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HUGO AMARAL/OBSERVADOR

HUGO AMARAL/OBSERVADOR

"Disseram-me para falar de sexo como se estivesse a fazer um bolo"

Primeiro quis ser pintora e pianista. Depois atriz. A sexologia veio por acaso mas deu-lhe fama nacional. Nesta entrevista de vida, Marta Crawford recorda como era dizer "felácio" em direto e na TV.

“Mas vamos falar sobre a minha vida?” A ideia parece surpreender Marta Crawford que, depois de nos receber no restaurante Bica do Sapato, onde é cliente habitual, admite ser reservada. “Sim, vamos falar”, respondemos. Marta sorri, meio nervosa, e a pouco e pouco deixa-se levar pela conversa. Pode ser tímida mas as palavras fogem-lhe com alguma facilidade, sobretudo quando a conversa é a importância da sexualidade na vida das pessoas.

Crawford — o apelido é herança de um casamento de 19 anos — é talvez a sexóloga mais conhecida no país. Deu a cara em nome do (bom) sexo quando se estreou na televisão com o programa “AB…Sexo”, já lá vão mais de dez anos. Apesar da forma descontraída com que sempre falou do tema, Marta Crawford nasceu no seio de uma família conservadora sem jeito para essas conversas. E se chegou a levar o rótulo de adolescente rebelde foi apenas por causa das roupas por vezes extravagantes que usava: ao Observador garante que nunca experimentou nenhuma droga.

A sexóloga que já entrou na casa de tantos portugueses quis em tempos ser pianista, pintora e atriz. Pisou até os palcos do teatro A Barraca, onde conheceu o pai dos dois filhos — Bárbara, de 24 anos, e João, de 20. Aos 47 anos, Crawford garante que só vestiu a pele de apresentadora pelo sentido pedagógico da missão — até porque ainda há muito (mesmo muito, assegura) para aprender.

“Nós sabemos que a vagina não tem interesse nenhum, mas as pessoas continuam a insistir, a achar que a vagina é o suprassumo do prazer sexual feminino. Não é, é o clitóris.”

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Estamos na Bica do Sapato, um lugar que costuma frequentar. Já alguém aqui se dirigiu à Marta como sexóloga e não como cliente?
Aqui especificamente não. As pessoas já me abordaram algumas vezes, mas não é comum abordarem-me no meio da rua. Acho que as pessoas ficam intimidadas, não pelo meu ar descontraído, mas pelo tema em si. Apesar de toda a gente falar de sexo, o facto de as pessoas se aproximarem de mim tem um significado, é porque têm uma questão [de cariz] sexual para fazer. Se calhar só mesmo uma ou outra pessoa mais descontraída [é que se aproxima]: lembro-me de um senhor muito velhinho que veio ter comigo numa loja de roupa de senhora; viu-me no centro comercial, foi atrás de mim e nem se apercebeu onde é que estava. Queria falar comigo e colocar-me uma questão…e eu ali a tentar falar mais baixo — ele não ouvia bem e eu não estava propriamente no sítio certo para responder, mas pronto…

Lembra-se de qual era a pergunta?
Já foi há muito tempo, não me recordo bem. Mas acho que o senhor ia ter uma consulta de urologia e tinha uma dúvida qualquer e, aproveitando que eu estava ali, queria que lhe respondesse. Fez bem, mais vale isso.

Se cobrasse dinheiro por todas as vezes que já deu conselhos de graça seria uma pessoa rica?
Já dei muitos conselhos, mas não foram na rua. Muitas vezes as pessoas mandam e-mails ou mensagens, sobretudo desde que começou a haver redes sociais como o Facebook. Há muitas a quem respondo e há outras para as quais não tenho tempo. Mas também dou conselhos em contexto de palestras ou quando vou a escolas… há sempre as pessoas que ficam para o fim para colocarem uma questão.

"Às vezes as pessoas já procuraram ajuda em diversos sítios, mas mais do que a solução imediata, querem alguém que as oiça e que as encaminhe, que diga que é uma coisa que também acontece a outras pessoas. As pessoas querem é um bocadinho de tempo para serem ouvidas."

