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Como é que nos tornámos tão alérgicos?

No dia em que chega às livrarias "O Grande Livro das Alergias", do especialista em Medicina Integrativa Leo Galland, publicamos em exclusivo o capítulo "Como é que ficámos tão doentes?".

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Uma soalheira tarde de setembro em Long Island, Nova Iorque. Corre o ano de 1956, uma época mais simples. Casas elegantes e todas idênticas alinhadas em fila; as árvores que foram plantadas há pouco tempo ainda são jovens. Há crianças a brincar no exterior em relvados verdes enquanto grandes carros americanos passam devagar. O sol brilha nas entradas acabadas de encher com betão. Um cão ladra ao longe. Ninguém tem muita pressa e este pequeno pedaço da América é tranquilo.

Naquela época mais simples, toda a gente fazia compras na mercearia. Não havia supermercados ou hipermercados. Não havia lojas de produtos saudáveis. Não havia Starbucks, ainda não. Isso só viria mais tarde. Se uma pessoa queria um café, fazia-o em casa ou tomava-o num restaurante, servido numa chávena de loiça. Copos para levar? Nem pensar.

Também foi um tempo em que as alergias eram uma coisa fora do vulgar. As alergias eram doenças de que já se tinha ouvido falar. Talvez se conhecesse alguém que era alérgico ao pólen. Talvez se conhecesse alguém que tinha alergia a gatos. Talvez não se conhecesse ninguém com alergias. As alergias eram raras – e isto apenas há 50 ou 60 anos, um período muito curto de uma perspetiva evolucionista.

Avancemos rapidamente para os nossos dias e constatamos que há um número crescente de pessoas alérgicas a um número cada vez maior de coisas. Segundo a Academia Europeia de Alergia e Imunologia Clínica, atualmente mil milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de alergias. A Associação Mundial de Alergia anunciou que a taxa de alergias está a subir no mundo desenvolvido e no mundo em desenvolvimento.

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Alimentos comuns como os amendoins tornaram-se um problema para milhões de pessoas. © iStockphoto/Getty Imagens

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E aos alergénios clássicos como o pólen e o pó juntou-se um grupo completamente novo de alergénios. Alimentos comuns, que consumimos todos os dias e que em tempos pareciam seguros, tornaram-se um grande problema para milhões de pessoas. Trigo. Leite. Ovos. Amendoins. E inúmeros outros alimentos. As mais conceituadas publicações médicas proclamaram uma epidemia de asma e a rinite está em ascensão. Milhões de pessoas sofrem de pieira, tosse, congestão nasal, ardor nos olhos e comichão na pele. Muitas mais padecem de confusão mental, fadiga, aumento de peso e insónia (…). Uma coisa é evidente: as pessoas estão a reagir de uma forma vigorosamente alérgica ao mundo em mudança em que vivemos. E isto é apenas o início.

Porque somos tão alérgicos?

Talvez se pergunte quando é que tudo se tornou um motivo de preocupação. Quando é que tantas pessoas ficaram tão perigosamente alérgicas a tantas coisas?

Os cientistas que procuram respostas para estas perguntas concordam que as alergias não aumentaram como resultado de alterações genéticas. O período de tempo em análise, cerca de meio século, é demasiado curto para ter em conta mudanças no nosso ADN. Em vez disso, estão a explorar em que medida o ambiente em que vivemos e a nossa forma de vida moderna são responsáveis pela epidemia de alergia.

A alergia tem origem na nutrição e no ambiente – e o ambiente influencia-a a três níveis: exterior, interior e dentro do seu corpo. Os alimentos que ingere afetam a resposta do seu corpo a estímulos alérgicos a cada um destes níveis. Ao longo deste livro, referirei formas pelas quais a dieta ocidental moderna promove inflamação e alergia, sabotando a função das células T reguladoras, que têm um papel fundamental na resposta imunitária do nosso corpo.

As mudanças na ecologia interna do corpo também têm influência. Todos nós somos naturalmente colonizados antes mesmo do nascimento por um exército de micróbios – bactérias, fungos e vírus – que ficam connosco ao longo da vida, moldando o funcionamento dos nossos sistemas imunitários. Na verdade, a população característica de micróbios de cada pessoa é tão específica, que os criminologistas estão a aprender a usar este padrão como usam as impressões digitais para identificar criminosos. E associaram-se anormalidades nos micróbios residentes ao desenvolvimento de alergia. Investigadores suecos acompanharam bebés desde o nascimento até aos cinco anos e constataram que a ausência de determinadas espécies bacterianas prenunciava o desenvolvimento de problemas alérgicos. As investigações nesta área estão apenas a começar. (…)

