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Fábio Poço / Global Imagens

Fábio Poço / Global Imagens

Diário do Porto. Pizarro: "Azeredo Lopes é um grande ministro da Defesa"

Pizarro saiu em defesa do ministro da Defesa, seu apoiante e ex-aliado de Moreira. O autarca disse não ter medo de falhar maioria. Álvaro Almeida acusou-o de ingratidão. CDU não descarta aliança.

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O primeiro dia da última semana de campanha eleitoral arrancou com um debate na Antena 1 entre os seis candidatos à Câmara Municipal do Porto. Um duelo que acabou marcado pelas acusações de “ingratidão” de Álvaro Almeida a Rui Moreira: ingratidão a Rui Rio, ingratidão ao PS e ingratidão ao CDS. À tarde, Rui Moreira visitou a zona de Campanhã e o centro histórico da cidade, Manuel Pizarro esteve no Bairro de São Tomé, Álvaro Almeida passeou pela zona do antigo campo do Salgueiros e João Teixeira Lopes foi até Ramalde. O grande destaque vai para a arruada de Ilda Figueiredo ao lado de Jerónimo de Sousa, uma demonstração de força do PCP na rua de Santa Catarina. No final da ação, a candidata não descartou um entendimento com Rui Moreira caso o independente vença com maioria simples.

PS. Manuel Pizarro: de janela em janela, até à vitória final?

A frase: “Azeredo Lopes é um grande ministro da Defesa”

A (outra) frase: “É melhor haver menos crispação, mais espírito construtivo, em vez de rabugice”. Foi desta forma que Pizarro respondeu a Rui Moreira, que esta segunda-feira questionou o apoio de João Matos Fernandes, ministro do Ambiente, ao socialista.

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O que correu bem: Quase duas horas a cumprimentar e a falar com pessoas não é tarefa fácil. Pizarro cumpriu a volta olímpica pelo Bairro de são Tomé no Porto, beijando e cumprimentando tudo o que mexia.

“Posso pisar a relva? Não tem mal, pois não?”, pergunta Manuel Pizarro, à menina-senhora que o aguarda à janela. Era uma pergunta retórica, naturalmente. Foi piscar os olhos e o candidato socialista já estava debruçado sobre a varanda de ferro, com um braço esticado a apertar a mão da interlocutora e o outro a entregar o jornal de campanha. O candidato do PS aproveitou a última ação do dia para calcorrear as ruas do Bairro São Tomé, ziguezagueando de janela em janela, ora à direita, ora à esquerda, para cumprimentar todos os que espreitavam. “Não se esqueça de ir votar no dia 1!“, ia repetindo o socialista, à medida que ele ou alguém da sua comitiva distribuía jornais de campanha, sacas de pano, fitas para pendurar ao pescoço e caixinhas para guardar os medicamentos — o brinde mais cobiçado entre os mais seniores.

O velhinho código entre cantadores não permite aventuras nas casas das donzelas — a música dá-se na rua. Mas os tempos são outros e esta música tem outro propósito. “Oh sêutor, venha cá a cima”, pediam-lhe na rua. E Pizarro ia, saltava degraus aos pares e surpreendia quem o esperava. “Se é pra ir, é pra ir, sabe que sou um homem despachado“, justificava o candidato.

— “Veja isto, tenho de pagar 52,50€ aos bombeiros de cada vez que tenho de levar a minha mãezinha ao hospital. É um absurdo, sêutor. Têm de construir elevadores. Não há res-do-chão para tantos velhos!”
— “Há quanto tempo está aqui a sua mãe?”
— “Desde 54, praí…”
— “Deus me livre, eu ainda não era nascido e a sua mãe já vivia aqui. Mas olhe não ponho fora de hipótese a construção de um elevador panorâmico. Prometo que vou estudar o assunto.”
— “Acho muito bem. Não é só aparecer na televisão a falar da falta de mobilidade!”
— “As pessoas estão atentas, vê?”, comenta baixinho Pizarro, já com pé e meio fora da porta.