Sente que é preciso coragem para lhe fazerem uma pergunta?
É variável. Há pessoas que, de facto, estão ali muito aflitas para fazer a questão, que descobrem-me nas redes e precisam mesmo de desabafar — é quase como se isto fosse a última Coca-Cola do deserto, no sentido em que precisam mesmo que alguém lhes responda. Acho que as pessoas muitas vezes são corajosas porque há histórias que contam e que relatam… e mesmo no consultório, quando é a primeira vez… Há histórias de vida complexas e todas as que têm que ver com abuso são muito difíceis de integrar depois na vida adulta. Muitas vezes são segredos que são relatados pela primeira vez. Lembro-me de uma senhora que me disse numa loja não há muito tempo “eu gosto de si, um dia destes vou lá contar uma coisa que nunca contei a ninguém”. Fez-me esta conversa num espaço público. Às vezes as pessoas já procuraram ajuda em diversos sítios, mas mais do que a solução imediata, querem alguém que as oiça e que as encaminhe, que diga que é uma coisa que também acontece a outras pessoas. As pessoas querem é um bocadinho de tempo para serem ouvidas.

Tenho ideia de que os pais podem influenciar a nossa autoestima e, consequentemente, influenciar a nossa sexualidade. Como foi consigo?
Eu costumo dizer às pessoas que a educação que elas têm em termos de família influencia muito aquilo que se vão tornar em adultos — é muito importante a forma como as famílias se expressam e comunicam sobre a sexualidade, mas também sobre vários temas. A minha família em particular não era uma família aberta, no sentido de se falar sobre as questões da sexualidade. Não era de todo. O meu pai, a minha mãe e a minha avó eram católicos e apostólicos praticantes. Esse tema com três filhas e um filho mais pequeno… O tema nunca foi muito falado por algum eventual pudor, até porque a minha mãe era professora universitária. Não se falava muito sobre o assunto e havia até a ideia de que a pílula era uma coisa negativa, mas acho que isso já teve que ver com a influência dos anos 1960, quando fomos viver para os Estados Unidos para a minha mãe fazer o doutoramento. Nessa altura foi o grande boom da pílula e um grande boom para a sexualidade, mas dizia-se que tinha muitos efeitos secundários nas mulheres, portanto era aquela ideia de que a pílula fazia mal — lembro-me que isso influenciou a minha relação com a pílula no futuro, mesmo sendo crítica de algumas coisas mais católicas e apostólicas muito castradoras e culpabilizadoras. Mas esta ideia de que era uma coisa negativa influenciou-me na escolha do método contracetivo. Nós todos somos muito influenciados por aquilo que ouvimos no nosso seio familiar. Quem diz os pais, diz os filhos, diz os avós, diz a aldeia, diz a cidade, diz os amigos. A forma como se fala, para o bem e para o mal. Não estou a dizer que ser mais contido nos assuntos da sexualidade é pior do que ser completamente liberal. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Tem é que haver capacidade de comunicação em termos familiares desses assuntos e de outros, e haver afetividade e reforço positivo.

Marta viveu dois anos da sua infância nos EUA. © Imagem cedida por Marta Crawford

Disse que viveu nos Estados Unidos. Esta era uma realidade muito diferente da portuguesa?
Vivi durante dois anos nos EUA e a realidade das crianças era diferente: não havia batas brancas, não havia papos-secos com manteiga [nem] aquela ideia de que tínhamos de fazer as coisas porque o senhor Salazar mandava. Ali era tudo muito divertido, durante dois anos saíamos da escola e fazíamos bolos e atividades, passávamos a vida na piscina. É quase como se tivéssemos saído detrás de um muro. Tenho esta ideia dos cheiros, da realidade que se vivia nos EUA quase como se fosse uma espécie de oásis. Depois voltámos para Portugal, já depois do 25 de abril, para constatar que o ambiente ainda era o mesmo. E aí fui para uma escola das batas brancas e dos papos-secos.

Sentia-se mais livre nos EUA?
A liberdade era relativa, era limitada pelos meus pais. Mas em termos do que era a vivência do dia-a-dia, tenho uma ideia muito cor-de-rosa, mesmo sendo criança. Lembro-me que quando cheguei cá esqueci o inglês por completo. Tinha aquela culpa… Devia ser completamente bilingue e não falava, e tinha vergonha porque não falava como era suposto falar. A integração na escola portuguesa, em que as pessoas não falavam inglês, implicou reaprender o português, apesar de o falarmos em casa. O português era praticado em casa e o inglês na escola, com as outras pessoas.

A Marta foi uma adolescente rebelde?
Acho que sempre fui uma rebelde q.b., ou seja, na altura vivíamos nos Olivais Sul e a maior parte das pessoas acabava por fazer o secundário ali e só depois saía mais do ambiente de bairro. Eu acabei por fazer o sétimo ano na Dona Leonor — não era propriamente um liceu revolucionário, pelo contrário, era bastante conservador, e houve alguma resistência… Não era resistência, tinha que ver com o meu crescimento… Não era uma escola muito criativa. Aí começou a minha necessidade de ser mais criativa, que começou com a roupa. Eu costurava e muitas vezes ia para a escola vestida de serapilheira, fazia saias de serapilheira, e andava sempre com uns folhos (isto no sétimo, oitavo ano). Fazia roupa, costurava, as pessoas achavam que eu era doida e tal, um bocado freak. Esta minha irreverência tem que ver com a forma como me vestia, com um ar um pouco de drama queen.