Queridas bactérias, venham cá aos intestinos

E o ambiente exterior? Todos temos de respirar e cada um de nós é afetado ao nível biológico mais profundo pelo que está no ar. Para explicar o aumento de alergias e asma, a ciência refere o aumento dos níveis de poluição atmosférica e de exposição a químicos tóxicos e pesticidas, a par de maus hábitos alimentares, fumo, falta de exercício físico e aumento de stresse. A poluição atmosférica ambiental devida a fumos de escape de veículos, fumo de cigarros e de fábricas produz stresse oxidativo que danifica o revestimento do aparelho respiratório e nos sensibiliza para alergénios que estão no ar. As pessoas que vivem perto de estradas com muito tráfego são particularmente vulneráveis.

Os químicos sintéticos existentes nos alimentos e na água atuam ao nível celular para mudar a forma como o sistema imunitário responde ao stresse, para que as suas respostas imunitárias favoreçam a reatividade alérgica. E há mais. Os gases com efeito de estufa como o dióxido de carbono, sobretudo de centrais elétricas a carvão, carros, camiões e indústria tornaram a terra mais quente, produzindo um efeito de estufa que afeta todas as formas de vida – incluindo o aumento do crescimento de plantas alergénicas e da produção de pólen alergénico por essas mesmas plantas.

A Dra. Maria Neira, diretora do Departamento de Saúde Pública e Ambiente da Organização Mundial de Saúde, instiga-nos a perceber a amplitude do problema: “Pensem na poluição atmosférica, o maior risco de saúde ambiental que enfrentamos. Só em 2012, a exposição a poluentes interiores e exteriores matou mais de sete milhões de pessoas – uma em cada oito mortes no mundo inteiro.” E acrescenta: “Desde 2007, tenho descrito as alterações climáticas como a questão determinante de saúde pública neste século.”

A reação alérgica da mãe natureza

Há cientistas a trabalhar arduamente para compreender em que medida é que o aquecimento global está a piorar as condições para as alergias e asma, por exemplo, devido a uma estação de polinização mais longa e a plantas que produzem mais pólen do que antes. Talvez a expansão económica do após-guerra na década de 1950, a época que referi no início deste capítulo, esteja na origem deste problema. Um boom de industrialização nunca visto e formas de vida em rápida mudança causaram uma vasta gama de alterações drásticas num período de tempo muito curto.

Milhões de pessoas sofrem de pieira, tosse, congestão nasal, ardor nos olhos e comichão na pele. Muitas mais padecem de confusão mental, fadiga, aumento de peso e insónia. Uma coisa é evidente: as pessoas estão a reagir de uma forma vigorosamente alérgica ao mundo em mudança em que vivemos. E isto é apenas o início.

Na era do após-guerra, começámos a ver não apenas mais alguns carros e camiões, mas milhões de mais carros e camiões. Em 1960 já havia 74 milhões de veículos a circular nos Estados Unidos e 5 milhões de veículos no Canadá. Em 2002 o número de veículos nos Estados Unidos tinha subido para 233 milhões e no Canadá circulavam 18 milhões. Em 2010, o número de carros em circulação em todo o mundo ultrapassava os mil milhões.

Graças aos milhões de barris de petróleo que estavam a ser extraídos do solo, a gasolina era barata e fabricaram-se novos produtos com petróleo, como os plásticos e os químicos. A indústria química arrancou, produzindo centenas de milhares de novas substâncias. Casas novas cresciam como cogumelos em campos vazios que tinham sido produtivas terras de cultivo. Os supermercados espalharam‐se pelo país e fomos apresentados ao marketing de massas de milhares de novos alimentos processados. O pão, que era feito à mão desde tempos imemoriais, passou a ser produzido numa fábrica, fatiado, embrulhado em plástico e enviado para as lojas. Surgiu uma inacreditável variedade de bolachas, doces, gelados e refrigerantes. E foi assim que começámos a satisfazer a nossa gulodice coletiva não apenas com mais um pouco de açúcar, mas com toneladas de açúcar. A utilização de margarina aumentou drasticamente quando substituiu a manteiga na confeção de tartes e para barrar torradas, com os consumidores a ignorar completamente o facto de que as gorduras transarticiais que a margarina continha eram perigosas para a saúde.

O açúcar faz mal, mas sabe realmente porque deveria riscá-lo da sua alimentação?

