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© Lara Soares Silva

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Estes estrangeiros escolheram Lisboa para lançar empresas. E dizem porquê

Um búlgaro, um francês e um australiano deixaram os países em que viviam para lançar 'startups' em Lisboa. O alemão Felix Petersen veio investir. O que tem Portugal que o resto do mundo não tem?

A história de James Muscat começa em Malta, passa pela Austrália, Lisboa, Madrid, Paris e Telavive, em Israel. E volta a Lisboa. A de Rémi Charpentier começa em França, passa por países como Japão, Canadá, Afeganistão, Iraque e há dois anos fixou-se em Lisboa. A de Christo Peev começou há cerca de um mês em Lisboa, mas na verdade é natural da Bulgária, com passagem por Inglaterra. Três histórias que se cruzam debaixo do teto da Beta-i – Associação para a Promoção da Inovação e do Empreendedorismo, onde estão alojados os participantes do programa de aceleração de empresas Lisbon Challenge. Três histórias que crescem em Portugal.

Felix Petersen é empreendedor. E investidor. Um dos nomes fortes do ecossistema de startups alemão. Veio a Lisboa em dezembro, para participar no Lisbon Investment Summit, e dois meses depois instalou-se de vez. Convenceu a família e, em fevereiro, mudou-se para a capital portuguesa. Queria fazer uma pausa na carreira: decidir se queria lançar uma nova empresa ou concentrar-se naquelas em que já tinha investido. Lisboa pareceu-lhe o local ideal. Quando chegou, o ecossistema trocou-lhe as voltas. Agora, aquele que é um dos investidores da Soundcloud prepara-se para investir através de uma capital de risco. Na mira, a aposta em startups portuguesas.

James, Rémi e Christo são jovens, têm um curriculum internacional e uma paixão pelo que fazem. Na hora de lançarem empresas, ou desenvolvê-las, fizeram as malas. Queriam qualidade de vida, mais ecossistema, mais talento e possibilidade de se deslocarem facilmente. Escolheram Lisboa. A cidade das sete colinas tinha mais para lhes oferecer e, no caso de Christo, o Lisbon Challenge foi o isco. Agora, conta ao Observador, vive entre Lisboa, Bulgária e Inglaterra, para lançar a Leap. Tem 23 anos.

Christo Peev é búlgaro e está em Lisboa a desenvolve a startup Leap

© Lara Soares Silva

Na Leap, o surf, snowboard, parkour, skate, BMX ou wakeboard têm uma nova morada – uma rede social para desportos radicais. “É como o Facebook, mas exclusivo para atletas profissionais ou semiprofissionais de desportos radicais“, explica Christo Peev ao Observador, num inglês com sotaque carregado do Leste da Europa. Chegou à capital portuguesa há cerca de duas semanas, mas já sabe que quer trazer a equipa toda para Lisboa – Ilko Iliev, Joe Ben Slimane, Lora Todorova, Feliz Quinton e Georgi Karadzhov. E eles também querem mudar-se.

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Ouviu falar do Lisbon Challenge através de um amigo búlgaro, que participou numa edição passada do programa com a startup Eventyard. Não teve dúvidas. De Lisboa, diz que já sabia que é um dos maiores startup hubs (centros de startups) da Europa e que Portugal era o país da Europa “mais famoso” para surfar. “Os surfistas são uma das comunidades que temos mais interesse em atrair para a Leap“, conta. O facto de o Lisbon Challenge ser uma “oportunidade maravilhosa para desenvolver o negócio e aumentar as competências pessoais enquanto empreendedor” incentivou-o a concorrer.

Christo Peev diz que Portugal é "um ótimo sítio" para quem pratica desportos radicais. Ótimo para promover o produto, ótimo para criar comunidade

Quis vir para Lisboa, porque sabíamos que este programa é muito bom e porque vai dar-nos muitas ligações a grandes empreendedores europeus, provavelmente a investidores e a outras pessoas que podem ajudar-nos a desenvolver o nosso produto”, disse Christo. Por outro lado, Portugal é “um ótimo sítio” para quem pratica desportos radicais. Ótimo para promover o produto, ótimo para criar comunidade, ótimo para fazer com que os atletas acreditem que a Leap pode fazer “algo bom e útil” por eles, acrescenta o jovem búlgaro.

