Julien Gabory, 1906. Na terceira etapa da Volta à França, há quem não tenha muita paciência para pedalar 416 quilómetros entre Nancy e Dijon (o vencedor é Poittier em 15h18m41s). Os mandriões de serviço chamam-se Julien Gabory, Henri Gauban, Gaston Tuvache e Maurice Carrère. Apanham o comboio e tal, saem tranquilamente em Dijon e tal e a organização desqualifica-os e tal.

Joe Shoeless Jackson, 1919. Imagine lá o cenário: final da liga de basebol em 1919 entre Chicago White Sox e Cincinnati Reds. Às tantas, descobre-se que oito jogadores dos White Sox se deixam perder em troca do pagamento de 80 mil dólares por apostadores. A trama é descoberta pela liga e todos os acusados, incluindo “Shoeless” Joe Jackson, são suspensos para sempre. E conhecidos a partir daí como Black Sox.

Dora Ratjen, 1936. Quando nasce, o senhor Ratjen ouve da mulher: “Heini, é um rapaz!” Cinco minutos depois, a senhora Ratjen rectifica: “Afinal, é uma rapariga.” Eis Dora Ratjen. Nos Jogos Olímpicos Berlim-1936, a atleta alemã acaba em quarto lugar no salto em altura. Anos mais tarde, descobre-se que Dora é afinal Heinrich. Ou então Heinz, como ele se auto-intitulava. Que salganhada.

Rosie Ruiz, 1980. É a primeira mulher a cortar a meta na Maratona de Boston no dia 21 Abril 1980, com o tempo de duas horas, 31 minutos e 56 segundos. Uau, bem bom. E estranho ao mesmo tempo. Afinal, nenhuma das outras 448 corredoras a vê durante a corrida. Oito dias depois, a organização descobre a farsa: Ruiz só entra na corrida a um quilómetro da meta.

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Maradona, 1986. Valdano domina mal a bola e é um inglês quem a afasta. Para trás. Oh-ho. Shilton sai da baliza e nem acredita no quadradinho seguinte: Maradona eleva-se no ar e, de repente, é golo da Argentina. O 10 festeja eufórico o 1-0 nos quartos-de-final do Mundial do México. Vinte-e-tal minutos depois, “Não foi com a mão.” Vinte-e-tal horas depois, “foi a mão de Deus.” Vinte-e-tal anos depois, “sim, foi com a mão”.

Ben Johnson, 1988. A corrida mais esperada dos Jogos Olímpicos Seul-88 é a final dos 100 metros. O canadiano mais parece o filho do vento. Ninguém o vê. Nem mesmo o rival Carl Lewis. O resultado é o ouro mais o recorde mundial com 9.79 segundos. De repente, cai-lhe a máscara. A do doping. É apanhado e desqualificado. “Até aceitava se fosse o único batoteiro, mas há mais como eu na pista.” Pior a emenda que o soneto.

Wilt Chamberlain, 1991. Basquetebolista norte-americano de inegável categoria e único a marcar mais de 100 pontos num jogo da NBA (Março-1962), é um pinga-amor sem papas na língua. Escreve ele na biografia: “Tive relações sexuais com mais de 20 mil mulheres.” Há quem lhe pergunte: se é assim, dá a média de 2,1 mulheres por dia, todos os dias desde os seus quinze anos. “Nós, às vezes, exageramos, não é verdade?”

Ali Dali, 1996. Graeme Souness, treinador do Southampton, recebe um telefonema de George Weah a dizer-lhe que um primo seu é bom de bola, da formação do PSG e 13 vezes internacional pela Libéria. É tudo mentira mas ninguém sabe. Chama-se Ali Dia e é contratado por um mês. Ao 14.º dia, é posto a andar depois de 63 minutos vs. Leeds. “Parecia um Bambi a correr”, graceja Le Tissier, capitão do Southampton.

É o dia da mentira, não é? Então, cá vai disto. Sete pinóquios. Porquê o dia 1 Abril? Em 1564, depois da adoção do calendário gregoriano, o rei Carlos IX de França determina o 1 de Janeiro como arranque do ano. Como muitos franceses resistem à mudança e continuam a seguir o calendário antigo, em que o 1 Abril é o primeiro dia do ano, são alvo de gozo por parte dos outros que os convidam para plaisanteries. E isso é? Uma festa inexistente. Daí para a frente é um regabofe. Há mentiras bem curiosas, como aquela de Richard Nixon candidato a presidente dos EUA em 1992. Ou então a da invenção do hambúrguer para canhotos em 1998. Hoje é dia de Benfica-Porto. Calha bem, sim senhor, um clássico a 1 Abril. Até é o quarto clássico na Luz nesse dia: 1962 (Azumir e Águas, 1-1), 2000 (Sabry, 1-0) e 2007 (Pepe e Lucho, na própria baliza, 1-1). Eis as sete maiores mentiras do clássico na Luz.

