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"Desculpe, tem aquele do rapper da moda?" Estes são os melhores álbuns de 2017

É das listas que gera mais discussão e é por isso que vale a pena publicá-la. Em dias de barriga e sofá cheio, nada como um balanço musical para ativar as maravilhas que o streaming oferece.

    Índice

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Final de ano. Juntámos alguns dos que escreveram umas coisas sobre música no Observador e fizemos a pergunta: quais os discos que mais gostaram? Pois bem, este é o resultado. Não há estilos nem artistas unânimes mas há algumas repetições: LCD Soundsystem, Kendrick Lamar e The War on Drugs fizeram mais amigos que os outros. Mas o melhor é ir lendo e ouvindo. Além de ser informação útil é uma banda sonora privilegiada para os últimos dias de 2017.

Ana Markl

LCD Soundsystem, “American Dream” (DFA)

É como um namorado que está sempre a ameaçar que se vai embora só para nós dizermos “nãaaaao, não vás” — e depois, efectivamente, nunca chega a ir. É como um funcionário de uma empresa que está sempre a dizer “demito-me!” e depois vai-se sentar à sua secretária. Posto isto, nada correu mal no regresso dos LCD Soundsystem — continua a mesma melancolia e a mesma acidez, mas a falsa despedida serviu para que as saudades pusessem o regresso em perspectiva. E foi bom voltar a ouvi-los.

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King Krule, “The Ooze” (True Panther)

Desde que se chamava Zoo Kid, com apenas 16 miseráveis anos, que vale a pena seguir o percurso do britânico Archy Marshall. Quando digo “miseráveis anos”, não é por invejar a sua juventude mas a sua capacidade de tão precocemente ser capaz de compor e interpretar com as entranhas de fora. Como King Krule, o seu alter ego mais profícuo, atinge em The Ooze, aos 23 anos, uma maturidade musical que me faz questionar onde é que eu tenho andado a desperdiçar a minha vida. Vários géneros — do hip hop ao rock ao jazz — entram num bar, bebem demais e acabam juntos numa cama a ter um pesadelo.

Father John Misty, “Pure Comedy” (Sub Pop)

Depois de I Love You, Honeybear, exercício romântico-cínico mais intimista que tornou Josh Tillman particularmente transversal em 2015, eis que Pure Comedy surge como ensaio maciço sobre os tempos que vivemos. É um calhamaço lírico que não se enquadra com o ritmo a que as pessoas desejam sorver refrões, daí que muitas pessoas tenham revelado alguma desilusão traduzida em falta de pachorra para ouvir de uma ponta a outra. Se fosse um livro, não tinha bonecos. E hoje em dia, seja como for, o pessoal prefere smartphones.

Alex Cameron, “Forced Witness” (Secretly Canadian)

O anti-herói da pop, falhado e patético, regurgita mais um belíssimo disco que choca com a era dos filtros do Instagram. Isto pode ser conversa de avó, mas eu cá ainda aprecio o pior da humanidade, melhor ainda quando embrulhado em ironia e decadência. Produzido com a magia vintage de Jonathan Rado, dos Foxygen, Forced Witness é um elogio pop àquele tio bêbado que vemos no Natal e que achamos um fartote porque não temos de o aturar o resto do ano.

Kirin J Callinan, “Bravado” (Siberia)

Se o australiano Alex Cameron incorpora o tio bêbado, o seu amigo e conterrâneo Kirin J. Callinan é o primo bronco — tudo no bom sentido, entenda-se. Ele é um performer, um provocador — e Bravado é uma paródia que se leva demasiado a sério, um sketch muito parvo incrivelmente bem escrito. Primeiro, ouvimos para nos rirmos; depois percebemos que estamos viciados na música propriamente dita, uma espécie de pop electrónica que flirta perigosamente com pirosadas das antigas.

[as escolhas de Ana Markl:]

5 fotos
"Mono No Aware" é especial. É um objecto singular no panorama da música ambiente actual, uma daquelas compilações que marcam uma época e definem o estado actual das coisas, adiando para o futuro a sua real importância: como quando BrianEno adivinharia a relevância da no wave nova iorquina.

André Almeida Santos

The Caretaker, “Everywhere At The End Of Time Stages 1-3” (History Always Favours The Winners)

Everywhere At The End Of Time é o projecto que Leyland Kirby desenvolve enquanto The Caretaker desde finais do ano passado. A compilação editada neste outono reúne os três primeiros estágios (de seis, que são sempre editados primeiro em vinil, individualmente) deste projecto que, se correr como previsto, terminará no final do próximo ano. É um projecto de revisitação constante de locais. O primeiro estágio lança as bases para os próximos. Aí está tudo direitinho, as músicas reportam outro tempo, ouve-se o ruído de vinil, alocando a ideia de som e memória nos ouvidos. Cada tema é um processo repetitivo de uma melodia, ou de melodias, para que cada peça do puzzle fique registada na memória, numa certa ordem.

