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HUGO AMARAL/OBSERVADOR

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35 anos de rock sem nunca partir uma guitarra

Se não fosse músico seria arquiteto ou designer. Está a preparar um programa de TV com música ao vivo e passa cada vez mais tempo no Porto - "qualquer dia mudo-me para lá". Rui Veloso, 35 anos depois.

35 anos, é este o tempo que Rui Veloso leva de estrada, foi o tempo que precisou para gravar a dezena de álbuns de estúdio que fizeram uma parte importante da história do rock português. Ainda lhe chamam “o pai do rock”, um título que recusa e que lhe dá vontade de rir, mas é inegável a relevância de algumas das canções que gravou — e que fizeram dele um dos músicos mais conhecidos e acarinhados em Portugal.

No passado mês de dezembro saiu mais uma coletânea — O Melhor de Rui Veloso — um disco duplo que começa com “Chico Fininho” e inclui, pela primeira vez desde 2005, dois temas inéditos. A efeméride e o novo best of foram o pretexto para conhecer o Estúdio Vale de Lobos, perto de Belas (concelho de Sintra), a casa da música de Rui Veloso. Foi lá que nos recebeu, bem-disposto e descontraído.

Rodeado de guitarras e amplificadores, fotografias com os Rolling Stones e com Eric Clapton e muitos discos, falou sobre a música que ouve e sobre o que pensa da pop, explicou porque é que não vai a festivais e porque é que a rádio matou o rock; e também do programa de televisão que está a preparar para a RTP e da forma injusta como a SPA cobra os direitos de autor. Ainda contou a história de como a gravação multipista do álbum Ar de Rock se perdeu para sempre.

Aos 58 anos, Rui Veloso descreve a sua carreira como uma série de coincidências felizes. “Ter vindo para Lisboa, terem descoberto que eu fazia umas músicas em inglês, depois terem chateado o Carlos Tê para as fazer em português, depois eu fiz o ‘Chico Fininho’ e as pessoas gostaram… os anos foram indo, eu era um miúdo com 22 anos, enfim… demorei muito a perceber que se calhar ia fazer disto vida”, algo que aconteceu quando gravou o quarto álbum em 1986.

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Já passou por muitas peripécias e tem muitas histórias para contar, mas o homem do rock nunca partiu uma guitarra em palco. “Ver o Peter Townshend [dos The Who] a destruir uma Gibson partia-me o coração.” O compositor e guitarrista já não toca todos os dias: “É da idade. A malta mais velha é tudo igual. Acabamos por chegar à conclusão que há 25 anos já tocávamos o mesmo.” Uma graça que não tem reflexo no entusiasmo com que liga pela primeira vez uma das 70 guitarras da sua coleção a um velho amplificador. A conversa que se seguiu a este momento decorreu sem que nunca a tirasse do colo.

É saudosista? No sentido do “antigamente é que era bom”?

Se olharmos para o panorama musical penso que sim, houve uma época de ouro que dificilmente voltará atrás. Uma parte da música, em especial a desta malta mais nova, tornou-se num negócio de uma inocuidade confrangedora. É uma tentativa de faturação ao máximo, é de uma efemeridade chocante. Antes havia mais música feita por músicos.

Mas a música feita num computador é menos que a música tocada com instrumentos?

É obvio que é. Parte da música no computador já vem feita. Não é a mesma coisa tocar um piano num computador ou num piano acústico. A facilidade de acesso a produtos musicais tirou algum protagonismo à música tocada, à música que dá trabalho. São precisos anos para dominar um instrumento, para conquistar uma voz própria. É o que eu acho que falta à música feita no computador, à música pop, é uma espécie de fórmula repetida até à exaustão que não tem alma. A maioria da pop atual é confrangedora, inócua.

Que música é que ouve, então?

Oiço muita coisa, desde música coral inglesa e depois sei lá, Weather Report, Pink Floyd, Tom Waits, Little Feat… e muito jazz, Bill Evans é dos meus favoritos. E jazz português, temos coisas fantásticas. Oiço música muito variada. [Luis] Salinas, Pedro Aznar, coisas do tango argentino, [Astor] Piazzolla…

E música nova?

