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(FRED DUFOUR/AFP/Getty Images)

(FRED DUFOUR/AFP/Getty Images)

"Estabilidade democrática" depende de Macron

Em entrevista ao Observador, João Duarte Albuquerque, presidente dos jovens socialistas europeus, fala das eleições francesas, da erosão dos partidos socialistas e do futuro da União Europeia.

João Duarte Albuquerque foi eleito Presidente da Young European Socialists (YES), no congresso dos jovens socialistas europeus, que decorreu em Duisburg, na Alemanha, de 6 a 9 de abril. Já era vice-presidente daquela estrutura e tornou-se o primeiro português a ocupar o cargo.

Em entrevista o Observador, via Skype, o socialista reconhece a crise que atravessa os vários partidos socialistas por toda a Europa. Ainda assim, recusa acreditar que o modelo socialista está esgotado, mas admite que é “bastante mais difícil a convivência entre o modelo de Estado social que defendemos e a política económica dura da Europa”.

O presidente do YES fala também das eleições francesas e das “consequências absolutamente catastróficas” que teriam uma vitória de Marine Le Pen nas eleições deste domingo. Macron não era o candidato socialista, mas é dele que depende agora a “estabilidade democrática”. E não esconde a esperança de uma transformação política na Alemanha, com a vitória de Martin Schulz contra Angela Merkel.

Crédito: Facebook de João Duarte Albuquerque

Foi recentemente eleito presidente da YES. Num momento em que a Europa atravessa um momento decisivo na sua história, quais são as grandes prioridades dos jovens socialistas europeus?
A nossa prioridade neste momento é preparar as eleições europeias para 2019. Esse será o nosso principal enfoque. Noutra dimensão, temos vindo a bater-nos muito pelas questões de igualdade, sejam as causas LGBT, sejam as questões de igualdade de género. E, claro, temos tentado lutar pela inversão da política económica e social que é seguida pela União Europeia.

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Em que medida?
Somos profundamente contra as políticas de austeridade que foram impostas, que foram altamente prejudiciais não só para o crescimento económico, mas também para a qualidade de vida das pessoas. Nos países onde esse caminho foi imposto, o nível das condições sociais da população desceu, o nível de desemprego disparou e houve uma deterioração dos serviços públicos. Enquanto europeístas convictos, compreendemos a necessidade de respeitar os tratados, mas o Pacto de Estabilidade e Crescimento e o Tratado Orçamental são muitas vezes limitadores daquela que devia ser a capacidade dos Estados-membros de terem uma política económica diferente. Achamos que há um caminho diferente.

Mas que caminho seria esse?
Defendemos como princípio intransigente a manutenção do Estado Social. Depois, há uma outra dimensão, esta mais política, que saiu reforçada do último congresso: as alianças que os partidos socialistas europeus devem procurar na Europa são com os partidos mais à esquerda e são com os movimentos que vêm da esquerda. Não com os partidos de centro ou de direita, como tem sido a norma. E nessa matéria o caso português é apontado como paradigmática. Esta “geringonça” portuguesa com potencial de exportação pode potenciar novas alternativas de alianças políticas à esquerda.

"Esta 'geringonça' portuguesa com potencial de exportação pode potenciar novas alternativas de alianças políticas à esquerda"

Ainda assim, pergunto: dadas as circunstâncias políticas atuais, o projeto europeu é reformável?
Percebemos muito bem com funciona a União Europeia e sabemos que é preciso um consenso alargado dos Estados-membros para a transformação da própria União. Aquilo que tentamos fazer perante a impossibilidade verificada de não haver esse tal consenso alargado é apontar pequenas reformas que podem servir esse objetivo. É preciso começar por reformar o modelo político e democrático da União Europeia. Por exemplo: o candidato à Comissão Europeia devia ser decidido de uma forma aberta e transparente pelos cidadãos.

Isso será suficiente? Com uma Alemanha pouco disposta a reformas profundas, uma França enfraquecida, um Reino Unido fora da União…
Sentimos que o projeto europeu está sob ameaça. Nos últimos anos, houve um aprofundamento do centralismo alemão, em parte por falta de comparência de França. Mas há alguns indicadores que nos permitem dar alguma esperança e nós, como europeístas convictos, continuamos a acreditar que o projeto europeu é possível.

As eleições em França podem ser o início desse processo?
Não escolheríamos Emmanuel Macron como candidato. Mantivemos o apoio a Benoît Hamon, mas agora parece-nos claro que o apoio terá de ser dado a Macron a bem da estabilidade democrática em França. Temos alguma esperança que, com a eleição de Macron em França e de Martin Schulz, na Alemanha, se dê um grande volte-face para a reconstrução e a reformulação do projeto europeu. Seria importante termos estes dois Estados-membros a serem impulsionadores de uma transformação da Europa e da criação de uma nova política económica.

"Sentimos que o projeto europeu está sob ameaça. Nos últimos anos, houve um aprofundamento do centralismo alemão, em parte por falta de comparência de França"

Quando venceu as eleições, Hollande era apontado como a grande esperança socialista para reformar a União. Será diferente com Macron, um candidato independente bem mais ao centro?
De facto, a política europeia de Hollande pecou por ausência. Houve uma falta de comparência. Mas, como se tem vindo a provar, nenhum Estado-membro será capaz de fazer essa diferença sozinho. Sozinho, Macron será incapaz de transformar a União Europeia. Com eventual vitória de Schulz na Alemanha, talvez seja possível trazer novamente para o centro do debate político europeu a necessidade de uma reforma da própria União.

