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Teresa e Roberto Guedes, pai e filha, são as caras do Zoo de Santo Inácio, o projeto da família ligada à natureza e aos vinhos
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Teresa e Roberto Guedes, pai e filha, são as caras do Zoo de Santo Inácio, o projeto da família ligada à natureza e aos vinhos

OCTAVIO PASSOS/OBSERVADOR

Teresa e Roberto Guedes, pai e filha, são as caras do Zoo de Santo Inácio, o projeto da família ligada à natureza e aos vinhos

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De quinta familiar ao maior jardim zoológico do norte. O Zoo de Santo Inácio faz 20 anos e tem uma história para contar

Apaixonado pela natureza, Roberto Guedes tinha o sonho de transformar a quinta da família num jardim zoológico e conseguiu. O Zoo de Santo Inácio, em Gaia, celebra 20 anos e quer continuar a crescer.

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A história do Zoo de Santo Inácio, em Vila Nova de Gaia, confunde-se com a história da família Guedes, uma típica família portuense ligada ao negócio dos vinhos. Quem o diz é Roberto Guedes, que tem 74 anos e é responsável pelo projeto que comemora duas décadas em junho. Cresceu na Quinta da Aveleda, em Penafiel, e foi lá que em criança ganhou uma forte ligação com a terra e os animais. “A minha educação sempre foi virada para o mundo rural, faz parte do meu ADN e quando não o tenho faz-me falta”, afirma em entrevista ao Observador.  É num jardim, num parque ou numa floresta, que Roberto se sente em casa. “Em miúdo ia pescar, procurava minhocas no estrume, brincava com rãs no lago e andava a cavalo, o transporte mais utilizado naquela altura. Crescer neste meio foi um privilégio.”

A sua avó paterna recebeu de herança a Quinta de Santo Inácio de Fiães, que incluía uma casa nobre construída no início do século XVIII, uma capela dedicada a Inácio de Loyola – santo que fundou a Companhia de Jesus, uma ordem religiosa cujos membros são conhecidos por jesuítas — e 15 hectares com eucaliptos, pinhos, carvalhos e um grande pomar. “Quando a encontrei estava praticamente abandonada. Servia essencialmente para a agricultura, mas o caseiro disse-me que o preço que lhe pagavam pela fruta não dava para o transporte até ao supermercado. Era, por isso, um negócio muito pouco rentável.”

Em 1996, quando começou a trabalhar na empresa da família, a Quinta da Aveleda, propuseram-lhe o desafio de dar vida a estes terrenos, mantendo o património natural daquele lugar. Roberto pensou em várias coisas, desde uma unidade de alojamento a um parque biológico, e até viajou por Inglaterra, França, Itália e Espanha só para se inspirar. “O espaço era pequeno para desenvolver agricultura, a única forma de continuar esta relação com a natureza era avançar de cabeça para um parque que tivesse animais.”

A ideia de juntar ao meio ambiente a vida selvagem era ainda tímida no norte do país, com exceção do Jardim Zoológico da Maia, “um parque antigo que mostrava os animais como uma coleção de selos”. A sua intenção era outra, construir um espaço amplo, verde, onde os animais se sentissem bem e o público pudesse esquecer que estava numa grande cidade.

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Roberto Guedes conhece um a um todos os animais do jardim zoológico que fundou

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Mas, afinal, como se monta um jardim zoológico?

“Não é nada fácil”, responde o fundador do Santo Inácio, acrescentando que naquela época em Portugal havia pouca gente ligada à área que o pudesse ajudar. Sem conhecimentos ou contactos, Roberto Guedes conheceu uma alemã no Algarve que estava reformada e tinha várias ideias sobre zoos. “Foi ela que fez o primeiro esquiço do que poderia ser o nosso zoo e da forma como ele poderia estar organizado.”

Entre buracos cheios de lama e retroescavadoras, observou de perto a transformação profunda de 15 hectares, de galochas nos pés, chapéu na cabeça e folhas debaixo do braço. “Durante quatro anos estive aqui todos os dias, das 8h as 23h. Fazia questão de explicar aos empreiteiros como tudo devia parecer natural e tentava que não fizessem aquelas construções fictícias.”

Depois do parque montado, faltavam os protagonistas: os animais. “Conheci um português que esteve no Luxemburgo e tinha alguns contactos, foi assim que arranjámos os primeiros animais.” As zebras da Austrália e a pantera das neves, uma espécie ameaçada de extinção, foram as primeiras a chegar e, numa amostra ainda reduzida, o Zoo de Santo Inácio centrava-se essencialmente nas aves, nos répteis e nos insetos. “Tínhamos interesse em mostrar um mundo animal ainda desconhecido”, afirma, garantindo que nunca idealizou um número global.