Dali saio para a António Arroio e, pronto, foi aquela fase mais freakolé. Era rebelde mas é engraçado que fui para uma escola que era conhecida pelas passas e pelas ganzas, mas nunca experimentei isso. Nunca experimentei droga nenhuma, para dizer a verdade. Desde o sétimo ano e durante toda a minha vida sempre tive amigos que fumavam e que consumiam drogas. Em termos familiares é interessante porque a minha mãe sempre foi muito antidroga. E tive situações muito graves de amigos próximos que morreram durante a minha adolescência.

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Por falar em drama queen, a Marta esteve ligada ao mundo do espetáculo, não foi?
Nesta altura começo a fazer teatro e a fazer também cursos de teatro, apesar de ser envergonhada e tímida. Mas ali era tudo muito libertador e, depois, havia reforço positivo e eu achava que ia ser atriz. Mas antes disso achei que ia ser pintora; quando fui para a António Arroio estava convencida de que ia ser uma grande pintora. E ainda antes disso achei que ia ser uma grande pianista.

Li que tocava piano ao telefone. É verdade?
Tocava para as amigas, nomeadamente para a Leonor. Ela ficava ali horas e dizia-me sempre “liga tu, tu é que és rica”. Os meus irmãos odiavam porque eu tocava sempre as mesmas músicas, gostava tanto de Bach que tocava sempre o mesmo. Eles estavam fartos, não me podiam ouvir, mas ela tinha uma boa recetividade à minha pianada e, então, ficava ali horas.

Essa veia artística veio culminar com a estreia em palco.
Sim. Fui fazendo cursos de formação. Também estive num teatro amador nos Olivais com várias pessoas. Sempre tive esta vontade. Fiz uma formação durante um ano e, no final, faço um casting para a A Barraca — eles iam fazer uma peça baseada num filme do [realizador italiano] Ettore Scola, com adaptação de Hélder Costa. Tinha músicas e danças de salão que todos nós aprendemos a dançar, sendo que a história era contada ao longo de duas horas. Foi uma peça que teve muito êxito. De facto, a gente não falava, mas dançava e representava a história de Portugal de uma forma muito envolvente. E era no Ritz Clube, era num bar, estava sempre cheio e as pessoas dançavam. Éramos um elenco imenso, cerca de 20 e tal pessoas em palco.

Ainda se lembra da sensação de estar em palco?
É sempre extraordinária. Tenho estas duas facetas: por um lado sou um bocado envergonhada, mas depois quando estou no palco há uma libertação tal que deixo de ser reservada e sinto-me muito bem. Aquela coisa das palmas no final é sempre muito gratificante. Tivemos ensaios durante muito tempo, a estreia foi extraordinária. Aquela peça durou muitos meses, viajámos muito para fora do país: fomos ao Brasil, a Cabo Verde, a Espanha… Eu tinha 18 anos, era a caçula da companhia, era a mais novinha. Na altura também ingressei em psicologia, o que foi complicado: faltei imenso à faculdade e às aulas, e havia frequências a que eu não ia. Claro que o curso de cinco anos foi feito em mais tempo. No meio do meu curso também nasce a minha filha [Bárbara, de 24 anos] e, quando o termino, entre a defesa da tese, nasce o meu filho [João, de 20 anos].

Antes de ser sexóloga, Marta estreou-se no teatro enquanto atriz. Imagem cedida por Marta Crawford

É no teatro A Barraca que conhece Filipe Crawford, o atual ex-marido e o pai dos seus dois filhos?
Não, eu fui fazer um curso de formação na Gulbenkian e ele era o formador. Depois disso ele começa a frequentar bastante A Barraca e é nessa altura que começamos a ter uma relação. O casamento com o Filipe durou mais ou menos 19 anos. Divorciámo-nos há sete ou oito anos e estou numa nova relação há quatro ou cinco.

Ele ia assistir aos seus espetáculos?
A partir dessa formação começou a frequentar mais o espaço e foi a partir daí que começou a nossa relação. A Bárbara nasce quando eu tenho 23 anos. Caso-me nesse ano, antes de ela nascer, mas já sabia que estava grávida. Casei-me grávida.

