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Um nasceu em Boliqueime, longe da Lisboa cosmopolita. O outro é alfacinha de gema e cresceu rodeado pela excelência. Um habituou-se a olhar a vida pela lente dos números. O outro estudou Direito e fez-se amante das letras. Um é um homem de família, que exibe politicamente. O outro acredita na “família católica”, embora tenha acabado por se divorciar ao fim de oito anos. O primeiro chegou a líder partidário graças a “circunstâncias inesperadas”. O segundo, apesar de criado para “altos desígnios”, falhou várias eleições até ser o nº 1 da nação.

Aníbal Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa parecem ser antítese um do outro. As origens, a família e a formação profissional formataram dois homens tão diferentes. Por esta altura, o homem que conduziu os destinos do país nos últimos 30 anos é, para muitos portugueses, uma figura impopular, um Presidente em fim de ciclo que vê agora chegar ao cargo que ocupou durante uma década uma espécie de anti-Cavaco. Se a vida no Palácio de Belém coubesse numa tirinha de BD, o herói seria em tudo diferente do anterior. Vamos às diferenças?

Marcelo, o anti-Cavaco…

As origens: um criado em Boliqueime, o outro para “altos desígnios”

“Pseudo-iluminado”, “bimbo”, “banal”, “curto”, “limitado”, “paroquial”, “parolo” e “piroso”. No fundo, “provinciano”. Durante a curta, mas difícil convivência entre os dois, o jornal Independente, liderado por Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas, habituou-se a retratar Aníbal Cavaco Silva assim.

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Nascido em Boliqueime, de origens modestas, o homem que desprezava a classe política sempre vendeu a imagem de self-made man. Longe do luxo e a custo de muito esforço, fez o ciclo preparatório e depois o Curso Geral do Comércio por terras algarvias, enquanto o pai se dedicava ao cultivo de frutos secos e ao comércio de combustíveis.

Só chegaria a Lisboa em 1956 e aí começaria o percurso académico de excelência que o leva ao doutoramento em Economias Públicas pela Universidade de York. Pelo caminho, ainda foi enviado em comissão para Moçambique, pouco depois de casar com Maria Cavaco Silva, em 1963. Regressado a Portugal, pouco depois da Revolução, tornar-se-ia quadro do Banco de Portugal e professor catedrático – a vida política bateria à porta pouco depois.

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Cavaco Silva, o segundo a contar da esquerda, ao lado da mãe

E Marcelo? Alfacinha, embora com raízes minhotas, filho de uma assistente social e de um médico e político do regime do Estado Novo, quase-quase afilhado de Marcello Caetano, de quem foi herdar o nome, estudante brilhante, primeiro, no liceu Pedro Nunes, por onde desfilava parte da elite lisboeta, e, depois, na Faculdade de Direito da Clássica de Lisboa – onde acabaria a dar aulas.

A mãe, lê-se na biografia de Marcelo, criou-o para altos desígnios. Marcelo Rebelo de Sousa acabou por conviver com alguns dos melhores e mais brilhantes da sua geração. Desde logo Eduardo Barroso, amigo de infância, mas também com Leonor Beleza, Braga de Macedo e António Guterres, com quem se cruzou no católico “Grupo da Luz”.

Acabou por não cumprir o serviço militar obrigatório por se encontrar a fazer o mestrado, em 1973. Não fosse o 25 de abril, diz, o teria sido destino certo. Professor e professor catedrático, deputado constituinte, jornalista e diretor-adjunto do Expresso e fundador do Semanário – um dos mais brilhantes, garante com quem ele trabalhou.

Formação: o homem dos números e o homem das letras

Economista de profissão, ex-ministro das Finanças, homem analítico e dos números – o que ajuda a pintar o retrato de um homem pouco dado afetos. Sobre Aníbal Cavaco Silva, Ricardo Araújo Pereira, por exemplo, haveria de dizer que o ainda Presidente era bem capaz de ser o tipo que desdenha das humanidades e diz “letras são tretas”. Para a história ficou a confusão entre Thomas Mann e Thomas More, o caso “José Saramago” e os nove – e não dez – cantos d’Os Lusíadas.