Há muito pouco “música nova”. São as tais fórmulas, Coldplay, Oasis, U2, não sei se se chama a isso música nova, para mim isso é mais novo. Estou sempre a ouvir estilos diferentes, até na música country. Estou muito no jazz, gosto muito da improvisação e da liberdade do jazz. Há coisas muito fora, a que nunca podemos chamar música antiga porque é música que hoje já nem se faz, era tão nova aquela música que nunca deixou de o ser [dando como exemplo os Weather Report].

O Estúdio Vale de Lobos tem vários estúdios de gravação equipadas com material moderno, mas ainda mantém algumas relíquias

HUGO AMARAL/OBSERVADOR

Ainda vai a concertos?

Já quase não há concertos, há festivais.

Não é a mesma coisa…

Não, claro que não. Em Nova Iorque não há festivais, há concertos. Em muitos sítios por essa Europa fora continua a haver concertos, de todos os géneros, mas aqui menos.

Mas irrita-se com a forma como a indústria se estruturou para apresentar a música?

Não me irrita, simplesmente não frequento. Ali não se apresenta nada. É uma coisa massificada e eu sou individualista, nunca vou por onde os outros vão, nunca alinhei na carneirada. Acho que os festivais são uma espécie de supermercados de música, onde num fim de semana tens 100 bandas, é uma coisa que não faz sentido nenhum. Faz sentido ires ver um concerto de um grupo de quem se gosta, pagar bilhete para ouvir aquele músico, aquela música de que se gosta. Não faz sentido querer ouvir 30 bandas porque ninguém anda a ouvir 30 bandas. Quer dizer, agora com os iPods andam…

Ainda por cima, agora estamos na época das canções avulso, do single. O Rui sempre fez discos para se ouvir do princípio ao fim. Como é que encara esta mudança?

A Adele acabou de vender milhões de exemplares do novo álbum. Para um objeto que está em extinção… isso prova que eles vendem-se. O problema é a total indefinição das editoras que até agora andaram a apanhar bonés, que se deixaram ultrapassar pela venda digital e pelo streaming e depois perderam o controlo. Eles deviam ter-se reunido antes e pensado: bem, se estão a aparecer novas formas de vender a música, vamos arranjar as nossas, para continuarmos a vender a nossa e os artistas serem compensados na mesma, etc. Perderam o comboio e agora a coisa está complicada, com os Spotify e tal… mas pelos vistos a Adele não autorizou o streaming e as pessoas vão comprar os discos. É uma esperança aberta no nosso horizonte, porque as pessoas como eu andam um pouco à deriva nesse aspeto.

Eu já há quase 20 anos dizia: “Nós um dia destes vamos ter de oferecer alguma coisa com os CD”. Uma garrafa de vinho [risos], um bilhete para um concerto, qualquer coisa, isto assim não vai correr bem. Pensava muito na imagem, como os DVD, na importância de incorporar outros elementos no objeto, como as letras das canções, no fundo, melhorar a relação com a obra. Agora oferecem o streaming, é praticamente oferecido. Há muita gente a retirar a música do streaming, especialmente os artistas mais conhecidos.

O seu último disco [O Melhor de Rui Veloso] não está disponível nas plataformas de streaming. Porquê?

Então se a gente quer vender o CD não vai pô-lo em streaming… eu pelo menos assim pensei, e disse à editora que não queria o disco em streaming até se esgotar o tempo de vida normal [das vendas] do CD. Depois, quando chegarem à conclusão de que esse tempo acabou, ponham lá isso em streaming. Eu sei que não vou receber nada daquilo, nem dá para fazer um jantar com os amigos.

Também não sabemos que acordos é que eles têm com as editoras, porque há sempre uns negócios a que os artistas são completamente alheios. No entanto, continua a haver na indústria alguns resistentes, por exemplo as editoras independentes que continuam a batalhar por um lugar e por um artista, para que ele receba pelo seu trabalho.

A música é tida no mundo inteiro como a arte que merece não ser paga. Mas a relação causa-efeito é: se os artistas não forem pagos, acabam! Eu vivo dos meus concertos e dos meus discos, mas se não me pagassem os direitos de autor, o letrista viveria de quê? Os intérpretes safam-se nos concertos, mas os autores e compositores, que são muitas vezes uma face escondida mas que são fundamentais para fazer as letras e as músicas, se não forem os direitos de autor, eles vivem de quê?