Na altura do casamento já tinha barriguinha?
Não, na altura era uma jovem. As barrigas de gravidez de jovens de 20 e tal anos não aparecem, só mesmo no final do tempo. A Bárbara nasce em janeiro do ano seguinte e o João nasce quatro anos e meio depois, em 1996.

"Tive de estrear uma peça de teatro infantil, muito alegre e muito cómica, no dia do velório do meu pai. Fui fazer a estreia de uma comédia, pôr as pessoas a rir, ao mesmo tempo que vivia a maior tragédia da minha vida que foi a morte inesperada do meu pai." 

Ao mesmo tempo que se estreia em palco está a estudar psicologia. E terminado o curso de Psicologia faz um estágio de sexologia no Júlio de Matos…
Na altura era obrigatório fazer o estágio académico, tínhamos de escolher o local de estágio e eu escolhi a consulta de sexologia um pouco guiada por um amigo que sabia o que queria. Eu estava na dúvida se queria trabalhar com adultos, se com crianças. Até ali nunca tinha imaginado que ia trabalhar em sexologia. Aliás, com este meu historial mais reservado se calhar não seria a área ideal. Na altura o que eu queria era ser artista de qualquer coisa, de piano, de palco ou pintora. Sempre achei que tinha uma veia artística muito forte a apelar por mim. Quando começou a existir uma conflito [entre teatro e psicologia] tomei a opção pela área da sexologia, mas também por causa de uma história de vida complexa que entretanto acontece.

Que história é essa?
Foi uma coisa um pouco dramática: tive de estrear uma peça de teatro infantil, muito alegre e muito cómica, no dia do velório do meu pai. Fui fazer a estreia de uma comédia, pôr as pessoas a rir, ao mesmo tempo que vivia a maior tragédia da minha vida que foi a morte inesperada do meu pai. Foi uma coisa muito dura porque o espetáculo tinha de acontecer, portanto saí do velório para estrear a peça e voltar. No dia seguinte foi o enterro. Mexeu muito… Emocionalmente é uma coisa muito forte. É uma perda muito importante.

Decidiu, então, seguir pela sexologia. Porquê?
As coisas foram acontecendo. Tive de tomar decisões. Não era possível ter o melhor dos dois mundos e tinha de fazer opções e, entretanto, começou a ser importante a parte prática. Nos primeiros anos de faculdade era tudo muito teórico — era engraçadinho, mas não era nada por aí além. A partir do momento em que comecei a lidar com as pessoas, a aprender, nomeadamente no hospital Júlio de Matos, comecei a ver situações de transexualismo, pessoas com problemas reais e percebi que tinha à vontade para falar sobre esses temas, que não ficava nada chocada. Achava que conseguia criar uma empatia muito profunda com as pessoas e isso começou a alimentar bastante a minha satisfação — comecei a sentir uma satisfação muito imediata; no espetáculo temos aquelas palmas depois do nosso esforço, mas na relação terapêutica com outra pessoa há uma gratificação muito imediata e isso para mim é muito interessante. Já não era preciso esperar um ano para saber se aquilo era bom ou não. Sentia que as pessoas sentiam-se bem comigo, que eu não complicava e que, de facto, voltavam. Comecei a sentir que aquela era a minha praia.

"As perguntas, apesar da evolução dos tempos, e mesmo agora que se fala de sexo a torto e a direito, continuam a ser perguntas base. Então agora que temos a pressão social de que a informação está em todo o lado e de que toda a gente nasce ensinada — há uma ideia de que é preciso ser-se um super-herói na cama."

Tendo em conta que sempre foi uma pessoa tímida e que cresceu no seio de uma família conservadora, de onde veio esse à vontade todo?
Eu acho que esta experiência no hospital Júlio de Matos, na consulta externa de sexologia, foi muito importante: ao nível de aprendizagem foi talvez a mais importante de todas. Aquilo é a realidade, as pessoas que ali vão são reais. Comecei a perceber que me sentia à vontade para temas que outras pessoas preferiam evitar. Não tinha qualquer constrangimento, podia ficar admirada com algumas situações, mas senti que não tinha nenhum constrangimento em falar sobre o quer que fosse na área da sexualidade. E não porque tivesse experiência pessoal nesse sentido, mas porque conseguia ter uma empatia profunda pelas pessoas e isso era uma vantagem na relação com elas, até porque não falo só sobre sexualidade — as pessoas partilhavam-me as suas angústias e as suas questões mais íntimas.