Nos discos seguintes a ordem com a qual se teve o primeiro contacto é desfeita. Os sons já não carregam tanto a ideia de memória/nostalgia (o som do vinil velho deixa de estar tão presente), formam-se novas memórias a partir da base (o primeiro disco) e nascem sons e melodias que misturam tudo, vivendo na presença do novo e do velho. No terceiro estágio há canções que acabam abruptamente (como se a memória de repente desaparecesse), sons que se começam a dissipar ou que surgem no meio de outra coisa à qual não pertencem, sem afectar a melodia e harmonia.

Ouvir com atenção – e muitas vezes — Everywhere At The End Of Time é essencial para perceber a presença da demência na música, como ela é um sussurro constante ao longo dos três discos. O percurso ainda vai a meio, sim, e o sistema gosta de dar prémios aos últimos filmes das trilogias. Mas Everywhere At The End Of Time já é demasiado importante na música electrónica/ambiental em 2017 para só receber louros no ano que vem.

V/A “Mono No Aware” (Pan)

Fundada em Berlim há quase dez anos por Bill Kouligas, a Pan orgulha-se de estar nos primeiros lugares de editoras que definem o rumo da música electrónica no século XXI. Já passou pelo seu período de ouro (entre 2011 e 2013 só lançaram álbuns essenciais que abriram o caminho para as explorações na electrónica desta década), mas não acabam um único ano sem lançar algo que deixe rasto. Em 2017 foi a compilação Mono No Aware, a primeira de um catálogo com cerca de cem títulos, que junta vários artistas-Pan (Yves Tumor, Pan Daiking, M.E.S.H., Kareen Lofty, ADR, entre outros), convidados a construírem temas de música ambiente. Apesar de cada tema carregar a personalidade e a visão de cada um dos artistas, há um fluxo maravilhoso ao longo de todo o disco.

Mono No Aware é especial. É um objecto singular no panorama da música ambiente actual, uma daquelas compilações que marcam uma época e definem o estado actual das coisas, adiando para o futuro a sua real importância: como quando Brian Eno adivinharia a relevância da no wave nova iorquina e reuniu material de quatro bandas em No New York em 1978. A música rock mudou para sempre naqueles meses da no wave. E o mundo também. Mono No Aware está longe de querer as mesmas ambições – até porque não pode. Só que transcreve a ambição da música ambiental do presente e a sua vontade em causar estrilho nas suas fronteiras.

Kaitlyn Aurelia Smith, “The Kid” (Western Vinyl)

Desde o início da década que a norte-americana tem sido prolífica na exploração de um som electrónico analógico com uma perna entre os mundos de Klaus Schulze, Laurie Spiegel, Suzanne Cianni, Kraftwerk ou mais recentes como Laurel Halo e Holly Herndon. O que distingue Aurelia Smith destes todos (com excepção de Cianni, que teve algumas aventuras pop/new age) é a sua vontade de encontrar universos pop dentro de formulações/composições mais abstractas.

Kaitlyn Aurelia Smith tem um ponto a seu favor: desde Euclid, de 2015, que a sua música é rica, cheia e profundamente luminosa. O que lhe faltou até este The Kid foi que essa luz enchesse a sala de imediato e não tivesse o efeito das lâmpadas económicas (que, por vezes, são demoradas e isso é uma chatice). Aqui consegue-o por tornou as melodias mais limpas, directas, pontua o início de cada tema sem introduções e oferece uma viagem em segundos.

The Kid tem o efeito de disco e fórmula perfeita, de quem passou os últimos a partir pedra para chegar à escultura desejada. Só que Kaitlyn Aurelia Smith nunca fez nada descartável nesse processo, só demorou a afinar as máquinas para compor o seu melhor trabalho até à data.

[as escolhas de André Santos:]

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Sete canções bastam para os nossos níveis de "bacanidão" transbordarem. Em "Norte Litoral", Duquesa (que na verdade é Nuno Rodrigues) cruza a guitarra distorcida com a "saudade" lusitana.

Diogo Lopes

King Krule, “The Ooz” (True Panther)

Sentado no lancil de um passeio sujo, rodeado de latas de cerveja e líquidos de origem desconhecida, um jovem deixa-se engolir pelo coração partido e todos os males do seu país, do Mundo, do Homem — É a isto que soa The Ooz, o segundo disco de originais de Archy Marshall (este nosso King Krule), músico, produtor e “granda máquina” no geral que, em 2013, deu a conhecer ao mundo toda a melancolia que parece nunca deixar de o consumir. O menino virou homem a cantar o desgosto amoroso que o empurrou de um bloqueio criativo que parecia não querer acabar. Mais maturo, eclético (jazz, chillwave, electrónica entre muitos outros géneros polvilham os seus instrumentais) e sempre de voz gutural e cheia, Krule assina um trabalho que tem tanto de cru como de refinado.