A nossa crise ambiental é uma crise de saúde

Desde os lugares onde vivemos e trabalhamos até ao ar que respiramos e à comida que consumimos, tudo mudou. No mundo em que vivemos, o que nos parece normal é agora extremamente artificial. Vivemos num ambiente que foi completamente transformado pela ação da humanidade. A maioria das pessoas vive agora em cidades e nos seus subúrbios; teríamos de ir para uma cabana no meio do campo para nos aproximarmos de alguma coisa natural, mas mesmo aí estaríamos a respirar ar com poluição soprada de milhares de quilómetros de distância.

Parece que, depois de ser levada ao limite durante demasiado tempo, por demasiada gente, a terra acabou por se fartar. Com temperaturas mais elevadas do que nunca, os níveis de água do mar a subir, extinções em massa de vida selvagem e terra fértil a transformar-se em deserto, a Mãe Natureza está a reagir vigorosamente aos ataques ambientais da humanidade. Na verdade, pode dizer-se que a Mãe Natureza está a ter uma vasta reação alérgica. Transformou o mundo num lugar mais caótico, com implicações diretas para a nossa saúde.

A poluição atmosférica provoca asma e alergias

Os nossos problemas de saúde não surgiram do nada. Pelo contrário, vieram dos céus cada vez mais poluídos. Um artigo de revisão escrito pelo Dr. Gennaro D’Amato, professor de medicina respiratória e alergia respiratória na Universidade de Nápoles, em Itália, intitulado “Efeitos das alterações climáticas e da poluição atmosférica urbana na tendência crescente de alergia respiratória e asma”, apresenta os alicerces científicos para esta área de importância crucial. Com base em trabalhos realizados pela Academia Europeia de Alergia e Imunologia Clínica, pela Sociedade Respiratória Europeia e pela Organização Mundial de Alergia, o magistral estudo do professor D’Amato explica as relações entre as alterações climáticas, a poluição atmosférica, a alergia e as doenças respiratórias.

A poluição atmosférica aumenta a reação aos alergénios nas vias respiratórias. © iStockphoto/Getty Images

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O trabalho diz-nos que a rinite e a asma aumentaram durante as últimas décadas. Os estudos procuraram compreender o que causa este aumento, e a poluição atmosférica interior e exterior, bem como as alterações climáticas, foram consideradas culpadas. Os resultados negativos da poluição atmosférica para a saúde respiratória têm sido alvo de muita atenção e de muitos estudos. Para as pessoas que sofrem de alergias, a poluição atmosférica aumenta a reação aos alergénios nas vias respiratórias. A poluição atmosférica também piora a asma, provocando maior hipersensibilidade brônquica, mais medicação, mais internamentos e mais idas às urgências.

Um estudo recente realizado por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins, do Imperial College de Londres e dos Institutos Nacionais de Investigação de Saúde de Taiwan procurou perceber como é que a poluição atmosférica está a provocar asma e alergias. Os investigadores referem que o aumento das doenças alérgicas pode ser diretamente causado pela poluição atmosférica, que piora a inflamação, o stresse oxidativo e a resposta imunitária.

Olhemos para alguns grandes poluentes que contribuem para este problema.

Matéria particulada ou fuligem

A matéria particulada é fuligem e pó que são visíveis no ar. É um importante componente da poluição atmosférica. A matéria particulada está associada à exacerbação de asma alérgica, bronquite crónica, doenças respiratórias, doença cardiovascular e internamentos hospitalares. Comprovou-se que a matéria particulada entra nos pulmões e provoca inflamação, originando episódios cardiovasculares e respiratórios. A Organização Mundial de Saúde estima que a inalação de matéria particulada é responsável por 500 mil mortes por ano em todo o mundo.

Fumo de escapes de diesel

Os fumos de escape dos motores a diesel, sobretudo de camiões e autocarros, são responsáveis por 90 por cento da matéria particulada em muitas cidades. Grande parte dos veículos a diesel é tão suja que produz um número aproximadamente 100 mil vezes superior de fuligem de partículas pretas por 1500 metros do que os motores a gasolina.

Respirar fumos de escape de motores a diesel altera a função pulmonar, queima os olhos, o nariz e a garganta e provoca náuseas, cansaço e dor de cabeça. A exposição prolongada está associada a tosse, diminuição da função pulmonar e produção de expetoração.