Pinguins, girafas, rinocerontes ou cangurus são alguns dos 600 animais presentes no Zoo de Santo Inácio

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Atualmente, este jardim zoológico com 15 hectares tem 600 animais de 200 espécies diferentes, a maioria vem da Europa e do Médio Oriente e Roberto não consegue escolher o seu preferido. “São tantos, não consigo escolher apenas um. Quando reabrimos agora, impressionou-me o hipopótamo pigmeu, que estava sozinho no seu habitat, e quando me viu passar veio a correr até mim para me cheirar, coisa que ele nunca fazia. Os macacos aranha quando me veem, mesmo ao longe, começam a fazer aqueles gritos de saudação.

Conservação das espécies: um desafio exigente

Nos primeiros anos de vida, o Zoo de Santo Inácio procurou afirmar-se no universo do mundo animal, tendo sempre como objetivo a preservação das espécies. “É preciso estar no meio para confiarem em nós e partilharem connosco animais. Os zoos não compram animais, trocam entre si, por isso, desde 2005 que pertencemos à Associação Europeia de Zoológico e Aquários (EAZA) e é la que estão os 400 melhores zoos da Europa.”

Um ano depois desta conquista, Teresa Guedes, filha de Roberto, licencia-se em engenharia zootécnica em Vila Real e, depois de um estágio numa vacaria, começa a trabalhar com o pai, assumindo a direção do Santo Inácio. “Em 2000, quando o projeto começou, coincidiu também com o momento em que as leis europeias sobre o conceito de zoo mudaram. Deixou de ser apenas um museu de espécies, para ser um local de conservação de espécies. Isto é muito importante, os zoos têm um papel fundamental na preservação dos animais”, explica em entrevista ao Observador.

Teresa garante que o Santo Inácio não vai buscar animais à selva, mas troca gratuitamente com espécies de outros zoos europeus, formando, assim, uma grande comunidade. “Os animais não são nossos, são da associação. É ela que gere toda a troca de animais entre zoos, não existe dinheiro envolvido, asseguramos apenas o transporte.”

Os tigres são dos animais de grande porte que chamam mais a atenção no zoo

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O trabalho de preservação é feito, num primeiro nível, através da reprodução, sendo este o método mais rápido. “A partir do momento em que existem varias gerações, estamos a permitir que elas sobrevivam.” Num segundo passo, cria-se uma reserva de animais para trocar com outros zoos. “Temos três rinocerontes machos, obviamente que não vão reproduzir, mas o coordenador desta espécie sabe exatamente qual é a potencialidade de cada um deles reproduzir com fêmeas que estão noutros zoos. Portanto, ou recebemos as fêmeas ou os nossos machos irão para outros zoos. É assim que funciona.”

A informação obtida através da demonstração de comportamento do animal que a equipa faz ao longo do dia é outro método de conservação, assim como o trabalho nos locais de origem de cada individuo. “Já existe cada vez mais repovoamento nesses locais através dos zoos”, sublinha Teresa Guedes, acrescentando que as trocas entre países fazem-se com o objetivo de manter as espécies puras, sem consanguinidade ou híbridos. “O nascimento mais recente que tivemos foi em outubro uma hiena malhada, a primeira a nascer em Portugal. Com cerca de um ano e meio ela terá que sair daqui para não reproduzir com os seus pais e irá para outro zoo para potenciar uma nova linhagem de hienas.”

A diretora revela ainda que o Zoo de Santo Inácio integra também 40 programas especiais de reprodução de espécies ameaçadas, onde um coordenador de cada espécie estuda a árvore genealógica do animal, sabendo exatamente em que zoo está o mais compatível.

O lémure que morreu afogado, o macaco que fugiu para roubar gelados e o rugido do leão que assustou os vizinhos

Roberto Guedes, o fundador, conhece os cantos à casa e mantém o brilho nos olhos sempre que se aproxima e um animal. Assegura que no início o mais desafiante foi criar nos 40 colaboradores o mesmo sentimento, a mesma filosofia e as mesmas ideias que tinha. “Há uma cena que sempre me ficou na memória. Um lémure, que tinha sido tratado em casa de um dos tratadores porque a mãe o tinha rejeitado, estava junto ao lago e de repente caiu à água. O tratador atirou-se imediatamente para o ir buscar, mas não foi a tempo. O animal afogou-se em 15 segundos, mas o que mais me impressionou foi ver o tratador a sentar-se com ele ao colo em lágrimas. Isso mostra que aqui estamos todos envolvidos.”