Seria sempre assim — e quando não era Pizarro a ir ter com as pessoas, eram as pessoas a ir ter com Pizarro. “Senhor doutor, espere aí que eu quero dar-lhe duas palavrinhas”. E o socialista esperava. “Isto não vem daí coisa boa“, ria-se. E lá começava o diálogo: “Quando for eleito presidente — e eu sei que vai ser — tem de resolver o problema do depósito de água. Sai com cada rato de lá. No outro dia estava a limpar e até me assustei. Parecia um coelho, cara***!”.

E lá seguia Pizarro, ora na rua, ora cafés adentro, daqueles onde o cheiro a cerveja se mistura com o pão acabado de cozer. “Como está, camarada?”, saudava o socialista, antes de trocar um valente bacalhau. “Não é preciso abanar“, queixou-se, entredentes, uma das vítimas do vigor do candidato, que já abordava novo potencial eleitor.

— “Olhe, tem aqui o meu jornal de campanha…”
— “Tudo bem, mas eu sou comunista, não me leve a mal…”
— “Ora essa, foi para isso que se fez a liberdade”, desvalorizava Pizarro, também ele um ex-militante comunista.

Fair-play, portanto. E foi fair-play que o socialista pediu a Rui Moreira, depois de o presidente da Câmara ter questionado, no debate na Antena 1, o facto de João Matos Fernandes, ministro do Ambiente, ser mandatário da candidatura do socialista.

“Eu vi hoje o senhor… o doutor Rui Moreira muito perturbado com o facto de este assunto ser tratado pelo atual ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, que é simultaneamente enquanto cidadão mandatário da minha candidatura. Devo dizer sobre essa matéria que é melhor haver menos crispação, mais espírito construtivo. A cidade do Porto deve muito ao ministro do Ambiente. Acho que, com espírito construtivo, em vez de rabugice, nós vamos conseguir que os bairros da IHRU venham para a Câmara”, afirmou o socialista, em declarações aos jornalistas.

Afinal, era esse o motivo da visita de Manuel Pizarro ao bairro de São Tomé, enfeitado por prédios cinzentos e descascados, cuja única vegetação está amarela ou morta: provar que a transferência destes bairros da IHRU — Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, cuja gestão é da responsabilidade do Estado Central, para a autarquia é a única forma de responder aos problemas daquelas urbanizações.

“Azeredo Lopes é um grande ministro da Defesa”

Palavra puxa palavra, ministro puxa ministro. O apoio de Azeredo Lopes, ministro da Defesa e ex-chefe de gabinete de Rui Moreira, a Manuel Pizarro tornou-se naturalmente tema na corrida eleitoral à Câmara do Porto. Numa altura em que o assalto aos paióis de Tancos dominam a agenda mediática e política nacional, a pergunta impunha-se: apoio de Azeredo Lopes era um ativo ou um ativo tóxico, o candidato socialista foi claro: “Para mim é um enorme orgulho ter o apoio de Azeredo Lopes“.

“Conheci-o em 2013, quando ele era o porta-voz da candidatura de Rui Moreira. Depois disso, trabalhei muito perto com ele, era no fundo o responsável pela ligação política que sustentava o acordo na câmara, é uma pessoa absolutamente extraordinária, um homem de enorme integridade, um professor universitário de méritos reconhecidos, um cidadão exemplar”, sublinhou o socialista.

Ainda assim, e desafiado a comentar a gestão do ministro da Defesa de todo o processo de Tancos, Manuel Pizarro preferiu não responder. Ou melhor, respondeu não respondendo. “Não vou comentar o trabalho de Azeredo Lopes enquanto ministro da Defesa. Acho que conduziu muitíssimo bem dossiers dificílimos como os acontecimentos no Colégio Militar, os infelizes acontecimentos no curso de Comandos e a participação das forças armadas portuguesas em inúmeras missões internacionais. É um grande ministro da Defesa“.