Duquesa, “Norte Litoral” (Lovers & Lollypops)

Sete canções bastam para os nossos níveis de “bacanidão” transbordarem. Em Norte Litoral, o mais recente trabalho do jovem Duquesa (Nuno Rodrigues é o nome que aparece no Cartão do Cidadão), é nos dado a conhecer o Mac DeMarco português, que tanto cruza a guitarra distorcida com a “saudade” lusitana. Em todo este elogio ao norte do país, às raízes deste que nos canta, ficamos a perceber que é possível soar-se tão fixe usando a língua de Camões e que não existe limites para o rock em Portugal.

Angel Olsen, “Phases” (Jajaguwar)

A probabilidades de se encontrar um álbum de “lados B, demos e covers” que valhe a pena são bastante reduzidas, sejamos sinceros. A vontade de fazer mais algum dinheiro faz com que muitos artistas se vejam empurrados a fazer trabalhos deste género — de pertinência duvidosa. Este Phases consegue contaria essa realidade e mostrar que ainda há esperança em acreditar em trabalhos deste género. Fiel ao seu estilo rockeiro lo-fi, a talentosíssima Angel dá aos seus fãs um ponto de vista muito interessante daquilo que é o seu processo criativo, de como as coisas evoluem.

Action Bronson, “Blue Chips 7000” (Vice)

Hip-hop puro e duro como se fazia há uns anos, na altura em que quem dominava o pedaço eram gigantes como Dre, Biggie ou Tupac. É isto que se ouve em Blue Chips 7000, o mais recente disco do rapper/cozinheiro Action Bronson. Os instrumentais são inteiramente construídos de samples (à antiga, lá está) e isso dá uma crueza sincera e despretensiosa que tanta falta faz num meio tão dado à bazófia como o do hip-hop. Nas rimas, Bronson é fiel à sua imagem. Brutal, inteligente e, muitas vezes, divertido. Com Bronson e a sua música, “What you see is what you get”, como dizem os nossos vizinhos do outro lado do charco.

Chilly Gonzales e Jarvis Cocker, “Room 29” (Deutsche Grammophon)

As paredes, como se costuma dizer, têm ouvidos. No caso do Chateau Marmont — icónico hotel em Los Angeles famoso pelos seus inquilinos superstar — elas também têm boca. Jarvis Cocker, irreverente líder dos Pulp, ouviu o que elas tinham a dizer, inspirou-se nessas histórias que lhe contaram e fez um delicado e inteligente disco com Chilly Gonzales, pianista que tanto joga pela equipa dos clássicos como na da pop. O resultado é uma curiosa mixórdia de linhas de piano simples que quase sempre ficam na retranca, enquanto Cocker nos fala de histórias que têm tanto de sensível como de mirabolante (“You don’t need a girlfriend / You need a social worker”, ouve-se em “Tearjerker”, uma das melhores canções do disco).

[as escolhas de Diogo Lopes:]

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O álbum de regresso do LCD Soundsystem marca o ano, não tanto por ser um disco único mas porque é tudo o que o grupo de James Murphy sempre foi: uma evocação da melhor música do passado em contexto moderno, a exorcização dos fantasmas adultos numa era de celebração juvenil.

Isilda Sanches

Golden Teacher, “No Luscious Life” (Golden Teacher)

No Luscious Life é o álbum de estreia dos escoceses Golden Teacher, um colectivo de Glasgow que mistura a energia do punk e o groove do funk com neura techno e carga rítmica infernal. É verdade que é em cima de um palco que os Golden Teacher revelam todo o seu poder xamânico, nada como vê-los ao vivo para sentir a experiência na sua plenitude enfeitiçante, mas No Luscious Life, embora no geral seja mais “conformista” do que a maior parte dos maxis editados pela banda, chega muito perto de traduzir em disco a vitalidade incendiária dos Golden Teacher. Experimentalismo com sentido de festa, não há muito por aí.

Garret, “Private Life” (Music From Memory)

Damon Garrett Riddick é o “Embaixador do Boogie Funk” que conhecemos melhor como Dam Funk mas que, em 2017, descobrimos numa encarnação primitiva mas esplendorosa chamada Garrett. Private Life serão gravações da sua fase adolescente, um disco impressionista construindo com instrumentais soul e electro funk cheios de luz e mel que apontam directos ao coração e ao cosmos. Mesmo antes de sabermos que se tratava de um alter ego de Dam Funk, já se suspeitava que o seu dedo andasse por aqui, a partir do momento em que a informação é oficial confirma-se que Dam Funk é um dos grandes músicos e produtores das últimas décadas e certamente um dos que melhor toca as teclas da emoção.

DJ Sotofett Presents Jesse, “Twotinos” (Keys of Life)

Ao longo dos últimos 10 anos DJ Sotofett tem sido um dos DJs e produtores mais activos e consistentes numa certa ideia de trabalhar nas margens da indústria e dos géneros. O austríaco tornado norueguês a residir em Berlim, faz e edita techno, house, dub, e sobretudo musica que só parece encaixar nos interstícios dos rótulos a que estamos habituados. Aqui, Sotofett assume uma espécie de orquestração do novo álbum da dupla finlandesa Jesse. Twotinos tem um pulsar orgânico, que vem sobretudo da percussão omnipresente, mas é, na essência, um disco com fundamentos electrónicos, tem afro beat, jazz espiritual, electrónica cósmica, música para soltar corpo e cabeça.