A Marcelo não se conhecem confusões dessa natureza. É o homem da letras e do Direito. Durante a campanha presidencial, houve mesmo adversários que o chegaram a acusar de ler menos do que diz ler. Os serões de domingo à noite em que gastava largos minutos a apresentar livros e mais livros e mais livros são marca de água do “professor”.

O poder absoluto vs. o negociador

Aníbal Cavaco Silva foi ministro das Finanças e depois primeiro-ministro com duas maiorias absolutas, um feito até agora inimitável. A única experiência governativa de Marcelo Rebelo de Sousa foi ser secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros com Francisco Pinto Balsemão.

Quando foi primeiro-ministro, entre 1985 e 1995, Cavaco deixou claro como encarava a governação: “Um governo que seja um todo, que saiba aquilo que quer. Que não seja uma federação de ministros e de secretários de Estado, que não seja um barco sem remos e sem vela. Que seja um barco que tem um leme, alguém a segurar no leme e apontando o caminho”.

Se é verdade que os primeiros anos de cavaquismo prolongaram o estado de graça do professor, os últimos foram uma sucessão de casos. O bloqueio da ponte 25 de Abril, com carga policial, o aumento das propinas e os protestos nas escadarias da Assembleia da República, os furos bombásticos d’O Independente e os escândalos que envolveram o Executivo até aos confrontos entre “Secos e molhados”. Tudo isto contribuiu para minar a imagem do então primeiro-ministro.

Mas seriam as famosas forças bloqueio que mais grãos de areia puseram nas engrenagens do Executivo. Aníbal Cavaco Silva via inimigos em todo lado: na oposição, em Mário Soares, até no Tribunal de Contas, que várias vezes reprovou as contas do Governo.

Em julho de 1993, em plena campanha eleitoral para as autárquicas, Cavaco Silva perderia a paciência: “Entretenham-se nos palácios, nos almoços, na intriga e na criação de factos políticos. Mas deixem-nos trabalhar. Deixem-nos trabalhar para desenvolver Portugal”. As imagens podem ser vistas aqui.

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Cavaco Silva como primeiro-ministro

Marcelo não se queixou das forças bloqueio, até porque nunca chegou a primeiro-ministro. A experiência governativa tem sido apontada como uma lacuna no currículo do professor catedrático de Direito da Faculdade de Lisboa. O agora Presidente falhou a candidatura à Câmara de Lisboa, em 1989, foi líder do PSD durante três anos, mas nem sequer chegou a poder candidatar-se a primeiro-ministro pois uma zanga na aliança PSD/CDS acabou por levá-lo à demissão, tendo sido substituído por José Manuel Durão Barroso.

Enquanto líder da oposição, no entanto, Marcelo Rebelo de Sousa ganhou fama de negociador empenhado. Com o amigo António Guterres como primeiro-ministro, o então presidente do PSD negociou vários acordos com o Governo minoritário socialista.

Durante a campanha presidencial (e ainda antes), Marcelo fez questão de puxar dos galões de negociador. “António Guterres e eu, no meio de grandes refregas político-partidárias, chegávamos a estar no mesmo hotel em vários pontos da Europa e conseguíamos, sem que os jornalistas soubessem, encontrarmo-nos às tantas da noite ou no quarto dele ou no meu quarto para discutirmos o que era bom para o país”, confidenciou, ainda a estrada para Belém não estava no horizonte.

O papel da família e o católico que não quis recasar

Casaram-se ambos com 24 anos e tiveram dois filhos cada um. A partir daí, os rumos não poderiam ter sido mais diferentes: Aníbal e Maria Cavaco Silva já celebraram as bodas de ouros; Marcelo e a primeira mulher, Ana Cristina Motta Veiga, divorciaram-se ao fim de oito anos de casamento.