Não foi, ainda assim, por falta de insistência. Nova questão, novo drible de Pizarro. “A situação do furto de Tancos é muito difícil, mas não me verá nunca alinhar com o aproveitamento vil que tem sido feito dessa situação por uma oposição com falha de ideias e com falha de respeito democrático”. E nem mais uma palavra do socialista sobre esse tema.

Só um último comentário sobre João Teixeira Lopes, que esta segunda-feira acusou Manuel Pizarro e Rui Moreira de estarem a tentar criar uma “bipolarização artificial” nas eleições do Porto e recusou estender a mão ao socialista para uma eventual coligação na autarquia.

Acho que é uma operação tática em que João Teixeira Lopes está mergulhado e decidiu transformar o PS no inimigo principal. Mas acho que isso também explica porque é que pela quarta vez João Teixeira Lopes é candidato à Câmara do Porto e veremos se é desta vez que consegue chegar a vereador. No domingo vamos ver se a bipolarização é artificial ou é real. A minha convicção é que a esmagadora maioria dos portuenses já percebeu que se quiser uma verdadeira alternativa à Câmara tem apenas um voto útil e esse voto é no PS”, rematou o candidato socialista.

Álvaro Almeida acusa Rui Moreira de ingratidão para com Rui Rio

A frase: “Não fui eleito com o apoio fundamental de Rui Rio e de pessoas ligadas a Rui Rio e depois rejeitei esse apoio”, disse Álvaro Almeida para Rui Moreira.

A (outra) frase: “É um ministro do Governo e um ministro que tem sofrido dificuldades”, comentou Rui Moreira sobre o apoio de Azeredo Lopes a Pizarro.

A explicação: “Todos os apoios são valiosos. O CDS apoia o nosso movimento e fico muito satisfeito, mas aquilo que estamos a tratar é das eleições do Porto”, adiantou Moreira, sobre a ausência de Assunção Cristas na sua campanha.

O que correu mal: A incapacidade de Ilda Figueiredo em concretizar a posição da CDU sobre acordos pós-eleitorais. Continua a dizer que assumirá todas as responsabilidades, mas garante que nunca vai fazer acordos como fez o PS.

O que correu bem: João Teixeira Lopes. O bloquista resistiu à tentação de estender a mão a Manuel Pizarro, porque sabe que tem de estancar a todo custo uma eventual transferência de votos do Bloco para o PS. Dizer agora que aceitaria uma coligação, era suicídio político.

O que (também) correu bem: Bebiana Cunha. Debate após debate, a candidata do PAN vai expondo as suas propostas para a cidade de uma forma clara e objetiva, sem nunca interromper os adversários ou exceder o tempo definido.

Foi um debate relativamente tranquilo aquele que se travou entre os seis candidatos à Câmara do Porto nos estúdios da Antena 1. Numa altura em que corrida eleitoral entra na sua reta final, já se vai notando algum cansaço entre os concorrentes, que, debate após debate, lá vão repetindo as mesmíssimas propostas e rebatendo os mesmíssimos argumentos. Mas salta também à vista a tensão crescente entre os adversários políticos.

Acabaria por ser Álvaro Almeida a ter a frase da manhã. Num momento em que estava a ser provocado por Rui Moreira — “Olhe, que vai perder o apoio de Rui Rio“, repetia o autarca portuense –, o candidato apoiado pelo PSD perdeu a paciência:

“Sabe, eu não tenho problemas em perder o apoio de Rui Rio, porque eu não são ingrato. Eu não esqueço de quem me apoia. Não fui eleito com o apoio fundamental de Rui Rio e de pessoas ligadas a Rui Rio e depois rejeitei esse apoio e aquilo que foi feito na cidade do Porto. Eu não governei durante quatro anos com o PS e depois, a meia dúzia de meses das eleições, rejeitei esse apoio. Eu não fui eleito com o apoio do CDS e rejeito ser visto com a dirigente desse partido”, disparou Álvaro Almeida.

Sabendo-se da proximidade entre Rui Rio e Álvaro Almeida e sabendo-se também que o antigo presidente da Câmara do Porto patrocina politicamente esta candidatura, as palavras de Álvaro Almeida podem ser interpretadas como um recado indireto do próprio Rui Rio.