LCD Soundsystem, “American Dream” (DFA)

O álbum de regresso do LCD Soundsystem marca o ano, não tanto por ser um disco único mas porque é tudo o que o grupo de James Murphy sempre foi: uma evocação da melhor música do passado em contexto moderno, a exorcização dos fantasmas adultos numa era de celebração juvenil. American Dream é um disco honesto, virado para dentro, para a auto reflexão em que Murphy é sempre tão acutilante, mas também para fora, mantendo um olhar crítico sobre o momento actual. Banda coesa, feita de partes separadas que encaixam como um puzzle, o LCD Soundsystem pode até ter uma vida intermitente mas American Dream mostra que continua pertinente.

Peaking Lights, “The Fifth State Of Consciousness” (Two Flowers Records)

Indra Dunis e Aaron Coyes são americanos, vivem mais ou menos exilados nas montanhas do Wisconsin com o filho, os sintetizadores e outras máquinas vintage que gostam de colecionar e usar para fazer música. The Fifth State of Consciousness é o quinto álbum do casal, disco psicadélico pintalgado de dub, reggae e new wave, mas com uma vocação mais pop do que costuma ser regra em Peaking Lights, muito por causa das canções, agora mais perto de formatos convencionais. Hipnótico e adesivo, The Fifth State é pop onírica desviada, feita por uma das bandas mais bonitas e inspiradas dos últimos anos.

[as escolhas de Isilda Sanches:]

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Qualquer conhecedor da obra de Mário Laginha sabe que este músico dá pelo menos duas garantias a quem se disponha escutá-lo. É um pianista irrepreensível e um compositor inspirado, que consegue colocar nos temas de que é criador um aroma muito português, difícil de definir, mas que os apreciadores da sua obra sabem de que se trata.

João Cândido da Silva

Mário Laginha, Julian Argüelles, Helge Andreas Norbakken, “Setembro” (Edition)

Qualquer conhecedor da obra de Mário Laginha sabe que este músico dá pelo menos duas garantias a quem se disponha escutá-lo. É um pianista irrepreensível e um compositor inspirado, que consegue colocar nos temas de que é criador um aroma muito português, difícil de definir, mas que os apreciadores da sua obra sabem de que se trata. Em Setembro, Laginha conta com a preciosa colaboração e cumplicidade do saxofonista britânico Julian Argüelles e do baterista norueguês Helge Andreas Norbakken, numa experiência pouco vulgar, mas não inédita, que dispensa o contrabaixo.

Os dez temas que integram o álbum, oito dos quais da responsabilidade de Mário Laginha, estiveram guardados na gaveta durante pouco mais de três anos. Foram registados ao vivo na Casa da Música, no Porto, durante o verão de 2014, mas basta uma só audição para se perceber que a espera é premiada com uma generosa recompensa. O lirismo e o apurado sentido melódico de Mário Laginha casam na perfeição com as intervenções de Argüelles e a sobriedade de Norbakken, através das atmosferas alegres ou melancólicas que se sucedem no disco. É um dos pontos mais altos na carreira do pianista.

João Paulo Esteves da Silva, Mário Franco, Samuel Rohrer, “Brightbird” (Arjunamusic)

Em meados de novembro, pouco mais de um mês após Setembro ter visto a luz do dia e quando o disco de Laginha ainda estava longe de ter esgotado tudo o que nele há para descobrir, outro (grande) pianista português lançou um novo registo. Também a música de Brightbird é interpretada em trio, mas neste caso num dos formatos mais tradicionais do jazz, com piano, contrabaixo e bateria, a cargo de Mário Franco e de Samuel Rohrer, respetivamente, numa conjugação simples e económica de recursos à qual se devem muitas das obras mais geniais de sempre.

Dois dos grandes trunfos de João Paulo Esteves da Silva estão bem evidentes neste álbum. A serenidade, por um lado, mas também o elevado talento do pianista para gerir os silêncios e as pausas. O resultado é uma obra espaçosa, em que cada um dos elementos do trio cumpre a missão de fazer realçar o coletivo e, por esta via, o produto final. A música é cintilante, contida, mas profunda, e soma uma pérola à discografia de João Paulo Esteves da Silva no papel de líder.

Craig Taborn, “Daylight Ghosts” (ECM)

Uma das melhores novidades de 2017 foi o facto de a editora ECM, que tem no seu catálogo muitas obras de referência dos últimos 40 anos, ter finalmente disponibilizado o seu catálogo para ser desfrutado através do serviço de streaming. Os puristas poderão alegar que a qualidade do som não é a mesma que se pode desfrutar através do disco compacto ou vinil, sobretudo quando está em causa uma etiqueta que tem um extremo cuidado no registos que faz. Mas não se pode negar que, nos dias que correm, o streaming é uma solução conveniente e prática e, com frequência, o posto de escuta escolhido para conhecer música que, posteriormente, até pode acabar por ser comprada em formato físico.