O próprio Marcelo admitiria, anos mais tarde, que a mulher sofrera com a ausência do professor e acabou por não aguentar a distância que cresceu entre o casal. “A Cristina tem muito bom feitio mas precisava de atenção. Eu acabei por nunca lhe dar essa atenção”.

Entretanto encontrou na ex-aluna Rita Amaral Cabral uma namorada com quem nunca quis casar – a relação começou em 1981. “Tive a sorte de encontrá-la porque ambos partilhamos a mesma convicção católica de que o matrimonio dura até à morte. Tive a sorte de que a mulher a quem tive de pedir sacrifícios concordasse inteiramente [com eles]”, justificaria mais tarde.

Na biografia de Marcelo, assinada pelo jornalista Vítor Matos, o agora Presidente da República lembra como desistiu da ideia de avançar para as eleições presidenciais de 2016 depois de Rita Amaral Cabral ter sofrido um problema cardíaco. Interpretou-o como um “sinal da providência divina”.

Ainda assim, e apesar de aparecerem várias vezes em encontros públicos, Rita Amaral Cabral nunca acompanhou o lado político de Marcelo, muito menos as campanhas eleitorais. Nem tampouco vai participar na tomada de posse de Marcelo ou vestir a pele de primeira-dama – será a primeira vez que assim acontece.

Inseparáveis desde sempre, Maria Cavaco Silva acompanhou o marido em todas as campanhas eleitorais e ao longo de todas as funções públicas do marido. Como primeira-dama, tornou-se também ela um alvo dos críticos de Cavaco, que sempre insistiram em colar-lhes o rótulo de provincianos – Maria Cavaco Silva tem mesmo direito a uma página de sátira no Facebook, “Cavaca, a Presidenta“.

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Em 2011, de resto, Cavaco Silva faria questão de levar a família mais próxima para a tomada de posso como Presidente da República.

A maneira de ser: o austero e o homem dos afetos

Marcelo prometeu uma Presidência de afetos. Cavaco acaba o mandato de forma polémica. Marcelo é imprevisível. Cavaco é institucional, formal, frio. Marcelo é popular. Cavaco não – embora já o tenha sido nos anos otimistas da governação. Marcelo é hiperativo, divertido, caloroso. Cavaco é tudo menos isto. Marcelo é Festa do Avante! e Estoril Open. Cavaco, mais controlado, menos expansivo, deixa o cargo isolado numa espécie de torre marfim.

Marcelo é divertido, Cavaco não o é, de todo. Pelo menos foi essa imagem que foi crescendo ao longo dos últimos anos. Já poucos se lembrarão de Cavaco Silva a dançar ao Scatman John na festa de passagem de ano, em plena campanha eleitoral, ou a subir ao coqueiro em São Tomé.

Relação com os media: o “homem que não lia jornais” e o “homem que fazia jornais”

Aqui as diferenças não podiam ser mais gritantes. São duas mitologias diferentes: entre o “homem que não lia jornais” e o “homem que fazia jornais” são páginas e páginas de distância.

Ainda assim, é melhor colocar um travão. A ideia de que Cavaco Silva não lia jornais foi um rótulo que se lhe colou, com algum exagero à mistura – embora o próprio o tenha ajudado a alimentar. A relação conturbada com O Independente não terá ajudado Cavaco ficar um grande fã da comunicação social. O jornal, não tendo derrubado o cavaquismo, expôs os seus vícios ou excessos.

Publicamente, Cavaco Silva ia ignorando os golpes e lá ia dizendo que não ligava muito à comunicação social. E assim nascia um mito. Em janeiro de 1994, durante a inauguração da Escola Superior de Comunicação Social, Cavaco Silva teve uma afirmação no mínimo curiosa – sobretudo, atendendo ao espaço que acabar de inaugurar. “Dedico cinco minutos de manhã e cinco minutos à tarde a ler os jornais, porque tenho muito que trabalhar”. Em 2011, durante a corrida presidencial de 2011, nova tirada duvidosa de Cavaco Silva, descontente com a, alegada, falta de cobertura adequada da comunicação social. “Eu não vejo televisão e não leio jornais, quase, há muito tempo”.

