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David Vines. Nova proposta da UE ainda pode impedir o Brexit

Economista e otimista confesso, David Vines acha que ainda é possível ao Reino Unido manter-se na União. Para isso, a Europa tem de fazer uma nova proposta que limite a livre circulação de pessoas.

É um confesso otimista. Tanto que acha que o Reino Unido vai acabar por ficar na União Europeia. Mas isto não o impede de ser muito crítico: dos líderes do país que o acolheu e dos líderes da União Europeia. Ao Observador, David Vines, o economista australiano da universidade britânica de Oxford, diz que David Cameron criou a sua própria tragédia e colocou o Reino Unido numa situação complicada só para ganhar o partido conservador. Quanto a Boris Johnson, não tinha em mente os interesses do país quando fez campanha pela saída da União Europeia.

O professor de economia pede um novo acordo para que os líderes do Reino Unido ainda consigam ‘vender’ a permanência ao eleitorado que votou pela saída da União. E diz que os países do sul da Europa que não cresçam o suficiente vão precisar de reestruturar a dívida pública.

Já se debruçou sobre o tema, o que tem de mudar na Europa para acabar a atual crise?
Aquilo de que Portugal, o sul da Europa e toda a Europa precisam, é de uma mudança na política macroeconómica. Claro que fazer reformas e reestruturar dívida é importante, mas há um problema de falta de procura ao qual é preciso responder de três formas. Primeiro, com um aumento da despesa no norte da Europa, em especial na Alemanha. Segundo, como consequência do primeiro, com maior inflação na Alemanha, de forma a produzir um ajustamento da competitividade no sul. E, terceiro, de uma forma que vai depender dos detalhes, tem de haver uma reestruturação da dívida de alguns países do sul da Europa. Se a Europa continuar a fazer de conta e a empurrar o problema com a barriga em vez de enfrentar a realidade, vai acabar por entrar numa crise ridícula.

Acho que terá de acontecer em Itália. Eu não conheço os detalhes da situação portuguesa, mas tudo depende de saber se conseguem voltar a ter crescimento económico, porque só se pode lidar de forma eficaz com a dívida pública a um nível tão alto se a economia recuperar, como se tem visto na Irlanda.

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E como é que se convence a Alemanha a gastar mais?
A Alemanha tem de estar consciente de que o futuro da Europa está agora nas suas mãos. O Brexit, a recusa em lidar com os problemas da união monetária e a crise dos refugiados no resto da Europa, levaram a este momento de ‘vai ou racha’. Se a Alemanha recusar este papel, irá ver a Europa a desmoronar-se à sua volta. Sou um otimista e acho que é importante ter esperança, mas esperança também exige inteligência e isso é necessário e tem faltado.

Olhando para o debate sobre o Brexit, acha que as autoridades estão a ser inteligentes?
Não. Estou profundamente impressionado com o debate no Reino Unido, especialmente com a dificuldade em tornar claro quanto tempo será preciso para esclarecer o que o Reino Unido tem de fazer. Há quem fale da negociação como plataforma para levar a uma eleição em 2020. Isto quereria dizer que o artigo 50 não seria invocado por mais dois anos e que a exigência da Europa para que o Reino Unido o invocasse imediatamente é uma fantasia.

Tem de haver uma reestruturação da dívida de alguns países do sul da Europa. Se a Europa continuar a fazer de conta e a empurrar o problema com a barriga em vez de enfrentar a realidade, vai acabar por entrar numa crise ridícula.

E pode a Europa sobreviver a uma situação de incerteza durante mais dois anos e meio?
A minha esperança é a de que se perceba que o que é preciso para a Europa e para o Reino Unido é uma nova proposta para o Reino Unido, que permita aos políticos britânicos ‘vender’ a continuação na União Europeia [apesar do resultado do referendo].

Mas já houve uma proposta nova em fevereiro.
E David Cameron disse, poucos dias depois do referendo, que perdeu o referendo porque essa proposta era desadequada.

E porque não disse isso antes e não negociou um acordo melhor com os seus parceiros europeus?
[David Cameron] estava numa posição tragicamente difícil, por culpa própria. Li um artigo no Financial Times que descrevia como David Cameron, vendo a derrota a aproximar-se, convocou um referendo para minar Nigel Farage. David Cameron estava disposto a apostar o futuro do seu próprio país só para ganhar o seu partido. Por outro lado, Boris Johnson não agiu tendo em mente o futuro do país. Penso que os meus compatriotas vão perceber isso.