Não se sentiu uma ovelha fora do rebanho?
Quando fui para o hospital Júlio de Matos escolhi uma área que era mais cognitivo-comportamental e o ISPA era classicamente mais da área da psicanálise. Foi logo um choque. Eu tive uma orientadora que me fez a vida negra durante este meu estágio, porque, enfim, achava que aquilo não interessava para nada e pôs muitas vezes isso a ridículo na sala de aula. Isso dava-me imensa pica, achar que eram todos mais ou menos alinhados pela cabeça do professor e que só eu estava fora da manada. Sempre me senti assim em várias situações da minha vida — em trabalhos, em escolhas que fiz –, parecia sempre que havia uma parte de mim que pertencia a outro lado. Ao longo da minha vida parece que faço sempre parte, mas não na totalidade.

Até 2005 pertenceu à equipa de aconselhamento e encaminhamento telefónico na linha SOS Dificuldades Sexuais. O que retira dessa experiência?
Entretanto faço o mestrado em sexologia e entro para esta equipa. Foi um trabalho muito interessante para mim porque era uma linha de atendimento, eu era uma telefonista-terapeuta e uma terapeuta-telefonista. O que nós fazíamos nem era terapia, mas sim uma espécie de triagem das pessoas que ligavam do país inteiro e que colocavam as suas questões anonimamente no valor da chamada local, sem custos acrescentados. As pessoas tinham a liberdade total para colocarem as suas questões e isso foi uma aprendizagem extraordinária porque nós tínhamos pessoas de todas as idades, de todos os feitos e tamanhos, do país inteiro que, pela primeira vez, podiam colocar questões que às vezes tinham guardado para si durante uma vida inteira. Ouvi coisas… Estas chamadas foram extraordinárias nesse sentido e houve coisas que foram expressas naqueles 15 minutos…

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Que tipo de histórias ouviu?
Já contei várias vezes a história deste sujeito mais velho, com 70 ou 80 anos, que tinha uma situação clínica de fácil resolução: tinha uma fimose, ou seja, o prepúcio (a pele do pénis) afunilava e apertava muito o pénis e ele não conseguia ter uma ereção completa, entortava. Ele sentia que tinha uma deficiência física. Quando ele me começa a descrever a situação eu percebo que aquilo não é uma deficiência, antes uma situação comum na maior parte dos rapazes que não fizeram a elasticidade do prepúcio. Os médicos costumam dizer “puxe a pelezinha do seu filho para trás e para a frente para não agarrar”. Portanto, o homem não tinha aquela elasticidade e achou que tinha uma monstruosidade e acabou por nunca pedir ajuda e nunca se relacionar com uma mulher. Nunca tinha tido uma relacionamento porque tinha vergonha do seu estado físico. Isto é dramático.

Ficou surpresa com a mentalidade sexual do país à época?
As perguntas, apesar da evolução dos tempos, e mesmo agora que se fala de sexo a torto e a direito, continuam a ser perguntas base. Então agora que temos a pressão social de que a informação está em todo o lado e de que toda a gente nasce ensinada — há uma ideia de que é preciso ser-se um super-herói na cama. As questões base têm que ver com a autoestima, com a autoconfiança, com a imagem corporal, com o respeito próprio, com a relação com o outro e com a capacidade de comunicar. Coisas que não estão nas páginas da internet e que não são fáceis de explicar. É muito importante trabalhar isto através da conversação, do diálogo, em família e na escola, sem que a conversa seja muito direcionada para as doenças e para os métodos contracetivos, como se estivéssemos a falar de um museu de arte antiga. São coisas práticas da nossa vida e precisamos de ter espaço de debate.

"Nós sabemos que a vagina não tem interesse nenhum, mas as pessoas continuam a insistir, a achar que a vagina é o suprassumo do prazer sexual feminino."

Parece chocada…
Hoje em dia há miúdos com menos de 20 anos que aparecem no consultório e que têm questões do tempo da minha avó. Isso é assustador e tem que ver com os ambientes e com esta tirania de que temos que ser um máximo na cama e que temos de aceitar fazer tudo, caso contrário não somos modernos. Isto é a estupidez total da sexualidade.

Estamos a falar de que tipo de perguntas?
De vários níveis: podem ser coisas relacionadas com contraceção, com a gravidez, com o saber ou o poder de dizer que não, com o facto de as pessoas acharem que o sexo é [só] penetração… Há pessoas que dizem que não têm orgasmos mesmo tendo orgasmos quando se masturbam e estimulam o clitóris. Nós sabemos que a vagina não tem interesse nenhum, mas as pessoas continuam a insistir, a achar que a vagina é o suprassumo do prazer sexual feminino. Não é, é o clitóris, e enquanto as pessoas não perceberem isso… No tempo da minha avó era evidente que as pessoas avançavam para a penetração, era para fazer bebés; o homem avançava sobre a parceira sem grandes estímulos, sem grande preocupação. No tempo da minha avó e da minha bisavó o sexo era mais para ele. Estavam lá dois, mas a mulher era um recetáculo. Agora ainda vejo algumas situações que são assim, de pessoas que não questionam e que são jovens.