Desafiado a responder, Rui Moreira limitou-se apenas a dizer: “A este senhor? Não. Um senhor que tem vergonha de ser do partido que é, não lhe vou responder nada”. Seria o momento mais tenso de todo o debate.

Ainda a propósito do apoio do CDS à sua candidatura, Rui Moreira descartou novamente a hipótese de vir a contar com Assunção Cristas na sua campanha. “Todos os apoios são valiosos. O CDS apoia o nosso movimento e fico muito satisfeito, mas aquilo que estamos a tratar é das eleições do Porto. Mais nada”, rematou Rui Moreira.

Um debate que começou, aliás, com um dos temas que tomou a campanha: o apoio de Azeredo Lopes, atual ministro da Defesa e ex-chefe de gabinete de Rui Moreira, a Manuel Pizarro. Confrontado com a questão, Rui Moreira acabou por dizer, subtilmente, que a passagem de Azeredo Lopes para a trincheira socialista se prende com o momento político sensível que vive. “É opção livre de uma pessoa que faz as suas escolhas. É um ministro do Governo e um ministro que tem sofrido dificuldades“, sugeriu Rui Moreira. E mais não disse.

Os cenários pós-eleitorais também estiveram em jogo durante o debate na Antena 1. Aqui, sem grandes novidades: no bloco central, Rui Moreira continua sem pedir a maioria absoluta, mesmo admitindo que qualquer força política prefere “governar a cidade com os seus“; Manuel Pizarro insiste em afirmar-se como o único que tem uma “enorme capacidade de diálogo, quer à esquerda quer à direita“; e Álvaro Almeida mantém a promessa irrevogável de se manter como vereador da oposição em caso de derrota.

À esquerda, Ilda Figueiredo permanece esfíngica, dizendo que “assumirá todas as responsabilidades” que os eleitores do Porto entenderem atribuir à CDU, mas não “fará acordos de governação como fez o PS de Manuel Pizarro”. E João Teixeira Lopes resistiu hoje à tentação de estender a mão a Manuel Pizarro — até porque sabe, neste momento, que o seu maior desafio é evitar que os votos do Bloco fujam para o PS.

— “Aceitaria coligar-se com Manuel Pizarro?”
— “Manuel Pizarro ao contrário do PS nacional escolheu no Porto coligar-se com a direita…”
— “Mas aceitaria um cargo numa equipa de Manuel Pizarro?”
— “Isto não vai lá por cargos…”
— “Está um bocadinho envergonhado por dizer que sim”, ironizava Manuel Pizarro.
— A expressão cargo não foi a correta, mas aceitaria um acordo com Manuel Pizarro?”, insistia o moderador.
— “Acho, com toda a honestidade, que o PS vai perder as eleições”, rematou João Teixeira Lopes.

Estava assim ultrapassado o capítulo das coligações pós-eleitorais, onde parece haver pouca possibilidade de consenso entre as várias forças políticas em jogo. Se as sondagens recentes se concretizaram, os resultados do dia 1 de outubro vão tornar a Câmara muito difícil de governar.

Consenso parece existir em relação ao caso Selminho, com toda a oposição a Rui Moreira a exigir que os terrenos em disputa revertam para a Câmara Municipal do Porto. O autarca portuense limitou-se a dizer que tem sido dito “um conjunto de mentiras sobre esse tema“, que podem ser rebatidas no site da candidatura e que o tema “não tem sido assunto na rua”. Nem mais um comentário.

Uma de duas notas rodapé: por duas vezes ao longo do debate se sentiu a tensão subtil entre Bloco de Esquerda e CDU. Depois de João Teixeira Lopes ter elogiado o facto de todas as forças políticas terem cumprido o repto bloquista e exigir a reversão dos terrenos da Selminho para a Câmara do Porto, Ilda Figueiredo tomou a palavra para lembrar que a CDU levou o “tema à Câmara há mais de um ano”.