Marcelo Rebelo de Sousa não podia ser mais diferente. É um entertainer puro e duro. Habituou-se a dar notas aos colegas ainda no liceu Pedro Nunes, hábito que havia de aprimorar na TSF, o primeiro órgão de comunicação social que abriu portas a Marcelo, o Comentador. O “professor” passava a estrela televisiva num piscar de olhos de 15 anos.

Antes, foi jornalista e diretor-adjunto do Expresso. E lá deu azo a uma série de crónicas e intrigas que lhe valeram a antipatia de uma grande parte do partido – Marcelo chegou mesmo a escrever notícias sobre si mesmo. As tropelias foram várias e Francisco Pinto Balsemão que o diga. A rábula do “Balsemão é lélé da cuca” é apenas o episódio mais conhecido de uma inimizade que foi crescendo por essa altura.

Do Expresso vinham muitas vezes as notícias mais duras para o Governo de Balsemão. Um exemplo. Na altura em que Aliança Democrática começava a dar os primeiros sinais de desgaste, Marcelo chegou mesmo a escrever que não havia “vergonha nenhuma” em pensar que Balsemão fora “uma escolha infeliz ou desastrosa”. Freitas do Amaral haveria de escrever nas suas memórias: “O jornal andava a matar o pai”, como contava o jornal i. E era bem verdade.

Francisco Pinto Balsemão não despediu Marcelo, mas nunca o terá perdoado. O “professor” acabaria por fundar o Semanário mais tarde, para fugir aos radares de Balsemão. E lá foi-se dedicando a minar o bloco central de Mário Soares e Mota Pinto, ao mesmo tempo que ajudava a alimentar a sua corrente interna no PSD, a Nova Esperança, onde desfilavam Durão Barroso, Pedro Santana Lopes, José Miguel Júdice e António Pinto Leite, por exemplo. Curiosamente, Cavaco Silva seria coroado presidente do PSD no célebre Congresso da Figueira apoiada pela mesma Nova Esperança que suspirava por um Marcelo que decidiu não avançar.

Enquanto figura política, Marcelo habituou-se a ser um “fazedor de factos políticos”, como diriam mais tarde sobre ele. O agora Presidente da República não dava ponto sem nó: era a fonte privilegiada de muitos jornais e distribuía semanalmente várias manchetes, escolhidas a dedo. Eram as “vichyssoises” ou as “marcelices” que ficaram para a história.

… e afinal é tão parecido

Respiram política, mesmo que o neguem

Podem ser de estirpes diferentes, mas não há duvidas: Aníbal Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa pertencem à mesma espécie de hommus politicus.

E aqui, é preciso desconstruir outro mito de Cavaco Silva. O ainda Presidente da República alimentou (e ainda alimenta) a tese de que é e sempre foi um “não político”. É isso mesmo que escreve na sua autobiografia. “Quiseram as circunstâncias que fosse um ano ministro das Finanças e do Plano e 10 anos primeiro-ministro sem nunca ter ocupado o lugar de deputado, o que me valeu muitas críticas da parte da oposição. Para mim trata-se apenas de mais um indicador de que fui, de certo modo, um ‘não político’ no poder”.

A lenda que se criou (e que ele próprio ajudou a desenhar) em torno do Congresso da Figueira da Foz ajuda a pintar este retrato. Cavaco Silva bem jura que saiu de Boliqueime em direção à Figura para fazer a rodagem do Citroën BX e sem “qualquer intenção de ser eleito líder do PSD”, mas quem assistiu ao processo conta uma versão muito diferente.

O terreno foi preparado e Cavaco também. Marcelo hesitou e Rui Machete também. Cavaco passou no teste e provou ser político de gema. A forma como geriu os dez anos de interregno entre São Bento e Belém ajudam a desconstruir o mito: aproveitou para lavar a imagem de um político caído em desgraça nos últimos anos do cavaquismo e ainda ajudou a apear Pedro Santana Lopes. Um político não faria melhor.