Christo Peev está a tirar um mestrado em Gestão de Inovação e Tecnologia numa universidade inglesa. Soube da existência da Leap quando se encontrou com Ilko e Joe em Sophia, capital da Bulgária. Trabalhava numa empresa de software, mas no dia em que se encontrou com os dois jovens, despediu-se. Não precisou de muito tempo para decidir que queria juntar-se à equipa.

“A Leap é algo que todos nós gostamos e que realmente acreditamos que vai ter muito sucesso. É um site que fornece às pessoas, que praticam e gostam de desportos radicais, ferramentas que permitem uma melhor gestão da sua vida enquanto atletas”, diz. Na rede social, os utilizadores podem introduzir fotografias, vídeos e mapear os locais por onde passam. Mais: podem encontrar outros atletas, organizar treinos conjuntos e descobrir os melhores sítios no mundo para a prática de determinado desporto.

"Gosto realmente da atmosfera da cidade e do quão quentes as pessoas são aqui"
Christo Peev, fundador da Leap

Aos quatro anos, Christo começou a fazer esqui, mas mais tarde passou para o snowboard. Em Portugal, já aproveitou para fazer surf, na praia de Carcavelos. “Lisboa é das cidades mais maravilhosas em que já estive. Primeiro, porque está à beira-mar e isso é algo que eu adoro. Depois, existe muita gente jovem”, conta. Mas o que mais lhe salta à vista é o ambiente acolhedor de Lisboa. “Gosto realmente da atmosfera da cidade e do quão calorosas as pessoas são aqui“, diz. E lembra o dia em que precisou de trocar dinheiro e uma senhora fechou a loja, de propósito, para levá-lo a quem pudesse ajudá-lo.

Quando o Observador lhe pergunta o que é que tem achado mais difícil em Portugal, responde que se sente tão “sortudo” por estar na cidade e que não consegue encontrar nenhuma dificuldade. “Planeio ficar aqui e, eventualmente, mudar a equipa toda para Lisboa“, confessa. No Lisbon Challenge, Christo quer desenvolver novas funcionalidades para o seu produto. De um programa de aceleração de empresas em que participaram em Sófia, receberam um investimento de 50 mil euros. Mas agora andam à procura de 200 mil. Estarão em Lisboa?

Viver em Lisboa? “Senti que era a coisa certa a fazer”

Felix Petersen não é novo nestas andanças. E por estas, leia-se, as do empreendedorismo. Aos 39 anos, conta com duas empresas no portefólio: a Plazes, em 2005, uma das startups pioneiras na área da geolocalização, que três anos depois foi vendida à Nokia; e a Amen, em 2011, comprada pela Tape Tv, em 2013. Como investidor, é um dos nomes que investiu dinheiro na sueca Soundcloud. E não só. Ao Observador, conta que foi um dos primeiros alemães a atrair investimento norte-americano para Berlim. Agora, está em Lisboa para investir.

Investi muito em Berlim, nos últimos dez anos. Investi muita energia focado em desenvolver Berlim e tornar a cidade num startup hub, conta. Diz que apesar de ser uma cidade que lhe é “muito querida ao coração”, sentiu que tinha chegado a altura de mudar. Lisboa acabou por ser “uma decisão de estilo de vida”, mas acabou por se tornar numa nova oportunidade de negócio. Percebeu que existiam algumas empresas portuguesas com elevado valor, como a Unbabel, a Uniplaces ou a Codacy. Porque não investir em empresas assim?

Felix Petersen tem 38 anos e mudou-se em fevereiro para Lisboa, com a família

© Fábio Pinto

Para a decisão de se mudar para Portugal, contribuiu o facto de querer apostar em empresas ainda muito jovens, para que possam acrescentar valor à equipa e ao produto. “Não sou grande fã de incubadoras, para ser franco. Lancei duas empresas sozinho, sem fazer parte de nenhum programa e sei que podes escolher os teus próprios mentores. O ecossistema é muito acessível, podes ligar às pessoas ou enviar-lhes um email que elas respondem”, diz.