Uma parte da discografia mais recente de Craig Taborn integra o catálogo da ECM, o que inclui Daylight Ghosts. Neste disco, o pianista atua em quarteto, com Chris Speed no saxofone tenor e clarinete, Chris Lightcap no contrabaixo e baixo elétrico e Dave King na bateria e percussão. A estes instrumentos somam-se algumas incursões na eletrónica, escolhidas com critério, propósito e subtileza, pelas mãos de Taborn e de King. Os membros da banda merecem um rating triplo A e aquilo que vão debitando é música aventurosa e inconformada, reveladora de que Craig Taborn atravessa um pico de maturidade enquanto instrumentista e compositor.

Phronesis, “The Behemoth” (Edition)

Depois da referência a álbuns baseados em receitas que exigiram poucos ingredientes, mas de grande qualidade, chega a vez de dar o merecido destaque a um disco bem diferente nos meios utilizados e nos resultados. É um facto que Phronesis é o nome de guerra de mais um trio, neste caso fundado em 2005 pelo contrabaixista dinamarquês Jasper Høiby e que integra o pianista britânico Ivo Neame e o baterista sueco Anton Eger. Mas qualquer semelhança com alguma das obras citadas anteriormente termina aqui, exceto a circunstância de o responsável pelos arranjos ser Julian Argüelles, o saxofonista que faz parceria com Mário Laginha em Setembro.

Em The Behemoth, os Phronesis surgem bem acompanhados pela Frankfurt Radio Big Band, cúmplices na construção de música fogosa e musculada, esculpida com algumas das ferramentas que caracterizam o rock e os ritmos latinos, mas também doce e melancólica, capaz de agradar a fãs de pequenos agrupamentos e a admiradores de big bands que não estejam amarrados apenas às velhas glórias do passado. O trabalho do trio que assina este disco revela a consistência habitual e as orquestrações de Argüelles são envolventes e arquitetadas com doses fartas de elegância. A expressão “arrebatador” talvez resuma de forma justa a música que se escuta neste álbum.

Van Morrison, “Roll with the Punches”/”Versatile” (Caroline)

O que tem ainda para oferecer Van Morrison, músico que completou 72 anos em 2017 e que é o protagonista de uma carreira que se iniciou pelo final dos anos 1950? Muitíssimo. Este ano, por exemplo, Sir “Van The Man” lançou dois discos em menos de três meses, facto que fez subir para 38 o número de álbuns publicados durante uma carreira iniciada em 1967 quando lançou Blowin’ Your Mind, o primeiro passo no percurso a solo da voz que liderou os Them.

Roll with the Punches e Versatile mostram Morrison nalguns dos terrenos por onde tem deambulado desde sempre, aqueles em que se encontra parte das raízes de toda a música que foi produzindo. Blues e jazz são a matéria-prima a que Van Morrison recorre neste dois álbuns, com o repertório a misturar clássicos e originais interpretados pela sua voz poderosa e inconfundível, além do contributo de bandas integradas por gente competente e capaz de responder às exigências e caprichos de um homem de quem se diz não ter um feito fácil.

Em Roll with the Punches o prato forte são os blues de Chicago, executados com a alma e empenho que esta música pede. Em Versatile, Morrison vira-se para os standards do vasto e inesgotável cancioneiro norte-americano. As versões, mas também as faixas da autoria do músico nascido em Belfast, estão cheias daquele swing contagiante que torna incompreensível a perspetiva de quem despreza o jazz sob o argumento delirante de que se trata de “música de cornetas deprimentes”. Ainda assim, Versatile é mais previsivel do que o seu “par” dedicado aos blues. Se o desafio fosse o de escolher apenas um, Roll with the Punches seria o álbum eleito.

Juana Molina, “Halo” (Crammed Discs)

Quando se escuta a música minimalista e repetitiva de Juana Molina, difícil é não se ficar hipnotizado com a atmosfera que parece arrastar-nos para um estado de semi-consciência, quase letárgico. É num limbo situado mais próximo do sonho do que da realidade que a cantora e compositora argentina situa a sua pop experimental, em que casa instrumentos acústicos e eletrónicos para fazer explorações sonoras que possuem poderes magnetizantes.

Podia esperar-se que ao sétimo álbum as artes mágicas de Molina já se tivessem esgotado. Não se passa nada de parecido com isto. A força e o encanto das suas canções permanecem intactos. Quem escuta Halo sente-se compelido a regressar ao princípio quando soam as derradeiras notas do álbum. Talvez os discos de Juana Molina devessem ser editados com o aviso de que a música que contêm pode criar dependência.8

[as escolhas de João Cândido da Silva:]

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Ao fim de 11 faixas, "Capacity", dos Big Thief, já se infiltrou nas nossas entranhas, já nos tocou o coração. Quem não se comover com "Coma" precisa de confirmar se a máquina ainda está a bater como deve ser.