Supertaça, 1991

Com o eborense José Pratas no apito, Benfica e Porto jogam a 1.ª mão da Supertaça portuguesa. À troca de galhardetes entre Neno e Jaime Magalhães, segue-se a animação dos 90 minutos. Iuran marca primeiro, Jaime Magalhães empata do meio da rua e William garante o 2-1, na cara de Baía. Antes do fim, o búlgaro Kostadinov arranca decidido e faz o 2-2. De pronto, assinala-se fora-de-jogo. O lance passa na televisão e ninguém consegue desfazer a dúvida.

Campeonato, 1996

Com o setubalense Lucílio Baptista no apito, Benfica e Porto jogam para a 15.ª jornada do campeonato. A caminho do tri, o Porto dá o golpe de autoridade por Jardel, num lance de antologia em que pára a bola no peito, nas costas do atarantado Jorge Soares, e atira com a parte exterior do pé direito, sem qualquer hipótese para Preud’homme. Ainda na primeira parte, Zahovic dribla dois benfiquistas antes de encarar Preud’homme. O belga faz penálti mais que evidente, o árbitro manda seguir. Na segunda parte, o Benfica empata por JVP, de cabeça. No minuto seguinte, um livre direto de Barroso é defendido para a frente por Preud’homme. Na recarga, o capitão Jorge Costa, ali a meias com Bermúdez, cabeceia para o 2-1 final.

Campeonato, 1999

Com o lisboeta Jorge Coroado no apito, Benfica e Porto jogam para a 29.ª jornada do campeonato. A caminho do penta, o Porto é prejudicado com um penálti inexistente de Baía sobre Poborsky. O checo esquece-se da bola e atira-se autenticamente para o chão. Chamado a bater o livre de 11 metros, Nuno Gomes atira ao lado do poste esquerdo de Baía, que se lança para esse mesmo lado. A partir daí, como diz Fernando Santos na conferência de imprensa depois do jogo, “só dá Porto contra Preud’homme. O belga evita o 1-0 por duas vezes, ambas de Zahovic. À terceira, o esloveno leva a melhor. Na segunda parte, Bruno Basto faz o único golo da sua carreira na 1ª divisão, com um slalom interessante desde a linha lateral até ao remate colocadíssimo já dentro da área.

Campeonato, 2000

Com o portuense Martins dos Santos no apito, Benfica e Porto jogam para a 28.ª jornada do campeonato, curiosamente a 1 Abril. Com o pensamento no hexa, o Porto quer ganhar na Luz para se manter a par do Sporting de Inácio. Tal não acontece. Por culpa de Sabry, autor de um golo esquisitíssimo em que a bola tabela em Paulinho Santos e trai Hilário. E também por culpa do fiscal-de-linha Paulo Januário, que não vê um golo de canto direto de Clayton. Quando Bossio tira a bola, esta já ultrapassa (e de que maneira) a linha. A RTP, aliás, tem uma espécie de olho de falcão e evidencia-o no Domingo Desportivo.

Campeonato, 2004

Com o leiriense Olegário Benquerença no apito, Benfica e Porto jogam para a 6.ª jornada do campeonato. Frente a frente, os treinadores estrangeiros Giovanni Trapattoni e Víctor Fernández. A entrada mais destemida do FCP vale o 1-0 de McCarthy, num portentoso remate a 30 metros da baliza. A bola ainda bate na mão de Luisão e trai o guarda-redes Moreira. Na segunda parte, o Benfica chama a si o domínio e até marca, por Petit, quase do mesmo sítio que o 1-0 de McCarthy. A bola é defendida por Baía e depois entra, por incrível que pareça. O lance faz correr muita tinta. É ver o vídeo e perceber as danças de opinião na conferência de imprensa e zona mista. Um regabofe sem sentido, muitos 90’s.

Taça de Portugal, 2011

Com o albicastrense Carlos Xistra no apito, Benfica e Porto jogam o apuramento para a final da Taça de Portugal. Na primeira mão, dois meses antes, no Dragão, a vitória visitante por números improváveis (2-0, por Coentrão e Javi García). Na segunda mão, o Benfica encolhe-se, o Porto agiganta-se e consegue o inacreditável apuramento num jogo com dois erros: o 2-0 de Hulk é em fora-de-jogo e o penálti do 3-1 de Cardozo não o é.

Campeonato, 2012

Com o lisboeta Pedro Proença no apito, Benfica e Porto jogam para a 21.ª jornada do campeonato. Como James chega a Portugal no dia do jogo, via-Colômbia, o treinador portista Vítor Pereira inclui Djalma no tridente ofensivo, ao lado de Janko e Hulk. É precisamente do brasileiro o 1-0. Cardozo dá a cambalhota no marcador, aos 42 e 47 minutos. Lança-se então James e o colombiano faz uma combinação perfeita com Fernando para chegar ao 2-2. A três minutos do fim, Maicon sela o 3-2 que garante o primeiro lugar isolado do Porto, com três pontos de avanço sobre o Benfica. O lance é irregular, por fora-de-jogo, tanto de Maicon como de Otamendi. O fiscal-de-linha de Proença nada vê.