Feliz Petersen diz que vai para onde sente que é correto ir. No caso de Lisboa, sentiu que era a coisa certa a fazer, que sempre adorou Lisboa e que nos últimos três ou quatro anos, algo tinha mudado profundamente na capital portuguesa. “Acho que foi por causa da crise. As pessoas perceberam que tinham de pegar no destino com as próprias mãos. Não vim para Lisboa a achar que ia ser a próxima grande coisa [the next big thing], mas acabei por encontrar aqui muito mais do que esperava”, acrescenta.

"[Portugal] É um país muito moderno e aberto, mas não me parece que a globalização o tenha engolido. Porque há tanta tradição, tanta história e orgulho"
Felix Petersen, empreendedor e investidor

Em Portugal, anda à procura de empresas que tenham um modelo de negócio que façam o mais sentido possível no contexto digital, que atuem num mercado “claro” e que reinventem uma indústria já existente. Negócios disruptivos ou áreas onde considere que a sua experiência é relevante e nas quais pode acrescentar valor. “Invisto quando me apaixono pelas equipas e quando sinto que me apetece trabalhar com elas. É muito pouco provável que invista em empresas que não entenda quais são os seus fundamentos”, revela.

Sobre a venda da portuguesa BestTables à norte-americana TripAdvisor e a avaliação em mil milhões de dólares da Farfetch, Felix diz que são “ótimas notícias” para o ecossistema, porque ajuda a educá-lo. “Estas empresas funcionam como escolas de negócios“, diz. Além disso, há um aspeto psicológico associado. Com acontecimentos desta dimensão, os investidores deixam de olhar para o ecossistema português como algo exótico, explica. Portugal parece estar lançado. E tem aquilo que o investidor classifica como um equilíbrio entre a tradição e a globalização. “É um país muito moderno e aberto, mas não me parece que a globalização o tenha engolido. Porque há tanta tradição, tanta história e orgulho”, diz.

José Neves, fundador da Farfetch, avaliada em mil milhões de dólares, em março

© Fábio Pinto

15 anos depois, Rémi mudou-se para Lisboa

Rémi Charpentier é francês. Nos últimos 15 anos, viveu em países tão díspares como o Canadá, Japão, Iraque ou Afeganistão. Mas em 2010 quis regressar à casa mãe para fundar uma empresa sua. Em Paris, lançou a Zendagui, uma agência de análise de dados, especializada em Marketing e em mercados emergentes, como o Afeganistão, Iraque ou Maldivas. Mas queria mais. Queria, sobretudo, qualidade de vida.

“Não sabíamos para onde ir. Mas sabíamos que queríamos três coisas: melhor qualidade de vida, melhor clima e viver numa capital que tivesse boas acessibilidades e uma boa capacidade para recrutar pessoas. As finalistas eram Lisboa, Istambul e Barcelona. Escolhemos Lisboa por causa do custo de vida“, conta ao Observador. Encerrou a atividade da Zendagui em Paris e voltou a abri-la na cidade de Fernando Pessoa. A mesma que viu nascer o seu mais recente projeto, a Zendag.org, a associação sem fins lucrativos com que quer contribuir para a democracia.

Rémi Charpentier veio para Lisboa com a Zendagui e já se aventurou num segundo projeto

© Lara Soares Silva

“O objetivo é conseguirmos voltar a envolver os cidadãos no processo democrático e oferecer-lhes novas ferramentas para que tomem decisões democráticas”, explica Rémi. Como? Construindo uma plataforma de ferramentas para tomadas de decisões coletivas. O protótipo está a ser desenvolvido no Lisbon Challenge e o empreendedor espera tê-lo pronto até junho. A próxima etapa passa por desenvolver a plataforma e por articulá-la com instituições públicas e partidos políticos. Objetivo: ajudá-los a tomar decisões, enquanto um grupo.

O francês de 34 anos não acredita que estejamos a viver numa democracia. “Estamos a viver numa república moderna”, diz, acrescentando que a internet veio mudar a forma como as coisas acontecem. “Acho que é absurdo as pessoas votarem de quatro em quatro anos. Queremos criar, por exemplo, uma simulação de eleições, em que as pessoas, em vez de votarem num partido, classificam os vários partidos com diferentes pontuações, em ordem de preferência”, disse.

