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Comandante Jardim, o piloto que nunca aceitou parar e que perdeu a vida no Gerês

Jorge Jardim morreu este sábado quando o Canadair que pilotava tombou no Gerês, já em território espanhol. Aos 65 anos, recusava parar. O seu copiloto, espanhol, está em estado grave.

A notícia foi recebida em Leiria com choque e não são muitos os que lhe são próximos que conseguem, para já, conter as lágrimas e recordar a sua história. Foi aqui, a esta cidade, que Jorge Jardim chegou há cerca de 20 anos com uma bagagem com milhares de horas de voo em aeronaves de vários tipos e um currículo invejável.

Os primeiros voos de Jorge Jardim foram na terra natal, em Moçambique. Ainda rumou à África do Sul e só depois veio para Portugal, onde, aos 65 anos, acabaria por fazer o seu o último voo na zona do Gerês, este sábado, quando o avião Canadair que pilotava caiu em Lobios, já do outro lado da fronteira, em Espanha, durante o combate ao incêndio que tinha deflagrado de madrugada em Lindoso, Ponte da Barca.

Os amigos do “comandante Jardim”, como a ele se referem, recordam-no como um homem sempre disponível para a família e para os amigos, com uma “enorme paixão por voar”. A participação nas ações de combate aos incêndios não eram novidade, mas Jardim chegou a suspendê-las da sua vida durante alguns anos. Em 2004, Jorge Jardim estava na empresa Omni – Aviação e Tecnologia — a quem o Estado alugou os aviões Canadair para o combate aos fogos — e participou nalgumas campanhas nos verões que se seguiram, mas acabaria depois por optar pela aviação executiva, em jatos privados.

Imagem retirada do Facebook do piloto

Só há dois anos, quando se reformou da aviação executiva, é que decidiu voltar aos Canadair para combater os incêndios. Depois de no ano passado ter cumprido todas as missões a que foi chamado, este ano a campanha terminou da pior forma. O Canadair que pilotava este sábado num incêndio que deflagrou na última sexta-feira pertencia à empresa espanhola Babcock, para quem o piloto trabalhava, e a quem Portugal alugou aviões para a fase mais crítica de combate aos incêndios. Além deste avião, a Babcock tem no centro de operações de Castelo Branco outras duas aeronaves.

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Numa nota de imprensa, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) afirmou que o avião envolvido no acidente era um anfíbio pesado (Canadair CL215), do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais, do Centro de Meios Aéreos de Castelo Branco, que participava nas operações de combate ao incêndio que lavrava no Parque Nacional da Peneda Gerês. O avião despenhou-se num acidente junto à Barragem do Alto do Lindoso, na sequência de uma operação de ‘scooping’ (reabastecimento de depósito de água), lia-se na nota.

A menos de 200 quilómetros de distância de Castelo Branco, de onde levantou voo na manhã deste sábado, no Aeroclube de Leiria os colegas e amigos ainda não assimilaram a notícia da perda do comandante Jardim. Jorge Jardim era o sócio nº 457 do Aero Clube de Leiria, onde chegou em agosto de 1994. Ao longo dos últimos 26 anos desempenhou funções de diretor da escola de pilotagem e instrutor de voo em Leiria. Nas redes sociais há ex-alunos que lembram as horas de voo ao lado do comandante Jardim, que se viria a fazer “grande amigo”.

“Quando se aproximou a idade da reforma começou logo a pensar no que podia fazer”, diz, acrescentando que “nunca foi uma pessoa de estar parada”
Ricardo Lopes, amigo

Jorge Manuel Santana Jardim era ainda um dos 198 examinadores certificados pela Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC), com a licença válida até 30 de junho de 2022. E os exames que fazia aos alunos, em Leiria, servem de exemplo para ilustrar aquilo que dizem ser a personalidade de um homem “de muita luta e coragem”. Ao Observador, os amigos recordam todos os exames e voos para revalidação das cartas que Jorge Jardim acompanhava e nos quais, ao contrário do que é regra, não cobrava qualquer honorário.