Respirar fumos de escape de motores a diesel altera a função pulmonar, queima os olhos, o nariz e a garganta e provoca náuseas, cansaço e dor de cabeça. © iStockphoto/Getty Images

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Um estudo elaborado pela Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia‐Los Angeles concluiu que o fumo de escapes de motores a diesel combinado com a exposição ao pólen de tasneira produzia reações alérgicas mais fortes em experiências laboratoriais. Os investigadores concluem que “esta sinergia entre partículas de fumos de escape de diesel e a exposição a um alergénio natural é sugerida como uma característica primordial na doença alérgica respiratória induzida por alergénios”. Eu vivo em Nova Iorque e posso dizer-lhe que a poluição provocada pelo fumo de autocarros e camiões a diesel é um problema diário.

Ozono e smog

O ozono é o principal componente do smog, uma mistura de fumo e nevoeiro, a neblina visível que paira como um cobertor sobre tantas grandes cidades – incluindo, famosamente, Los Angeles. O ozono ao nível do solo é criado por uma reação química quando a radiação da luz do sol interage com os hidrocarbonetos e o dióxido de azoto libertado por carros e outros veículos. Um estudo realizado pela Universidade de Yale e pela Faculdade de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg explica que o ozono foi descoberto pela primeira vez no smog do sul da Califórnia e é agora um problema de poluição atmosférica reconhecido em todo o território dos Estados Unidos e em muitos outros países. Num artigo publicado no Journal of the American Medical Association, os investigadores de Yale e Hopkins referem os impactos negativos da curta exposição ao ozono: um maior número de idas às urgências e internamentos hospitalares, diminuição da função pulmonar e exacerbação da asma e de outros problemas respiratórios. Eles explicam que nos Estados Unidos mais de 100 locais excederam o limite governamental para o ozono e que os seus elevados níveis são um resultado do número de carros e outros veículos que circulam atualmente nas estradas e do elevado número de quilómetros que esses veículos percorrem.

Dióxido de enxofre

O dióxido de enxofre é um produto da queima de carvão e petróleo, que contém um elevado teor de enxofre. Respirar este químico provoca uma constrição aguda dos brônquios em pessoas asmáticas. Este efeito foi observado após curtos períodos de apenas dois minutos de exposição. Também se chegou à conclusão de que o dióxido de enxofre aumenta as reações alérgicas a outros alergénios em estudos laboratoriais.

Uma terra escaldante que nos está a deixar doentes

O aquecimento global pode parecer um problema remoto, como quando a subida dos oceanos no futuro deixar a Estátua da Liberdade no porto de Nova Iorque com água até ao pescoço. Mas as consequências do aumento das temperaturas para a nossa saúde estão a ser sentidas neste momento. Os majestosos glaciares nas Montanhas Rochosas que abastecem milhões de pessoas no oeste americano com água que lhes é absolutamente essencial estão a encolher. As secas estão a tornar estéreis as extremamente produtivas terras de cultivo da Califórnia. Há enormes glaciares na mais alta cadeia montanhosa do mundo, os Himalaias, que também estão a recuar, pondo em risco uma fonte de água potável que é fundamental para a Ásia. Oceanos a aquecer, secas gigantescas, glaciares a derreter e fenómenos climáticos extremos como furacões e ondas de calor medem os efeitos de um mundo a aquecer – e o verdadeiro impacto que tudo isto tem na nossa saúde.

O livro é colocado à venda a 9 de maio, numa edição Lua de Papel.

Não estamos a falar sobre um problema que pode acontecer num futuro distante. Já estamos na zona de perigo, em que a nossa saúde é posta em risco hoje por temperaturas mais elevadas. As pessoas asmáticas são especialmente vulneráveis à deterioração da qualidade do ar. As pessoas que sofrem de febre dos fenos são vulneráveis às estações mais longas e mais severas de pólen que estão a ser causadas por temperaturas mais elevadas. Isto está a acontecer na América do Norte e em todo o mundo, neste preciso momento.

As alterações climáticas agravam as doenças respiratórias

Desde o princípio da década de 1960, os cientistas estudaram o papel do aquecimento global no aumento da incidência de asma em adultos e crianças num vasto leque de países. Hoje, as sérias consequências do aquecimento global para a saúde são uma grande preocupação das comunidades médica e científica, como está bem patente nos exemplos seguintes.

Um estudo da Universidade Macquarie, na Austrália, concluiu que uma parte significativa da prevalência e gravidade crescentes da asma é o resultado das alterações climáticas provocadas pelos seres humanos. Os investigadores australianos também referem o aumento de rinite alérgica, urticária e eczema atópico em todo o mundo e reiteram que as temperaturas mais elevadas estão relacionadas com o prolongamento da estação de polinização.