Que consequências teria uma vitória de Marine Le Pen em França?
Uma eventual vitória de Marine Le Pen teria consequências catastróficas para o futuro da UE. Seria a vitória de um partido de extrema-direita, do discurso de diferenciação, do ódio e anti-europeísta. Tomaria uma dimensão ainda mais preocupante tendo em conta o atual panorama de líderes mundiais. Com a saída do Reino Unido, a França passará a ser a única potência nuclear da União Europeia. Corríamos o risco de termos Le Pen em permanente contacto com o Presidente dos Estados Unidos. Seria muito preocupante para estabilidade geopolítica da Europa e do Mundo.

Martin Schulz tem condições para vencer na Alemanha?
As eleições são só em setembro e até lá muita coisa pode mudar, obviamente. Aquilo que temos visto é que Schulz entrou com muita força no debate político alemão e atraiu milhares de jovens para o SPD alemão. Como vimos na discussão do Brexit no Reino Unido ou nas eleições dos Estados Unidos, os jovens rejeitaram em massa os discursos populistas. Temos alguma esperança que, com o movimento que Shculz está a criar, essa inversão se possa dar também na Alemanha.

"Uma eventual vitória de Marine Le Pen teria consequências catastróficas para o futuro da UE. Seria a vitória de um partido de extrema-direita, do discurso de diferenciação, do ódio e anti-europeísta"

Olhando para a situação dos partidos socialistas na União: em Portugal, o PS, apesar de governar, perdeu as eleições. Em Espanha, o PSOE teve um resultado francamente mau. Em Itália, o Governo demitiu-se. No Reino Unido, o Partido Trabalhista arrisca-se a ter um novo resultado humilhante. Os partidos socialistas perderam espaço na Europa?
Começava pelo caso português. O PS pode não ter sido o partido mais votado, mas aquilo que se verificou de uma forma muito clara é que houve uma maioria de esquerda inequívoca no Parlamento. Houve uma vontade efetiva de mudar. E aquilo que se tem vindo a verificar ao longo deste ano e meio do Governo de PS apoiado pelos partidos mais à esquerda é que o PS tem consistente subido nas intenções de voto registadas e tem sido um exemplo para a restante família socialista europeia. Quanto ao resto, são casos muito diferentes entre si. No Reino Unido, por exemplo, a crise do Partido Trabalhista é antiga e resulta da derivada do partido para uma posição que não era a sua tradicionalmente, a Terceira Via de Tony Blair. Está a tentar encontrar a sua identidade…

Jeremy Corbyn é um homem bastante à esquerda…
Corbyn tem ensaiado uma mensagem muito progressista, mas está também a sofrer as consequências da convulsão social que se vive no Reino Unido. Além disso, o Partido Trabalhista não soube capitalizar bem a discussão sobre a saída do Reino Unido da União Europeia.

Mas os problemas dos partidos socialistas não são um exclusivo do Partido Trabalhista…
Repare, reconheço que existem alguns problemas nos partidos que compõem a nossa família política e temos acompanhado com alguma preocupação com os resultados que temos tidos. Mas cada caso é um caso. Em Espanha, por exemplo, a esquerda que constitui o Podemos não é a mesma esquerda que existe em Portugal. A relação de forças que podia existir em Espanha não era a mesma que existem em Portugal.

O modelo proposto pelos partidos socialistas na Europa não estará esgotado?
Há um problema bastante claro pela forma como esses modelos sociais são aplicados. A política económica europeia não permite uma grande flexibilidade aos partidos socialistas europeus para que tenham políticas expansionistas ao nível económica. O caminho que tem vindo a ser seguido é altamente penalizador para aquelas seriam tradicionalmente políticas dos partidos socialistas ou sociais-democratas. O Pacto Orçamental não permite que essas políticas sejam aplicadas de uma forma absolutamente livres. Os partidos socialistas ressentem-se desse tipo de modelo. O modelo económico europeu não é uma política de defesa do Estado Social ou de defesa dos serviços públicos.

"O caminho que tem vindo a ser seguido é altamente penalizador para aquelas seriam tradicionalmente políticas dos partidos socialistas ou sociais-democratas" 

Faço a pergunta ao contrário, então: é impossível ser socialista nesta Europa?
Diria que Portugal está a conseguir provar que é possível contrariar as regras impostas. Respondendo à pergunta: não é impossível, mas torna-se bastante mais difícil a convivência entre o modelo de Estado social que defendemos e a política económica dura da Europa.

Não pode dar-se o caso de os partidos socialistas estarem condenados a uma pasokização ou, no limite, a caminharem para a extrema-esquerda?
Há uma dificuldade comunicacional e de discurso político. Vivemos uma fase política em que a emergência do populismo é bastante visível na Europa e no Mundo. Foi assim nos Estados Unidos, e também no Reino Unido. É preciso combater uma retórica que assenta num discurso altamente populista e demagógico. Temos de encontrar uma voz adequada para defender aquilo que defendemos, que passa pela reforma do projeto europeu. O fenómeno político não é estanque. Encontrado o discurso certo, também é possível voltar a capitalizar a confiança dos eleitores. Estou certo que os partidos socialistas se vão manter vivos.

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