"Mingos e os Samurais" foi o quarto álbum de Rui Veloso (1990). Foi sete vezes disco de platina, foram vendidos cerca de 200 mil exemplares

HUGO AMARAL/OBSERVADOR

E então como é que isto se resolve?

Pagando, não há outra hipótese. Eu tenho Spotify, utilizo muito pouco mas tenho e pago. Só pode ser assim. Mesmo em relação aos espetáculos ao vivo, sempre disse: as câmaras municipais não deviam dar espetáculos de borla. Aquilo que a SPA [Sociedade Portuguesa de Autores] cobra em direitos de autor por um espetáculo para 90 mil pessoas é o mesmo que para um com mil pessoas. É tudo menos um incentivo para os autores e compositores. É uma injustiça.

E depois temos em Portugal este hábito peculiar: “Ah sabe, ainda temos de pagar a este e aquele, não pode fazer um descontozinho nos direitos de autor?” É uma coisa recorrente ao longo dos anos. A SPA tinha o dever de levar isto às instâncias e lutar pelos direitos dos associados. Já luto por isto há muitos anos, já quando estive na direção da SPA pus esse problema em cima da mesa mas pelos vistos ainda está por resolver, o que é uma tristeza.

Acha que um Ministério da Cultura pode ser a solução?

Pode pelo menos ter uma visão de que a cultura é uma atividade importantíssima para a nossa formação. A cultura tem sido tão desprezada… têm até tido uma perspetiva que me remete para antes do 25 de Abril de 1974, é um bocado aquela cultura para pacóvio ver, a do “Fado, Futebol e Fátima”, nós neste momento não estamos aí mas estamos quase. Fátima tem melhores instalações, o futebol tem melhores estádios e o fado é património imaterial, sendo que continua a ser apresentado fora de Portugal como a canção nacional, o que é para mim muito redutor do que se faz musicalmente no país. O fado é uma canção de Lisboa, temos mais música, basta andarmos um bocadinho para Sul para percebermos que o que aí há não é fado, mas é tão bom como o fado, a meu ver. Basta andarmos por várias zonas do país para percebermos que há coisas muito boas e muito genuínas.

Ainda temos uma elite muito envergonhada. Ainda há dias estava a ver no computador o Mick Jagger, o Buddy Guy e o Gary Clark Jr. (e outros) a tocar blues na Casa Branca em frente ao Obama e à mulher, dei por mim a pensar que não me importava de ter uma elite assim mais ligada às coisas terrenas, isto por que os blues são uma música simples, genuína.

Agora já começamos a ter pessoas com outra formação, que não têm a mania de que ouvir música clássica é que é ser erudito, ou que ter uma Casa da Música chega para dar música à população do Porto… é apenas um exemplo de um erro de casting, a meu ver. Com o dinheiro com que se fez aquilo podiam-se ter arranjado todos os conservatórios de música do país. É uma vergonha que um Ministério da Cultura que se preze, que um país que se preze, não apresente um Conservatório Nacional que nem um brinco! Temos de ter orgulho no nosso Conservatório, nos nossos professores e nos nossos alunos.

Há pouca música na educação?

Está cada vez pior, mas não é só aqui. Somos um país pequeno e com gente interessante, mas muito de clubes, de carteirinhas, de grupinhos… foi sempre assim, não há maneira de se dar o que eu pensava ser um passo para cima, olharmos para a nossa cultura e para aquilo que temos, em vez de andarmos mais a dizer mal que a dizer bem, olharmos e termos orgulho nas coisas que fazemos. Há coisas de que eu não gosto mas tenho orgulho naquilo, porque é nosso. Uma pessoa não tem de gostar de tudo, tem é de ter orgulho naquilo que os nossos amigos e os nossos filhos fazem, que consigam ser excelentes nas diferentes áreas. E eu sei que os portugueses podem, é um povo com categoria, com dignidade, bom e criativo, já o vi muitas vezes.

Isto aplica-se a todas as áreas. Na música também, temos músicos fabulosos a tocar por aí, estou quase a conseguir ter o meu programa de televisão, para mostrar isso.

Então e como é que isso está?

Está quase, falta muito pouco! Acho que falta só assinar, para podermos começar a constituir a equipa definitiva, a pesquisa, etc.

E que programa é que vai ser?