Cavaco Silva na apresentação da autobiografia, no Herman SIC

E Marcelo Rebelo de Sousa? Marcelo é político da cabeça aos pés, assim o vão pintando adversários e admiradores. Diferente (muito diferente) de Cavaco Silva. Conspirador, racional, calculista, avesso ao risco, escreveria o jornalista Vítor Matos, na biografia de Marcelo Rebelo de Sousa. Mas político.

Tão populares, à sua maneira

Tornou-se quase uma piada de corredor: Cavaco Silva venceu quatro eleições, mas todos juram não ter votado nele. A verdade é que Cavaco foi o primeiro (e único) político português a conseguir duas maiorias absolutas. E ainda foi eleito Presidente da República, derrotando nomes como Mário Soares e Manuel Alegre. Sempre à primeira volta.

Para a memória do cavaquismo, ficam as avassaladoras caravanas do partido nos anos 90, como Portugal nunca então tinha presenciado. Uma demonstração de força e de popularidade de Cavaco Silva, que, por essa altura, se confundia com o próprio PSD. Apesar de terminar o mandato como o Presidente com o mais baixo índice de popularidade de sempre, Cavaco foi uma das figuras mais populares da democracia portuguesa.

Marcelo Rebelo de Sousa também, embora nunca chegado a primeiro-ministro. Foi líder do partido, mas não cumpriu o destino. Pelo meio, ainda perdeu a corrida à Câmara Municipal de Lisboa para Jorge Sampaio, o mesmo que derrotaria Cavaco Silva nas presidenciais de 1996.

Mas a popularidade de Marcelo foi-se construído por outro caminho. Marcelo, a estrela de televisão, o líder de audiências, o comentador por excelência, o homem que durante 15 anos falou semanalmente de economia, futebol, livros ou, claro, política para milhões de portugueses. Fê-lo de uma forma irrepetível e cativante. Conspirou, manipulou e condicionou adversários e ganhou mais poder do que muitos protagonistas políticos alguma vez sonharam ter.

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Aníbal e Maria Cavaco Silva durante a campanha para as legislativas

Um veio da esquerda para a direita, o outro da direita para a esquerda. Ambos mudaram

Os dois fizeram percursos dentro do próprio partido. Durante os dez anos como primeiro-ministro, Cavaco Silva foi acompanhando o processo de liberalização da economia com a componente social – foi ele, por exemplo, quem criou o 14º mês dos pensionistas. Alguns dirão que o caminho escolhido pelo então primeiro-ministro foi insuficiente e que agravou as desigualdades sociais, outros dirão que Cavaco só fez o porque jorrava dinheiro das torneiras europeias.

Já como Presidente da República, e numa altura em que o Governo de Pedro Passos Coelho anunciava mais cortes nas pensões e nos salários, acompanhados por aumento de impostos, foi Cavaco um dos primeiros a pronunciar-se publicamente contra essas medidas.

Nos últimos anos, no entanto, e com os sinais de consolidação orçamental e recuperação económica a brotarem, Cavaco acabaria por se aproximar do anterior Governo, defender a contenção como receita para o sucesso e pregar contra os perigos da receita escolhida pelo atual Executivo socialista. Fez uma viagem da esquerda para a direita do PSD.

Marcelo fez exatamente o contrário. Como opositor corrente balsemista e crítico do Bloco Central, Rebelo de Sousa fez de tudo para encostar o PSD à direita e para cortar os laços com o PS. Cavaco Silva acabaria por lhe fazer a vontade e Marcelo começava aí a sua viagem até à “esquerda da direita”. Mais tarde, como líder do partido, desenhou acordos de regime com António Guterres. Depois, como comentador (sobretudo) e como candidato a Presidente da República não deixou de se demarcar da linha de austeridade escolhida pelo Governo de Pedro Passos Coelho.

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Marcelo Rebelo de Sousa e o famoso mergulho no Tejo