A Sociedade Respiratória Europeia é uma organização profissional que procura aliviar o sofrimento da doença respiratória e promover a saúde pulmonar através da investigação e da educação médica e pública. A Sociedade Torácica Americana é uma organização profissional dedicada a pesquisa de ponta, cuidados clínicos e saúde pública na doença respiratória. Estes dois organismos publicaram trabalhos que expressam as suas preocupações em relação ao impacto do aquecimento global na saúde de pessoas com problemas respiratórios, incluindo asma.

Uma parte significativa da gravidade crescente da asma resultada das alterações climáticas. © iStockphoto/Getty Images

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Segundo o estudo europeu, concentrações mais elevadas de ozono causadas por gases de aquecimento global deram origem a mais episódios cardiovasculares e respiratórios. A disseminação de alergénios, bolores, doenças infeciosas e fumo de incêndios florestais danifica a saúde e agrava as doenças respiratórias. O documento declara: “Os principais fatores de alteração climática que podem potencialmente influenciar a doença respiratória são fenómenos climáticos extremos (de calor e frio), alterações na poluição atmosférica, inundações, habitações húmidas, trovoadas, mudanças na disposição de alergénios e consequentes alergias, incêndios florestais e tempestades de pó, sendo os efeitos a curto ou a longo prazo.”

O trabalho da Sociedade Torácica, intitulado “Aquecimento Global: Um Desafio para Todos os Membros da Sociedade Torácica Americana”, refere que milhares de milhões de toneladas de dióxido de carbono estão a ser lançados para a atmosfera, sobretudo pela queima de carvão para produzir eletricidade e pela queima de gasolina e diesel para transporte. Cita a diretora-geral da Organização Mundial de Saúde, a Dra. Margaret Chan, que avisou que “as alterações climáticas percorrerão esta paisagem como o quinto cavaleiro. Aumentarão o poder dos quatro cavaleiros que regem a guerra, a fome, a pestilência e a morte”. Aproveitando os comentários da Dra. Chan, o estudo da Sociedade Torácica refere que o quinto cavaleiro das alterações climáticas terá impacto nas pessoas que sofrem de doenças respiratórias “através dos efeitos diretos do calor, fenómenos climáticos extremos, poluição atmosférica, doenças alérgicas, infeções propagadas pela água e pelos alimentos e doenças transmitidas por agentes vetores e zoonóticas”.

“A saúde está inextricavelmente ligada às alterações climáticas”, proclama um artigo publicado no Journal of the American Medical Association. Os autores, investigadores do Instituto de Saúde Global da Universidade Wisconsin-Madison, olham para os efeitos das temperaturas mais elevadas na doença – stresse térmico, problemas respiratórios incluindo asma, doenças infeciosas, e problemas de saúde mental como depressão e transtorno de stresse pós-traumático –, que estão associados a desastres naturais. Eles referem que há “substanciais cobenefícios de saúde e económicos que podem estar associados a reduções na combustão de combustíveis fósseis”. O artigo pede aos profissionais de saúde que comuniquem os impactos das alterações climáticas e os benefícios de reduzir os gases com efeito de estufa e conclui dizendo que a redução de gases com efeito de estufa pode acontecer depressa e a um nível substancial.

"A Sociedade Respiratória Europeia explica a relação entre alterações climáticas e doença respiratória em termos que não deixam dúvidas."

Por sua vez, a Agência de Proteção Ambiental norte-americana (EPA) declara que o aquecimento global poderá causar ondas de calor mais graves e mais longas, com ocorrências mais frequentes. A EPA explica que as crianças, os adultos mais velhos e as pessoas com problemas de saúde são os mais vulneráveis às ondas de calor. A insolação e desidratação provocadas por ondas de calor são perigosas e podem ser mortais: durante o verão de 2003, uma forte onda de calor na Europa provocou 70 mil mortes em 16 países. Um relatório da Physicians for Social Responsibility e da National Wildlife Federation intitulado More Extreme Heat Waves: Global Warming’s Wake Up Call refere que os Estados Unidos aqueceram mais de dois graus Fahrenheit ao longo dos últimos 50 anos. O relatório afirma que as ondas de calor aumentam o risco de crises de asma, ataques cardíacos e AVC. A onda de calor que aconteceu em Chicago em 1995, quando as temperaturas chegaram aos 42 graus Celsius, foi ainda pior por causa da humidade elevada e da poluição atmosférica; um total de 739 pessoas morreram. O relatório recomenda vastos cortes nos gases com efeito de estufa para limitar as ondas de calor no futuro e encoraja uma mudança da queima de combustíveis fósseis para energias renováveis, como a energia solar.