Sara Otto Coelho

Big Thief, “Capacity” (Saddle Creek)

Não conhecia os Big Thief até terem lançado este segundo disco. Em minha defesa, tenho o facto de o primeiro, Masterpiece, ter saído apenas no ano passado. Sem medo, lançaram-se logo ao sucessor. E que sucessor. Um aviso: Capacity é um absoluto potenciador de melancolia e introspeção. Logo à primeira canção, “Pretty Things”, Adrianne Lenker desarma-nos com a sua voz, tão sincera e algo frágil. “Shark Smile” dá ao ouvinte um abanão rock, mas que não haja ilusões: ao fim de 11 faixas, este quarteto de Brooklyn já se infiltrou nas nossas entranhas, já nos tocou o coração. Quem não se comover com “Coma” precisa de confirmar se a máquina ainda está a bater como deve ser.

Fleet Foxes, “Crack-Up” (Nonesuch)

Em seis anos muita coisa pode mudar e, no caso dos Fleet Foxes, mudou mesmo. Crack Up junta 11 canções que, se não tivessem números, pareceriam mais, tais são as oscilações de ambiente, ainda que sempre dentro de uma identidade marcada. Foi-se a inocência, junto com o refrão. Ganhou-se em complexidade, tanto instrumental como lírica. Em prazer de descoberta também. Hoje um pormenor, amanhã outro e, quando damos por ela, estamos agarrados. Se eu puder fazer um pedido à banda de Seattle, é o seguinte: continuem a mudar, se essa mudança continuar a ser sinónimo de qualidade. Mas, por favor, nunca prescindam das harmonias vocais, que tanto enriquecem a bela e doce voz de Robin Pecknold.

Benjamin Clementine, “I Tell a Fly” (Universal)

O que dizer do segundo disco da grande revelação de 2015, Benjamin Clementine? Tal como no caso dos Fleet Foxes, é um trabalho mais difícil de entrar no ouvido, mas carregado de pormenores que o tornam riquíssimo. E tem um cravo. Repito: um cravo. Neste segundo disco, o inglês de 29 anos deixou de lado a sua biografia para tomar as dores do mundo, das guerras que levam ao número insano de refugiados, passando pelo atentado ao Bataclan. Pelo meio, continua a parecer um contorcionista da voz, que faz dela o que quer e bem lhe apetece.

LCD Soundsystem, “American Dream” (DFA)

Estive na dúvida sobre se colocava os LCD Soundsystem na lista. American Dream não é um cinco estrelas — e, sim, ainda me lembro que há míseros seis anos estava meio mundo a chorar o fim dos LCD Soundsystem e ei-los já por aqui de novo, como se nada tivesse acontecido. Mas a verdade é que poder voltar a entrar no universo LCD Soundsystem é como regressar a um passado recente de plena descoberta pessoal. Foi com James Murphy que descobri que podia gostar de eletrónica. Gostar genuinamente, não porque está na moda e quem não ouve não é cool. “Mas o que é que me interessa a descoberta pessoal desta criatura”, está o leitor a pensar, e bem. É justo. Mas quem esteve no concerto em Paredes de Coura no ano passado pôde testemunhar como o reencontro foi mágico e como eles ainda têm muito para dar. American Dream pode não ter hinos como “Daft Punk Is Playing at My House”, “I Can Change” ou “All My Friends”, mas é um disco bom, coerente e robusto. Venham daí mais canções.

Thurston Moore, “Rock n Roll Consciousness” (Caroline)

Dito tudo isto, é no rock que ainda encontro o meu conforto. E quando Thurston Moore edita um disco a solo — não confundir com os inúmeros side projects em que anda sempre metido, cada um mais avant garde que o outro –, eu sei que vem aí um prato da melhor confort food que eu posso pedir. Os riffs de guitarra longos, lineares, negros, neuróticos. O feedback, sempre presente. Quem gostou dos anteriores, nomeadamente “The Best Day”, vai gostar de Rock n Roll Consciousness. Quem não está muito virado para este tipo de sonoridade ou procura desesperadamente pela próxima novidade e inovação, que se deixe estar quieto. Falando para o primeiro grupo, nós bem sabemos como Thurston Moore continua a ser um eterno jovem sónico, a mostrar a toda a gente que, às portas dos 60 anos de idade, podemos fazer o mesmo que fazíamos aos 20 e sermos tão ou ainda mais cool. Quando for grande, continuo a querer ser como ele.

[as escolhas de Sara Otto Coelho:]

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O beat, o flow, o groove, estrangeirismos que Slow J domina como mais ninguém e que lhe permitem ter a maior das caganças. Ele que tenha o ego lá em cima porque merece bem.

Tiago Pereira

Kendrick Lamar, “DAMN.” (Top Dawg)

Ora pois. Ainda ninguém tinha falado deste malandro, pois não? Kendrick Lamar, Special K, o rapper que sabe tudo sobre todos nós. Sabe mesmo, escusam de dizer “isso é conversa, eles são todos iguais”. Não são, nem nada que se pareça. Kendrick vai mais longe e com mais perspicácia, é astuto, é lúcido mas não quer que essa lucidez lhe controle a ambição. Tem sede e fome de tudo, dos desejos próprios às críticas de todos, para todos. O curioso é que nunca fui do hip hop, acho que a bem da verdade tenho mesmo de dizer que continuo a não ser do hip hop. Mas ele há coisas que nos dão a volta. Foi isso. Este tipo deu-me a volta. É o disco do ano, porque o ano foi dele, foi ele que o marcou, foi ele que o definiu. Foi, pois.