A Alemanha tem de estar consciente que o futuro da Europa está agora nas suas mãos. Se a Alemanha recusar este papel, irá ver a Europa a desmoronar-se à sua volta.

Acha que ainda é possível que chegue uma proposta?
Penso que no Reino Unido, como na Europa, é necessária liderança para tornar claro o que é que o país quer e estou otimista de que a liderança necessária vai aparecer em ambos os partidos. Como vê, sou uma pessoa otimista. Penso, também, que os líderes europeus devem perceber que esta é uma oportunidade para a Europa. Para aproveitar esta oportunidade, é necessário dar alguma forma de isenção do livre movimento de pessoas para que o Reino Unido permaneça na União Europeia. Isto é possível. Já existe no Tratado uma cláusula para circunstâncias excecionais. Esta oferta teria de ser feita não apenas para o Reino Unido, mas como princípio para toda a União Europeia, e ser aceite por todos os Estados-membros, o que é algo exigente quando temos em conta as posições e os interesses dos países do leste da Europa. É por isto que é fundamental haver liderança na União Europeia.

Isso não violaria um dos princípios fundamentais da União? E os movimentos mais extremistas não se sentiriam vitoriosos?
A solidariedade europeia exige a compreensão da necessidade de empenho num projeto partilhado e quando há quem se sinta prejudicado pela experiência europeia, é necessário dar algum tipo de garantia. Como tenho dito, sem este clima de austeridade, e com isto quero dizer de implementação de políticas de austeridade, o resultado do referendo podia ter sido diferente. Ou seja, na conjuntura atual de taxas de juro baixas, há a oportunidade para investir em escolas, hospitais, estradas, de uma forma que todos estariam cientes que iríamos receber com agrado quem quisesse vir para o nosso país.

Falo de circunstâncias excecionais, que precisam de políticas macroeconómicas inteligentes, que façam com que aqueles que ainda participam neste processo contínuo de construção da Europa sintam que o estamos a fazer juntos.

David Cameron estava disposto a apostar o futuro do seu próprio país só para ganhar o seu partido. Por outro lado, Boris Johnson não agiu tendo em mente o futuro do país. Penso que os meus compatriotas vão perceber isso.

É dos poucos que tem defendido que o Brexit irá provocar um choque global. Ainda acredita nisso?
Acredito que é mais um choque europeu de duas formas. Primeiro, não há dúvida que haverá incerteza no Reino Unido até esta questão estar resolvida. E isto é mau para o investimento. Já vimos, antes do referendo, a Rolls Royce a adiar investimentos no Reino Unido e isto está a acontecer em todo o lado, sobre tudo. Por isso, é um choque muito significativo. Mas, como disse George Osborne, temos instituições muito fortes, que são capazes de lidar com este choque. Há uma grande diferença entre uma dificuldade e o caos, e eu penso que o Brexit será uma dificuldade muito bem gerida.

A nível global, já vai depender daquilo que acontecer com o sistema financeiro. O Lehman foi um choque que explodiu no sistema financeiro. A ideia que tenho é que o sistema financeiro está bem protegido no Reino Unido e nos EUA. Já na Europa, não estou tão confiante que assim seja. Tal como na economia, a Europa andou a adiar e a fazer de conta na reforma do sistema financeiro. Por isso, não foi uma surpresa que os mercados tenham caído mais em Itália do que no Reino Unido depois do Brexit.

Com as dúvidas que pairam sobre a Europa, acha que as autoridades têm vontade de fazer mudanças difíceis?
Acho que têm tudo para o fazer. Se me perguntar se a união monetária ainda existirá daqui a dez anos com todos os seus membros, respondo-lhe que, para isso, é necessário um entendimento da política macroeconómica que a Alemanha tem vindo a recusar, como falámos no início, ou um processo de centralização do poder como descrito no relatório dos cinco presidentes [das principais organizações da União], que o primeiro-ministro checo recusa de antemão. É por isto que as coisas na Europa são tão difíceis.

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