“O desenvolvimento sustentável é um mito”, diz o xeique al Nuaimi. Este embaixador do ambiente está em Portugal para motivar as pessoas para agir porque conversa já se fez muita. “Já falam de [desenvolvimento sustentável] há muito tempo, mas o que precisamos são ações sustentáveis. Precisamos de agir no terreno para fazer a mudança.” As mudanças começam em cada pessoa e pelas coisas mais pequenas, como plantar uma árvore. “Não requer ciência, nem tecnologia, só têm a ver com hábitos e com mudanças de comportamento.”
O xeique Abdul Aziz bin Ali al Nuaimi também é conhecido como “Green Sheikh” e não apenas pelo sentido ecológico que é dado à cor verde (green). Para o próprio xeique, GREEN é como uma sigla em que cada letra tem um significado importante sobre a forma de pensar e agir: Global, Repensar, Elucidar, Ética e Network (ligar-nos em rede). Mas o homem que corre o mundo a tentar inspirar as pessoas a mudarem de hábitos em nome de uma vida mais sustentável, já foi em tempos um poluidor.
Oriundo de um país onde a produção de petróleo é a base da economia – os Emirados Árabes Unidos -, xeique al Nuaimi formou-se em engenharia química e do petróleo. E chegou a trabalhar na indústria petrolífera durante alguns anos. “Isso deu-me muita perceção de como estes processos têm um impacto nas emissões, efluentes, barulho e tóxicos”, conta o sheikh, agora com 48 anos. Enquanto engenheiro químico tentou mitigar este impacto, mas apercebeu-se que estava do lado errado da equação. Lembrou-se do que tinha aprendido com o pai, sobre a natureza, o deserto e os falcões e decidiu mudar. Estávamos no início dos anos 1990. “Algo dentro de mim disse-me que eu não queria estar apenas a poluir, queria prevenir. E para isso, não precisava de trabalhar numa empresa, preferia trabalhar com a comunidade.” Depois disso, em 2007, completou o doutoramento em Produção Limpa e Ecossistemas Industriais na Universidade de Griffith, na Austrália.
“Para mudarmos os outros, primeiro temos de nos mudar a nós”, justifica o xeique al Nuaimi. Por isso se empenha em ser íntegro, mas ao mesmo tempo original. “Mas não dou informação, dou transformação.” O mais importante é conseguir fazer algo maior que si próprio. “Mesmo que seja algo pequeno, quero que tenha impacto no mundo.” Com a visita a Portugal, a convite do Jardim Zoológico de Lisboa, espera poder “partilhar experiências, ouvir as pessoas e fazer boas amizades”. Mas não vem ensinar, acredita que as pessoas aprendem pela ação.
É com a humildade e simplicidade que o caracterizam que chega ao Zoo, na segunda-feira, sem os preceitos que se poderia esperar de um membro da família real (é sobrinho do líder do emirado Ajman). No olhar traz a curiosidade de quem quer aprender com tudo o que observa. Pergunta a Tiago Carrilho, responsável pelos programas educativos escolares do Centro Pedagógico do Zoo, porque é que as girafas-de-angola são tão raras em zoos e como se processa a dinâmica da alimentação dos leões. A cada passo fica impressionado com o aspeto naturalista das instalações.
O “Green Sheikh” foi convidado como orador principal da conferência da Associação Europeia de Zoos e Aquários (EAZA), que decorre de 9 a 12 de março em Lisboa. Sendo o tema do encontro de educadores “O poder do comportamento – Como inspirar as pessoas a agir”, Antonieta Costa, responsável pelo Centro Pedagógico do Zoo, considera que “não haveria melhor pessoa para falar deste tema”. “Temos de colocar a teoria da educação em prática, partir para as ações que movem multidões. E foi por isso que o convidámos.”