A Marta ficou mais conhecida depois de apresentar programas televisivos como o “AB…Sexo”, que fez 10 anos em 2015. Como é que foi lá parar?
O convite foi feito através de uma mensagem via telemóvel da Júlia Pinheiro a dizer “Marta, deram-me o seu contacto. Nós vamos fazer um programa sobre sexualidade na TVI e das duas uma, ou responde-me de volta ou dá-me um pontapé no cu”. Foi assim, nunca mais me esqueci.

"A ideia era eu falar de sexo com um objetivo pedagógico: descomplicar as questões do sexo, falar de uma forma direta, prática, chamar os nomes às coisas e facilitar uma coisa que é tão tabu, tão culpabilizadora, para que no final as pessoas se sentissem bem com o seu corpo e a sua sexualidade." 

E como foi o primeiro episódio?
Estava nervosa. Ainda por cima foi um episódio de uma hora e meia e eu pedi para que houvesse intervalos. O “AB…Sexo” [na TVI] era baseado num programa espanhol, os conteúdos eram meus, mas baseados nos que havia nas séries espanholas. Eram as minhas palavras, os meus cartões, não usava teleponto — que isso é agora a novidade no “5 para a Meia Noite”. Não era apresentadora, era uma sexóloga a apresentar um programa sobre um tema que me era caro. No primeiro dia, o [Eduardo] Moniz diz-me “não vai haver intervalo, a Marta consegue” e eu fiquei em pânico. Nesse dia parto os meus óculos, e eu ia fazer o programa com os óculos. Lembro-me de que era um cenário muito grande, com muita gente no público e com convidados… Aquilo era um mundo totalmente diferente do mundo do consultório. Era um programa em direto, de 1h30 sem intervalos. Só com um auricular no ouvido e os meus cartões. Costumo dizer que foi aí que surgiu a minha costela católica de berço — rezava um Pai Nosso todos os dias antes de entrar no programa.

O programa mudou a sua vida?
Acho que afetou mais outras pessoas do que a mim, porque eu continuo muito parecida com o que era. E acho que a maior parte dos meus amigos de então não acha que eu seja uma Marta diferente. Não me transformei numa manienta.

Mas tornou-se numa estrela. Sentiu falta de privacidade?
Desde o início que defendo que sou uma psicóloga e não uma apresentadora. Não sou atriz, portanto não quero expor a minha vida, que é privada. Agora imagine, eu a falar de sexo: não havia uma revista que não quisesse fazer uma reportagem comigo e o cenário era sempre uma cama. Nunca me deitei numa cama para uma fotografia. Não era preciso criar o filme todo. A ideia era eu falar de sexo com um objetivo pedagógico: descomplicar as questões do sexo, falar de uma forma direta, prática, chamar os nomes às coisas e facilitar uma coisa que é tão tabu, tão culpabilizadora, para que no final as pessoas se sentissem bem com o seu corpo e a sua sexualidade. O meu objetivo não era particular. As pessoas gostam de ver fotografias [minhas], faz parte do pacote, mas não era essa a minha ideia, mesmo que eu tenho tido aquele passado [de atriz]. Se era só para aparecer, então não me interessava.

Tendo ou não uma função pedagógica, como era falar sobre sexo na televisão e em direto?
As pessoas colocavam-me as questões mais básicas, eram perguntas específicas relacionadas com o sexo: “como é que se faz isto?”, “como é que se faz aquilo”. O tema do primeiro programa era sexo oral. Pensei “como é que eu vou falar de sexo oral com esta gente, eu não falo de sexo oral no meu consultório”. Na altura, o meu marido disse-me “fala como se estivesses a fazer um bolo”. Foi esse o truque, e eu falei como se estivesse a fazer uma receita. Acho que foi o formato que acabou por resultar. Eu já falava assim desta forma descontraída, mas o com o tema do primeiro programa… “como é que se faz sexo oral a uma mulher?”, “como é que se lambe?”. Para não parecer uma porcaria, tinha de haver uma certa graça e boa disposição.