Teresa Guedes chegou ao Zoo de Santo Inácio em 2006 e é atualmente a diretora do projeto

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Angariar novos públicos, além das fiéis visitas escolares, foi uma das missões que a sua filha Teresa encontrou quando começou a trabalhar ao seu lado. “Há uns anos, a justificação para ir a um zoo era ter uma criança, hoje em dia isso mudou muito. É normal vermos casais, dos mais novos aos seniores, virem sem crianças. Um zoo não é apenas um sítio lúdico onde vou brincar com o meu filho, é o lugar onde posso conhecer um animal, viver a natureza e ter grandes emoções.”

Teresa Guedes destaca experiências possíveis como atravessar um túnel de 40 metros na casa dos leões, o segundo da Europa onde é possível estar olhos nos olhos com este animal, a savana africana com três hectares, onde várias espécies convivem harmoniosamente, ou os cães da pradaria que vivem livremente num campo relvado no zoo, aproximando-se espontaneamente dos visitantes. “A nossa intenção é que o público não entre num museu de animais, mas sim na vida selvagem. Queremos que conheçam o animal tal e qual como ele é, como vive e como se comporta.”

Aqui todos são batizados com um nome, quando chegam de outros países fazem uma quarentena de 15 dias de adaptação e a comunicação é feita em inglês, para que seja o mais parecida possível com as outras moradas. “Há sempre sustos”, admite a diretora, que recorda a girafa agitada que não chegou ao destino, o macaco que fugiu para roubar o gelado a uma criança ou os vizinhos que ligaram surpreendidos com o rugido de um leão que tinha acabado de chegar. “Ainda nenhum animal fugiu para o exterior, por vezes acontece na demonstração das aves, quando elas ouvem um barulho grande e se assustam ou pela direção do vento, mas acabam sempre por voltar.”

O mais difícil continua a ser a morte dos animais. “É sempre complicado lidar com isso, acabamos por criar laços afetivos com todos eles.” Cabe à diretora ligar a todos os tratadores a comunicar a situação e se alguns fazem questão de se despedir presencialmente, outros preferes não o fazer. O Zoo de Santo Inácio é muitas chamado como uma espécie de 112 para capturar animais exóticos, o último episódio foi uma cobra do mar encontrada num passadiço de um barco da Douro Azul.

O lago da família de pinguins é uma das atrações do parque ao longo do ano

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O que a pandemia obrigou a mudar?

Fecharam portas a 16 de março e a decisão, apesar de difícil, tornou-se óbvia pela redução do número de visitantes e pelo medo instalado na equipa. “Fechar significou não entrar uma única receita. Temos 600 animais para tratar e 40 trabalhadores a quem devemos pagar um salário. Trabalhámos por turnos e conseguimos manter as compras que precisávamos”, refere Teresa Guedes, revelando que num mês o zoo abastece cinco toneladas de carne e peixe por mês, quatro toneladas de cereais e rações, além de feno, palha, suplementos vitamínicos e medicamentos.

Após um primeiro mês “mais complicado”, as ajudas começaram a chegar. As clínicas veterinárias asseguraram a ração, parceiros sociais doaram equipamento de proteção individual, os supermercados forneceram gratuitamente os frescos, como frutas e legumes, e muitos visitantes disponibilizaram-se para apadrinhar animais. “Mesmo num momento trágico como este sentimos que as pessoas ficaram preocupadas e quiseram ajudar. Surpreendeu-nos.”

A entrada do zoo aberto desde 1 de junho de 2000

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A 7 de maio, o Zoo de Santo Inácio voltou ao ativo, ainda que com um horário reduzido e algumas mudanças. Máscaras para todos os colaboradores, acrílicos nas bilheteiras, álcool em gel ao longo de todos os percursos e mais zonas para desinfeção de sapatos são apenas alguns exemplos. “O uso de máscara para visitantes é recomendado, mas não é obrigatório, exceto em espaços fechados como o túnel dos leões, a casa dos  animais noturnos e os reptilários”, explica a diretora, que garante não existir necessidade de reduzir a lotação do parque, de quatro mil visitantes por dia, pois acredita não chegar a esse número nos próximos tempos.

Por concretizar ficaram os festejos do aniversário redondo, o aumento da área dos serviços de atendimento ao público, como a bilheteira ou a loja do zoo. “Íamos fazer uma exposição, mas conseguimos dar a volta e ao longo deste mês iremos partilhar nas nossas redes sociais algumas imagens antigas que ajudam a contar a nossa história.” Aumentar a coleção animal é sempre um dos objetivos da casa. “Queremos ter grandes primatas, lobos, ursos e elefantes. Penso que elefantes seria um marco importante”, admite Teresa Guedes, que tem nos pinguins “trapalhões” e nas girafas “elegantes” os seus animais favoritos.

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