O próprio xeique, conselheiro para o ambiente do governo de Ajman, o mais pequeno dos sete Emirados Árabes Unidos, diz que o mais importante são as ações e deposita as esperanças nos jovens. Temos de “capacitá-los com conhecimentos, competências e compreensão”, porque eles já ” têm a ambição, o tempo, a coragem, a criatividade e energia”. “Estou a tentar capacitar jovens nos Emirados, e globalmente, para serem melhores que eu”, diz entre sorrisos. Mas as ações também têm de partir de governos, empresas privadas e organizações não-governamentais do ambiente. E para que a missão seja bem-sucedida, estes três grupos têm de conseguir trabalhar em conjunto com o mesmo objetivo. “Quando temos uma visão mais abrangente percebemos que muitas coisas estão interligadas”, diz o “Green Sheikh” e dá exemplos – respiramos o mesmo ar, pisamos a mesma terra, bebemos a mesma água.
Mas para agir é preciso estar motivado. “E as emoções levam as pessoas a agir”, diz Antonieta Costa. “Os zoos e aquários têm o poder de despertar emoções nas pessoas e fazer educação a partir dessas emoções.” E para confirmar como as experiências diferentes podem ter impacto nas pessoas, chega FROG (Fun Robotic Outdoor Guide) – um robô que pretende funcionar como um guia. “A ideia é passar por pontos pré-programados e mostrar informações que normalmente escapam às pessoas”, explica Paulo Alvito, representante da empresa IDMind que criou o robô. “Este tipo de robôs já existia em museus, mas quisemos usá-los no exterior.”
Estar desperto para novas perspetivas, reconhecer o poder das emoções e escutar os sentimentos, são situações bem conhecidas do xeique al Nuaimi. Emoções como as que o invadiram com a surpresa que o aguardava numa das ruas do Zoo: um falcão-sacre e um falcão-gerifalfe híbrido pousados tranquilamente nas luvas de pele dos respetivos falcoeiros.
Quando era pequeno, o “Green Sheikh” queria ser falcoeiro como o pai, mas este disse ao filho que devia antes ser o próprio falcão. Na altura não entendia o que o pai queria dizer com isso, mas agora quer “treinar as outras pessoas para serem falcões”. O falcão, uma ave nobre bastante apreciada pelo árabes, é uma fonte de inspiração e ensinamentos: só caça na medida das necessidades que tem.
Mas antes de poder motivar as pessoas a serem como um falcão, a não tirarem do ambiente mais do que aquilo que necessitam, o xeique al Nuaimi fez ele próprio um “treino de falcão”. O salto em queda livre permitiu-lhe voar como um falcão, fazer voos picados como quem se prepara para caçar, planar e observar, conta o xeique com um sorriso de quem recorda o momento. No fundo, o que o “Green Sheikh” deseja é incentivar a mudar comportamentos e começa por fazer sugestões simples: não tomar banhos longos, não comprar mais comida do que aquela que realmente se pretende comer, compensar a quantidade de carbono que se emite com as ações diárias plantando árvores. E claro, reduzir o consumo de plásticos.
Sobre a nova legislação em Portugal que obriga ao pagamento dos sacos de plásticos descartáveis diz que de facto só há duas formas de acabar com alguns problemas ambientais: pela imposição da lei e pela educação. “E estas devem funcionar as duas juntas”, acrescenta. Conta que em Ajman também querem acabar com os sacos de plástico e que alguns supermercados até fazem descontos para quem levar o saco reutilizável de casa.
A manhã de descobertas no Zoo termina no Bosque Encantado com a apresentação das aves em voo livre. Um falcão-caracará de crista levantada, um calau-terrestre de bico grande, um grifo de andar desajeitado e um par de milafres-negros de voo majestoso, encantam e inspiram os presentes.
Além de marcar presença esta terça-feira na conferência da EAZA, também estará na Culturgest, em Lisboa, quarta-feira às 15 horas. Vai falar de mudança numa conferência dedicada às “Pontes para um futuro sustentável”. Criar ligações é um dos objetivos que trouxe o xeique al Nuaimi a Portugal. “Queremos criar pontes entre estes dois países [Emirados Árabes Unidos e Portugal], que têm muito em comum. É por isso é que eu estou aqui, para encontrar e potenciar estas sinergias.”
Pode ver a entrevista integral aqui.