Um programa de música ao vivo, completamente live. Com bom som, bem filmado, para as pessoas que não têm a possibilidade de mostrar na rádio e muito menos na televisão a música que fazem.

Artistas conhecidos e desconhecidos?

Claro! Sobretudo os desconhecidos! Os conhecidos também os quero lá porque vão chamar a atenção para os menos conhecidos, até para géneros musicais menos conhecidos que eu gostaria de divulgar.

Por exemplo?

Por exemplo o jazz, a música tradicional, montes de coisas. Há malta nova a fazer misturas de música popular com música moderna, por exemplo. Queria misturar uma série de coisas para poder mostrar, sobretudo à malta mais nova, que infelizmente se desligou da televisão ou só vê as coisas más, pode ser que esta seja uma maneira de estimular a curiosidade. Eu sou muito curioso e espero contribuir para que as pessoas possam descobrir coisas novas, estimular a surpresa.

Provavelmente terei que levar lá algumas coisas de que não gosto particularmente, mas tem de ser. E olha que às vezes uma pessoa diz que não gosta e depois vê-os a tocar e fica com uma outra perspetiva e até se apaixona. Já me aconteceu, por exemplo com o Bruce Springsteen. Quando ouvi o Born to Run [1975] pela primeira vez não gostei muito. Mas depois ouvi segunda e terceira e fiquei ali sempre à espera do próximo. O Born To Run foi um caso estranho na minha vida. Eu andava muito mais numa de Jimmy Hendrix do que de Springsteen, mas depois aquilo entranhou-se, não há nada a fazer. Ainda é um disco que eu adoro.

Com 58 anos, já não toca guitarra todos os dias mas mantém a agilidade (e a expressão)

HUGO AMARAL/OBSERVADOR

E é rock. E o Rui é o “pai do rock português”. Chateia-se com o “título”?

[risos] Não me chateia nada, mas não é verdadeira.

Quem é, então?

O pai do rock são aqueles gajos mais antigos, o Phill Mendrix, o José Cid, o Carlos Mendes e o Zeca do Rock, sei lá. Eu não tenho nada a ver com isso. O problema é que a rádio matou o rock, só passa música pop sem interesse. Agora o rock é uma coisa fraquinha, chamam-lhe música alternativa. Tem coisas giras, mas a maioria tem pouca força. Faltam músicas e músicos a sério! [risos]

35 anos depois, ainda tem músicas na gaveta?

Não, tenho pouca coisa. E estamos em Portugal. Tu és mais novo que eu, por isso digo-te, para te localizares: eu gravei o Ar de Rock [1980], que é reconhecido como um disco que abriu uma espécie de cortina que nunca mais se fechou. Porque teve sucesso. Foi gravado e misturado em 70 horas, foi sempre a andar. Foi o primeiro disco a ser gravado em 24 pistas em Portugal, na primeira máquina que foi para a Radio Produções Europa, onde eu gravei, um estúdio ali no Alto de São João [Lisboa].

Cada bobine [de fita] levava umas três músicas, por isso eu tinha quatro bobines de 24 pistas, a 12 contos cada uma. O Zé Fortes, que era um dos sócios do estúdio, fartou-se de dizer ao Chico Vasconcelos, da Valentim de Carvalho, durante meses: “Olha, vocês não querem as fitas? Estou aqui a guardar isto, se vocês não quiserem eu gravo por cima!”. E assim foi, a versão multipista do Ar de Rock foi desgravada. Era assim que funcionava. Percebeste o país que era?

Tenho quase todos os outros discos em multipista. Vou querer reeditar o Auto da Pimenta [faz 25 anos em 2016] e com a gravação multipista tenho o som todo debaixo dos dedos, para o poder remisturar.

E música nova, está a preparar alguma coisa para 2016?

Ainda não sei, depende do programa de televisão. Aquilo vai dar muito trabalho, não sei se vou conseguir fazer alguma coisa de música entretanto. Também vou remodelar o meu restaurante no Porto, transformar aquilo numa coisa mais à minha imagem, pôr lá alguma memorabilia, mudar o ambiente, os menus, enfim, aquilo vai dar trabalho. E tenho de estar mais com os meus pais, que estão lá. Eles gostam muito que eu esteja lá. Quem sabe se eu ainda acabo a ir viver no Porto.

Esta é uma das 70 guitarras da coleção. "Gostava de as ter expostas ali no corredor"

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