Num outro momento, a tensão não foi assim tão subtil. Depois de João Teixeira Lopes ter defendido o fim da concessão de estacionamento e da recolha do lixo, o moderador do debate passou a vez a Ilda Figueiredo, dizendo “imagino que a CDU concorde com o Bloco de Esquerda…”. Estava o caldo entornado. “O Bloco de Esquerda é que está de acordo com a CDU”, respondeu Ilda. “Estamos os dois de acordo, Ilda. Mas se quiser o troféu, eu dou-lhe o troféu“, desesperou Teixeira Lopes.

Destaque ainda para a prestação de Bebiana Cunha, candidata do PAN, que, debate após debate, vai correndo na sua própria pista, expondo as suas propostas para a cidade de uma forma clara e objetiva, sem nunca interromper os adversários ou exceder o tempo definido.

Rui Moreira. “Não tenho medo nenhum de não ter maioria absoluta”

A frase: “A maioria absoluta não é uma coisa que se pede. É uma consequência.”

A (outra) frase: “Não respondo a esse senhor. Estou a apresentar Campanhã, não sei se ele sabe onde é”, respondeu Rui Moreira, quando questionado sobre as acusações de Álvaro Almeida de ingratidão para com Rui Rio.

A promessa: “Estamos criar novas centralidades, para que o Porto seja todo ele uma centralidade.”

Não há inquietação nenhuma, nem há medo nenhum, nem receio nenhum“. A garantia é de Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, que entra para a segunda e derradeira semana de campanha eleitoral sem que qualquer sondagem garanta a maioria absoluta ao candidato.

Esta tarde, durante uma ação de campanha na zona mais oriental da cidade, Rui Moreira assegurou não estar “nada preocupado” uma possível situação de ingovernabilidade na autarquia depois das eleições. “Não tenho medo nenhum. Olhe, neste momento não tenho maioria e não me sinto nada problematizado. A cidade não parou”, sublinhou Moreira.

Ainda assim, e perante a insistência dos jornalistas, o candidato independente assumiu o que todos candidatos desejam. “É evidente se perguntar a qualquer candidato o primeiro objetivo é ganhar, e o segundo é ter maioria absoluta. Só isso, mais nada”, insistiu o autarca.

Desafiado a explicar por que razão não pede abertamente a maioria absoluta — afinal, como o próprio assumiu, é esse o objetivo de qualquer candidato –, Rui Moreira arrumou a questão. “A maioria absoluta não é uma coisa que se pede. É uma consequência“.

O dia de segunda-feira acabou por ficar marcado pelas palavras duras de Álvaro Almeida, que acusou Rui Moreira de ingratidão para com todos os que o ajudaram a chegar onde chegou — o CDS, o PS, mas, e sobretudo, Rui Rio. Quando confrontado com as declarações do candidato apoiado pelo PSD, Rui Moreira escusou-se a responder. “Tive um debate em que tratei desse assunto. Não respondo a esse senhor. Estou a apresentar Campanhã, não sei se ele sabe onde é“, rematou o autarca.

Rui Moreira aproveitou uma visita a um armazém fechado com com mais de 700 m2 — onde vai nascer uma produtora de música e a fonoteca municipal — para demonstrar como é possível reabilitar a cidade através de um sã convivência com os investidores privados. A receita do autarca passa, precisamente, por aí: dar todas as condições para que os investidores privados possam requalificar e reaproveitar os edifícios inutilizados para que nasçam novos projetos como este. “Tem de haver uma enorme aposta na zona oriental do Porto. É onde a cidade precisa de se reequilibrar. Estamos a criar novas centralidades, para que o Porto seja todo ele uma centralidade“, explicou o autarca.

Afinal, Ilda Figueiredo não descarta entendimento com Rui Moreira

A frase: “Sempre dissemos que não faremos uma negociação como a que Rui Moreira fez com o PS, em que o PS prescindiu do seu programa.”