© Imagem cedida por Marta Crawford

Que tipo de vocabulário sexual já disse em direto? Nunca se sentiu envergonhada por dizer palavras como “lamber” ou “felácio”?
Não. A partir do momento em que assumo que sou capaz, não posso estar com tretas. Claro que havia algumas coisas a que achava mais piada do que outras: o programa tinha muitos objetos sexuais que as pessoas achavam graça — aliás, acho que foi a partir do “AB…Sexo” que aumentaram as sex shops em Portugal, de certeza –, mas não acho que a sexualidade passe por isso. Percebo que as pessoas queiram apimentar as suas relações com objetos sexuais, mas se a relação estiver má não vai ser aquilo que os vai salvar, é um artifício.

Seguiu-se o “Aqui Há Sexo”, na SIC em 2009, que todas as sextas-feiras invadia os pequenos ecrãs da uma da manhã às duas…
Não foi um programa que gostasse tanto. O “AB…Sexo” foi um programa que gostei muito de fazer, teve um impacto imenso, toda a gente sabia dele e todas as escolas falavam sobre ele — na escola da minha filha os miúdos telefonavam através da minha filha para saber de questões específicas; era a mãe da Bárbara a quem telefonavam. De repente, toda a gente sabia quem eu era.

Porque é que o programa “AB…Sexo” acabou?
O programa tinha audiências extraordinárias. Teve uma primeira série e depois uma segunda… Porque é que acabou? É como todos os programas, se calhar mais valia acabar em bom do que eventualmente… Nos temas da sexualidade, os programas têm muito desta coisa de… Há uns picos em que parece que são mais conservadores e depois voltam a não sê-lo. Mas eu acho que cada vez mais se deve falar de sexualidade.

Falou de sexualidade para o país inteiro ver e ouvir. Também falou de sexualidade com os seus filhos? Que tipo de educação sexual lhes deu?
Eles tiveram ali um boom em que, de repente, a mãe aparece [na televisão]. Nessa altura a Bárbara tinha 14 e o João 9/10. Eles ouviam muitas histórias que eu contava e havia muitos livros lá em casa. Eles tinham acesso a preservativos e houve balões que foram feitos com preservativos. Lembro-me de um dia em que o João estava lá em casa a brincar com preservativos na companhia de dois amigos; para mim aquilo era uma coisa interessante e não um problema, mas se calhar as outras mães achariam uma coisa muito escabrosa e esquisita, pelo que resolvi telefonar-lhes, às mães dos outros dois, para explicar que eles tinham estado a brincar com os preservativos — não fossem os miúdos dizer que a casa do João era um bordel. Lembro-me que as mães disseram “ótimo, assim não tenho de falar sobre o assunto com os meus filhos”. E eu pensei “não é ótimo, tem de falar na mesma”. Para os meus filhos os preservativos são uma coisa óbvia e devia ser assim para toda a gente: os preservativos são uma segunda pele, uma coisa que nos protege de infeções sexualmente transmissíveis ou de uma gravidez indesejada. O preservativo é o melhor amigo do homem.

Crawford com os dois filhos, Bárbara e João, ainda em pequenos. © Imagem cedida por Marta Crawford

E que tipo de cumplicidade houve entre a filha adolescente e a mãe sexóloga?
Se eu não tinha tido isso com a minha mãe, achava que era preciso falar sobre esses assuntos com ela e puxava. E é fácil puxar os assuntos com os miúdos — com livros, com os “Morangos Com Açúcar” que na altura estavam a dar… Eu falava à vontade com ela e ela sempre foi muito interessada nestes temas, portanto, qualquer dúvida… Antes de se iniciar sexualmente ela disse-me: “Mãe, como é que te vou dizer que aconteceu? Temos de ter aqui um protocolo”. Eu respondi: “Quando acontecer, dás-me um gin tónico”. Depois houve um episódio caricato no aniversário dela, em que o namorado ofereceu-me um gin tónico e nem sequer tinha acontecido nada. Mas apareceu com um gin tónico e eu disse “Bárbara!” e ela “não, mãe!”. [risos]

A sexualidade pode ser vivida de uma forma feliz. E a pergunta “foi bom? Tiveste prazer?” não é muito fácil para uma mãe fazer a um filho ou a uma filha, mas é importante porque a sexualidade também tem que ver com prazer. Se nós só temos aquele medo “vê lá se engravidas, vê lá se fazes asneira…”, se é sempre esta coisa do lobo mau, a sexualidade é sempre vivida com medo e isso tem implicações depois para a sexualidade feminina e masculina no sentido do prazer sexual. É por isso que aparecem tantas disfunções sexuais.

"Desde o início que defendo que sou uma psicóloga e não uma apresentadora. Não sou atriz, portanto não quero expor a minha vida, que é privada. Agora imagine, eu a falar de sexo: não havia uma revista que não quisesse fazer uma reportagem comigo e o cenário era sempre uma cama. Nunca me deitei numa cama para uma fotografia."