A Sociedade Respiratória Europeia explica a relação entre alterações climáticas e doença respiratória em termos que não deixam dúvidas. Em relação ao impacto das alterações climáticas, afirma: “As principais áreas de preocupação em termos de doença são a asma, rinossinusite, doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) e infeções do aparelho respiratório.” Vamos ver com mais atenção como surgem alguns destes problemas.

Aumentar a temperatura na asma

Temperaturas atmosféricas mais elevadas combinam-se com a poluição atmosférica para formar ozono, que exacerba a asma. A EPA refere que o aquecimento provocado pelas alterações climáticas deverá aumentar o número de dias com níveis pouco saudáveis de ozono ao nível do solo. O ozono inflama e danifica os pulmões e piora a asma. Nas cidades, o efeito ilha do calor urbano, em que o ar quente se instala noite e dia sobre áreas extremamente povoadas, piora ainda mais as condições para a asma.

Uma estação de polinização mais longa

As tasneiras gostam das temperaturas mais elevadas e dos níveis mais altos de poluição que acompanham o aquecimento global. A tasneira desenvolve-se e produz mais pólen, que, segundo a EPA, é ainda mais potente do que antes.

Fumo dos incêndios florestais

As florestas são especialmente vulneráveis às variações de temperatura. Por exemplo, temperaturas mais altas estão a permitir a multiplicação de insetos que comem árvores em zonas mais elevadas e em mais locais do que nunca. Esses insetos têm comido florestas inteiras no ocidente dos Estados Unidos e no Canadá. As árvores mortas que esses insetos deixam contêm resinas que alimentam os incêndios florestais. Esses enormes incêndios florestais provocam a morte de residentes e bombeiros e libertam um espesso fumo negro que pode percorrer centenas ou até milhares de quilómetros – fumo que é diretamente tóxico para toda a gente e também agrava a asma.

A maré alta de bolor

Estão a aumentar os acontecimentos climáticos extremos como furacões e inundações. Os oceanos mais quentes dão origem a furacões mais fortes, que não só ameaçam as costas, como deixam um rasto de destruição no interior. O bolor desenvolve-se à medida que as habitações e outros edificios vão sendo vítimas de danos provocados pela água depois das tempestades e inundações. Casas húmidas estão associadas a tosse, pieira e asma.

Na série original da Netflix “Orange Is the New Black”, a contaminação por bolor é um tema recorrente. Num episódio, uma sala de atividades não podia ser usada por causa do bolor. Noutro episódio, a queda de um teto libertou pó tóxico e bolor na sala da capela. Até apareceu bolor numa bandeja de metal, a crescer na comida. Sendo um convidado principal recorrente na televisão, o bolor entrou definitivamente na imaginação popular.

Um tsunami de toxinas

Segundo um artigo publicado em Allergy, Asthma & Immunology Researh, estabeleceu-se uma relação entre uma série de toxinas ambientais que atacam a nossa saúde e o aumento de alergias. Foram usados mais de 100 mil novos químicos em bens de consumo nas últimas décadas e eles entraram no ambiente. Esta vaga de toxinas coloca uma enorme pressão sobre o ambiente e tem consequências desastrosas para a nossa saúde, especificamente para as alergias. “A exposição a tóxicos ambientais”, explicam os autores, “não só contribui para a maior prevalência de asma e alergias como também afeta os resultados das doenças, muitas das quais se devem a uma disfunção imunitária e inflamatória subjacente.”

Químicos que interferem com as hormonas

Um grupo fundamental de toxinas ambientais que os cientistas implicam nas alergias e na asma são os chamados desreguladores endócrinos químicos. Os desreguladores endócrinos químicos que estão nos produtos quotidianos entraram na água, nos alimentos e no solo em tudo o que nos rodeia.

Nos nossos corpos, esses químicos imitam as hormonas femininas e masculinas, bem como a tiroide, ou interferem com elas. Estimulam a inflamação e podem estar envolvidos em reações imunitárias e alérgicas. Para além de serem um problema de saúde para as pessoas, os desreguladores endócrinos químicos são uma ameaça para a vida selvagem. Pois a entrada dos pesticidas e outros materiais que contêm desreguladores endócrinos químicos no ambiente prejudicou peixes, aves e outras formas de vida selvagem.

“Há uma preocupação crescente nos sectores científico, ambiental, privado e governamental em relação a uma vasta gama de substâncias, conhecidas como desreguladores endócrinos químicos, que podem interferir com o funcionamento normal do sistema hormonal dos organismos vivos”, lê-se no website de qualidade ambiental do Fish and Wildlife Service dos Estados Unidos.

