satty.

“O núcleo desta célula eram 12 pessoas e estas pessoas estão ou mortas, ou detidas”
Josep Lluis Trapero, major da polícia catalã

Mas, mais importante do que isso, Trapero confirma que a morte de Younes pôs assim fim à fuga de 95 horas do marroquino. E conta, pelas suas próprias palavras, como foram os últimos minutos de vida de Younes: “Recebemos duas entradas de informação em que nos sinalizaram de que este homem poderia tratar-se do terrorista fugido. Os efectivos policiais fizeram o perímetro da zona. Dois agentes do distrito de Sant Sadurní viram uma pessoa escondida nas vinhas, disseram o ‘alto’ e pediram que se identificasse. Esta pessoa trazia uma camisa aberta e mostrava um possível cinto de explosivos. Os polícias fizeram uso regular da sua arma.”

O seu registo no sistema, através do Número de Identificação de Estrangeiro, e as impressões digitais, fizeram o resto. “Deram uma coincidência de 12 pontos, o mínimo necessário para uma confirmação”, ilustra Trapero. Younes Abouyaquob, o homem da camisa às riscas, caiu em Subirats, quase 100 horas depois de ter abandonado as Ramblas. Doze pontos de uma impressão digital ditaram assim o fim de uma célula de doze homens.

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