Slow J, “The Art of Slowing Down”

É perfeito. Este disco é perfeito. Comprem o disco. O objeto físico propriamente dito. A sério, não tenham medo, não morde. E se mordesse? Valeria a pena. Comprem o disco e dediquem-lhe tempo. Talvez isto funcione como aquela malta que contrata um personal trainer para se sentir obrigado a ir ao ginásio. Se tiverem o disco talvez o ouçam do princípio ao fim. E se o fizerem a coisa nunca mais tem volta. Percebam o que é ter talento e bom gosto, o que é ter instinto e ter a técnica. O que é ter o hip hop como primeiro apelido e o R&B como segundo. O que é fazer isto tudo em português como mais ninguém faz por estes dias. O que é confessar a vida toda em canções de três minutos e tal e deixar quem ouve a olhar-se no espelho. O beat, o flow, o groove, estrangeirismos que Slow J domina como mais ninguém e que lhe permitem ter a maior das caganças. Ele que tenha o ego lá em cima porque merece bem.

The War on Drugs, “A Deeper Understanding” (Atlantic)

A demanda de um homem sozinho contra o mundo, à procura da razão de existir, do porquê de escolher um caminho e não o outro. Um gajo que procura respostas impossíveis para as perguntas obrigatórias. Só esta filosofia do desgraçado já é cativante coisa que chegue. Depois há a questão da música, que tende a parecer sempre a mesma canção a cada novo disco, repetida várias vezes, com novos solos, mas sempre a mesma canção, aquela mistura de referências do rock adulto dos anos 80 com um toque de indie pelo meio. Estranhamente, os discos com a assinatura The War on Drugs devem ser os únicos no mundo em que este modelo de fazer sempre o mesmo nunca é de mais, nunca soa mal, nunca é exagero, nunca é um erro. Canções com oito minutos. Rock depopressivo. Acabei de inventar um novo género para as lojas de discos, digitais e as outras, que ainda há umas quantas.

Pega Monstro, “Casa de Cima” (Cafetra)

Fácil era chegar aqui, botar o link para a crítica publicada aqui neste vosso Observador e pronto, estava feito. Porque o texto elogia o disco de alto a baixo, tem uma boa quantidade de estrelas e poupava trabalho (além de ajudar à recirculação, que é um fenómeno digital essencial para este negócio das publicações online). Bom, certo, o link é este. Mas já agora, um acrescento a isto: não ouvi todos os discos do género que o mundo recebeu em 2017 mas, caramba, ponho uns quantos dedos na guilhotina para apostar que é do melhor que o rock de corações distorcidos fez neste ano. Áspero mas confortável, dorido mas doce, aguerrido mas elegante, bem cuidado mas de uma coolness que vai contra qualquer produção demasiado preocupada. E com versos que mais ninguém se atreve a colocar entre uma guitarra e uma bateria. Na minha terra diz-se “discaço”. Na vossa, enfim, digam o que quiserem mas ponham a tocar alto, bem alto.

Thundercat, “Drunk” (Brainfeeder)

Ora cheguei à última das cinco escolhas. E é preciso dizer que esta não está aqui só porque garante aquela pequena dose de chiqueza alternativa que fica superbem. É porque é um ataque cardíaco saudável em forma de álbum. E isto escrito assim tem todo o potencial para convencer alguém, espero. Um disco com 23 faixas e a mais longa tem quatro minutos. É isso. É uma vertigem nervosa de jazz’o’funk’o’blues, mas feito no espaço, numa outra galáxia, isto não tem gravidade nenhuma, nada, zero. Tudo saído da cabeça de Thundercat, que é nome de pessoa, ou melhor, é o alter ego de Stephen Bruner, virtuoso, mestre da técnica, exemplar baixista, compositor, visionário, um génio erudito bem escondido na garagem. Como se fosse uma criança com capacidades fora do comum. Faz música como se estivesse a brincar, mas se isto é bincadeira o que fará este Thundercat quando for tudo a sério. Nah, ele não vai nessa cantiga.

[as escolhas de Tiago Pereira:]

5 fotos
A voz de Khalid e o seu faro musical tornam tudo isto um caso sério. Pequena obra-prima de um -- mais um -- fiel discípulo da pop de vistas largas e formação afro-americana com que Frank Ocean nos abençoou.