Então, de onde vêm todos esses desreguladores endócrinos químicos? O National Institute of Environmental Health Sciences dos Estados Unidos diz-nos que os desreguladores endócrinos químicos estão presentes em produtos como detergentes, garrafas de plástico, latas metálicas para alimentos, cosméticos e brinquedos. Segundo a OMS, estes desreguladores estão por toda a parte: consumimo-los em alimentos e água, inalamo-los em pó e partículas existentes no ar, e absorvemo-los pela pele. Os desreguladores endócrinos químicos também existem em alguns pesticidas e as pessoas que estão expostas a eles no trabalho sentem com muita frequência pieira, tosse e inflamação nas vias respiratórias. A associação entre o trabalho com pesticidas e a asma também foi demonstrada.

Os ftalatos, um tipo de desregulador endócrino químico, estão sob apertado escrutínio devido aos seus efeitos adversos para a saúde. Um deles, dietilexil ftalato (DEHP), que entra no ar e anda à boleia do pó, está associado à pieira em crianças. Segundo o Ministério da Saúde do governo australiano, o DEHP é usado para amaciar plásticos e está presente em colas, revestimentos, resinas, brinquedos, produtos de cuidados infantis e cosméticos. O DEHP também está presente em embalagens de alimentos.

Anda a comer plástico misturado na comida?

Num estudo realizado em mais de 10 mil crianças, a exposição a DEHP e butil benzil ftalato estava associada a asma, rinite e eczema. O butil benzil ftalato é usado em plásticos, mosaicos de vinil e forro de alcatifas, e, segundo um relatório da OMS, as pessoas podem ficar expostas quando o químico é libertado no ar.

Outro tipo de desreguladores endócrinos químicos, a que se chama alquilfenóis, também estão ativos na reação alérgica que pode contribuir para o desenvolvimento de asma. Os alquilfenóis tendem a acumular-se no corpo, a aumentar a inflamação e a contribuir para os problemas alérgicos, ou para agravá-los.

Poluição do ar interior

Não são apenas o ar e a água exteriores que transportam toxinas prejudiciais. A ciência identificou um grave problema de saúde na poluição do ar interior – em casa, no escritório, nas escolas, nas lojas e em muitos outros locais onde passamos o nosso tempo.

O fumo de tabaco, uma fonte de químicos tóxicos extremamente perigosos, é considerado o principal culpado da poluição do ar interior. O tabaco é um desastre de saúde pública para a asma. A pieira e a asma em crianças estão associadas à sua exposição ao fumo de tabaco e 40 milhões de crianças são expostas todos os anos a fumo de tabaco. O fumo passivo – em segunda e até terceira mão – aumenta o risco de pieira e asma em crianças e jovens em pelo menos 20 por cento. Análises ao sangue e à saliva feitas a crianças internadas no hospital com estes problemas costumam revelar exposição a fumo de tabaco. Os investigadores realçam que “evitar que os pais fumem é de uma importância crucial para a prevenção da asma nas crianças”.

O tabaco é um desastre de saúde pública para a asma. © iStockphoto/Getty Images

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Outra importante fonte de poluição do ar interior é o formaldeído, um químico muito pervasivo que se descobriu que causa alergia nasal, dermatite e asma e contribui para agravar estas doenças. O formaldeído é um composto orgânico volátil (COV), o que significa que se transforma num gás à temperatura ambiente. Os produtos com COV libertam esses compostos num processo a que se dá o nome de desgaseificação, e é assim que o formaldeído entra no ar que respiramos. Este químico existe numa imensidão de produtos que estão presentes nas nossas casas, escritórios, escolas, lojas – em quase todos os ambientes interiores. É muito usado nos produtos de madeira prensada, como contraplacado, e no fabrico de tecidos, incluindo vestuário. Segundo a Comsumer Product Safety Commission dos Estados Unidos, o formaldeído também é usado em acabamentos de chão de madeira, tinta e papel de parede e em emissões de impressoras a laser, fotocopiadoras e computadores pessoais. E o formaldeído é uma consequência da combustão, por isso, também é gerado pela queima de tabaco, gás natural, gasolina e madeira.

A Consumer Product Safety Commission dos Estados Unidos explica que os níveis de formaldeído no ar interior podem mudar dependendo da temperatura, humidade, ventilação e nível de ozono. Refere que temperaturas mais altas e humidade mais elevada tendem a aumentar as emissões de formaldeído, como acontece nos dias em que a poluição ou a “ação do ozono” são mais elevadas. Assim, o aquecimento global continuado aponta para uma previsão mais complicada para alergias e asma devido a uma maior exposição ao formaldeído no futuro.