A promessa: No final da arruada, o candidato à Assembleia Municipal Rui Sá, que foi vereador de Rui Rio, explicou quais foram as três condições que a CDU impôs em 2002 para dar a mão a Rui Rio, eleito sem maioria absoluta. Primeira: “um pelouro de relevância, e não um pelourinho”. Segunda: ” Meios técnicos, humanos e financeiros” para executar bem o trabalho. Terceira: “O facto de aceitar não significa perda de independência”. Fica a dica caso Rui Moreira vença as eleições sem maioria absoluta e procure apoio na CDU.

O que correu bem: À medida que a arruada ia subindo até Santa Catarina, foram várias as pessoas que foram ter com Jerónimo de Sousa e Ilda Figueiredo para os habituais beijinhos e cumprimentos. Das janelas, várias pessoas diziam adeus. A arruada foi bem recebida. Jerónimo de Sousa, no entanto, não se ilude. “Não confundamos a simpatia com o voto”, disse. Há que ir votar.

Arruada com Secretário-Geral à vista tem de ser caprichada e perto de uma centena de militantes responderam ao chamamento da CDU. Jerónimo de Sousa, a candidata llda Figueiredo e o candidato à Assembleia Municipal Rui Sá escolheram a estátua do trabalhador ardina, na Avenida dos Aliados, como ponto de partida para a derradeira caça ao voto, antes das eleições de 1 de outubro. É que as sondagens colocam o Bloco de Esquerda a subir e cada vez mais próximo dos comunistas.

“Escreva aí que somos todos bons rapazes”, diz um militante ao Observador. E as raparigas? “Pois, isso agora está na moda. Querem normalizar tudo. É por isso que não gosto do Bloco de Esquerda”, diz o homem de cabelos brancos.

Não está fácil para a CDU destacar-se do Bloco de Esquerda da derradeira corrida ao voto. A subida pela Rua 31 de Janeiro corre bem a Jerónimo e a Ilda, com algumas pessoas a irem ter diretamente com eles para beijinhos, abraços e palavras de apoio. Até o candidato do PTP, José Manuel Costa Pereira, que ia a passar na Rua de Santa Catarina, foi ter com a rival para lhe desejar “felicidades”. Quando há uma semana a bloquista Catarina Martins veio dar apoio ao seu candidato, João Teixeira Lopes, a receção nas ruas também foi boa. Nos discursos, ambos os líderes — e Jerónimo fez isso esta segunda-feira — puxam mais pelos feitos a nível nacional do que pelo programa específico que têm para o Porto.

O Observador perguntou, então, a Ilda Figueiredo o que é que nas urnas vai distinguir um voto na CDU de um voto no Bloco de Esquerda. “A CDU é que está no terreno, no contacto direto com os moradores, associações e instituições da cidade, ouvindo as boas propostas e levando-as à Câmara”, disse, como que a lembrar que o Bloco de Esquerda nunca teve um vereador no Porto. “O povo sabe que é a CDU que fez, faz e tem condições para fazer muito mais.”

Por falar em condições, na Rua de Santa Catarina havia um camião do lixo parado mais adiante, no meio da rua. A máquina do partido está bem oleada e avisou discretamente Jerónimo de Sousa que o melhor era parar ali mesmo para responder às perguntas dos jornalistas. Uma delas é sobre possíveis coligações e acordos futuros. “Ainda não fizemos essas contas”, desviou-se o Secretário-Geral, preferindo sublinhar que “a CDU faz falta tanto em minoria como em minoria”. O camião do lixo desaparece, um membro da comitiva coloca discretamente a mão no fundo das costas de Ilda Figueiredo como sinal de que a marcha é para continuar, e caminham-se os últimos metros até ao palanque montado no meio da rua.

“A CDU foi a única alternativa na Câmara do Porto”, afirmou ao microfone Ilda Figueiredo, a lembrar aos eleitores que o adversário socialista Manuel Pizarro esteve com Rui Moreira até maio. “Até ao último dia não podemos perder um único voto”, sublinhou mais do que uma vez Jerónimo de Sousa.