Sendo sexóloga e, ao mesmo tempo, uma figura pública, sente que as pessoas têm uma curiosidade natural sobre a sua vida sexual?
A curiosidade é possível. Consigo imaginar a fantasia de outras pessoas, até tendo em conta algumas mensagens que já recebi. É fácil de perceber que sendo mulher e falando desta forma que isso crie nas outras pessoas uma ideia de como será comigo. Se vão saber como é que é? Lamento [risos]. É natural que as pessoas imaginem ou façam um estereótipo de como será a Marta, dado o facto de eu falar com naturalidade sobre sexo.

Que tipo de esperança dá a casais que entram no consultório com muitos problemas a nível sexual?
Hoje em dia ser-se um casal é uma instituição difícil. Além de termos muitos estímulos, as pessoas têm dificuldades em lidar com os seus problemas e, por vezes, a opção é olhar para o lado como se o mundo parasse e ter uma experiência de traição. Mas há casais que vão às consultas que até funcionam bem em termos de relação, mas sexualmente, por alguma razão, não trabalharam isso, por inibições no início da relação ou inibições de relações anteriores. Há casais que viveram não sei quantos anos juntos e nunca falaram do que é que gostam, de coisas básicas!

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Porque é que o sexo dá tanto medo?
Porque as pessoas acham que têm de saber sobre estas coisas. Oiço muitas vezes aquela coisa de o sexo ser uma coisa natural e de não ser preciso falar-se sobre isso. Isto é um dos grande mitos da sexualidade. Não, é preciso falar. Pensando em termos dos genitais, das mamas, que são sempre o foco — as pessoas acham que o corpo são genitais e mamas e esquecem-se que há pés, cabeça, joelhos.… –, muitas vezes o estímulo é um bocado apressado, não é agradável para a outra pessoa, embora ela se iniba de dizer que não é bom. Vejo muitos parceiros a estimularem o clitóris como se fosse um pénis e, considerando esse género de estímulo, no contexto feminino talvez seja demasiado violento e demasiado forte, mas ele faz o que está habituado a fazer. Não são todos, vá… mas se a mulher não gosta e acha que é um estímulo muito forte, não pode ficar calada. Não pode dizer que é bom quando não é bom. E muitas vezes a mulher disse, ao longo dos tempos, que era bom quando era péssimo. O que é que aconteceu? Aguentou umas tantas vezes a bem da relação, mas depois começou a ter “dores de cabeça”, a ter de arranjar desculpas para não estar numa situação de que não gostava, mas que não não tinha coragem de admitir por ter dificuldade em falar sobre esta temática da intimidade.

Muitas vezes havia a ideia de que ele tinha mais experiência porque tinha tido mais parceiras e, portanto, sabia mais e o que fazia era sempre certo. Não, cada par é único. Mesmo que o António tenha muita experiência, quando se junta com a Maria, ambos são virgens naquela relação. A única forma de aqueles dois tirarem partido da sua relação íntima é verbalizarem sobre o assunto. O pudor leva a pensamentos errados.

A sexóloga tem duas irmãs e um irmão mais novo. © Imagem cedida por Marta Crawford

Há aquele ditado, “em casa de ferreiro, espeto de pau”. Ao longo destes anos tem aplicado na sua vida privada os conselhos profissionais que dá?
Claro.

Ouvi falar de um museu do sexo… do que se trata?
É um museu pedagógico e interativo da sexualidade. É um projeto que já tem alguns anos. A minha ideia era ter um espaço que fosse diferente daqueles museus que acabam por ser um expositor de uma série de objetos sexuais sem curadoria, coisas engraçadas que as pessoas gostam de ver, mas com as quais nunca me identifiquei. Pode ter graça, mas se as pessoas saem de lá na mesma… acho que é pouco e que é redutor.

A ideia é criar um museu pedagógico e trabalhar com vários públicos — crianças, jovens e adultos. Oferecer através do museu exposições pedagógicas e artísticas, que tivessem sempre em conta estas idades, num sentido de educar. Um ambiente onde as pessoas pudessem falar abertamente sem pudor, mas também associar o museu ao lado da terapia; trabalhar a arte com a pedagogia de uma forma inovadora e, no fundo, dar um pouco mais para que as pessoas nas diferentes faixas etárias fiquem mais felizes sexualmente.

Este museu já teve várias formas de expressão e a última delas foi na forma de um site. Seria bilingue, mas neste momento vamos avançar, para o ano que vem, com uma mega exposição em que o museu surge num formato pop up, com alguns serviços e programação. Vai ter um tema principal, relacionado com o clitóris, e vai ser uma entrada em grande.

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