Alergia e asma associadas à exposição ao formaleído

Respirar vapor de formaldeído pode causar irritação dos nervos dos olhos e nariz, que pode provocar sensações de ardor, picadas ou comichão, dor de garganta, olhos lacrimejantes, seios nasais bloqueados, nariz a pingar e espirros”, explica o Ministério da Saúde do governo australiano. Outra investigação concentra-se numa relação ainda mais específica entre formaldeído, doença respiratória e alergia. “Risco aumentado de alergia em crianças devido ao formaldeído nas casas” é o nome do estudo da Universidade Monash, na Austrália, que estudou o impacto da poluição do ar interior devido ao formaldeído na saúde das crianças. Os investigadores mediram os níveis de formaldeído em 80 habitações em Victoria, na Austrália, e concluíram que os produtos de madeira colada, como contraplacado, eram a principal fonte de emissões de formaldeído, que foi detetado nos quartos, salas de estar e cozinhas em níveis muito mais elevados do que no exterior. Descobriram que a pequena exposição das crianças ao formaldeído estava associada ao aumento da sensibilização alérgica a alergénios comuns existentes no ar. Mais importante ainda, constataram que a exposição a níveis mais elevados de formaldeído estava associada a uma sensibilização mais grave. E referiram que o aumento das alergias ao longo das duas últimas décadas está equiparada ao aumento de produtos que emitem formaldeídos usados no interior das habitações.

Leo Galland pertence à Ordem dos Médicos Americanos e é considerado o líder mundial no campo da Medicina Integrativa. Escreveu “O Grande Livro das Alergias em coautoria com o filho, Jonathan Galland. © Jordan Galland

Outro estudo australiano, publicado no European Respiratory Journal, concentrou‐se na asma e concluiu que a exposição ao formaldeído em casa “aumenta significativamente o risco de asma em crianças pequenas”. O departamento de acidentes e emergência do Hospital Princess Margaret em Perth, na Austrália Ocidental, recrutou, para o estudo, pais cujos filhos tinham asma como diagnóstico primário. Os investigadores notaram uma variação sazonal nos níveis de formaldeído, com o verão a trazer uma maior exposição ao químico do que o inverno.

Isto reforça uma perturbadora tendência que já referi: que, num mundo a aquecer, é provável que as temperaturas mais elevadas aumentem os níveis de formaldeído. Os investigadores afirmam que as crianças expostas a formaldeído a níveis de “49 partes por mil milhões (pmm) têm uma probabilidade 39 por cento maior de sofrer de asma em comparação com as que não estão expostas a esses níveis”. Os investigadores da Universidade do Arizona obtiveram resultados comparáveis ao constatar que as crianças que viviam em casas com formaldeído em níveis de 60 a 120 pmm tinham taxas significativamente mais elevadas de asma e bronquite do que as que estavam menos expostas.

Conclusão

Neste capítulo, explorei as razões gerais subjacentes à epidemia de alergia que varre o mundo. Para responder à pergunta “Porque é que estamos tão doentes?”, apresentei motivos que são tão fundamentais para o nosso bem-estar, que determinam em grande medida se podemos ou não ser saudáveis. As principais organizações de saúde e centros médicos em todo o mundo documentaram que uma imensidão de fatores – a poluição atmosférica generalizada, o aquecimento global, estações de pólen mais longas, fumo de tabaco, químicos tóxicos, pó, fast food, alimentos processados como gorduras trans, hidratos de carbono refinados e açúcar, e uma ecologia interna de micróbios desequilibrada – estão a contribuir para o aumento de alergias.

Alimentos processados: sabe mesmo o mal que fazem?

É de espantar que as pessoas estejam a adoecer por causa do ar poluído quando o número de veículos em circulação na terra se aproxima dos dois mil milhões, virtualmente todos a lançar químicos tóxicos para a atmosfera? Voltaremos ao assunto das toxinas mais adiante neste livro, quando lhe atribuir uma missão para as exterminar e reduzir o impacto que têm no seu ambiente pessoal. Porém, para lidar com esses desafios, é necessário um esforço comunitário e é por isso que o aconselho a levar este livro quando tiver uma consulta com o seu médico, para podermos trabalhar todos em conjunto para nos curarmos e para curarmos o planeta.

Leo Galland pertence à Ordem dos Médicos Americanos e é considerado o líder mundial no campo da Medicina Integrativa. Jonathan Galland escreve para o Huffington Post e para o site MindBodyGreen. É ainda o CEO da empresa pilladvised.com, que procura conciliar a Medicina Integrativa e a saúde ambiental.

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