Já no final dos discursos, Ilda Figueiredo diria ao Observador e ao Expresso que, sim, vai esperar pela contagem dos votos para “saber o que é que o povo do Porto quer”. Mas, desta vez, não descartou uma negociação com Rui Moreira caso este vença sem maioria. Se no segundo debate televisivo Ilda Figueiredo disse que a CDU não faz “acordos com partidos de direita”, agora especifica que o que nunca faria era a negociação “que o PS de Manuel Pizarro aceitou” há quatro anos. “O PS prescindiu do seu programa”, disse, dando a entender que, no dia 2 de outubro, Rui Moreira (ou outro candidato que vença com maioria simples) pode propor à CDU dois cenários: ou dá a llda Figueiredo um pelouro relevante, ou permite que a CDU ponha em andamento parte do seu programa. Tal como acontece atualmente no Governo, com a Geringonça.

BE. João Teixeira Lopes mantém tabu sobre apoio a Pizarro

A frase: “Rui Moreira não vai contar com o voto ou apoio do Bloco, respondeu Teixeira Lopes. Pormenor: a pergunta era sobre um eventual apoia do Bloco ao PS.

A (outra) frase: “Divórcio entre Moreira e Pizarro? Quanto muito houve um parêntese na relação”

A queixa: Rui Moreira só construiu “16 habitações para a cidade”, quando há “mil famílias à espera”.

A promessa: “Propomos 2.500 casas para habitação – 1.000 para habitação social, 1.500 para rendas acessíveis, mas com financiamento público.”

Não foi desta. A questão já tinha sido colocada durante o debate organizado pela Antena 1: se o PS vencer e João Teixeira Lopes conseguir ser eleito vereador, aceitará coligar-se com o socialista? Durante a manhã, o bloquista esquivou-se. À tarde, fez o mesmo.

Questionado sobre uma possível coligação por parte do Bloco de Esquerda com o PS, João Teixeira Lopes afirmou apenas que o atual presidente do município “não vai contar com o voto ou apoio” bloquista, sublinhando que essa “é uma garantia que mais ninguém pode dar” — uma crítica implícita a Ilda Figueiredo, que mantém em aberto a possibilidade de apoiar Rui Moreira.

Em resposta aos jornalistas sobre um ‘divórcio’ entre Rui Moreira e Manuel Pizarro, João Teixeira Lopes, disse que “quanto muito houve um parêntese na relação”, criticando ainda o “poliamor de Manuel Pizarro, que se diz disponível para todo o tipo de coligações”.

Nós achamos que isso não é sério, credível, e temos de dizer às pessoas com toda a clareza que é preciso fazer escolhas. E é preciso fazer escolhas em favor de um voto que seja realmente útil. Que tal como no país, mas também como na cidade, se façam as escolhas certas. Com uma visão para a cidade que não é dos privados, mas sim do interesse público”, atirou.

O candidato do Bloco de Esquerda aproveitou a ação de campanha para criticar Rui Moreira por só ter construído neste mandato “16 habitações para a cidade”, quando há “mil famílias à espera” de casa.

O cabeça de lista frisou que “o Porto tem uma grande necessidade de habitação social”, como também de “recuperação de habitação, porque 20% do parque habitacional está abandonado e devoluto”, aconselhando para esse efeito um “esforço com fundos públicos”.

“Para isso propomos 2.500 casas para habitação – 1.000 para habitação social, 1.500 para rendas acessíveis, mas com financiamento público”, explicou, adiantando ainda que, na opinião do partido, tanto Manuel Pizarro, candidato do Partido Socialista (PS) e ex-vereador da Habitação no atual mandato, como Rui Moreira (independente) “querem dar um bodo aos privados com as suas propostas de construção”.

“Não podemos ter apenas a recuperação das fachadas [das habitações], temos também que ter a preocupação de integrar socialmente as pessoas, de fornecer atividades, de lhes dar uma alternativa de cidadania e de vida. Viver num bairro é mais do que uma casa, é também criar uma relação com a cidade”, defendeu.

* Com Agência Lusa

O dia de ontem no Porto foi assim:

Diário do Porto. Um tabu no PSD, os ciclistas do PS e o cata-vento de Moreira

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