Sempre que voava ao serviço do Aero Clube de Leiria para fazer exames nunca cobrava nada, por exemplo. Fazia-o a todos os alunos do Aero Clube, nunca quis nada, nem um tostão”, conta ao Observador um dos amigos, também ele piloto.

Ricardo Lopes diz que Jorge Jardim não queria que a passagem para a reforma fosse sinónimo de paragem. “Quando se aproximou a idade da reforma começou logo a pensar no que podia fazer”, diz, acrescentando que “nunca foi uma pessoa de estar parada”.

Imagem de homenagem a Jorge Jardim partilhada pelo Aero Clube de Leiria na página de Facebook

E a resposta para esse desejo foi o regresso aos Canadair para as campanhas de verão. Em 2019, o comandante Jardim voltou aos comandos dos aviões que combatem os incêndios e este ano pretendia repetir a campanha. Ao Jornal de Leiria, Afonso Dinis, membro e antigo presidente do Aero Clube de Leiria recordou a “excelente pessoa e aviador” que Jorge Jardim era.

"Era um homem de grande coração que ajudou muitas das entidades por onde passou"
Afonso Dinis

“Piloto qualquer um pode ser com o curso, mas para ser aviador tem de se ser uma excelente pessoa além de bom piloto. E ele era um excelente aviador”, afirmou ao Jornal de Leiria, acrescentando que o comandante Jardim tinha “um alto grau de profissionalismo e [era] um excelente instrutor”.

Jardim perdeu a vida num avião Canadair semelhante ao da imagem

JOHN CETRINO/EPA

“Era um homem de grande coração que ajudou muitas das entidades por onde passou”, notou Afonso Dinis, frisando que a morte de Jorge Jardim “é uma perda imensa” para todos os amigos e colegas de profissão.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa,  já apresentou condolências à família do piloto português, falando com um dos dois filhos do piloto. “Já tive ocasião de apresentar as minhas condolências, os meus sentimentos, ao Henrique, filho do piloto Jorge Jardim, que faleceu em circunstâncias dramáticas, ao serviço da comunidade, no combate ao fogo, que tudo indica que está a caminho de estar extinto”, afirmou. Marcelo revelou ter falado também como o filho do piloto espanhol, gravemente ferido no mesmo acidente. “Fica aqui registado, com grande pesar meu, aquilo que é mais um triste acontecimento nesta época de fogos”, declarou.

O Ministério da Administração Interna já determinou também à Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) a abertura de um inquérito ao incêndio que deflagrou no Parque Nacional da Peneda-Gerês, segundo a Lusa. Uma vez que o avião acabou por se despenhar em território espanhol, ainda que combatesse um incêndio e Portugal, a investigação do acidente está a cargo das autoridades que têm competência no território, as espanholas.

Em pouco mais de um ano esta é a segunda vez que o Aeroclube de Leiria se veste de luto, depois de em junho de 2019 um instrutor e um aluno terem morrido num acidente não muito longe da sua pista, no aeródromo José Ferrinho.

Este acidente registado no Gerês foi o décimo ocorrido ao longo da última década e que envolveu pilotos de helicópteros em combates aos fogos.

O acidente que, ao final desta manhã de sábado, acabou por provocar a morte de Jorge Jardim (e causar ferimentos graves no copiloto espanhol que o acompanhava) foi o 10.º registado desde 2009, ou seja na última década de combate aos incêndios. Dos 10 acidentes resultaram três vítimas mortais e quase uma dezena de feridos.

Além de Jorge Jardim, também o piloto Noel Ferreira, morreu em 2019, aos 36 anos, quando pilotava um helicóptero a 5 de Setembro em Sobrado, Valongo, no distrito do Porto. A 20 de agosto de 2017, em Castro Verde, também um piloto de um helicóptero, da empresa Everjets perdeu a vida durante um combate a um incêndio em Cabril.

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