"Estou muito contente com as ligações empresariais que tenho encontrado em Portugal. O ecossistema é muito dinâmico e encontrei mais do que o que estava à espera"
Rémi Charpentier, fundador da Zendagui e da Zendag.org

Sobre Lisboa, diz que quer ficar na cidade. Que agora é um imigrante em Portugal e que é assim que pretende continuar. O que a torna tão atrativa? A qualidade de vida, o facto de ser multicultural e a quantidade de alternativas de coisas que há para fazer, conta. “Estou muito contente com as ligações empresariais que tenho encontrado em Portugal. O ecossistema é muito dinâmico e encontrei mais do que o que estava à espera. Quando vim, achei que não ia ter nenhum cliente português e agora tenho“, conta. Quanto ás dificuldades, diz que “tem dificuldades em encontrar dificuldades” e que encontrou em Portugal aquilo que procurava em França: maior facilidade na interação com organizações públicas.

Da Austrália, para Lisboa, passando por Madrid e Telavive

James Muscat tem 31 anos e quando pisou, pela primeira vez, solo português, tinha 18. Queria aprender um novo idioma. Natural da Austrália, já contava com o maltês e o italiano no currículo. Mas queria mais. Acabou por ficar quatro anos, a estudar. No ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, tirou Engenharia Informática, mas seguiu para Madrid, onde começou a trabalhar como consultor. Três anos depois, regressou à capital portuguesa, mas por pouco tempo. Fez as malas e viajou para Paris, onde esteve durante um ano e meio. Em setembro de 2009, novamente Lisboa.

Vim para Portugal, porque queria lançar uma empresa cá. Tinha contactos cá, falava o idioma e porque gostava muito do país, que, na altura, tinha muito potencial para crescer”, conta. Criou a Ondacity, empresa que se dedica ao acolhimento, orientação e integração de estrangeiros em Lisboa. Estava tudo a correr bem, mas o amor falou mais alto e James rumou até Telavive, em Israel, onde viveu durante dois anos. Nesse tempo, a empresa cresceu. E a equipa também: James já tinha cinco pessoas a trabalhar na startup. Geria tudo à distância.

James Muscat, fundador da Ondacity e da Moviinn

© Lara Soares Silva

Em Telavive, começou a ouvir falar do ecossistema português e do que se estava a passar em Lisboa. Quis fazer parte. “Quando cheguei, percebi que as coisas tinham mudado e que, mesmo com a crise, tínhamos conseguido reinventar-nos. Havia muita criatividade e este sentimento de empreendedorismo era muito visível, comparativamente a 2001 ou a 2005″, conta. Quando regressou, trazia mais vontade de aprender coisas diferentes. Fez um curso na área do User Experience Design e foi aí que surgiu a ideia de lançar a Moviinn, uma ideia semelhante à Ondacity, mas global e escalável.

A Moviinn pretende ajudar as pessoas a mudarem de país, criando um espaço que oferece serviços integrados. “Criamos um market place, para que seja fácil os utilizadores recorrerem a estes serviços, com segurança e confiança nos serviços que vão contratar”, explica. Os cofundadores da Moviinn, Robson Santos e Jungenk Kim, estão fora de Portugal, mas querem vir para Lisboa. Para que isso aconteça, James Muscat vai ter de criar a empresa e fazer-lhes contratos de trabalho. “Eles querem vir para cá, porque perceberam que a cidade tem muito para oferecer a nível de ecossistema de empreendedorismo e de startups“, diz James.

Para avançar com a Moviinn, James precisa 200 mil dólares de investimento. Não sabe qual vai ser o futuro da empresa, mas diz que Lisboa vai ser a sede da Moviinn para sempre. Mesmo que os colaboradores se ausentem para outros países. “Empreendedorismo” é um termo relativamente novo, mas já faz mexer a cidade, dinheiro e os aeroportos. A conta, espera-se que seja positiva. Que o talento fique, saia para voltar, e que as “Chegadas” conheçam mais de perto os empreendedores do que as “Partidas”.

 

Texto: Ana Pimentel

Imagem: Lara Soares Silva

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