Vasco Mendonça

Khalid, “American Teen” (RCA)

Deixem passar o Khalid, um miúdo de 19 anos com uma voz imaculada que criou o melhor disco de estreia do ano. American Teen é um disco inteiro sobre a condição particular do adolescente americano em 2017, que é como quem diz, o adolescente de primeiro mundo: “Young, Dumb & Broke”, como o próprio resume em jeito semi-irónico — “but we still got love to give, young dumb broke high school kids”, assim mesmo, cantado sem vírgulas nem grandes rodeios. São canções simples e honestas para uma geração inteira se apaixonar e descobrir, para encontrar amparo e validação social — tudo o que já foi feito antes, mas em 2017 e mais pegajoso do que resina. A voz de Khalid e o seu faro musical tornam tudo isto um caso sério. Pequena obra-prima de um — mais um — fiel discípulo da pop de vistas largas e formação afro-americana com que Frank Ocean nos abençoou.

Lorde, “Melodrama” (Universal)

A menina querida da pop regressou com um disco produzido pelo amigo Jack Antonoff, que tem tanto dele como da sensibilidade artística inventada pela Nova Zelândia em 2013. A saber: canções pop que vão dar uma volta ao bilhar grande da imprevisibilidade, se fossem vinhos seriam um início corpulento e um final persistente marcado por frutos vermelhos e taninos de sensibilidade artística que se grudam nas papilas gustativas como pastilha elástica, mas isso só descobriremos à quadragésima terceira audição de “The Louvre”, “Homemade Dynamite”, “Green Light” ou “Liability”, entre muitas outras. É uma marca registada de Antonoff e cada vez mais de Lorde, que criam discos e não colecções de singles colados a cuspo. É um facto que a palavra gastou-se porque hoje em dia se usa para descrever todo o tipo de banalidades com nádegas cravadas no sofá, mas Melodrama é um disco corajoso, isso mesmo, corajoso, tanto que até se viu revestido de uma improvável indie cred, e brilhante, não duvidem, é um disco brilhante de uma miúda muitíssimo inteligente que soube escolher os amigos e manter-se essencialmente livre de manias. Sinceramente, pareceu tarefa impossível desde que ouvimos “Royals”. Uma conjugação rara de maturidade artística e carinha laroca fazem dela a amiga, a namorada ou a filha que sempre quisemos ter, consoante a idade ou estado civil do leitor. A Taylor Swift que tenha paciência.

Sheer Mag, “Need to Feel Your Love” (Wilsuns)

Maravilhoso chavascal rock de protesto para ouvir aos altos berros numa qualquer estrada nacional ou sair à rua e reclamar contra as amplas injustiças do mundo que habitamos, a natureza algo incaracterística da sala do novo Stop do Bairro, a subida de preço das caixas de Santini ou o preço do novo iPhone X, para referir apenas alguns dos problemas com os quais me consigo relacionar e que em momento algum são mentidos em Need to Feel Your Love. Contém uma forte consciência política e racial que orientou os cérebros pensantes da música nos EUA nos últimos dois anos, e a melhor canção de 2017, Expect the Bayonet:

“I been reading the news and you’ll surely regret
If you don’t give us the ballot
Expect the bayonet.”

Os meninos e a menina, senhora de uma portentosa voz, levam isto mais a sério do que eu faço parecer, mas a verdadeira militância do rock é para com os acordes, e nisso os Sheer Mag ganham com uma esmagadora maioria.

The War on Drugs, “A Deeper Understanding” (Atlantic)

Não tenho nada contra artistas cuja obra revela descaradamente a influência dos seus ídolos, daí que a minha tendência involuntária para ouvir Bruce Springsteen várias vezes ao longo deste disco não só seja um elogio como algo que merece ser celebrado. Há mais influências em A Deeper Understanding, mas nenhuma que da qual eu goste tanto como o Boss, por isso poupo-vos ao name dropping, vocês são todos crescidinhos e também já toparam. Acima de tudo, A Deeper Understanding é um tratado de canções rock que nos dá um belíssimo conselho: não matem os vossos ídolos. Façam com que eles se orgulhem de vocês, mas sobretudo cultivem uma elegância de quem parece não querer saber disso.

Bleachers, “Gone Now” (RCA)

. O terceiro disco da banda de Jack Antonoff — produtor de Lorde, Taylor Swift, St. Vincent – é sangue, suor, lágrimas, é coração ao pé da boca, é pedigree musical, é perda, descoberta e sobrevivência, é um bocadinho punk, é um tudo ou nada emo, é uma história bem contada, é uma canção orelhuda atrás da outra, é um glossário da música pop, é uma estranha sensação de autenticidade que desarma e nos prega os headphones aos ouvidos, é fé restaurada na pop, é um todo colossalmente maior que a soma das suas partes, e é uma belíssima forma de perceber porque é que Jack Antonoff foi a pessoa mais interessante da música em 2017, léguas à frente da maioria, um trintão com espírito de miúdo e as dores de toda a gente, fechado num quarto em Brooklyn a fazer canções auto-biográficas que irão encher arenas de devotos nos próximos anos.

P.S.: Já agora, fiz batota. Se juntarem o primeiro caractere de cada um destes 5 parágrafos, a coisa lê-se DAMN. E o disco do ano é dele. KING. KENDRICK. Decerto compreenderão.

[as escolhas de Vasco Mendonça:]

6 fotos
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